Sussurros Sob o Véu escrita por Lee Sun Hye


Capítulo 4
Croissants de Chocolate


Notas iniciais do capítulo

Olá!

Eu havia comentado que esse capítulo seria maior do que o primeiro, mas no fim tive que fazer algumas alterações, e por isso ele ficou menor.

De qualquer forma, espero que goste!


PS.: Capítulo não betado.



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Capítulo II: Croissants de Chocolate

“Às vezes, a mentira parece muito mais tentadora do que a verdade”.

Era comum burburinhos viajarem de boca em boca logo que amanhecia em Dorrow Reed; quando as empregadas rumavam apressadas à padaria em busca do pão mais fresquinho para seus patrões, quando as mães se aprumavam em frente ao portão da escola para verem seus filhos acenando antes de entrarem nas salas de aula, quando homens, fossem mais velhos ou recém-casados, se juntavam nas cafeterias ao longo da cidade para bebericar os cafés mais fortes que pudessem consumir até que a ressaca aliviasse, antes de seguirem para suas vidas diurnas.

Naquela manhã de outono, uma segunda-feira iluminada por um sol pálido e um frescor condensado que parecia aderir às roupas, o burburinho estava diferente. Era um burburinho frenético, mais sussurrado e menos animado do que nos outros dias. Não havia piadas, nem risadas sobre o assunto. Tanto quem ouvia quanto quem falava trazia no rosto certo temor, uma expectativa que os fazia arregalar os olhos e as mãos suarem de nervosismo. Não era de se surpreender: Dorrow Reed ainda tentava esquecer o que acontecera tantos anos antes, e agora estava entre os moradores a possibilidade agourenta de ter de conviver com o causador de um passado tão atormentado pelas sombras.

***

Ino Yamanaka acordou cedo pela manhã, mesmo após um final de semana tão tumultuado em casa, na intenção de comprar alguns daqueles croissants de chocolate enormes da padaria perto de onde morava e surpreender Gaara – seu talvez-quase-futuro namorado – antes de ir abrir a floricultura.

Estava usando um vestido floreado em tons de rosa cheio de babados na saia, que esvoaçavam enquanto ela caminhava, e um casaco comprido azul turquesa que combinava com seus olhos. Algumas mechas do seu cabelo loiro estavam presas para trás por uma presilha que já fora de sua mãe, e nos pés, o salto-alto cor nude que comprara algumas semanas antes na capital. Ino sentia-se bem, um pouco eufórica e nervosa, mas sabia que estava bonita sem exageros, como se não tivesse passado mais de uma hora decidindo o que vestir nem como quem estivesse prestes a propor alguém em namoro.

Estava tão imersa em sua própria expectativa, imaginando e reformulando as palavras mentalmente, que custou a perceber a tensão que se esticava pelas ruas como um elástico prestes a romper, até se parar diante do saguão do prédio onde Gaara trabalhava e lhe enviar uma mensagem pelo celular.

“Oi. Você já está no Jornal?”

Gaara sempre respondia rapidamente as mensagens como se ele soubesse o que dizer antes mesmo que Ino terminasse de escrever, então foi uma surpresa quando o celular recebeu uma mensagem nova somente dois minutos depois.

“Oi. Sim. Está um caos aqui. Por quê?”

“Ah. Bem, que tal tomar um café da manhã comigo?”

Acrescentando em seguida. “Rapidinho?”

Ino começou a se sentir ansiosa. Alguém esbarrou em seu braço, passando apressado para entrar no prédio, mal pedindo desculpas e quase a fazendo soltar a sacola com os croissants. Então, de repente seu celular começou a vibrar em sua mão e viu o nome de Gaara na tela.

Atendeu num susto.

— Olá. – murmurou, tentando colocar um sorriso no rosto para que soasse animada.

— Ino. Desculpe-me, não vou conseguir sair com você agora. – Gaara não parecia feliz com a ideia, mas tampouco deu tempo para Ino pensar em uma resposta falsamente tranquilizadora. — O pessoal aqui está prestes a ter um ataque por causa daquele Uchiha. Você se lembra dele? Parece que ele voltou e ninguém sabia! - A loira conseguia ouvir pelo celular o tumulto de vozes que estava acontecendo em algum andar do prédio, enquanto Gaara falava. – Como o cara simplesmente volta para cá depois de tudo o que fez?!

Gaara parecia indignado com a notícia, mas Ino não estava mais prestando atenção. Ainda com o aparelho junto à orelha, a jovem mulher deu a volta e começou a caminhar em direção ao outro lado da cidade, o mais rápido que o salto-alto permitia. Desejou estar com tênis.

—... Podemos, talvez, combinar algo para mais tarde? Quando as coisas acalmarem por aqui?

— Aham, claro. – ela concordou vagamente, agora tentando correr para alcançar um táxi que naquele exato momento estacionara do outro lado da rua.

— Eu te ligo. – Ela ouviu Gaara dizer, antes de jogar o celular na bolsa e gritar para o taxista esperá-la.

Nem o passageiro havia saído do veículo para a calçada, Ino entrou pelo outro lado e informou com urgência o endereço para onde precisava ir.

