The Devil Beneath My Feet escrita por Blood Mary


Capítulo 1
Capítulo único




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Dor, escuridão e frio.

Existia alguma coisa no mundo além disso?

Ela nem ao menos sabia dizer se estava viva. Se havia morrido ali, e depois da morte tudo que havia era dor. Dor e frio, no meio de um grande nada.

Não... havia mais alguma coisa. Cheiro de sangue, e de terra. Cheiro de morte.

Ela tentou se mover e a dor atravessou seu corpo como um raio. Mas ela conseguiu sentir o chão frio de terra abaixo de si, e cada músculo do corpo repuxar como se não se movesse há dias. Ao menos isso queria dizer que ela estava lá, e estava viva. Se é que isso era estar viva.

A escuridão, porém, persistia, e toda a dor de seu corpo parecia convergir para um único lugar. Tremendo, levou as mãos até o rosto e sentiu os buracos dilacerados onde antes estavam os seus olhos. Soltou um gemido baixo e dolorido, a dor e o horror fazendo sua cabeça girar.

Não sabia há quanto tempo estava ali. Mas se ela estava viva, não ia desistir agora.

Desistir... o que significaria isso? Parar de se mover, ficar ali no nada e esperar a morte chegar? Ela duvidava que mesmo a morte a quisesse.

O próprio demônio a havia recusado. Ela, que tanto lutara para que aquele mundo desse certo, aquele mundo onde ela não seria mais uma escrava, e todos aqueles que a humilharam ou a outras pessoas iriam pagar por isso.

Mas tudo não passou de uma grande ilusão. O mundo pelo qual ela tanto ansiara, liderado pelo Senhor da Escuridão, não passava de uma cópia daquele mundo odioso, com sua hierarquia imposta por poucos, e ali ela não passava de uma peça descartável.

Tituba se levantou. Cada centímetro de seu corpo doía, e tudo parecia um esforço absurdo, mas ela não ficaria parada ali. Ela não desistiria. Ela poderia ter perdido a visão, mas ela estava viva. E não seria mais escrava ou serva de ninguém. A partir de agora, ela seria senhora de sua própria vida.

Totalmente de pé, ela parou. Respirou fundo. Seus pulmões ardiam, mas ela tentou permanecer concentrada. Não sabia onde estava, se era dia ou noite. Teria que confiar na sua percepção.

Ela deu um passo. Sua perna estava trêmula. Novamente ela parou, e escutou, e sentiu. Os sons da floresta encheram seus ouvidos. Ela escutava as folhas das árvores, os animais rasteiros do bosque, o vento passando. Ela podia sentir a lua; era de noite.

Logo conseguiu formar na mente o ambiente onde estava. Ela não precisava enxergar: bastava ouvir e sentir.

Os pés. Ela precisava sentir o chão, então tirou os sapatos e pisou com os pés nus na terra. Imediatamente ela sentiu a energia do solo passar por seu corpo. Sabia agora onde estava cada árvore, cada planta, e por onde os animais caminhavam, como se ela e a terra fossem uma só.

Deu o segundo passo, mais firme que o primeiro. Agora podia caminhar.

E assim ela caminhou. Caminhou até não sentir mais os pés, cada vez mais para dentro dos bosques. Sentia as árvores e a noite fechando o cerco em volta de si, e por mais que tentasse não pensar em nada, o desespero foi tomando conta de seu ser. Finalmente ela parou, respirando pesadamente, e se recostou em uma árvore. Seu corpo foi desabando aos poucos, até que ela se sentou no chão. Havia uma ânsia dentro de si, algo que queria desesperadamente sair, e ela percebeu que era o choro. Ela não podia nem ao menos chorar de desespero.

Quem ela queria enganar? Ela tinha caminhado sem saber para onde, sem saber o que faria, como sobreviveria. Não havia mais saída. Ela estava perdida por fora e por dentro, trancada dentro de si, ferida, magoada, moribunda.

Esse era o fim.

