Stranger Sun escrita por Anninha Batatinha Queiroz


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoinhas 0/
Então, não sei o que dizer dessa One, apenas que eu a escrevi enquanto ouvia uma seção incessante de Stranger Sun (oito horas seguidas no replay automático).
Eu não sei se eu consegui passar a minha ideia original para essa música e talz, mas eu tentei!
Vou deixar aqui o link da música caso queiram escutar enquanto leem.
Boa leitura.


https://www.youtube.com/watch?v=t012ucY3v2w



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Uma triste melodia soava do apartamento vazio. Um violino solitário soava repetidamente, mas essa música deveria ser tocada acompanhada, ela estava incompleta, o piano que acompanhava não estava mais lá, e o violino chorava por isso, repetidamente, como se dessa maneira ele fosse voltar, como se ela fosse voltar. E era isso que o violinista esperava, que tocando dessa forma insistente, sem cessar, a ponto de seus dedos estarem feridos de tal maneira que os esparadrapos não eram mais brancos e sim totalmente vermelho, uma dor insuportável se apossou de quase todo seu tronco pelos repetidos movimentos com o arco, mas tudo isso era apenas um pequeno detalhe para o rapaz, uma dor maior já havia se apossado dele, de maneira irreversível.

Queria vê-la mais uma vez, não apenas uma vez, queria que ela ficasse sempre ao seu lado.

Sabia que era egoísta, por isso não suplicava por apenas uma vez, uma ultima vez, sua Hiyori, ele necessitava sempre dela, mais uma vez, e outra, mais uma e até que seus ossos virassem pó, até sua existência insignificante fosse apagada, até que tudo deixasse de existir, ou até depois disso, Yato acreditava. O amor que ele sentia pela menina – sua menina – era algo que transcenderia seu corpo e sua carne.

O pedido que ressoava através do violino, a irresignação atravessando seu peito e saindo de seu corpo através de seu violino.

Há quantos dias será que tocava sem cessar? Há quanto tempo clamava por sua amada? O mundo não haveria de ter parado, mas pouco o importava, ele se manteria ali, em seu luto pessoal, algo que ninguém além dela entenderia.

Provavelmente Hiyori gritaria com ele, mas até isso ele aceitaria. A cólera de sua amada não parecia algo ruim naquele momento, algo que ele aceitaria de bom grado como a muito aceitava seus abraços e beijos.

Um barulho e uma corda voaram. Seu rosto também se tingiu de escarlate, seu violino havia desistido fatigado e com um violino destruído, acabou por se jogar ao chão. Agora como faria para alcançá-la? Como faria para que Hiyori voltasse para si? Lágrimas voltaram a banhar seu rosto o deixando surpreso, tinha certeza que elas haviam secado de tanto que já chorara.

- Yato... – Não fez questão de olhar em direção ao novo som que entrava em seu estúdio, mas sabia quem era. O rapaz se ajoelhou ao seu lado e viu o longo corte que havia em seu rosto. – Eu te avisei, eu te disse! Disse que as cordas não iriam suporta, veja que estado lamentável elas estão! Fico surpreso que apenas uma tenha rompido e não todas. – Tirou um lenço do bolso e empurrou contra o machucado. – Teve sorte, poderia ter sido algo pior.

- Preciso continuar. – Sussurrou voltando a ficar de pé.

- Eu sei. Só espere um pouco, okay? – Ele pegou um telefone no bolso de sua bermuda e discou o número da amiga. – Alô? Viina? Desça aqui para o estudo e traga a caixa de primeiros socorros, por favor. – Um curto okay foi à resposta do outro lado da linha e a ligação se encerrou.

Yukine levou Yato até a cadeira que ficava do lado oposto de onde estavam, mas Yato parou bruscamente e foi sentar no sofá perto da porta, o garoto loiro o seguiu em silêncio.

Viina chegou em pouco tempo com uma grande maleta branca, maior que uma maleta de primeiros socorros normal, dentro da grande maleta haviam duas maletas uma de madeira e uma branca com uma cruz vermelha, Viina pegou a branca e entregou a outra para Yuki que foi em direção ao violino.

A garota começou a cuidar dos ferimentos do corpo do garoto, primeiro seu rosto, depois suas mãos, por ultimo colocou dois comprimidos em sua mão e o fez engolir.

