Aurora Boreal escrita por Ino


Capítulo 1
O Visitante




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O dia começava a escurecer ao passo em que Lily Evans acordava.

— Ela continua trocando o dia pela noite — Chloe, uma das enfermeiras do Hospital Psiquiátrico Tomat, sussurrou pra Danci, sua colega de trabalho. — Pobre seja o senhor Evans, que praticamente só pode visitar a filha durante o horário do crepúsculo.

— Mas também não é culpa da garota que ela seja esquizofrênica — defendeu Danci, preparando os remédios de Lily em uma bandeja onde estava um copo de água. Chloe pensou por uns segundos e deu de ombros, voltando a preparar os remédios de um menininho que havia sido transferido na última semana.

As duas saíram da sala dos remédios juntas, contudo, apenas Danci se encaminhou para o quarto onde Lily dormia inquieta com os cabelos ruivos espalhados pelo travesseiro e a cara amassada.

A ruiva tinha dezenove anos e era piradinha da cabeça, de acordo com Chloe. Às vezes, ela cismava com os enfermeiros, falando que chorava lágrimas de sangue quando estava realmente triste ou irritada. E a pior parte nem era essa, Lily costumava comentar com os pais que um homem vinha visitar ela de noite, mas só à noite. E ela parecia realmente gostar desse homem, pois como ele vinha só à noite (na cabeça dela), a garota havia achado melhor trocar os seus horários.

— Lily, acorde — chamou, balançando-a suavemente. — Hora dos remédios.

A menina na cama se sentou lentamente e bocejou. Danci gostava de pensar que ela parecia um ursinho preguiçoso quando acordava.

— É melhor eu tomar meus remédios logo mesmo... Papai logo estará aqui, e eu sei que mais tarde, James vem me visitar. Apesar de que ontem ele foi bem convencido. — A garota fez careta. Lily tinha a tendência grande de pensar alto, mas para Danci, não era nenhuma surpresa. Muitas das pessoas internadas ali faziam aquilo.

Lily tomou o seu remédio e pulou da cama contente, como todos os dias, indo para o banheiro se arrumar. A enfermeira quase esbarrou com um homem na porta no momento em que saia.

— Senhor Evans — saudou. — Como anda a sua esposa?

— Anda se queixando de uma dor nos braços, culpa de Petúnia, é claro, que a deixa com o bebê o dia inteiro...

— Petúnia anda sobrecarregando mamãe?! — questionou Lily irritada, saindo do banheiro como um furacão por ter ouvido o nome da irmã a qual guardava grandes ressentimentos.

Lily não odiava realmente a vida no hospital psiquiátrico, ela tinha até feito amizade com os pacientes do quarto 07, 08 e 12, mas irritava-a imensamente cada citação do nome da irmã, pois por culpa dela estava ali. Se Petúnia não fosse tão mesquinha e tivesse tanta inveja do tratamento que a ruiva recebia dos pais, provavelmente não teria dado um jeito de mandá-la para aquele lugar.

— Querida, você sabe que sua mãe sempre está disposta a ajudar... — O homem velho tentou amenizar a situação, e a filha começou a chorar de raiva, uma atitude que ele sempre havia desgostado.

A situação provavelmente não teria sido tão ruim, mas Lily virou-se para o espelho do quarto e começou a gritar que era uma aberração chorando sangue, logo os gritos evoluíram para súplicas que contavam a todos que havia alguém querendo matá-la. Danci, não tendo mais opção, vendo que a garota estava tendo um surto esquizofrênico, chamou seus outros colegas enfermeiros para que pudessem sedá-la.

Todos deixaram o quarto, menos o senhor Evans, que zelou o sono da filha até que o céu estivesse um completo breu e o horário de visitas acabasse. Ele teve que ir embora, mas não sem antes depositar um beijo carinhoso na testa de Lily.

A garota ficou dormindo que nem uma pedra, até que fossem três horas da manhã, hora em que ela começou a se movimentar inquieta em seu sono. Lily abriu os olhos lentamente, se espreguiçando enquanto sua vista se acostumava com a escuridão.

