Sabor de Sangue escrita por Angie


Capítulo 7
Capítulo 6


Notas iniciais do capítulo

Sem internet de novo. NÃO ME CULPEM!



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O fogo crepitava na lareira e Henrique o observava com fascínio. Antigas lembranças voltavam a ele deixando-o um pouco melancólico. As vezes ele gostaria de poder queimá-las completamente. Noutras desejava que elas continuassem tão vivas como sempre, até o fim. Guardaria cada lembrança para não esquecer do ódio e da sede de vingança, embora estes viessem acompanhados por um pouco de dúvidas. Eles nunca tiveram certeza de tudo, no entanto continuavam em busca da verdade. Uma verdade que buscavam a tantos anos e ainda não encontraram. As lembranças eram as únicas coisas que ele poderia guardar em segurança. Elas ligavam o passado e o futuro, lhe indicando o caminho certo a seguir.

♥♥♥

15 anos antes

Henrique estava em um dos extremos da sala de reuniões, parado entre as sombras. Extremamente entediado ele observava os integrantes do submundo sentados a mesa com faces variando entre enganosamente e verdadeiramente gentis.

Todos ali estavam presentes por um único motivo. Desde o dia em que os dois principais reinos, o dos vampiros – aliado dos lobisomens. – e o das bruxas – aliado do povo Fairy. –, haviam se unido por meio do casamento, a paz havia relativamente se instaurado entre as raças e era esperada quase que ansiosamente a chegada de um herdeiro que uniria efetivamente esses laços. Que teria correndo em suas veias, o sangue conjunto dos mais poderosos monarcas. E esse herdeiro finalmente havia chegado. Uma menina.

O povo estava contente, ambos os pais – principalmente Micah Santiago. –, pareciam mais felizes e orgulhosos do que poderia ser possível. Henrique sabia que Santiago estava. Eles eram amigos, quase irmãos, conheciam-se melhor do que qualquer outros e confiavam um no outro mutuamente como não confiavam em mais ninguém.

As cadeiras na mesa de reunião eram ocupadas por alguns dos mais importantes membros do submundo: O representante da raça lupina, Gillian, o rei vampiro – Micah Santiago –, a rainha das bruxas – Eleanor.– e as rainhas fae. Titânia, da corte Selie e Mab, da corte Unselie. No entanto, como ele haviam mais membros do submundo naquela sala que não faziam parte do Conselho, mas assistiriam a reunião nas sombras: Devon, outro aliado de Santiago, Kaz, príncipe fae, Camael e Anya, segundo e terceira no comando no bando de Gillian, e Johana, braço direito de Eleanor. Apenas a rainha de Summer não havia levado ninguém de seu povo, mas Henrique não se deixava enganar. Eles estavam presentes, mesmo que não naquela sala.

Todos estavam ali para saber sobre o futuro da pequena Erin. Henrique também estava ansioso. Muito era esperado da garotinha, prometida de seu filho. Ele esperava que ela fosse se tornar uma soberana tão justa quanto Santiago.

As portas da sala se abriram e Letha Dellaney entrou, dirigindo-se a mesa. O silêncio pareceu se tornar ainda mais pesado.

Letha era aquela a quem todos chamavam de “A anciã.”

Embora tivesse apenas pouco mais que vinte anos de idade e seu rosto fosse tão jovem quanto o de uma adolescente, seus cabelos, totalmente brancos, caiam em ondas suaves até seus tornozelos, suas vestes eram sempre simples e brancas, cobrindo-lhe a maior parte do corpo e seus olhos eram de um tom vermelho sangue. Letha, possuía um poder ímpar entre as bruxas. Um poder transmitido, por algum motivo, apenas à linhagem Dellaney. O poder de prever o futuro com antecedência. E por esse motivo, muitos a temiam. Como tinham temido sua mãe, que havia sido encontrada morta dois anos antes.

Letha se sentou a cabeceira da mesa e encarou cada um dos que estavam ali sentados.

– Membros do Submundo – sua voz suave fez-se ouvir. –, creio que seja bom que eu vá direto ao ponto. Sei o que querem ouvir. Sei o quanto cada um de vocês, até mesmo nossa querida rainha, a qual sabe tanto quanto vocês o destino de sua filha, querem ouvir que Erin Rosalia NightShade Santiago, crescerá com grande poder. Força suficiente para governar a geração futura. Pois digo-lhes que irá.

Um suspiro coletivo de alívio pode ser ouvido. Era costume do povo das bruxas solicitar reuniões como aquela para descobrir sobre o destino de seus governantes futuros, mas a criança em questão sempre fora uma criança pura, não um híbrido de bruxa e vampiro.

Henrique desviou o olhar da mesa para a porta, percebendo que alguém espiava o desenrolar daquela reunião por uma pequena fresta.

Elora, ele pensou. Sei que é você, garotinha curiosa.

Com um pequeno sorriso voltou sua atenção para aqueles na sala de reuniões e Letha logo falou.

