Marie caminhava sozinha pela rua num dia chuvoso, de sombrinha vermelha. Desistira de tentar fazer amigos, e se arrependera disso, pois agora se sentia mais sozinha do que nunca. Entrou numa pequena livraria, onde ela também poderia tomar um chocolate com chantilly. Sentou-se numa mesa que estava em um canto, perto da vitrine de livros, e fez o seu desejo à garçonete. Olhou pelo vidro, distraída, e avistou um casal muito romântico passeando pela rua. Brincavam e se beijavam. Marie sentiu tanta inveja naquela hora, e mais solitária que antes.

- Você que é a Maria? - uma voz alta ao seu lado a assustou. Logo se recobrou, passando a mão pelo cabelo.

- Desculpe, não. - ela respondeu em voz baixa. - Meu nome é Marie.

- Ah. - e a pessoa sentou à mesa, encarando a loura. Ela era uma garota morena, de vestido casual preto e cabelos igualmente negros, bem curtinhos. Seus olhos castanhos eram vivos, e calçava sapatilhas vermelhas. Ao seu lado, uma bolsinha cinza (não prata) e uma sombrinha cor de vinho. - Foi mal. Me disseram que seu nome era Maria.

Marie estranhava aquela garota tão folgada, que já tomava a liberdade de se sentar e falar informalmente com ela, sem nem se apresentar. Ignorando aquilo, perguntou:

- E você é...?

- Angela.

Marie estremeceu ao ouvir o nome da garota. Achou que fosse alucinação, ou algum sonho acordado.

- Desculpe-me, mas... - Marie piscou agitadamente seus olhos azuis. - ... Disse que seu nome é Angela?

- Sim. - A morena levantou uma sombrancelha e cruzou os braços, desconfiada. - Algum problema com isso?

- Não, não. Nenhum.

- Então por que a pergunta?

- É que... - Marie hesitou - ... Era o nome da minha mãe. - Ela se sentiu desconfortável por deixar alguém saber o motivo pelo qual sua vida havia mudado tanto.

- "Era"?

Marie assentiu.

A garçonete chegou com o chocolate. Marie tomou um gole, enquanto Angela a encarava, perturbando a loura.

- Você me reconhece de algum lugar? - perguntou Marie.

- Sim. Da escola.

Ela fez uma expressão engraçada. Nunca havia visto Angela no colégio. E olha que ela tentou fazer amizade com todo mundo.

- É mesmo? - disse Marie. - Você estuda no meu colégio? Em que série?

- No primeiro ano. Nunca me viu na vida? Eu sou da sua sala.

Agora a garota ficou realmente surpresa. Jurava que ela não tinha notado Angela em nenhum momento. E justo uma pessoa com um nome tão importante. Sem deixar transparecer nada, Marie disse:

- Sim, parece que nunca a vi. A escola é toda separada em grupos, de qual você é?

- De nenhum. - disse a morena com naturalidade.

Então foi por isso.

- É mesmo? Eu também não fui aceita em nenhum. - e deu um pequeno riso.

- Não é que eu não fui aceita. Eu que não quis entrar em nenhum. Não gosto de divisões em "panelinhas", que parece coisa do século passado.

- É... Mas você não se sente sozinha?

- Tenho minha família.

Opa. Agora essa garota mal-educada tocou num ponto fraco de Marie. Ela baixou a cabeça e tomou um gole. Angela continuou, sem alteração nenhuma de humor.

- Vivo com minha mãe, meu pai, meus 3 irmãos, meu tio e minha avó materna num casarão aqui perto.

Uau. E Marie só vivia com o pai num apartamento meio longe dali. Não falou nada, só tomou seu chocolate.

- E você? - perguntou Angela.

A loura levantou os olhos e disse:

- Eu morava com minha mãe e meu pai numa casa a 10.000 km daqui. Agora vivo só com ele num apartamento.

- Por quê? Seus pais se separaram?

Será que a morena não entendera nada?

- Não.

- Então o que foi?

- A minha mãe morreu.

Seguiu-se um silêncio melancólico depois das últimas palavras. Marie acabou o chocolate e se levantou da mesa, olhando para o vidro da livraria. A chuva persistia. Angela também se levantou, acompanhando a loura até o caixa.

Depois de pagar, Marie ia embora, mas Angela disse:

- Quer ir pra minha casa?

- Mas... - disse a loira - nós mal nos conhecemos.

- Não tem problema, vamos lá! ^^

A garota pensou por um tempo, depois disse:

- Não.

- Ah, por quê?

- Somos quase desconhecidas. Não posso ir invadindo assim a sua casa.

- E daí? Bora conversar um pouco. Não se sente sozinha só morando com seu pai sem nenhum amigo?

Marie pensou mais um pouco, calada.

- Tudo bem.