Eu te amo, Q escrita por Gina Maeve


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Minha versão do romance dos dois melhores personagens dessa história.
Boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/635668/chapter/1

— Q, eu sempre deixo pistas... Para dizer que eu estou bem e tal.

— Mas... Eu achei as pistas, Margo. Eu as juntei e viajei para cá e procurei por você e te achei. Você deixou as pistas pra mim, para eu te procurar, não é?

— Eu não queria ser achada. - Margo disse fria. - Q, o que veio fazer aqui?

Eu não respondi. Apenas fiquei... Calado. Tentando dizer aos meus sentimentos bobos e idiotas de que Margo não fez isso por mim. Eu era apenas uma pessoa de papel dentre tantas outras pessoas de papel.

— Quentin, no que está pensando?

Essa foi a primeira vez que ela perguntou sobre meus pensamentos.

— Margo eu... Eu estou apaixonado por você!

— Não. Não está.

— Tô sim.

— Você não pode estar apaixonado por mim, Q!

— Eu tô sim!

— Você nem me conhece! Nem eu mesma me conheço!

Não respondi. Houve um silêncio enquanto eu olhava para o rosto dela. Os olhos de Margo, tão azuis.

— Você precisa ir. - falou depois de um tempo. - Desculpa, eu arruinei a última semana sua de escola.

— Não. Foi a melhor semana da minha vida. Eu revirei a noite com a garota que eu gosto, fizemos coisas engraçadas e invadimos o Sea World. Eu fui para a escola no dia seguinte com sono e olheiras por não ter dormido, e não estava nem ligando porque tinha sido a noite perfeita. Você não arruinou nada, então não se desculpe. - ela sorriu.

— Precisa ir, Q. O ônibus.

Eu olhei para trás e o vi chegar. Corri para pegar um assento na janela. Eu me sentia como nos antigos tempos, a abri e me debrucei sobre o vidro. Margo chegou mais perto para me ouvir. Estávamos a poucos centímetros um do outro.

— Vai ficar aqui para sempre? - perguntei.

— Até eu achar as respostas.

— E depois? - ela riu.

— Eu não faço a mínima ideia. - paramos de conversar por um segundo. - Q?

— Oi?

— Deixa a janela aberta. Eu vou voltar depois.

Já se passaram seis meses desde a última vez em que vi Margo. Eu sempre deixava a janela aberta, como havia pedido. Mas ela nunca apareceu. Se apareceu eu não a vi.

Agora eu estou na faculdade, em Califórnia. Demorou muito para entender o quanto eu estava errado sobre os meus sonhos. Sempre foi um desejo meu vir pra cá, me formar com as melhores notas e ter uma família. Mas, nada faz sentido agora.

Meu sonho nunca foi essas coisas. Meu sonho era encontrar a felicidade, e eu achava que ser feliz era fazer o que as pessoas de papel faziam. Mas eu sou uma pessoa de papel também, é por isso que eu estou aqui, na faculdade. Margo também é de papel.

Eu estava dormindo e já devia ser meia noite, mas eu escutei um barulho da minha janela. A primeira coisa que eu vi foram aqueles olhos, tão azuis. Os olhos inconfundíveis de Margo.

— O que faz aqui? - perguntei confuso.

— Obrigada por deixar a janela aberta, Q.

Ela entrou e tirou o capuz do moletom preto da cabeça. Seu cabelo havia crescido mais, estava longo e bagunçado. Como Margo. Ela começou a vasculhar a minha gaveta, procurando por alguma coisa.

— Como sabia que eu estava aqui?

— Sua mãe me disse. - respondeu agora olhando debaixo da minha cama. - Deixei novas pistas sobre onde eu estava agora, pros meus pais e para Roth.

— O que está procurando?

— Não sei. Vou saber quando achar. - revirei os olhos achando graça. Depois de um tempo ela se virou num sorriso. - Isso é perfeito.

— Spray de tinta azul?! - ergui uma sobrancelha. - Pra quê? Pichar um ”M” em todos os lugares que vandalizar? - ela deu um sorriso sapeca.

— Vamos, tenho três coisas para fazer essa noite.

Eu dirigia pelas estradas da Califórnia, seguindo as instruções de Margo. Dessa vez, não hesitei em segui-la. Não estava com medo de ser preso ou expulso da faculdade. É tudo de papel.

