POV Lauren Rose Irwin

Sabe aquele momento em que você quer gritar até não poder mais? Era assim que eu estava me sentindo desde que recebi a notícia de que não moraria mais com os meus pais no Brasil e iria me mudar para a Austrália, para morar com os meus tios e o meu primo.

Não, meus pais não morreram, se é isso que quer saber. Eles estão sempre viajando a trabalho desde que eu me conheço por gente e eu só os vejo durante uns três dias inteiros por mês (Júlia, nossa empregada, faz mais o papel de mãe que a minha própria mãe!); por isso eles começaram a achar que eu estava me sentindo muito sozinha e que precisava conviver mais em família.

Como eles não podiam simplesmente largar o trabalho para ficarem mais tempo comigo (pelo menos não agora que a impressa está fazendo tanto sucesso), falaram com os meus tios, sem me comunicar, e combinaram que eu moraria em Sydney por um ano.

Eu gostava de morar no Brasil, mais especificadamente no Rio Grande do Sul, pois, além de adorar o clima, eu tinha muitos amigos na escola, mas não reclamei muito quando recebi a notícia, já que sempre gostei dos meus tios e sou muito próxima do meu primo, Ashton.

Bem, acho melhor eu parar de ficar falando comigo mesma e embarcar no avião de uma vez, já que estou em frente ao portão de embarque à uns bons 15 minutos e a última chamada para o meu vôo acabou de ser dada nos autofalantes.

Entro no avião e começo a procurar a poltrona número 57, mas quando a encontro fico surpresa ao ver que já tem um garoto sentado nela.

-Ei, garoto, esse lugar é meu!

Xingo, mas ele me olha sem entender nada.

“Provavelmente não fala português. Deve só ter vindo passar as férias no Brasil.” Penso e repito a frase, só que dessa vez em inglês.

Ele olha para a própria passagem e responde, em inglês, dando uma piscadela.

-É verdade, a minha poltrona é a 56, mas eu não estou com vontade de sair dessa aqui. Senta na minha.

-Não, quero sentar na 57. Sai dai!

Retruco mal humorada. Qual é? São 6 da manhã!

-Deixa de ser infantil baixinha. Senta logo na outra.

Fala, divertido com a situação.

- Por que quer tanto sentar nessa ai?

Pergunto tentando manter a calma. NINGUÉM me chama de baixinha, principalmente às 6 horas da manhã!

-Por que essa fica na janela, é claro! Sem falar que o número sete é o meu número da sorte.

Fala, de forma dramática.

-Depois diz que eu sou infantil!

Digo bufando e me atirando na cadeira que deveria ser dele.

Durante o resto da viajem (muito demorada por sinal) eu tento ignora-lo o máximo possível e pego o meu livro para tentar ler um pouco, mas é claro que ele tinha que ficar me incomodando. Apesar de estar usando fone de ouvido, ele coloca a música no máximo, e eu consigo escutar.

Me viro para pedir que ele baixe o volume e me pego o analisando. Ele tem cabelos loiros, olhos bem azuis e um piercing na boca. Com certeza é muito bonito, pena que é irritante.

-Ei, me desculpe se eu fui grossa antes, é que minha vida está mudando bastante nas últimas semanas. Pode baixar o volume da música, por favor?

Peço o mais educada possível, afinal eu realmente fui muito chata com ele antes.

-Não.

Responde me lançando um sorriso maroto e voltando sua atenção para a tela do telefone em que ele estava jogando.

Furiosa, desisto de ler e tento dormir um pouco.

~Horas depois~

-Acorda baixinha estressada, já chegamos.

Escuto o garoto loiro dizer e, meio sonolenta, pergunto.

-Já?

-Sim, e eu se fosse você nem desceria do avião. Os australianos, como eu, não precisam de uma anãzinha irritada aqui.

Retruca rindo e em seguida indo para a saída do avião.

Bufo e me levanto, pegando a minha bolça.

Quando finalmente saio do avião sinto um calor muito grande e fico aliviada por estar com um vestido fresquinho. Começo a olhar para os lados, em busca de Ashton, que iria me buscar, e não demora muito até eu localiza-lo... Abraçando o loiro irritante do avião?!

Corro até eles, que quando me veem se afastam.

-Priminha! Que saudade!

Exclama Ash me esmagando em um abraço de urso.

-Essa ai é a sua prima que vinha do Brasil? Achei que você tivesse dito que ela era toda educada e fofinha!

Diz o loiro, rindo.

-Já se conheceram?

Pergunta meu primo, surpreso.

-Mais ou menos, só nos falamos para ela reclamar que eu estava na poltrona errada e blá blá blá. Sou o Luke.

Fala, sorrindo inocente.

-Sou Lauren.

Respondo revirando os olhos, mas sorrindo.

-Bem, acho que os dois devem estar cansados. Luke, que tal você e os meninos passarem o dia lá em casa amanhã?

Fala Ash, parecendo feliz de eu já ter conhecido um de seus amigos.

-Ok. Tchau, cara. Tchau, anãzinha.

Responde se virando e indo embora.

-Você ficaria muito triste se ele morresse dolorosamente?

Pergunto com carinha de anjinho para Ash, que sabe o quanto eu odeio ser chamada de baixinha ou qualquer coisa do tipo.

-Luke é assim mesmo, você se acostuma. Vamos pegar suas malas e ir embora, meus pais estão morrendo de saudade de você.

Diz, passando os braços ao redor do meu pescoço e me guiando pelo aeroporto, o que era engraçado já que as pessoas nos olhavam como se fossemos namorados ou coisa do tipo.