Thalia não passava de um borrão entre as árvores. Ela se movia rapidamente no meio da noite, quase se passando por algum animal silvestre. O arco em suas costas era rígido e frio, balançando sem parar com a corrida.

Finalmente avistou a clareira no meio da floresta. Do seu lado um riacho corria, com a água iluminada pela lua cheia. Ele estava lá, deitando, olhando para o céu com um olhar relaxado. Era raro poder observar Nico Di Angelo tão tranquilo, parecendo um anjo. Um anjo negro, caído do céu e corrompido pela Terra, que estava recuperando seu brilho.

Thalia se aproximou de Nico e o tocou no ombro. O garoto olhou para seus olhos azuis, e logo um sorriso se formou. Ambos estavam felizes com a presença do outro. Thalia sentou – se ao seu lado para admirar as estrelas. Refletindo seu brilho sobre o casal, que, na realidade não poderia ser chamado de tal maneira... Ela era uma caçadora. Universos diferentes para pessoas completamente opostas, mas que se completam.

— Boa noite, Thalia... – Nico disse em um suspiro.

A morena lhe devolveu um sorriso. Nico voltou a se deitar sobre a grama com orvalho. Ela fez o mesmo. O moreno colocou sua mão esquerda gentilmente em cima da mão de Thalia, lhe fazendo carinho.

— As estrelas estão lindas essa noite... Não acha? – Disse ela.

Ele voltou a observar o céu noturno. Thalia acomodou a cabeça em seu ombro.

— Porém nenhuma delas vai sequer chegar perto do quão bonita você é... Mas toda essa beleza ainda não esconde sua personalidade forte. – Disse Nico, rindo.

Thalia encarou-o, não achando graça.

— Nenhuma atitude gentil também vai esconder o seu sarcasmo, Niquito... – Ele se calou.

Não era difícil para Nico utilizar sarcasmo ou ironias em cada fala, porém ele queria ser verdadeiro com Thalia. Mas velhos hábitos não desaparecem com tanta facilidade, principalmente um cultivado como arma de defesa, para afastar-se do mundo. Não criar laços, era o que Nico queria. Laços se desfazem, corações são quebrados. Talvez ficar longe de sentimentos o fizesse mais feliz, mas felicidade é um sentimento. Um sentimento maior que criamos amando.

“Amar." Essa sim era a palavra que deveria ser evitada a qualquer custo. Tanto por Thalia quanto por Nico. Os dois acreditavam possuir a capacidade de não amar. Ela por ser uma caçadora, ele por ser... Ele mesmo. Nico Di Angelo jamais poderia amar alguém novamente... A palavra o lembrava de Bianca... Ele não poderia se lembrar dela.

O garoto sacudiu sua cabeça tentando afastar os pensamentos voltados para Bianca. Porém quando mais tentava afastar, com mais intensidade eles retornavam. Thalia continuava o observando.

— Nico? Em breve eu terei que voltar... Só podemos fazer isso uma vez no ano... E você realmente quer passar remoendo o passado? – Perguntou Thalia, o envolvendo num abraço.

Nico estremeceu com o abraço. Quem mais além de Thalia poderia querer abraçar um filho de Hades como ele?...

— Lia... Toda vez que olhar para o céu, prometo que vou me lembrar de você... Até ano que vem... – Disse.

— Eu também, Nico... Vou lembrar de você... Como lembro da Zoe... – Disse Thalia, observando a constelação de sua amiga caçadora.

— Acha que todas as caçadoras têm um lugar guardado no céu? – Disse Nico, pensativo.

— Hum... Não sei... – Thalia deu de ombros.

— Vou lhe encontrar um dia lá? – Ele perguntou, com seus olhos de joias negras brilhando sonhadores, como uma criança.

Thalia se lembrou do que significava ser uma caçadora. Vida eterna. Um dia, Nico seria um velhinho, e ela ainda teria dezesseis...

— Nico... – Ela começou.

Ele tapou a boca da morena com a mão.

— Não quero ouvir, Lia. Vamos aproveitar hoje... – Ele removeu a mão suavemente.

Thalia estava corada, e abaixou seu rosto para tentar camuflar-se. Mas Nico era muito perceptivo. Ele foi até o riacho, e, com as mãos em formato de concha, conseguiu pegar um pouco de água. Ele se moveu como uma sombra até Thalia, e derramou toda a água sobre a cabeça da morena, que ficou encharcada.

— Pronto... Esfriou um pouco? – Ele perguntou, com um falso tom de preocupação.

— Vai melhorar... – Disse se levantando. – Provavelmente vai depois disso!

Ela correu até o riacho e voltou com uma concha de água, que jogou na cabeça de Nico, que acabou também encharcado.

— Então é assim? – Perguntou.

Eles continuaram brincando no riacho, como crianças, até que Thalia escorrega e cai em cima de Nico.

— Ah... D-Desculpe... – Tentou se desculpar, corada e gaguejando.

— A cara de pineheiro molhada e mais durona do Olimpo está me pedindo desculpas? – Ele começou a rir.

Quando Thalia ia jogar mais água, Nico agarrou-a pelo pulso, trazendo Thalia para mais perto. Agora eles estavam olhando nos olhos um do outro, em silêncio.

— Lia... – Murmurou ele.

— M-Me deixe levantar! – Ela exclamou.

— O que exatamente você sente por mim? – Ele parecia sincero.

Thalia o encarou. Horrorizada, ou melhor, apavorada.

— C-Como? – Tentou formular uma pergunta.

— Quero saber se tenho permissão... – Ele deu um sorrisinho.

— P-Permissão de que? – Gaguejou.

— Disso... – E Nico a beijou.

“ But when I close my eyes, the miles melt away

Like you're here in my arms at the end of the day

So bring me the night, send out the stars

Cause when I'm dreaming we don't seem so far

Darken the sky, and light up the moon

So that somehow you'll be here with me soon

Bring me the night

Bring me the night

✨ That brings me to you.“ ✨