– Nossa princesa – continuou ela. –, embora não tendo sangue puro, terá um potencial que excederá os limites e seus aliados serão valorosos. – sorriu de modo predatório. – Mas não poderá ser rainha. Quando no ápice seu poder será suficiente para destruir qualquer um que se puser em seu caminho, incluindo nossos monarcas. – a tensão presente era quase palpável. O sorriso de Eleanor havia apagado e a rainha Selie parecia prestes a explodir.

O humor de Titânia não era conhecido exatamente como um dos melhores.

– Isso é impossível. – argumentou Santiago e todos o encararam, mas a firmeza no olhar de Letha era mais intensa que a de qualquer um dos outros

– Vossa alteza acha que eu seria tão burra a ponto de mentir, com vocês, Dhampirs presentes? – perguntou a anciã inocentemente. – Erin será um monstro sem controle e deve ser executada antes que o pior aconteça. Antes que ela destrua cada um de vocês. – Essas últimas frases foram ditas sem nenhuma emoção em particular, mas o resultado foi aterrador.

Silêncio, novamente. Henrique cerrou os punhos ao lado do corpo sentindo sede de sangue no ar. Apenas não sabia de quem vinha exatamente.

– Se é para o bem de nosso povo e o mantimento do acordo de paz – Eleanor quebrou silêncio, parecendo abalada. – que assim seja.

– Você só pode estar louca! – Santiago levantou-se bruscamente. – Ninguém vai encostar um dedo na minha filha, ouviu? Ninguém!

– Então você prefere que a sua filhinha cresça e casse a cada um de nós? – questionou Titânia venenosamente. – É você quem está louco.

– Ela é apenas uma criança. Não tem ciência do próprio poder e já está sendo condenada a morte por causa de um destino que nem mesmo temos certeza de que vai se cumprir. – olhava para Letha acusatoriamente.

– Sempre foi trabalho da família Dellaney olhar pelo destino das futuras rainhas. – ela disse. – Nós não erramos.

– Eu só quero o melhor para nossa filha – insistiu Eleanor com voz de choro. – E o melhor para ela, não é se tornar um monstro.

– Acho que estamos tratando do conceito errado de monstro aqui. – Santiago falou com nojo aparente, referindo-se a Eleanor. – É você quem quer causar morte desnecessária.

Henrique voltou a olhar para a porta. Nada. Elora não estava mais lá e era melhor assim.

– Henrique, Devon. – chamou Santiago. – Protejam-na.

Henrique encontrou o olhar de Devon, apenas por um instante, antes de ambos se tornarem apenas manchas no ar, saindo para fora daquela sala.

♥♥♥

A criança não estava no quarto. Apenas uma bebê se encontrava no berço, a gêmea de cabelos cor de fogo.

Nem sinal de Erin.

Elora. Claro que só podia ter sido ela.

– Cara – disse Devon segurando um celular ao lado do rosto. – o Wess acabou de me perguntar o que aconteceu aqui. Ele disse que a sua garota está lá fora com a princesa e que está com problemas. Perguntou se deve interferir.

– O que ele está esperando? – questionou com irritação. – É claro que deve. – Devon passou as instruções rapidamente a Wess. – Onde?

– Estacionamento. Ala leste.

Henrique foi até a varanda e avaliou a distância da queda, dando-se conta tardiamente de que estava chovendo. Eles estavam no segundo andar, nada que fosse afetá-los significativamente. E então pulou. Devon foi logo atrás. Seus pés tocaram o chão em um baque surdo e Henrique sentiu uma leve vibração transpassar seu corpo, e sem dar importância alguma a isso, voltou a correr.

Logo chegaram ao estacionamento e mesmo antes de ver, Henrique ouviu o carro de Elora dando a partida e saindo em disparada. Xingou sob sua respiração e andou apressadamente até o carro, estreitando os olhos por causa da chuva.

– Dê apoio a Wess. – ordenou e entrou no veículo, onde, ligou-o e partiu em alta velocidade.

Pegou-o celular e ligou para Elora, não levou muito tempo para que visse o carro dela percorrendo a encosta do penhasco bem mais a frente, lá embaixo o mar esperava raivoso. Henrique se perguntou por um instante o motivo de ela ter escolhido um caminho tão traiçoeiro em um dia como aquele.

O celular chamou por algum tempo e logo que Henrique pensou que cairia na caixa postal Elora atendeu.

– Deixe-nos ajudá-la. Essa é uma decisão perigosa, garotinha. – ele disse e podia apenas ouvir a respiração de Elora do outro lado da linha.

– Mas é minha decisão. – ela disse. – É tudo que posso fazer agora. – e desligou.

Henrique jogou o celular no banco do passageiro e pisou ainda mais no acelerador. Estava chegando perto. Mas o que faria depois? Como a convenceria a parar?