Por Kami-sama, Ino pensou, esfregando as mãos subitamente suadas no casaco, enquanto o táxi avançava pelas ruas. Que não seja verdade. E se for, que Sakura não esteja sabendo.

***

Ino havia se preparado para ver uma cena assim, afinal, presenciara situações semelhantes diversas vezes ao longo dos dez anos que se passaram, mas aquilo ainda a incomodava profundamente, transformando toda a tristeza que sentia pela amiga em raiva.

Quando finalmente alcançou a porta de entrada do apartamento de Sakura Haruno quinze minutos depois, ofegante pela corrida que fizera pelas escadas – porque, oras, como se o elevador estivesse funcionando numa hora dessas! -, Ino encontrou-a semiaberta, o lado de dentro completamente imerso na escuridão.

Com cautela, empurrou a porta e entrou no pequeno hall, o logo nos primeiros passos sentiu algo ser triturado sob as solas dos saltos. A pouca claridade vinda do corredor lhe mostrou que só o que sobrara do espelho preso à parede era a moldura de madeira, o resto se desfazia em centenas de cacos de vidro pelo chão.

Alcançou o interruptor e acendeu a luz, levando a mão à boca para abafar uma exclamação ao ver diante de si a sala e a cozinha irreconhecíveis. As portas das prateleiras da cozinha estavam escancaradas, revelando que quase nada sobrara intacto. No chão de linóleo preto, havia uma confusão de pratos e copos quebrados. O sofá e as poltronas estavam virados, a mesinha de centro de vidro aos pedaços, um taco de beisebol abandonado no chão, provavelmente pego no quarto de Takeshi. Almofadas rasgadas, com a espuma saindo pelos rasgos e se espalhando por todo o tapete, folhas de revistas e livros arrancadas de suas capas. Em meio à destruição, Ino viu próximo à televisão o telefone fora do gancho, e com certa dificuldade foi até lá e colocou-o de volta no lugar. Suspirou. Sakura já sabia, era óbvio.

Só então a loira percebeu o barulho que vinha do corredor que levava para os quartos, e quando chegou ao final do mesmo, descobriu que a porta do banheiro estava destrancada e que era de lá que vinha o som.

Encontrou Sakura Haruno sentada dentro da banheira, ainda usando um pijama de poá e com as pantufas nos pés, com a água do chuveiro caindo sobre os ombros. Pela camada branca e densa que começava a preencher o ambiente, Ino concluiu que a água deveria estar fervendo.

Alarmada, se aproximou e desligou o chuveiro.

— Sakura. – chamou baixinho, mas a amiga não se mexeu.

Ino observou em silêncio a cabeleira rosa da Haruno, jogada sobre o rosto para que não pudesse vê-lo, embora, agora com o chuveiro desligado, a loira fosse capaz de escutar os soluços que escapavam, resquícios do que poderiam ser horas de choro. Sakura mantinha os braços apoiados nos joelhos, o rosto escondido entre eles, alheia à presença da outra.

Depois do que lhe pareceram minutos sem que houvesse uma reação da amiga, Ino largou em um canto a bolsa e a sacola com os croissants e pegou uma toalha que encontrou sob o balcão da pia. Colocou sobre os ombros da Haruno, fazendo menção de levantá-la.

— Sakura, vamos. Você precisa colocar uma roupa seca. – insistiu a Yamanaka quando notou que Sakura não sairia dali tão cedo.

Sentiu a Haruno tocar-lhe a mão, e se surpreendeu que os dedos dela estivessem tão frios, quando lhe parecia que Sakura estava sob a água escaldante há pelo menos meia hora, a julgar pela vermelhidão que sua nuca e ombros adquiriam.

— Ino... – balbuciou Sakura, a voz falhando ao conter um soluço. — Por favor. Diz que não é verdade. Que ele não voltou! P-p-por favor. É uma mentira, não é? Est-tão se confundindo, não é ele, ele nu-nunca mais vai voltar!

A Haruno ergueu o rosto lavado em lágrimas para fitar a melhor amiga; aquela que a conhecia desde os primeiros anos de escola, aquela que presenciara seus piores momentos e aquela que, sem nunca fazer perguntas, a ajudara tantas vezes a dormir quando as sombras de seus pesadelos a faziam gritar.

Ino Yamanaka não sabia o que dizer – e, de alguma forma, teve a impressão de que Sakura não precisava de uma resposta. Não obstante, Ino não achava certo mentir para ela, mas também temia que se confirmasse a verdade, e não o simples boato, a Haruno pudesse ter um colapso bem diante de seus olhos.

Sasuke Uchiha retornara, sim, à Dorrow Reed durante a noite, quando a maior parte dos habitantes já estava recolhida em suas camas. Mesmo com o passar dos anos, alguns costumes permaneciam latentes na cidade, e ficar perambulando pelas ruas depois das dez horas era quase uma afronta aos velhos moradores.

Ninguém esperava que ele voltasse, ou mesmo que quisesse voltar. Ele sumiu logo depois de ser liberado da prisão, quatro anos antes, e Ino se lembrava como as pessoas ficaram apreensivas com a possibilidade de ele aparecer na cidade. Mas não apareceu, e depois de alguns meses, ninguém mais falava sobre o assunto. Para todos, Sasuke Uchiha se envolvera em alguma briga e fora morto.