Ele estava lá, na única poltrona do quarto, com os seus cabelos desgrenhados e apenas metade da sua face iluminada, devido à luz da lua que vinha da solitária janelinha bem no alto da parede. James mexia distraidamente na ponta da sua gravata, brincando com ela. Ainda não tinha percebido que Lily acordara. Ela gostou disso, ele ficava estranhamente vulnerável e lindo assim, quando pensava estar longe dos olhares de qualquer pessoa.

O Potter vestia o que parecia um uniforme, ou uma roupa de trabalho, ela não sabia. Mas ele era a única pessoa que conhecia que não ficava sério de gravata. Ou talvez isso só fosse por ele sempre deixar a gravata larga, junto aos primeiros botões abertos da camisa social, e a manga arregaçada. Dessa forma ele não parecia um homem sério arrumado para o trabalho, mas sim um adolescente rebelde e despojado.

— Potter — chamou, com a voz rouca. Ele sorriu de lado antes de olhar. Costumavam se chamar dessa forma quando brigavam constantemente. Não que ainda não brigassem, mas agora, seu sobrenome, nos lábios da ruiva, soava como mel.

— Evans. — Ele riu e então se levantou para ir para o lado dela. Sentou-se na beirada da cama de Lily despreocupadamente, pegando a mão dela. A garota aceitou o gesto de bom grado, entrelaçando seus dedos aos do rapaz. — Seu cabelo está engraçado.

Lily corou, então começou a passar a mão livre no cabelo. Uma tentativa frustrada de arrumá-lo. James riu, ela fez cara feia pra ele.

— Você é tão chato! — Bufou. — Pare de rir.

— É só que você também fica bonita assim — ele explicou. — Parecendo uma leoazinha. A cor do seu cabelo contribui, é claro... Ai, Lils! — reclamou James, ao levar um tapa da garota. Ele passou a mão lentamente onde tinha sido agredido, fingindo estar ressentido.

— Acho que prefiro ser chamada de lírio ao invés de leoa — Lily resmungou baixinho.

James desarrumou ainda mais os cabelos desgrenhados com os dedos enquanto sorria orgulhoso de si mesmo.

— Eu sempre soube que você gostava daquele apelido — atestou com a voz vitoriosa, o que fez Lily fechar a cara de novo. Ele pressionou a ponta do seu dedo indicador contra o nariz dela por meio segundo, ambos começaram a rir.

Era sempre uma glória cada noite que Lily via James, ela estava contente por estar naquele hospital psiquiátrico, nem era tão ruim assim. E o mais importante: a garota não podia desfrutar da companhia de James antes de ser internada naquele lugar.

Eles se irritavam muito no início, brigavam toda noite. Todavia, James sempre fez com que Lily se sentisse mais real, menos louca e principalmente: menos solitária. James lhe dizia que ela era completamente normal, ao contrário das vozes, dos seus pais e de Petúnia. Por menor que fosse a probabilidade, preferia acreditar no garoto. Ele lhe trazia “normalidade”, calma... E voltava toda noite.

O céu começou a ficar mais claro pela pequena janelinha do quarto, estava arroxeado e lindo, Lils adorava roxo. Tamanha a graça não podia impedir que a tristeza de Lily viesse à tona, apesar de amar o céu no horário do amanhecer.

O amanhecer significava luz, e isso significava que James não podia ficar. Ela não sabia o porquê, mas sabia que quando o dia clareava, ele sumia. Apesar de tudo, Lily sempre preferiu pensar nisso como... Uma competição. O Potter era sua luz no escuro, só aparecia de noite. James era sua aurora boreal, tinha seu brilho próprio.

Mas o dia também tinha. Então, ele sumia.

— Você vai voltar? — ela sussurrou insegura.

James sorriu abertamente, radiante e confiante. Passou as costas da mão carinhosamente no rosto dela, Lily fechou os olhos com o carinho. Era muito, muito, muito bom.

— Você sabe que eu sempre volto.


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