Sabor de Sangue escrita por Angie


Capítulo 9
Capítulo 7




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/635456/chapter/9

Erin abriu os olhos no quarto parcialmente iluminado devido a luz do início da manhã e retirou os cabelos escuros da frente dos olhos. Apesar do sono, não foi necessário esforço algum para se lembrar de onde estava. Em seu novo quarto, em uma nova casa de um novo país. Londres.

Erin sempre foi muito adepta a mudanças. Sempre foram elas que tornavam sua vida interessante.

Levantou espreguiçando-se e capturou seu reflexo brevemente em um espelho do chão ao teto que se encontrava na parede ao lado de sua cama. Cabelo bagunçado, roupas amassadas e cara de sono. E ainda assim continuava encantadora. As vezes Erin achava que conviver com os fae havia exercido mais influência do que o necessário nela, mas, se tratando do quesito beleza ela estava totalmente satisfeita com isso.

Caminhou lentamente até o banheiro e escovou os dentes mecanicamente. Após terminar, bocejou e se dirigiu ao chuveiro. Assim que o ligou e o jato quente de água atingiu em cheio sua cabeça ela deu um pequeno pulo e se lembrou de que ainda estava vestida.

– Fuso horário idiota. – resmungou ainda sob a água e desligou o chuveiro.

Pacientemente despiu-se, descolando todas as peças molhadas de seu corpo e, finalmente, terminou seu banho.

Enrolou uma toalha ao redor do corpo e saiu do banheiro, logo dirigindo-se ao closet. Tinha desfeito as malas na noite anterior.

Vestiu um jeans skinny preto, um corpete de renda de mesma cor e salto alto. Aplicou um pouco de maquiagem e prendeu os cabelos no rabo de cavalo usual. Pegou a mochila e o laptop então desceu correndo as escadas para o andar de baixo.

– Está ansiosa por ser a aluna nova? – perguntou Elora assim que ela entrou na cozinha.

– Mãe, quantas vezes eu já fui a aluna nova? – Erin ergueu a sobrancelha, sentando-se a mesa. – Nem eu lembro mais. Já acostumei. E outra, eu gosto.

– Você é estranha. – disse sua mãe pondo um copo de suco e um prato de torradas a sua frente.

– Obrigada. – sorriu.

Tomaram o café em silêncio como geralmente acontecia e ao terminar Erin voltou a pegar a mochila e o laptop que havia colocado em uma cadeira ao seu lado e se virou para a mãe.

– Vamos? – perguntou empolgada.

Elora franziu a testa e deixou a xícara de café sobre a mesa.

– As vezes eu acho que você fica mais animada em poder encenar para os outros do que com a escola em si.

Erin inclinou a cabeça de lado.

– Pode ter certeza que sim. Hoje eu sou Katherine Madden, lembra? A aluna nova e bonita de quem todos vão comentar. Tudo que eu tenho que fazer é ignorar as pessoas certas, as que podem me causar algum problema, e tudo vai dar certo. Além disso, estou com a sensação de que vai acontecer algo interessante.

Sua mãe se levantou encarando-a.

– É disso que eu tenho medo. Sua concepção de interessante quer dizer perigoso na maioria das vezes, filha.

– Oh, sim. – concordou. – Mas nem sempre. Dessa vez acredito que seja algo bom.

– O que também não me acalma de forma alguma. – Elora suspirou. – Vamos.

♥♥♥

Hyden estava com uma leve sensação incômoda de que estava sendo observado. Isso somado a visita de Mikaela em seu apartamento na noite anterior o deixava mais irritado do que o normal.

Enquanto percorria a pequena distância que separava o seu prédio do colégio as palavras de sua mãe voltavam a seu pensamento, deixando uma impressão irritante. Mas, porque, se ele queria apenas manter distância, deixava aquilo lhe afetar tão profundamente? Talvez porque ele acreditou que Erin estivesse morta durante todos aqueles anos. Talvez porque, de acordo com Mikaela, ela fosse mudar sua vida de uma hora para outra.

Ambos se encontrariam em breve. Mas quando?

