O quadro escrita por Alexandra Monte


Capítulo 5
Um outro lado


Notas iniciais do capítulo

Como disse, o capítulo 4 foi introdução para este. Nas HQs tem um pouco sobre as clones,mas não falam sobre a sua família, ou adolescência, então eu resolvi fazer do meu jeito, espero que tenha ficado bom.



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Desde aquela autopsia que fizemos juntas, e que Cosima foi interrompida por uma ligação da sua mãe, eu sinto curiosidade de conhecê-la... Conhecê-las, eu nem sabia que eram duas, isso mostra o quão pouco eu conheço Cosima, se ela não estivesse pensando em mil coisas nesse momento também pensaria o mesmo que eu, e também pensaria que ela não conhece muito sobre mim, então eu prefiro que ela não pense sobre isso, tudo o que fiz antes de conhece-la é irrelevante e vergonhoso demais para ser dito.

Cosima quase não dormiu durante o voo, ela estava extremamente agitada, qualquer pessoa ficaria, sabendo que sua mãe pode morrer, qualquer pessoa menos eu, tantas vezes desejei que a minha morresse que perdi as contas. Seguro a mão da Cosima e aperto firme, quero que ela saiba que eu estou ali para tudo que ela precisar, Cosima me olha com um olhar triste e ao mesmo tempo eu consigo ver beleza nele, toco seu rosto e faço caricias. Pegamos um táxi para a casa das mães da Cosima, e passamos por aquela ponte maravilhosa, que eu só havia visto em cartões-postais. Chegamos à casa da Cosima, era uma bela casa, na verdade era uma casa grande em um bairro nobre, ficamos paradas com as malas em frente ao portão, pinheiros enormes que chamavam atenção, as rosas no jardim também, havia uma fonte no centro , Cosima tocou o interfone, e uma voz respondeu.

_ Com quem deseja falar?

_ Meredith sou eu...Cosima.

_ Oh, menina Cosima, sua mãe estava te esperando, infelizmente ela precisou voltar para o hospital e não pôde recebê-la.

O portão se abriu, eu e Cosima fizemos uma pequena caminhada enquanto dois funcionários levavam as nossas malas, entramos na casa, lá dentro era tão majestoso quanto à fachada, a decoração era linda, e uma escada de madeira levava até um andar de cima, havia uma porta de cada lado da sala, uma trancada de madeira, e a outra aberta, era a cozinha, uma moça entrou com uma chaleira e nos serviu chá, eu, Cosima e Meredith nos sentamos. Cosima tomou um pouco de chá.

_ Como ela está Meredith?

_ Ela estava usando colete, mas o impacto quebrou algumas costelas, felizmente ela está estável, sua mãe é bastante forte.

Cosima respirou aliviada. Interrompi a conversa.

_ Você me disse que sua mãe cultiva flores raras, porque ela precisaria de colete?

_ Ela já foi inspetora da policia, se dedicou as flores depois da sua aposentadoria, ela usa o colete para trabalhar, acho que para sentir que ainda está na polícia, minha outra mãe Adel acha isso uma estupidez, achava... Foi o colete que salvou a vida da Carol, acho que Adel irá repensar.

Olhei para a parede e vi uma foto de uma menina de óculos, cabelo curto preto e vestido rosa, olhei para Cosima e voltei a olhar para o quadro. Meredith percebeu minha confusão.

_ Bem diferente não? Adel tinha total controle sobre ela nessa idade, por isso o cabelo arrumado e o vestido rosa.

_ Minha mãe gosta de tudo do jeito dela, por isso uso dreads , ela via na rua e odiava, as tatuagens também são pelo mesmo motivo. Já Carol é maravilhosa! Carol, me disse uma vez que não devemos fingir ser o que não somos, que eu não deveria me desculpar ou me envergonhar por ter duas mães, e nem por ser lésbica.

_ Elas resolveram ter um bebê e recorreram à inseminação.

_ E acabaram ganhando um clone.

_ Não, acabaram tendo uma filha maravilhosa.

_ Não é bem assim Delphine._ Cosima relutou em falar, e isso era raro, ela sempre foi muito atrevida, sempre respondeu tudo sem titubear_ E não estou falando das minhas irmãs e o resto... Eu nunca fui muito fácil de lhe dar.

_ A Adel ainda tem tremores quando ouve falar dos ativistas “Não a carne”.

Olhei para Cosima.

_ Como você sabe, sou vegetariana, e houve um tempo que participei de um grupo de ativistas, era um grupo radical, espalhávamos panfletos de animais mutilados, dos criadouros, e manchávamos portas de açougues de tinta vermelha, depois passamos para companhias maiores , algumas pessoas do grupo perdiam o controle, e uma vez jogaram um coquetel molotov em uma dessas companhias, quebraram vidros e destruíram câmeras advinha quem perdeu o óculos e assumiu a culpa pelo vandalismo? Nesse dia até Carol me repreendeu, é lógico ela era acostumada a encontrar qualquer um na delegacia, menos sua filha.

O interfone foi acionado.

_ Meredith abra o portão!

_ Sim, senhora Adel.

Minutos depois uma mulher de uns sessenta anos, alta, cabelos pretos entrou na casa, olhou primeiro para a governanta, depois virou-se para Cosima, ela levantou e abraçou a mãe, um abraço demorado, forte que parecia tentar reparar qualquer magoa que tenha ficado entre elas. Adel me viu, levantei e cumprimentei-a.

_ Delphine, enchanté.

_ Você é...

_ Minha namorada mãe.

_ Você é ativista? Hacker? Jornalista? Fotografa de guerra, ou qualquer coisa perigosa?

_ Não, eu trabalho em um instituto dedicado à investigação para o avanço da biotecnologia. Eu e a Cosima trabalhamos juntas.

_ Finalmente não é Cos. Eu gostei de você...Delphine.

Cosima sorriu para mim.

_ Quando Carol voltará para casa?

_ Ela terá alta em alguns dias, aquele colete... Acho que até eu usarei um agora. Me deem licença, preciso me trocar e dormir, o segundo principalmente.

Adel subiu três degraus da escada, quando parou e virou-se.

_ Cosima, sua prima Ellen virá nos visitar, infelizmente minha irmã me avisou ontem, eu realmente não queria aquela garota em minha casa, mas ela é minha família.

_ Quem é?

_ Minha ex-namorada, minha primeira namorada.

Não gostei de como essas palavras saíram da boca da Cosima, parece que algo ficou mal resolvido, e eu não sei lhe dar com mulheres que tentam roubar a Cosima, então espero que Ellen se mantenha longe.


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