— Quem são nossos inimigos dessa vez?

— Não temos inimigos. - respondeu. - Lacey faz faculdade aqui também, estamos indo para lá. Preciso concertar algumas coisas.

A olhei de canto. Ela estava coma expressão de sempre, mexendo seus dedos ao som da música e olhando para o céu pela janela.

— É aqui.

Eu parei o carro e Margo fez sinal para que eu a esperasse. Ela puxou alguma coisa da sacola que estava no banco de trás que 1) eu nem sabia que estava aqui e 2) eu também não sabia quando ela colocou isso aqui.

Depois de alguns minutos eu pensei em sair e procurar por ela, quando vi uma luz de um dos apartamentos do dormitório acender. Depois de mais alguns minutos ela tornou a desligar e rapidamente eu vi uma Margo saindo pela janela.

Ela correu para o carro e fechou as portas sem barulho.

— Número um, dar flores para Lacey e pedir desculpas. Feito.

— Agora, para onde vamos? - ela olhou para as estrelas no céu por um tempo e depois virou o rosto pra mim.

— Q, dirige.

— Pra onde? - insisti. Mas ela sorriu e tornou a olhar as estrelas.

— Para nenhum lugar.

Eu dirigia pelas estradas em Califórnia enquanto Margo estava do meu lado, cantarolando as músicas que passavam na rádio.

Não tínhamos nenhum destino. Apenas passeávamos por ruas aleatórias enquanto apreciávamos a noite maravilhosa. O vento nos cabelos de Margo a faziam ficar mais bonita ainda. Eu ainda não acreditava que ela estava do meu lado. Ali. Agora.

— Vamos para a direita.

Virei o carro.

— Pra quê?

— Você faz perguntas demais, Q. Porque precisa saber de tudo? Assim fica sem graça. - nós rimos. - Vire na próxima esquerda e pare em frente ao prédio.

— Qual prédio?

— Só há um.

Chegamos lá e realmente, só havia um prédio. Era uma rua sem saída, com puro mato a não ser por um prédio bem no meio.

Ela saltou do carro e eu a segui com pressa. Ela apertou o interfone de todos os apartamentos, até que o do 202 atendeu.

— Quem é?

— Eu sou moradora do 104. Eu esqueci a minha chave e estou sozinha em casa. Pode abrir pra mim? - a olhei incrédula.

— Claro.

Logo depois ouvimos o barulho da porta automática se abrir e ela entrou abrindo passagem. Subimos as escadas.

— Como fez isso?

— Isso o quê?

— Você o enganou! - ela gargalhou.

— Eu investiguei e não tem ninguém morando no 104. Ele deve ter achado que eu sou a moradora nova, mas a verdadeira só chega amanhã de noite.

— E porquê estamos aqui?

— Muitas perguntas, Q. - eu me calei e olhei para frente de novo.

Subimos até o 104 e com um clipe do seu cabelo, Margo abriu a porta. Com cuidado nós entramos para não fazer nenhum barulho alto e acordar os outros moradores.

O lugar era simples e aconchegante, com uma vista boa para parte de Califórnia.

— Aqui também é de papel.

— Eu sei. “Uma cidade de papel para uma pessoa de papel”.

— Você ainda se lembra disso. - riu virando para mim. - Q?

— Margo?

— Obrigada. - dessa vez eu não perguntei. Eu sabia do que ela esta a falando. Estava agradecendo pela promessa que cumpri, por ter vindo com ela, por estar com ela.

Eu sei que não devia. Margo era uma pessoa imprevisível e linda. Mas eu não podia mentir, ainda estava apaixonado por Margo e aqueles olhos não ajudavam nada.

Ela foi chegando perto e eu fiz o mesmo, um segundo e estávamos num beijo doce. Eu segurava o rosto dela com uma mão e a cintura com a outra. Margo apenas deixou suas mãos livres, deixando que eu conduzisse a dança de nossas línguas.

Quando fomos nos soltando aos poucos, olhei para aqueles olhos azuis, tão Margo. Ela sorriu e afastou-se, deitando no sofá.

— Eu vou sair da cidade de papel. - ela anunciou. - Encontrei as minhas respostas e agora eu sei para onde devo ir.

— Ir pra onde?