Mikaela com certeza riria de sua cara caso pudesse imaginar qualquer pensamento que se passava em sua cabeça.

Respirou fundo procurando calma e mudou ligeiramente sua rota. Caminhou até um parque que era, as vezes usado pelo colégio para atividades ao ar livre e virando-se recostou-se em uma árvore. Cruzou os braços a frente do peito com a face séria e esperou com algo entre a paciência, o ódio e o tédio.

– Você é bom. – elogiou Devon aparecendo segundos depois.

Hyden o encarou.

– Por que está me seguindo? – e porque não me atacou dessa vez? Decidiu não fazer essa pergunta embora tivesse certeza de que Devon não se incomodava em caçar entre os civis.

– Henrique ficou sabendo da visita de Mikaela. Ela mesma o informou sobre isso e você sabe que ele não confia na sua mãe. Mandou que eu viesse dar uma olhada em você.

– Henrique não tem motivos para se incomodar com isso.

– Ele é seu pai. Se importa.

Hyden abriu um sorriso ligeiramente sarcástico.

– Acredito que ele apenas ficaria um pouco incomodado se não fosse o povo dele a me matar, certo? Eu fui embora. Isso se tornou pessoal para ele.

Devon ergueu uma sobrancelha.

– Você realmente não sabe de nada, garoto. Olhe a sua volta. Há muito mais por trás de tudo isso do que você imagina. Repense as ações de seu pai antes de começar a julgá-lo.

– Não sei o que está querendo dizer com isso. O que Henrique quer parece estar bastante claro para mim.

– E é assim que ele quer que você e todos pensem por enquanto. Boa sorte em sua ignorância. – Devon deu-lhe as costas e dessa vez com a voz levemente divertida acrescentou: – E boa sorte com a sua noiva. Fiquei sabendo que ela é uma garota difícil de lidar. Em vários sentidos diferentes.

♥♥♥

O caminho de sua nova casa até o Montgomery High School havia sido curto e silencioso. Erin já tinha passado uma boa parte da noite ouvindo as instruções de Elora, portanto já havia deixado claro o suficiente de que nada mais era necessário. Divertia-se enquanto vasculhava a mochila, investigando o que Kaz havia comprado desta vez. Felizmente já tinha conseguido tirar dele a mania de comprar tudo das princesas da Disney ou cor-de-rosa.

Agora, era com algo mais que ela se divertia. Os olhares seguiam Erin a cada passo que ela dava. Não conseguia evitar, atraia atenção onde quer que fosse. A qualquer lugar que fosse o resultado era o mesmo.

Lembrou de uma das regras de Elora: “Não chamar atenção por capricho”. Como se ela tivesse algum controle sobre isso.

Obviamente haviam sempre divergências. Olhares de curiosidade, desejo, simpatia, inveja. Cada pessoa deixava uma pequena impressão nela e aquilo era divertido. O importante era marcar presença.

De acordo com Elora aquilo era o exato oposto do que ela deveria fazer, que ela deveria ter como meta passar despercebida, ser invisível, mas para Erin, isso tornaria sua vida – já não muito glamourosa devido a vários desafetos seus. – um pouco chata demais.

Uma garota sorria recostada a um armário um pouco a frente enquanto se despedia de outra menina. Erin não precisou de uma segundo olhar para identificar a espécie da garota. Para saber que sangue fae e humano corriam em suas veias. Se ela não estivesse enganada, era sangue Selie.

Erin nunca teve permissão para conhecer qualquer fae da corte Summer enquanto vivia em Winter, mas depois que se mudou permanentemente para o mundo humano aquilo tinha mudado de figura. Claro, seria perigoso para ela caso descobrissem quem era, mas ali, ela era Katherine, não havia perigo.

Caminhou até a garota com determinação.

– Com licença. – sorriu procurando demonstrar simpatia. – Sou nova aqui. Se não for incomodar, poderia me mostrar onde fica a diretoria?

A garota abriu um sorriso amigável e duas covinhas apareceram em seu rosto. Erin acreditava que a meio fae deveria ser um pouco mais nova que ela.

