Estava exausta física e emocionalmente e tinha vindo buscar conforto com um amigo, mas o que recebo é mais uma afirmação que me deixa muito desgostosa.

Parecia que o mundo tinha combinado me irritar.

–--- Jade... você diz que não; por que não gosta mesmo ou pelo que as pessoas vão achar disso? ---- ele para a minha frente e me encara seriamente esperando por uma resposta que eu não conseguia dar naquele momento.

–--- Ficou louco? Da onde você tirou esta ideia? ---- e mais uma vez esqueço a canseira dando lugar a minha indignação e me ergo a sua frente.

Mas ele não me responde, apenas fica ali a me encarar como se exigisse que eu assumisse minhas preferências, e me sinto envergonhada por não ter tal coragem.

Espera... O que?

–--- Eu não gosto do Drago. Ele é um...

–--- Monstro? Criatura? Admita, agora que o conhece melhor nem o chamar deste modo você consegue.

–--- Isso não quer dizer que eu goste dele. Eu tenho um namorado humano já se esqueceu?

–--- Aquele que você admitiu a poucos segundos que quer terminar a todo momento? ---- seu sorriso de deboche com ar superior me irrita, mas isso já me irritava desde a época em que o tentava provar sobre a existência de demônios. ---- Se eu fosse você parava de negar em primeira instancia e me focava em ver se é verdade ou não. Pode ser que você só tenha simpatizado ou seja efeito do contato mental elevado.

–--- É... você esta certo. ---- murmuro e volto a me sentar em sua cama.

–--- E quando já estive errado?

–--- Ai Drew, Drew, Drew tisck tisck. ---- me ergo indo em direção a seu banheiro preguiçosamente lembrando que já não tomava banho a um dia inteiro. ---- Tantas vezes que não da nem pra contar. ---- pontuo por fim tirando o sorriso vitorioso de seus lábios, o encarando por sobre ombros enquanto procurava por uma toalha limpa; e logo nós rimos relembrando da infância.

–---- Ah! Isso não conta! ---- ele afirma entre risos ao me atirar uma toalha que pegava de um armário, já se pondo a retirar os livros do chão e arrumar o quarto. Já estava acostumado com este meu jeito. ---- Você sempre usa este argumento para tudo.

–--- Claro. Se ganho fácil assim pra que mudar? ---- o correspondo ao fechar a porta e me despir, estava exausta e com o corpo dolorido, sentia o suor salgado escorrer pela minha face enquanto abria o forte chuveiro a gás. ---- Mas falando serio creio que desta vez você passa no teste; estão falando muito do seu desempenho mesmo com a idade.

[---- Idade? Serio que eles se importam com isso? ----] ele soa indignado mas logo se cala, enquanto eu me preocupava em ter de por a mesma roupa suja novamente; me recordando vagamente do conteúdo dos papeis que estavam espalhados por todo lado. [---- Mas falando serio... Você deveria se resolver logo com o Paco.]

–--- Eu sei. Mas o que eu digo? “Oi Paco, você é perfeito, mas o amor acabou então fim.” ou o clássico “Não é você sou eu.”? ---- brinco um pouco enquanto realmente indago o que fazer; esperava que um homem pudesse indicar como tratar outro; entretanto alguns dos símbolos naquelas folhas não saiam de minha mente. ---- Sei lá acho que vou falar com ele agora. Manda um recado pra mim? Escreve assim “Desculpa por tudo. Ando estressada com muitas coisas; mas se você quiser conversar para resolver isso te encontro no seu apartamento. Beijos Jade.”

[---- Que formal par um namoro de anos... ---- ] ele reclama mas faz o que pedi, e assim que saio fuço em suas gavetas em busca de algo limpo. Ainda envolta em uma toalha afano uma bermuda e uma blusa regata que ficam demasiadamente largas. ---- Você é muito folgada. ---- ele brinca ao me ver pentear os cabelos molhados indo checar se havia deixado o banheiro em ordem; e então aproveito para "matar" mina curiosidade sobre os tais símbolos. ---- Não prefere algo mais... feminino?

Trigram, feitiços, brasões entre outras coisas estranhas para os assuntos de alguém como Drew que almejava a lojica acima de tudo.

–--- Estou sem saco para algo feminino. ---- respondo rapidamente ao encarar minhas botas que não combinavam em nada com o novo visual; voltando os olhos para seus tênis que eram grandes de mais para serem afanados; e suspiro entristecida me jogando sobre a cama novamente. ---- Eu deixei algum sapato aqui da ultima vez? Algo menos... e mais sociável?

–--- Sem saco pra ser feminina, mas ainda quer combinar sapatos... Você não, mas o David tem pés pequenos e largou o tênis dele aqui. ---- ele afirma ao tirar um par debaixo da própria cama e eu o abraço alegremente, já os calçando e recolhendo meus trajes os socando em uma sacola qualquer. ---- Já vai?