”Se quiser que alguém te ouça, tudo que precisa fazer é sussurrar para a escuridão, e eu virei.”

A bruxa congelou. Uma voz masculina, macia, havia dito aquelas palavras como se estivesse extremamente próxima. Ou melhor, como se estivesse dentro de sua mente.

“Quem está aí?” – ela sussurrou com um sopro de voz.

”Sua salvação, ou a sua morte. Você escolherá. Isso se desejar que eu venha até você.”

“Não tenho nada a perder.” – dessa vez, sua voz foi mais firme.

A voz riu dentro de sua cabeça.

”É aí que você se engana. Vou entender isso como um sim.”

Tituba sentiu o chão abaixo de si esquentar. Uma presença que parecia vir das entranhas da terra – do inferno? – começou a se materializar na sua frente. Mesmo com a percepção aguçada, não conseguia definir que formato tinha. Ele deu dois passos até ela e se abaixou, ela podia senti-lo muito próximo.

“Quem é você?”

“Tenho muitos nomes. Nenhum deles realmente importa.”

O quê é você, então?”

Ele riu baixinho.

“Eu sou um demônio.”

Instintivamente, ela retesou o corpo e recuou para junto da árvore.

“Então... responde a ele?”

“Oh, não.” – ele bufou, com desprezo. – “Você acha realmente que ele tem controle sobre todos os demônios do inferno?”

Ela não estava convencida.

“Como sei que ele não mandou você aqui para garantir que eu estivesse morta?”

“Porque você não tem valor para mim se estiver morta. Eu vim propor um acordo.”

“Não tenho nada a perder, o que quer dizer que não tenho nada a oferecer.”

Ele se aproximou mais e ela o sentiu segurar suas mãos. As mãos dele tinham dedos longos e unhas compridas.

“Não gostaria primeiro de ouvir o que eu tenho a oferecer?”

Tituba suspirou, e assentiu com a cabeça.

“Sua vida de volta. Justiça. Vingança. Tudo o que quiser.”

Ela hesitou. Parecia bom demais para ser verdade.

“E o que quer em troca?”

“Apenas a promessa de que, quando tudo realmente acabar, sua alma será minha.”

Vender a alma ao demônio... e ela pensara que já havia feito exatamente isso há muito tempo atrás. Mas do jeito que as coisas acabaram, era óbvio que aquele que uma vez havia tomado sua alma não a queria mais.

Diante do silêncio dela, o demônio insistiu.

“Apenas diga uma palavra, e será feito. Terá tudo o que quiser.”

“Não serei mais serva de nenhum demônio.”

Ele riu, dessa vez mais abertamente.

“Acho que não está entendendo. Não será serva de ninguém. Eu serei o seu servo.”

Tituba entreabriu os lábios. Aquilo tudo poderia acabar dando miseravelmente errado... mas.

“Temos um acordo?”

Ela sorriu antes de responder.

“Sim.”

Tituba praticamente pôde sentir o sorriso do demônio, e então ele se levantou, ajudando-a a fazer o mesmo. Ela sentiu suas duas mãos no próprio rosto, e em seguida os lábios do demônio beijaram os seus. Surpresa, ela os deixou entreabertos e no momento que a língua do demônio invadiu sua boca, ela sentiu a própria língua queimar, como se um símbolo estivesse sendo gravado a fogo nela.

Ele se afastou, e ela levou as mãos à boca, quase engasgando.

“Este é o símbolo do contrato. Quanto mais visível estiver, mais forte será a ordem.”

Enquanto ele falava, ela sentiu sua presença diminuir, como se ele tivesse contento os poderes, assumindo uma forma mais humana.

Ele segurou sua mão e a beijou, ajoelhando-se na frente dela.

“Qual sua primeira ordem... minha senhora?”

Tituba sorriu. Ela se aproximou dele e sussurrou:

“Leve-me com você... para o inferno.”

O demônio hesitou por alguns segundos. Mas em seguida, respondeu com um sussurro em seu ouvido:

”Yes... my lady.”


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