Pelo que o taxista contara à loira nos poucos minutos que levaram para cruzar a cidade até o apartamento de Sakura, fora a viúva que morava próximo à casa do Velho Uchiha quem o vira primeiro. A casa, uma construção antiga de pedras de areia, tinha hera por quase todas as paredes, e o alpendre de madeira começava a se desfazer por causa dos cupins e da chuva depois que o último morador falecera há três anos.

Desde então, a viúva não vira uma única vez um carro passar reto pela estradinha de terra, nem vira as luzes amareladas serem ligadas no interior daquela casa, mas na noite anterior as duas coisas aconteceram. Ela estava com a porta da cozinha aberta – que dava uma visão clara da residência vizinha – para deixar seu gato sair, quando viu um táxi parado, e logo em seguida a luz da sala foi acesa e ela pode ver dois homens, um mais gorducho subindo com dificuldade os degraus com uma mala grande e um outro, alto e magro, provavelmente jovem, que levava uma mochila nas costas e ficou um tempo parado diante da porta antes de sumir de vista.

A princípio, nenhum nome lhe viera à mente, e somente quando já estava deitada na cama lhe ocorreu quem pudesse ser. Correu para ligar para a filha, que reclamou pela ligação tardia e exclamou com firmeza que era impossível o neto do Velho Uchiha estar ali.

Mesmo assim, após desligar, a filha deve ter contado ao marido ao voltar para a cama, e logo cedo na manhã seguinte metade dos habitantes de Dorrow Reed tinha conhecimento da inoportuna chegada do Uchiha.

No entanto, pensara Ino, o fato de Gaara tê-la dispensado por causa de um mero boato era muito improvável. Então, antes de entrar no apartamento da amiga, precisava ter certeza de que não era uma alucinação daquela senhora, e lhe enviou uma nova mensagem, a que Gaara respondeu:

“Sim, é verdade. O Kiba já confirmou”.

Tentando se esquivar das súplicas de Sakura, Ino respondeu com outra pergunta.

— Sakura-chan, onde está o Takeshi-kun?

A Haruno desviou o olhar e engoliu um soluço antes de falar.

— Ele... Passou o final de semana na casa de um amigo... Só volta hoje à noite.

— Ah! Bem, então parece que só temos algumas horas para arrumar tudo! – Ino exclamou com euforia, querendo quebrar o clima pesado, mas Sakura fez uma careta e ficou calada, e a loira conteve a risada.

Elas ficaram em silêncio por alguns segundos. Sakura não estava mais chorando, mas também não parecia fazer questão de se levantar da banheira e trocar a roupa molhada.

Então Ino fez a pergunta errada.

— E ele... O Takeshi... Sabe sobre o p...?

Sakura voltou a olhar para Ino com tanta rapidez que a Yamanaka ficou tentada a dar alguns passos para trás. Os olhos verdes de Sakura de repente estavam cheios de ira, e ela encarou a amiga como se quisesse enfrentá-la.

— O quê? – O tom de voz da Haruno ao falar se tornou rude. — Você pergunta se meu filho sabe que o pai dele é um assassino?

Ino engoliu em seco. Droga, ela pensou, essas crises estão ficando cada vez piores.

— Ele não foi realmente considerado culpado pela morte dos pais. Só um suspeito...

— Ele matou o irmão dele, e quase me matou. Já é mais que suficiente.

Ino pigarreou.

— Sakura. Aquilo foi um acidente. Semana passada mesmo meu pai foi para a capital e quase perdeu o controle do carro porque estava chov-

Sakura soltou um muxoxo, interrompendo o falatório da amiga, e fechou as mãos em punho, como se pudesse concentrar toda sua raiva nas pontas dos dedos. Ao falar, sua expressão e sua voz traziam uma determinação tão feroz que fizeram a Yamanaka se arrepiar.

— Se não fosse por consideração ao meu filho, Sasuke Uchiha não seria o único assassino dessa cidade.

***

1 nova mensagem recebida:

“Gaara, sinto muito. Não vou poder sair com você hoje. Aconteceu algo. Conto a você mais tarde, pode ser? Bjs, Ino”.


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Notas finais do capítulo

Okay, espera!!!

Antes que você decida jogar uma pedra em mim *ouch*, devo dizer que esse capítulo foi necessário desse jeito!

Por quê?, você me pergunta.

Pois bem, embora eu saiba que nem todo mundo curte muito a Sakura, eu precisei escrever esse capítulo sobre ela para tentar "explicar" o impacto que a volta de Sasuke tem sobre ela. Veja bem, todos os personagens - secundários - terão um grau de importância na história, então eles aparecerão às vezes.. hehe

Inicialmente, a Hinata apareceria nesse capítulo, mas decidi mudar isso porque estava ficando muito confuso e cheio de informações, e eu pretendo explicar tudo aos poucos, conforme a história for progredindo.

Então é isso!

Até o próximo capítulo? n.n



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