–--- Sim. Você esta certo eu tenho que resolver a minha vida. ---- respondo enquanto abro aporta para partir, ainda indignada sobre seus estudos, mas neste momento este não era o meu foco. ---- As vezes acho que estou com Paco só pela comodidade. Ou o não querer ficar sozinha.

–--- Te entendo. ---- ele vem ate aporta e sai junto de mim a trancando, provavelmente; iria tomar um café. ---- Já tomou café? ---- ele comenta ignorando os olhares dos colegas que me encaravam de cima a baixo ao sair de seu quarto com suas roupas as cinco da manha.

–--- Sim obrigada. ---- lhe dou um beijo na face para provocar os colegas e saio com um aceno.

Era engraçado, estava tão acostumada com Drew que às vezes ate me esquecia que ele era um homem e as pessoas poderiam comentar ou tirar conclusões.

Meu aparelho vibra com o chegar de uma mensagem. /=/ Não acho que temos que conversar sobre nada. Você só tem que relaxar ou resolver seja lá o que esta te deixando assim. Bjs ♥/=/ perfeito e amoroso como sempre. Me fazia ate sentir mal e um tanto idiota em estar infeliz nesta relação.

oOoOoOoOoOo

Atravesso a cidade indo em direção aparte mais nobre e rica ficando cercada de esplendorosas construções magnânimas e contorcidas que desafiavam não somente a física como também os sentidos; chegando a um opulento condomínio.

–--- Jade Chan. ---- alerto ao porteiro e logo vejo a imensa porta se abrir.

Vou ate o elevador cravejado e reviro os olhos. Sempre achei aquilo tudo um pouco de mais para uma moradia; o exagero em se mostrar que se tem dinheiro me incomodava, mas agora me trazia uma certa aversão.

Paro em frente a uma única porta em um ostentoso corredor, com uma única placa sobre ela “El Toro Fuerte”. ---- Pra que isso? ---- penso ao bater a porta que se abre instantaneamente.

–--- Jade! ---- ele vem ao meu encontro alegremente, ainda portando músculos ainda mais rígidos e assustadores que na época da infância. ---- Há quanto tempo garota. Não veio me contar que vou ser avô veio?

–--- Bêbado a esta hora da manha? ---- esquivo me de seu abraço fatal e logo estou atrás do mesmo. ---- O Paco não é seu filho pra você ser avô. E não andamos bem você sabe muito bem disso.

–--- Claro que sei. Mas eu praticamente o criei não foi? ---- ele volta a se aproximar e desta vês não tenho velocidade para evitar um afago sobre a cabeça que quase me desacorda. ---- Quando fui pai pela primeira vez a Conchita também estava irritada por tudo e descontava em mim sem eu ter feito nada. Bem eu achava que não tinha feito não é. ---- ele afiram e ri com seu próprio argumento.

–--- Não to grávida. To infeliz no relacionamento e quero terminar. ---- sou curta e grossa e ele se espanta parando de sorrir no ato.

–--- O que ouve? Ele não esta dando conta? ---- sua indignação era palpável. ---- Eu ensinei tudo a aquele pivete. Ele não anda fazendo direito?

–--- O que? Ensinou??? Como você pode... Ai esquece. ---- me envergonho com seus questionamentos, afirmações e minhas próprias duvidas. Como ele pode ensinar? Ta ai uma informação que eu não precisava. ---- Nem tudo se resume a sexo poxa vida. Affe Agora eu quero um trago.

–--- Então se o problema não é na cama a onde é? Não pode ser assunto por que vocês têm muito em comum.

–--- Acho que só enjoei da cara dele. Sabe... depois de um tempo esta arrogância toda irrita.

–--- Esta gostando de outro cara.

–--- O que? Não to!

–--- Ta sim.

–--- To nada!

–--- E não é de agora. ---- ele me encara serio, e eu penso em como escapar do vigésimo andar antes que ele me batesse. ---- Esta irritada por que esta se esforçando pra manter um relacionamento que já dura anos e não tem motivos para acabar. E que também todos a sua volta aprovam. ---- ele se ergue e fica a me encarar pondo as mãos nos meus ombros, enquanto eu tremo. ---- Mas você tem que seguir o que ama e não se prender. Teme por que este cara é um... O que? Delinquente? Prisioneiro ou simplesmente por que todos acham você e o Paco “bonitinhos” juntos.

–--- Por que todo mundo fala que estou apaixonada por outro?

–--- Talvez por que esteja na cara.

–--- Essa tua ideia de eu estar grávida... Foi ele quem falou pra você? Ele acha isso? ---- saio das mãos dele e o encaro. ---- Não é só por que ele foi o meu namorado por tanto tempo que eu vou casar com ele.

–--- É vocês de jovens são assim agora. Mas você deveria esclarecer as coisas com ele direito. Pelo menos ate se resolver. Quem sabe o que você sente por este outro cara seja passageiro. Apenas uma curiosidade. E não, não foi ele... ele reagiu como você.

