El Constança escrita por Tachibana Aoi


Capítulo 1
As flechas


Notas iniciais do capítulo

Pessoa que tirei no AS, eu vou me desculpar por postar atrasado por infortúnios de ontem, e vou me desculpar e não ao mesmo tempo pela plot. Eu não sei se é mesmo o que você esperava (e odeio essa coisa de secreto, queria conversar contigo pô :ccc), se não for, posso refazer ou fazer outra, não me importo, really (não sendo nada grande, porfa HUAHAU). Tentei seguir o que você me pediu e tentei colocar comédia (não sei se deu muito certo, mas...). Puxa minhas orelhas, qualquer coisa x) espero que goste!



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A última flecha acertou-me em cheio

para finalmente matar meu último arrependimento.

Desuniu-me com quem deveria

enquanto me forcei a unir com quem menos deveria

a meu desejo demasiado estranho e repentino

nesse mundo que faço minha costumeira carnificina.

1

Eu estava na biblioteca procurando alguns livros sobre latim. É um pouco difícil achar esse tipo de material, mas realmente desejo aprender sobre essa língua e moro numa capital, então as bibliotecas são praticamente inesgotáveis. Não tenho certeza se realmente vou procurar em todas as estantes, muito menos se os bibliotecários saberão me informar que tipo de conteúdo vou achar... Mas ainda assim vale a pena pesquisar.

El, 19 anos, sofro bullying porque meu nome mais se parece com “ei” do que “el” e isso é basicamente o que todos sabem de mim. O que é bom, em partes, pois as pessoas não conversam comigo querendo saber muito daquela vida trágica da pessoa com nome de duas letras (e nem foi tão trágica assim, só fui zoada por alguns amigos, no máximo). Bem, do que importa?

O mundo está meio que numa… Guerra. Não exatamente guerra. O caminho de certos destinos foi desviado por algumas pessoas que não amavam aquelas com as quais seus fios vermelhos estavam ligados. E quem começou tudo foram os cupidos e quem está contra os cupidos são os cupidos, que nem acontece em briga de almoço de domingo. Pra variar, eles vêm e descontam a raiva alheia na gente, pobres seres humanos que só estão matando o planeta em paz. Por esse motivo e mais outras coisas que quero ao menos realizar um sonho bobo de infância antes de virar vítima de flecha perdida, que é aprender latim (ao menos tentar, fazer um esforcinho… Acho).

Procurar livros e pensar na vida. Bom, faz sentido, tem um monte de coisas que ainda não consigo desencasquetar… Os cupidos mostraram com quem as pessoas partilhavam o tal fio vermelho já que elas não conseguiam ver, aí esses bandos de babacas terrestres ficaram insatisfeitos (eu não quero esse bofe, obrigada e um tapa na cara e vice versa) sendo que nem têm a obrigação de conhecer a “pessoa estipulada”, cortaram esses fios e pronto. Seria bom se fosse só essa questão de estética. Mas aí fica aquela confusão de “você cortou o laço que eu criei, eu que atirei nessas pessoas para ligá-las!” e agora temos um tanto de Legolas com asinhas atirando em quem corta esses fios porque os cupidos ficaram revoltados. Sinceramente, eu não entendo.

E nenhum livro sobre o que eu quero. Que raiva... Pior que ninguém aqui ensina isso e entrar pra alguma faculdade que englobe esse aprendizado é… Não, eu não quero.

Era melhor sair daqui de uma vez e ver algum outro lugar onde eu possa achar algo que preste. Saí daquele amontoado de estantes desci as escadas — sim, eu já estava lá no terceiro andar — procurando por alguma propaganda de outra biblioteca que eu ainda não tivesse visitado.

— El, listen! — e escutei alguém dizer isso. Lógico que eu sabia quem era pra dizer meu nome num enunciado assim.

— Donaldo, O Magoado, que te trazes aqui? — perguntei-lhe com algo que equivalesse.

— Nada demais, só procurando aquelas Barsas antigas pra um trabalho escolar. Teve bom que topei com você, precisava te dizer algo!

— E o que é? Diga logo porque já tô é saindo daqui.

— Tem uma moça ali atrás que me disse que sabe latim. — Ele apontou por cima do ombro e eu vi uma senhora agarrada ao seu andador tremendo mais do que qualquer coisa. — Ela tava procurando uns livros em hebraico.