– Claro. – estendeu a mão. – Sou Ayla. Seja bem-vinda.

Retribuiu o cumprimento.

– Katherine.

Seguiu Ayla, assim que esta se virou e começou a andar.

– Diga-me – pediu a garota olhando-lhe de esguelha. – de qual povo você faz parte?

Isso, pensou Erin. É assim que se faz.

Claro que a pergunta de Ayla poderia ser interpretada de diversas maneiras diferentes e por esse motivo era bastante segura. Mas Erin sabia o que ela queria dizer.

– Eu me considero Unselie. – respondeu baixinho. – Como você percebeu?

– Apenas me pareceu correto. – disse a garota no mesmo tom. – Você parece uma fae pura.

– Isso é estranho. – porque era. – Já me disseram isso antes, mas apesar de ter um povo não possuo sangue fae.

Ayla parou de frente a uma porta onde havia uma placa com o nome DIRETORIA escrito.

– Você não é fae? – franziu a testa. – Mas, eu tinha certeza de que… Bem, isso é estranho.

– Foi o que eu disse. – o sinal tocou e Ayla olhou ao redor.

– Bem, você é diferente. E me deixou curiosa. Procure-me depois, quero conversar mais. – deu-lhe um pequeno aceno. – Agora tenho que ir ou vou acabar me atrasando.

Sorrindo, Erin lhe deu tchau e entrou na diretoria. Após uma breve conversa com a secretária ela lhe mandou entrar no escritório do diretor.

E quase não acreditou no que viu.

– Metamorfo. – sussurrou quando o viu.

Ele sorriu.

– Sente-se, senhorita Madden. – ele indicou a cadeira a sua frente. – Kaz me contou um pouco sobre você.

Exceto, pensou ela. Que muito pouco do que ele disse deve ser verdade.

♥♥♥

Hyden chegou atrasado.

Era a segunda semana dele naquele colégio e essa não era a primeira vez que isso acontecia. Ele tinha tido alguns problemas no anterior por isso Gabriel havia pedido que ele se transferisse para lá, sendo que o colégio pertencia a sua família.

Agora ele precisava de um passe para poder entrar na sala de aula.

– Ei, Lorenne, o Patrick está aí? – perguntou a secretária.

– Está sim. – ela respondeu digitando algo no computador. – Mas está ocupado. Uma aluna nova acabou de chegar.

boa sorte com a sua noiva, Devon tinha dito.

Não. Não podia ser.

– Que aluna?

– Katherine Madden. – ela disse desinteressadamente.

Hyden sentiu alívio. Não era ela.

– Pode perguntar se ele pode me receber?

– Claro. – Lorenne pegou o telefone. – Senhor Montgomery? Hyden está aqui. – franziu a testa. – O de sempre, creio eu. Ele chegou atrasado. – Desligou após alguns segundos. – Você pode entrar. – disse para Hyden.

Ele assentiu e foi até a porta. Uma hesitação ridícula o atingiu por um momento, mas ele a abriu e entrou.

– Você chegou em boa hora, Hyden. – disse Patrick enquanto ele fechava a porta atrás de si. Hyden se virou para ele. – Essa é Katherine Madden, nossa nova aluna. Gostaria de que apresentasse nossas instalações para ela.

A garota girou na cadeira e o encarou. Hyden deu um passo involuntário para trás e viu uma certa centelha de diversão cruzar os olhos dela.

Não era possível.

Como, depois de tudo que Mikaela disse, depois de Devon, após ver aquele rosto e os olhos prateados – principalmente os olhos. – ele poderia se deixar enganar? Como poderia negar que aquela certamente era Erin NightShade?

Tolo. Por que tinha tanta fé de que ela usava o nome verdadeiro?

Erin acenou para ele com os dedos no ar e um sorrisinho sarcástico no rosto.

Fiquei sabendo que ela é uma garota difícil de lidar, soou a voz de Devon em sua mente. Em vários sentidos diferentes.

Droga!

E de repente ele sentia raiva. De repente fechou as mãos em punhos. E de repente queria sair dali.

E foi isso que ele fez.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Sabor de Sangue" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.