Aproximou-se um pouco mais da direção, procurando ver melhor o caminho a frente sob toda a água que os para-brisas tentavam retirar do vidro. Pensou ter visto o carro de Elora oscilar um pouco na estrada em um pequeno deslise. Seu celular tocou um alerta de mensagem. Esticou o braço e voltou a pegá-lo, mas logo sua atenção foi voltada ao carro de Elora novamente. E ele desejou estar interpretando tudo errado. Mas não estava.

Em questão de segundos o veículo derrapou na estrada e deu um giro de cento e oitenta graus, então virou uma, duas vezes em direção a borda do penhasco. E depois, mergulhou o caminho inteiro até o mar abaixo.

Henrique pisou nos freios de forma brusca e saiu correndo para fora do carro.

Respire, ordenou mentalmente a si mesmo, mas sua mente gritava. Não, não, não, isso não pode estar acontecendo!

Ele tinha falhado. Tinha perdido Elora. Tinha perdido a princesa.

Concentrou-se procurando a presença delas, esforçando-se ao máximo. Mas nada. Ele não achou nada.

Levou uma das mãos aos cabelos e deu-se conta de que apertava o celular fortemente com a outra. Olhou o visor e viu que a mensagem recebida fora do celular de Elora. Respirou irregularmente enquanto a chuva deslizava rapidamente sobre a tela e ele lutava para manter a compostura.

Queria gritar. A noiva de seu filho, filha de seu melhor amigo estava morta, quando esta tinha sido designada aos seus cuidados. Mas ao invés, abriu a mensagem.

Vida longa a princesa Erin.

Henrique prendeu a respiração para logo a soltar lentamente e andou até a borda do penhasco. Tudo era escuridão lá embaixo, após aquela queda de trinta metros, mas o som do mar que se agitava era furioso.

Ele sabia que logo que a notícia se espalhasse a busca pelos corpos começaria. E sabia que nenhuma delas seria encontrada.

Voltou ao carro e dicou o número de Micah Santiago.

– Você a encontrou? – indagou Micah. Pelo tom que usou era evidente que estava com raiva. As coisas não deviam estar sendo fáceis na mansão.

– Não exatamente. – falou solene. – As isso não importa agora. Pode notificar ao restante do Conselho sobre o acidente que acabou de ocorrer, meu senhor. Diga-lhes que Elora e Erin NightShade estão mortas. Darei os detalhes ao senhor assim que chegar.

Henrique desligou antes que pudesse ouvir algo do amigo. Precisava que Santiago convencesse a todos e para isso o próprio tinha que acreditar no que estava dizendo. Ele não podia contar sobre suas suspeitas ainda. Não, suspeitas não. Certezas. Elora tinha dado um jeito. Talvez com um feitiço que ninguém soubesse que ela fosse capaz de utilizar. Talvez de alguma outra maneira. Mas ela tinha conseguido.

Fechou a porta e ligou o carro, abrindo um leve sorriso.

Vida longa a princesa Erin.

♥♥♥

– Perdido no passado novamente, querido?

Ao ouvir a voz de Mikaela, Henrique afastou sua linha de visão do fogo. Olhou-a com desagrado.

– Ordenei aos meus homens que não permitissem sua entrada em meu escritório. – ele falou secamente. – Ou em qualquer lugar a menos de cem metros de distância de mim.

– Dei meu jeito. – Mikaela sorriu falsamente. – Vim apenas para te contar sobre nosso filhinho, não posso? – sem esperar resposta ela prosseguiu. – Ele continua desprezando nós dois. Já avisei para Hyden que todo esse ódio não pode ser saudável, mas ele me escuta? Não.

– Quando você o viu?

Ela sorriu brilhantemente.

– Esta noite. Forcei-o a libertar as asas, finalmente. Ele é tão teimo…

– Você fez o que?

– Não brigue comigo. Você tem suas maneiras de treinar nosso filho, eu tenho as minhas. Ele é que é um mal-agradecido e não enxerga tudo isso.

Henrique já estava farto daquela conversa.

– Deixe o Hyden. – disse duramente. – Tudo vai acontecer em seu devido tempo.

– Ah, claro. Como o encontro dele com a filha de Santiago. Contei sobre isso a ele também. Hyden não ficou feliz.

– Em algum momento a raiva vai passar. – disse ele. – Só não digo que não se preocupe com ele porque sei que isso não vai acontecer.

Mikaela suspirou sentando no sofá ao seu lado. Henrique levantou, ela estava invadindo demais seu espaço pessoal.

Mikaela riu, divertindo-se com sua reação.

– As vezes me pergunto onde foi parar sua gentileza.

Henrique a encarou, sério.

– Ela morreu, quinze anos atrás. As vezes, mesmo os adultos precisam amadurecer, Mikaela. Não sou o mesmo que se relacionou com você no passado.

– Não – ela concordou. – você é bem mais divertido agora.

Balançando a cabeça Henrique se dirigiu a sua mesa.

– Apenas vá embora. – disse ao se sentar e completou sem olhar para ela: – É o melhor que você pode fazer no momento.


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