— Você tem certeza mesmo do que está dizendo…? — Não que eu duvide que um senhor ou senhora possa falar latim, mas ele dissera que era uma moça. Portanto, é meio suspeito. Assim que eu perguntei ele virou para conferir e confirmar e de fato, parece que ele vira outra pessoa.

— Ter eu até tenho, sabe, mas meu dedo não. Era uma mulher com um vestido branco, que nem daqueles que usam nos bailes.

Como se eu fosse lá.

— Ok. Era isso? Já vou indo, então.

2

Lá estava eu, lindérrima, ajeitando meus cabelos pretos (que mais pareciam uma árvore sem folhas com temática assombrosa), de frente pro computador jogando (a minha) paciência, deitada na minha cama, procrastinando, comendo salgadinho etc. Eu não tinha internet, não tinha muito dinheiro e ainda por cima estava de férias do trabalho — ah, aquele trabalho lindo de costurar roupas usadas das pessoas quando elas furavam. E de lavar essas roupas também, nem morta que eu ia trabalhar com suores de fluídos desconhecidos.

Morava num apartamento apertado, barulhento, com uns quatro cômodos, e deixava meu quarto uma zona; cama desarrumada, com tudo quanto é tipo de embalagem de alimentos existentes espalhadas pelo chão — vazias, ao menos não sobrava nada e não juntava nenhum espécime de demônio asqueroso como insetos — e as minahs coisas todas fora do lugar. Os outros cômodos... Cozinha com o básico, banheiro com o básico, sala com o básico e é isso aí.

Depois de comer, comer e comer porcaria, desisti de jogar fui dormir.

Ou, ao menos, queria.

Estava naquele momento iniciando estado zumbi de sono quando ouço um barulho lá fora e abro os olhos e sou forçada a enxergar a luz daquele maldito poste querendo furar minha preciosa cortina de blackout. Pensei em todos os nomes bonitos nos quais gente mal dormida pensa, respirei fundo e levantei para jogar um cobertor ao redor da janela — iniciando trevas — porque não, não dá pra dormir com um pontinho sequer de luz, ainda mais se ele decidir desafiar qualquer lei da física e mirar bem na minha cara.

E depois, dormi.

3

Cinco minutos depois de eu entrar em algo mais profundo do que REM, alguém batendo na porta trouxe minha alma desalmada de volta à Terra. Depois desse pequeno susto e infortúnio abri meus olhos e tinha a certeza de que o dia iria começar da maneira mais horrível possível, porque ele já tinha começado da maneira mais horrível possível nesse pleonasmo terrífico. Era três da manhã. Levantei da cama, tirei a Samara da cara tentando arrumar alguma coisa do meu cabelo e fui abrir a porta.

Detrás, uma moça com vestido branco e olhos com olheiras que eu não sei descrever de tão profundas que eram. Umas penas nas roupas e uns pedaços vermelhos de objetos não identificados nos cabelos a deixavam de um jeito… Não muito confiável, sendo sincera. Acima de tudo, estava bem exausta e amedrontadora. Olhou-me por inteiro e fez que não com a cabeça. Não pra quê, tia? Não sou culpada por estar dormindo uma hora dessas.

— Ainda bem, ao menos uma… — Ela parecia aliviada com alguma coisa que não quero nem saber e foi se escorando ali na parede e caindo até sentar no chão.

— Ainda bem o quê, dona? O que você quer comigo numa hora dessas?

— O chefe Deva mandou fazer faxina justo nesse apartamento! Eu não queria estar aqui, ok?!

— Como assim, faxina? — falei e logo fui olhar pro corredor do apartamento.

Não tinha ninguém. Ou melhor, seria melhor assumir que não restava ninguém.

Pude ver quando a moça abriu as asas. Ela era um cupido (ou uma cupida? Cupido fêmea? Sei lá) e entendi que ela estava levando todos aqueles que romperam seus fios. Ao menos eu acho que não tinha muito o que temer, uma vez que eu não me preocupava com algo que não podia ver e não quis amputar essa coisa.

— O superior — falou com certo sarcasmo e apontou para cima — que comanda meu setor mandou eu brincar de FPS por essas bandas e assim tive que fazer. — Uau, eu não sabia que cupidos jogavam vídeo games.

— Sei… Que bom, né... — Queria dormir. Quero.

— Que bom o escambau! Não tá vendo que eu matei todos os seus vizinhos? Não vai ficar com raiva e sair correndo?

