POV Lauren

Sinto as lágrimas escorrerem pelo meu rosto enquanto caminho o mais rápido possível para longe da escola. Eu errei, sei disso, mas não precisava de tudo o que ele disse.

Vejo um pequeno parque do outro lado da rua e decido ir me sentar lá. Jogo a mochila de qualquer jeito no chão e me sento em um banco. Tento parar de chorar, mas não consigo.

Ele estava bravo, muito bravo. Nem me deixou falar antes de começar a gritar. Mas sei que boa parte disso é culpa minha, eu não deveria ir ao baile com nenhum dos dois. Eu não deveria nem ir ao baile.

Ouço meu telefone tocar, mas não me importo. Ele toca mais duas vezes, me deixando irritada. Pego e olho a tela, percebendo que Luke está me ligando sem parar.

Não quero falar com ele, não quero falar com ninguém! Desligo o aparelho e coloco-o de volta na bolsa. Abraço minhas pernas e desisto de tentar não chorar. Devo ter ficado ali por um bom tempo, apenas revendo a nossa "conversa".

"-O que está fazendo aqui, Lauren?!

Pergunta, cruzando os braços.

–Também tenho aula de Educação Física. Podemos conversar sobre...

Começo, tentando acalma-lo.

–Sobre o que?! O fato de você ter pedido para que nenhum de nós ficasse atrás de você, mas aceitou o pedido do Dean?! Que você está enrolando dois caras?!

Grita. Ele está furioso, sei disso.

–Me desculpe! Eu não sabia que você iria me convidar, tem muitas garotas muitos mais bonitas do que eu em disposição!

Tento me defender, mas ele não se importa.

–Eu só queria que uma concordasse em ir comigo, mas ela é uma idiota! Você é tão indecisa, Lauren! Porra, custa escolher um de nós de uma vez?! Não é atoa que seus pais te mandaram para longe, você é impossível!

Berra, passando a mão nervosamente pelos cabelos loiros."

Algo interrompe meus pensamentos. Mais adiante, dois garotinhos estavam segurando dois gravetos, brincando de bater em um pequeno gatinho. O filhotinho tenta fugir, subindo em uma pequena árvore, mas as crianças pegam pequenas pedras e usam para acerta-lo. Me levanto e corro até eles, ficando entre os meninos e o gato.

–Ei, isso é errado! Por que estão batendo nele?!

Pergunto, cruzando os braços.

–Ele roubou um pedaço de pão do nosso piquenique!

Grita um dos garotinhos.

Olho para o bichinho novamente, percebendo que ele está bem magrinho. Volto minha atenção as crianças novamente.

–Ele está com fome! Vocês não podem maltratar os bichos assim, imaginem se fosse com vocês.

Eles olham para o chão, envergonhados, e pedem desculpas.

–Vou cuidar dele, podem voltar para o piquenique de vocês.

Vejo os dois se afastarem, indo para o outro lado do parque. Pego o gatinho, assustado, e o enrolo com o meu casaco. Como não pretendo ir para o resto das aulas de hoje, decido leva-lo para casa.

[...]

Vejo a gatinha, que eu apelidei de May, dormir bem quieta na minha cama. Depois de chegar em casa eu peguei um pouco do meu dinheiro e fui comprar um pouco de ração para a pequena. Cuidei dos machucados e consegui faze-la se acalmar o suficiente para descansar um pouco.

Nesse meio tempo eu fiquei tão distraída que nem me lembrei da briga com Luke, mas agora, sem ter nada para fazer, a minha vontade de chorar está começando a voltar.

Ele usou um argumento que me atingiu muito. Os meus pais. Eles nunca tem tempo para ficar comigo, sempre tentam me manter distraída para que eu não perceba que não tenho pais presentes.

Dói saber que o Hemmings tem razão. Eles me mandaram para a Austrália para não ter que se preocupar comigo. Se me amassem de verdade, ao menos teriam ligado para perguntar se está tudo bem comigo.

Decido ver alguma série na Netflix, para tentar manter a cabeça distraída, ao menos até Ash chegar para eu ter com quem conversar. Pego o celular e o ligo, percebendo que há sete chamadas não atendidas de Luke. Reviro meus olhos. Eu estava errada, muito errada, mas ele também.

Decido ver a primeira temporada de Teen Wolf, uma série que muitas pessoas já recomendaram para mim. Devo ter visto no máximo três episódios quando ouvi gritos no andar de baixo.

–Onde vai?!

–Falar com a Lauren!

–Se ela não atendeu o telefone é porque não quer falar com você, idiota!

Confusa, vou até a porta do quarto, espiando pela escada os dois garotos. Ash está com os braços cruzados, revirando os olhos. Luke está parado no meio da escada, olhando para o meu primo como se estivesse pedindo ajuda.

–Você não deveria ter vindo, Lukey. Acho que os dois tem que ficar um pouco sozinhos, para esfriar a cabeça. Tenta falar com ela amanhã.

Ash tenta ser gentil o que me faz ficar muito aliviada. Quem sabe eles não estejam se acertando.

–Eu... Ok, tem razão.

O loiro baixa a cabeça, derrotado.

–Não quer me contar o que está acontecendo? Sabe, ainda sirvo como melhor amigo para algumas coisas

Ashton se senta no sofá, fazendo sinal para que Luke faça o mesmo.

–De forma resumida, eu e outro cara estamos discutindo sobre quem fica com a Lau. Ela pediu um tempo para pensar e nós concordamos. Hoje, quando fui convida-la para o baile, descobri que ela já tinha aceitado ir com o outro cara. Então nós brigamos e eu falei coisas que não devia.

Deu de ombros, se atirando ao lado do meu primo.

–Olha, não sei quem é esse imbecil com quem você está brigando, mas ele não tem chances. Prefiro você namorando a minha prima, do que um estranho.

Ash começou a encarar o chão, como se estivesse criando coragem para falar alguma coisa.

–Valeu, Ash.

Sorriu Luke.

–Me desculpe, Ok? Eu errei em bater em você. Sempre foi um dos meus melhores amigos...

Um sorriso apareceu no meu rosto. Pelo menos algo bom aconteceu hoje, eles estão se perdoando.

–Também te devo desculpas, Ash. Não achei que aquilo fosse acontecer.

Eles se abraçaram e eu tive muita vontade de gritar "que bonitinhos!".

–Ok, chega de momento gay. Vamos comer? Estou morrendo de fome!

Riu Ashton, se levantando.

–Vamos. Tem aquele bolo que a sua mãe faz? Ele é maravilhoso!

Concordou Luke, indo atrás de Ash para a cozinha.