- Isso fará com que a dor em seu ombro diminua. – Falou enquanto depositava um beijo no cabelo desgrenhado do rapaz.

Enquanto a loira sorria para o rapaz, Yuki segura o violino com todo cuidado, retirou as três cordas que ainda restavam, substitui uma por uma, com o cuidado de quem segura algo vital em sua vida, após colocar as cordas começou a afiná-las, prontas, só faltando o arco. Esse era um caso perdido, a crina estava em um estado horrível e ele acabou por enverga, dava para se ver fissuras em sua extensão. “Um bom arco perdido” lamentou o garoto. Pegou o irmão gêmeo do falecido, novo, Yato sempre usou seus arcos até não poder mais, não gostando de usar vários.

Ambos, violinista e violinos já estavam em um melhor estado. Yukine entregou para Yato e tanto ele quanto Viina foram embora, pois diferente do que Yato pensava seus amigos o entendiam e em momento nenhum pensaram em impedi-lo, essa era a forma dele de deixar a tristeza sair e eles não tinham o direito de impedi-lo.

Antes de fechar a porta ela o viu encarando ambos. Nunca havia visto aqueles olhos daquele jeito, não vazios, mas sim cheios de uma angustia insuportável, a ponto dela não conseguir encará-los por mais que alguns segundos.

- Ele se perdeu Yuki. – Falou enquanto iam embora.

- Eu sei. – O rapaz a guiou para fora da casa.

- Pode deixar que eu vou sozinha. – Acenou e se foi.

O loiro voltou à sala, a casa de Hiyori era um bom espaço, grande, um lugar bom de morar.

Pegou sua flauta que estava em cima do sofá, como o outro rapaz ele deixava a tristeza vazar através da música.

Yato voltará a tocar, com a mesma força de antes, deixando que a dor reger seus movimentos, mas logo parou. Colocou o violino e o arco no chão e pegou varias pautas em branco.

Sua música estava incompleta, era fato, um dueto instrumental onde só um instrumento tocava. Escrever a melodia do violino foi fácil, havia tocado tantas e tantas vezes que provavelmente nunca haveria de esquecer, rapidamente a partitura do violino ficou pronta, mas escrever a do piano o causou uma dor horrível, pois ficou imaginando ela tocando. Podia vê-la sentada ao piano, mas não conseguia imaginá-la tocando essa música, ela não deveria tocar algo daquele tipo, suas mãos eram fontes de esperança e de sentimentos bons, sua música só passava tristeza e angustia, mas mesmo assim continuo a escrever a partitura do piano.

Muitas horas se passaram até que Yuki fosse ao estúdio segurando uma bandeja onde havia dois hambúrgueres e duas latas de coca-cola.

- Se você não comer nada não irá conseguir terminá-la. – Sentou-se ao lado do amigo e começou a comer seu hambúrguer. Yato soltou o lápis e abriu uma das latas.

- Esse estúdio fica vazio sem ela. – Sussurrou.

- A casa toda fica... – Completou Yuki.

- Eu ainda a sinto, em tudo, mas sua presença mais forte é aqui. - Apertou a lata entre os dedos. – Dói muito esta aqui, mas eu me sinto impedido de ir, me sinto obrigado a permanecer.

- É por isso que continua a tocar por aqui? – Perguntou o garoto estendendo o outro hambúrguer para o amigo.

- É como se ela estivesse aqui, implorando para que eu faça notar-me.

- Ela não faria isso. Hiyori não o deixaria sofrer assim.

- Eu sei, mas mesmo assim eu sinto. – Yato suspirou melancólico.

Os garotos terminaram de comer e Yuki recolheu as coisas e voltou a deixar Yato sozinho, ficava agradecido por não ser pressionado pelos amigos, eles apenas pediam coisas simples e ele retribuía de maneira simples, provando estar “bem”, não trancando o cômodo, comendo e deixando que cuidassem de suas feridas externas.

Talvez metade da partitura estivesse feito quando ele caiu de exaustão. Yuki viu pelo sistema de câmeras e levou um travesseiro e um coberto para o amigo, era a primeira vez que ele dormia em muito tempo.

Piano, Hiyori estava como sempre ao piano, sua paixão natural, feitos um para o outro. Sua sintonia com o instrumento fazia parecer que ambos se completavam.