— Não vou, grande coisa. Primeiro porque eu não falava com ninguém, e também, isso é só a realidade. Vocês ficaram nervosinhos um com o outro lá em cima pelo que sei e agora matam a gente, certo? É normal pisar em formigas, não se preocupe.

Ela não me respondeu por um momento. Mas se ela já está tão acostumada com esse mundo quanto parece, corre o risco de que esteja xingando-me de um monte de coisas bonitas que já ouvi falar demais. Ah, que saco… Nesse ritmo vou perder todo o meu sono. Vai embora, xispa.

Quando eu ia voltar pra dentro, ela se levantou e pegou no meu braço.

— Você acha que é assim mesmo? Eu vou te contar como realmente é, então. Entra aí.

Magnífico, agora ela me manda entrar na minha própria casa quando eu já queria fazer isso há muito tempo. Pior ainda: queria entrar junto. Já se parecia com meus parentes folgados quando eles vêm aqui e era meio esquisita como todos eles. Porém, não questionei nem nada. Em partes, queria mesmo que ela me contasse e pelo que sei não corre risco de que ela me mate, enquanto eu tiver meu fio vermelho inteiro, claro.

4

A história era cada vez mais longa e tornou-se um desabafo conforme ela ia falando.

Chamava-se Constança e decaiu demais no mundo lá em cima e fora largada para trabalhar em qualquer cargo que lhe surgisse. Alguns anos depois disso, foi exercer função de cupido. Enquanto esperava que sua vida se tornasse aquela coisa melosa de eterna seguradora de vela, acabou deparando-se com a tarefa de matar humanos. Porque alguns asinhas faziam pessoas romperem seus fios à força por mera diversão de transmutar o trabalho. Eu sei que não deve ser fácil atirar uma flechinha num, outra flechinha noutro e observar tudo depois, é, mas aí começa o terrorismo angelical e isso não soa bacana. Daí que umas divindades aladas discordavam disso, diziam que deveriam continuar com o trabalho normal como sempre ao invés de tornar tudo um cenário funesto e tal… E plantaram a bomba da destruição e começaram a 1ª guerra entre eles lá. Só que, como parece que pros arcanjos — que descobri que são os superiores esnobes do céu — que todo mundo com fio cortado vai pro inferno (desculpas, tsc tsc), os inferiores tinham que exterminar esse povo, para tudo voltar bonitinho quando esse conflito cessasse. Aí, a vítima de FPS aqui é a Constança, que já tá cansada de matar gente por ordem dos outros, porém não pode desobedecer, senão vai pro inferno mais do que já está.

— É isso.

E agora entendo a causa dela ter achado ruim o jeito que falei.

E normalmente, perdi o sono.

— Beleza. Então… Desculpa por ter falado aquilo pra você.

— Não esquenta. Ao menos eu não tive que te matar.

Eu sou uma alma meio egoísta (até bastante, pra falar a verdade), contudo, costumo fugir à regra algumas vezes. Fiquei com vontade de consolá-la, só que não ia dizer nada.

Foi quando ela aproximou-se de mim e pediu consolo por si.

— É mais doloroso do que pode imaginar, sabe…

— E o que pode lhe consolar? — perguntei, com receio do que ela fosse desejar. Mas fui boa, não é qualquer um que oferece acolhimento na madrugada para uma estranha desconhecida.

— Paixões que não tive. Sei que você não irá me dar isso de graça, mas posso lhe dar algo em troca, se puder. Matar alguém indesejável, fazer algo impossível, compartilhar aprendizado…

Ah, basicamente, ela era um cupido e queria se apaixonar. Nunca me importei com essas coisas e nunca me importaria de me oferecer para cumprir esse tipo de tarefa, dependendo de quem fosse. E, dentre aqueles pedidos…

— Você sabe latim?

— Sei todas as línguas do planeta, meu bem. Dálmata, celta continental, germânico setentrional… Já ouviu falar em alguma delas?

Então, eu estava entregue.

Ela me puxou e nos abrimos uma para a outra durante aquela madrugada. Provavelmente, eu não queria ter feito aquilo, mas ainda queria realizar meu sonho. E nunca deixaria de pensar em mim primeiro.

Naquele quarto, mil beijos, toques, dentre outras coisas que eu esqueceria no dia seguinte rumando minha ambição.

E depois daquilo, eu não a vi mais. Entretanto, no outro dia, havia livros na minha casa, todos eles sobre latim.


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