Ela não respondeu e se levantou.

— Vamos, Q. Você precisa voltar para a faculdade.

Chegamos na faculdade e já eram 4 da manhã. Margo saiu do carro e fomos juntos para meu dormitório. Ela sentou-se em cima da mesa de pernas cruzadas e colocou seu capuz preto de volta.

— Dorme. Eu vou embora daqui a pouco, só preciso de um tempo.

— E as outras duas coisas que precisava fazer?

— Já fizemos tudo, Q. Agora eu vou fazer a terceira, que é ir para onde eu quero ainda hoje.

A fitei por uns instantes.

— O que era a segunda coisa?

Ela continuou calada, olhando pra mim. Ficou balançando suas pernas e contorcendo seus dedos antes de finalmente responder.

— A segunda coisa era te dar um beijo.

— O que? - perguntei incrédulo.

— Faz um longo tempo que não nos vemos. Precisava passar um tempo com você. Precisava ficar perto, mesmo que por uma noite.

— Por quê?

— Perguntas demais, Quentin.

Ela saiu da mesa em um salto e foi para a janela. Ela ficava do lado da minha cama.

— Não vai mesmo dizer o motivo do beijo? - ela sorriu.

— Boa noite.

Ela pulou a janela. Eu ficava no primeiro andar, então se ela ficasse na ponta dos pés ainda podia ver metade do seu corpo.

Margo continuou ali, do outro lado da janela, me olhando de longe. Aos poucos, minha vista foi ficando embaçada e em algum momento eu me deitei na cama e fechei os olhos.

Dormindo, ou não, eu ainda sentia o olhar de Margo ao meu lado. Inclinada na janela me olhando deitado.

— Obrigada, Q. Eu fiquei feliz pelos seus sentimentos daquela vez. Mas eu não me conhecia, não podia aceita-los. - ela fez uma pausa. Sua voz estava meio distante. Ela achava que eu já estava dormindo. - Agora eu achei as minhas respostas, então eu vou embora para recomeçar. Em outra cidade de papel.

Eu a ouvi entrar no quarto de novo e sentar na minha cama. Eu estava com sono demais para abrir os olhos. Margo depositou um beijo na minha bochecha e saiu pelo gramado.

— Eu te amo Quentin.

Foi a última coisa que eu ouvi antes de apagar.

Amanhã será a formatura da faculdade. Finalmente poderei ser um médico, já até arranjei um bom estágio.

É meia noite. Eu estava muito animado para dormir. E óbvio que isso não aconteceu, porque havia uma figura na minha janela.

— Quem é? - perguntei.

— Esqueceu-se de mim, Q?

— Margo?! O que faz aqui de novo? Aliás, já se faz anos!

— Eu sei. Você trancou a janela, foi difícil abrir a fechadura.

— Não pensei que voltaria mais.

— Eu não iria voltar. Mas eu mudei de ideia.

— Porque?

Ela se aproximou e sentou-se ao meu lado na cama.

— Você sabe. Estava meio acordado quando eu disse.

Lembrei-me quando ela veio da última vez e disse aquelas palavras: que me amava.

— Eu não cumpri as três coisas. - disse.

— O que ficou faltando?

— Ir embora. Eu não consegui. - ela me olhou com aqueles olhos. - Era para eu explorar as cidades de papel nesse mundo de papel. Estar vivendo de cidade em cidade, estando ali até o papel se rasgar e sair novamente, numa nova aventura. Essa é a Margo, essa sou eu!

— E porque não fez isso?

— Porque eu deixei um papel importante para trás. - eu sorri depois de entender.

Ela me deu um abraço longo e apertado. Senti seu cheiro de mulher pela primeira vez.

— Amanhã você se forma, não é?

— Aham.

— Posso passar a noite aqui?

— Por mim tudo bem. - falei dando espaço para que ela se deitasse. Ficamos abraçados na cama, sentido a respiração um do outro. - Margo?

— Oi?

— É pra deixar a janela aberta? - ela ficou calada por um tempo.

— Pode fechar a janela, Q. Eu não vou mais voltar.

— É a última vez que você vai vir?

Margo se aproximou ainda mais de mim, enterrando seu rosto no meu peito.

— Não. É a última vez que eu vou embora.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Eu te amo, Q" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.