- Bravo! – Gritava o rapaz, não importava quantas vezes a ouvisse tocar, ele sempre se surpreendia com tamanha beleza.

Ela o chamou e ele foi como puxado por um fio invisível.

Sentando ao seu lado sentiu a mão da garota segurar a sua, a olhou e no fundo daqueles olhos púrpuros, como se eles o preenchesse de um amor puro.

Ela o puxou para baixo e sussurrou em seu ouvido:

- Eu te amo, não se esqueça disso.

- Hiyori...

- Apenas não esqueça, ficara tudo bem se você não esquecer isso! – A garota tocou os lábios do garoto com os seus e ele pode sentir as lágrimas, suas e dela, escorrerem.

Acordou sobressaltado ainda sentido os lábios e as lagrimas de Hiyori. Ele sabia o que tinha que fazer e com uma determinação renovada.

Pouco a pouco ele terminou a partitura e gritou pela porta chamando por Yuki, que desceu as escadas correndo.

- O que foi? – Ele olhou para as folhas nas mãos do amigo. – Conseguiu?

Yato estendeu as folhas para que Yukine as visse.

- Stranger Sun? – Estranhou. – Peculiar...

- Sim, um estranho sol. Meu estranho sol. – Cantarolou um pouco mais animado.

- Mas por quê? – Perguntou Yuki

- Você não entenderia. – Falou o rapaz. - Haveria muitas respostas para isso, mas acho que é algo que eu sinto, eu sinto que é esse o nome, provavelmente o nome veio antes da música, é algo inexplicável.

O rapaz confirmou com a cabeça. Seu celular tocou e ele já ia desligar.

- Atenda. – Pediu Yato.

- Alô? – O garoto saiu do cômodo para não incomodar o mais velho, mas o rapaz o seguiu.

- Vou para o meu quarto. – Junto com suas partituras ele subiu as escadas.

Pela primeira vez depois de tanto tempo ele voltou para o quarto que dividia com Hiyori, tudo estava da mesma maneira que ela deixou pela ultima vez. Deitou se em por cima das cobertas, elas ainda mantinham o cheiro dela.

- Eu estou tentando, Hiyori. Juro que estou. – Ele ainda conseguia ouvir a melodia do piano correndo pela casa, dando vida a tudo ao seu redor, esse era o grande poder de Hiyori, ela conseguia dar vida ao que não tinha.

- Talvez eu devesse apenas desistir. – Comentou Yato. – Meu pai tinha razão, eu não nasci para ser bom em algo.

Um forte tapa no rosto dele foi a resposta dela.

- Tem mais de onde veio esse se você continuar a dizer besteira. – Falou a garota com raiva. – Mais uma vez! – Hiyori era uma professora rígida, ele sabia que ela faria isso.

Já estavam a pelo menos cinco horas dentro do estúdio, ele havia pedido sua ajuda para que ele conseguisse se apresentar, mas estava pior do que ele imaginava.

Diferente de Hiyori que conheceu o piano durante toda sua vida, que sempre teve o apoio da família, Yato só conheceu o violino graças a Hiyori, que mesmo não sendo sua paixão também tocava muito bem o violino.

- Vamos lá Yato, eu sei que você consegue. – O rapaz estava se esforçando, ela podia ver isso, mas não seria o suficiente se ele não parasse de errar não conseguiria se apresentar. Seus movimentos estavam tencionados e ele não conseguia fazer a mudança de corda no tempo certo, ele não estava acreditando que conseguiria, por isso errava tanto.

Com um suspiro a garota o interrompeu.

- Pegue o violino. – Os dois saíram de dentro do estúdio e foram em direção ao jardim.

Hiyori subiu em sua bicicleta e Yato fez o mesmo, ela o estava levando para um parque ali perto, era outono e as folhas já haviam assumido um tom alaranjado. Não havia muitas pessoas por ali, mesmo assim Hiyori se direcionou para o meio do parque, uma campina coberta de folhas alaranjadas.

- Não retire o violino. – Falou Hiyori quando o rapaz começou abrir a caixa do instrumento. – Não iremos tocar.

- Hiyori eu preciso ensaiar! – Reclamou.