–--- É você esta certo. Acho que o melhor é dar um tempo... Não ta dando mais. ---- suspiro e afirmo; ainda amava Paco mas não a ponto de continuarmos juntos. ---- Será que ele esta em casa?

–--- Há esta hora? Provavelmente esta chagando na agencia. ---- ele comenta indo me acompanhar ate aporta. ---- Mas eu quero meus netinhos de olhos puxados e pele morena ainda.

–--- Calaaa bocaaa! ---- rio e me despeço. ---- E não tem outro cara!

Volto à rua.

Não queria terminar com Paco, mas também não queria continuar com ele.

Mas eu não era uma pessoa de ficar enrolando. ---- Alo Paco? Ta na empresa já? Nossa que sedo... Bem é serio eu queria falar cara a cara, mas pela mensagem já vi que você vai ficar me enrolando. Posso passar ai? Não eu não to de frescura! Eu quero terminar com você e não quero que seja por telefone porra! É...

Desligo com o coração acelerado, e me direciono em direção a seu apartamento. Não era minha intenção falar aquilo por telefone, mas conhecendo o ser como conhecia tinha de ser o modo.

Chego a sua porta ainda com as pernas bambas e uma forte dor no estomago. O receio e a vontade de voltar atrás e manter tudo como estava vinha em forma de ondas a minha mete.

Abro a porta com a minha copia da chave e espero no sofá.

Fotos nossas era a única coisa que animava o escuro e sóbrio apartamento; tinha todas as nossas fazes, desde crianças ate hoje, brigando e ate mesmo se amando. E um aperto sobe a minha garganta, quando a porta se abre.

–--- Jade? ---- a vos espantada e firme dele vem aos meus ouvidos me fazendo estremecer ainda mais. Devolvo a fotografia a onde estava enquanto ele acompanha meu ato com os olhos. Parecia desconfortável em sua própria casa, pois em momento algum se senta a o meu lado. ---- Por que isso agora? Esta tudo bem com você?

–--- Eu sei o que você esta pensando. Já tivemos brigas realmente serias e nunca... ---- paro dois segundos de falar evitando verter-me em prantos. ---- Eu não sei explicar o porque de estar me sentindo assim. Você deve estar com muita raiva.

–--- Não. Eu entendo. ---- ele se senta ao meu lado e pega nosso retrato na mesa. ---- Lembra o outono passado que todos estavam debatendo sobre os portais que foram abertos pela agencia? E nós não parávamos de brigar por que eu estava estranho e ficava...

–--- Olhando par todo rabo de saia que passava? Lembro bem.

–--- Eu não queria te trair. Você é mais bonita que qualquer uma delas mas... ficava imaginando se era a pessoa certa mesmo ou estávamos juntos por que todos ficavam... meio que pressionando para isso. ---- ele me entrega o retrato e me da um beijo leve na face. ---- A verdade é que ainda não sei. Mas também não queria me afastar de você. ---- não tinha como resistir a aqueles olhos castanhos.

–--- É acho que você realmente me entende... Mas não sei o que fazer. Como posso... e ao mesmo tempo...? ---- seguro meus cabelos para trás ao apoiar ao cotovelos nos joelhos.

–--- Você vai me bater se eu propor uma coisa que esta na minha cabeça desde aquela época?

–--- Vou. Mas fala mesmo assim.

–--- Só você... ---- ele sorri, um sorriso de derreter corações. ---- Já ouviu falar de relacionamento aberto?

–--- Quer ser corno?

–--- O que?! Não! Ai... ---- ele se enrola e cora, era engraçado e meigo de certa forma. ---- Não é traição se for permitido.

–--- Esta falando isso por que quer se esbaldar por ai. Entendi. ---- me levanto. ---- Tudo bem por mim. Mas não se assuste se eu achar alguém neste tempo e me case. ---- pontuo ao abrir a porta pronta para sair daquele apartamento.

–--- Sei. ---- ele retruca com desdém ao se recostar sobre o laço sofá ao fazer pose, se achando a ultima bolacha do pacote como sempre fazia. ---- Acha mesmo que vai encontrar um cara que seja “melhor” que eu? ---- ele volta a sorrir daquele modo que sabia que não tinha como um ser humano resistir e passa mão sobre suas grossas e macias madeixas.

Não tinha como negar.

Havia momentos em que aquela pele monera soltava faíscas.

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–*-Ikazuki -*-

Eu não acredito que Jade tenha se envolvido desta forma com os demônios. Ela é uma jovem muito inteligente e independente e apenas viu o lado deles querendo fazer a paz e quem sabe uma nova era.

Acredito mesmo que um homem e uma mulher podem ser amigos sem ter segundas intenções e o tempo em que passaram sobre o mesmo teto não foi nada de mais, sendo apenas colegas de quarto, mantendo um respeito mutuo.