- Apenas cale a boca e escute. – Yato se calou e fez o que a garota pediu. – O que você ouve?

- Nada, está tudo quieto.

- Errado. – Ela se sentou no chão alaranjado. – Escute direito, escute o som que o silencio emana.

Mais uma vez ele se calou e ouviu, fechou os olhos e então com mais concentração ele começou a conseguir ouvir, o som das folhas caindo, o som de algum pássaro ao longe, a respiração de Hiyori muito próxima ao seu rosto.

- O que você conseguiu ouvir? – Perguntou novamente.

- Você. – A garota sorriu e depositou um beijo no rosto do rapaz.

- Não era bem isso, mas acho que você está começando a entender. – Ela aproveitou e se deitou. – Venha, deite aqui.

Ele deitou e segurou a mão dela.

- Você consegue ver? – Falou ela apontando para o céu. – Que sol lindo...

- Que sol? As nuvens o cobriram, não da para vê-lo.

- Você tem certeza? Você não consegue ver ele se esforçando para aparecer entre as nuvens? Não consegue sentir a energia que ele libera?

- Não. – Respondeu sorrindo da garota. – Como sempre, você é estranha.

- Eu tentando te ajudar e você me chamando de estranha? – A garota estava com um ar chateado.

- Mas não é estranha de um modo ruim, é estranha de um modo bom. – Ele virou de lado para observá-la e aproveitou para passar a mão pelos longos cabelos dela.

Ela sorriu para ele e acabaram por fica assim, deitados por toda a tarde e quando começou a escurecer foram para casa. Depois disso Yato conseguiu melhorar, não foi algo de repente, foi gradualmente, ele não chegou a ganhar o concurso de qual estava participando, sempre ficando em segundo lugar em todos os outros, mas isso não o entristecia, pois ele aprendera com Hiyori a compreender sua música e ele sabia que mais importante que vencer qualquer concurso era que sua música chegasse ao coração dos outros, com erros e desafinas, mas que chegasse ao coração, e Hiyori, sua pessoa amada, compreendia sua música e desse modo ele já se sentia satisfeito que em cada apresentação dele ela estava lá, sempre sorrindo e aplaudindo ao final.

- Yato tudo que eu toco está incompleto quando não tem seu violino. – Dizia a garota quando ele a observava tocar.

- Sua música é bela mesmo assim. – Era o que ele sempre dizia, mas pegava o violino e a acompanhava.

Hiyori já não podia tocar então Yato tocava para ela e ela cantarolava acompanhando.

A garota andava triste, mas tentava não transparecer, a doença estava acabando com ela e ele sabia disso, ele sentia que pouco a pouco a estava perdendo.

- Toque mais uma vez. – Pediu, a música dele acalmava a angustia em seu coração, não poder tocar estava a matando mais rápido que a própria doença.

Ele soltou o violino e foi em direção a ela.

- Minha música está incompleta, então melhore logo para podermos tocar juntos novamente. – Ela sabia que não poderia mais tocar, mas mesmo assim sorriu e confirmou com a cabeça.

- Uma ultima música para mim?

- Será um prazer, senhorita. – E uma ultima vez ela sorriu, pouco depois dele termina Hiyori apertou as mãos contra o corpo, os órgãos estavam entrando em colapso e não deu tempo levá-la ao hospital. Ela ainda sorriu para Yato antes de entrar na ambulância, um sorriso franco, sua ultima lembrança dela.

No alto de uma colina foi enterrada uma garota, uma jovem pianista que era apaixonada por um violinista, a ultima lembrança da garota foi o sorriso do rapaz enquanto tocava para ela uma melodia que havia composto para ela, não estava terminada, era algo triste, mas ao mesmo tempo esquentava seu coração, como o sol estranhando daquele tarde de outono muitos anos antes.

Ele era o sol dela.

Ela era o sol dele.

E sua música era a energia que emanava de ambos.

Mesmo após da morte dela ele ainda a sentia, como conseguia sentir o sol quando coberto pelas nuvens.

Seu sol podia ter saído de seu alcance, mas nunca de seu coração.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por ter chegado até aqui!
Até uma próxima quando os Deuses da escrita me abençoarem com inspiração...
Talvez com a chegada de mais capítulos do mangá e com o Aragoto chegando ai eu consiga :3
Obrigada por ler.



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