Rei do Norte

Rickon já perdera a conta de quantos dias haviam se passado desde que se separam de Bran. Osha os guiava cada vez mais para o sul, enquanto Bran seguia para o norte, para além da muralha a fim de encontrar o corvo de três olhos.

Osha era uma boa caçadora, e Cão Felpudo sempre ajudava nas caçadas, de modo que fome eles não passavam completamente. Tentavam passar o mais despercebido possível pelo meio das florestas, evitando qualquer parte em que pudessem ter movimentação de homens. Osha sabia se mover pelas florestas densas, e por mais que ele próprio e Cão Felpudo ficassem irritados às vezes, ele sabia que tinha de seguir quieto para conseguirem sobreviver. A raiva de estar em tal situação às vezes o dominava, e junto com o peso em seu peito o lobo também sempre se mostrava irritado. Ele sentia saudade de casa. Saudade dos irmãos, da paz em que vivera. Sua casa no norte era agora quase uma lembrança fugaz, perto de todo o medo que sentira ao escapar do lugar que antes era o seu porto seguro, antes que o Rei chegasse e seu pai fosse embora com ele.

Nos últimos dias, Osha se mostrava preocupada com ele. Perguntando se dormira bem. Ele sempre mentia, dizendo que tinha dormido bem, que nada estava errado. Mas ela era esperta e sabia que alguma coisa estava acontecendo.

Ela perguntou se eu havia sonhado que era o Cão Felpudo novamente. Eu lhe disse que não, e era verdade. Uma das poucas verdades que eu contava para ela, porque estava assustado. Assustado com a força dos pesadelos.

Quando eu tinha um sonho ruim, minha mãe sempre aparecia para me confortar e ralhava com a velha ama e suas historias horríveis sobre o inverno e monstros no norte. Eu não estava mais em minha quente cama em Winterfell, e não tinha minha mãe para me confortar, mas também não eram os mesmos sonhos. Os sonhos com a noite do inverno, com os caminhantes brancos, e filhos da floresta. Os pesadelos costumavam ser passageiros e logo ele não se lembrava mais das imagens que vira. Os pesadelos que tinha desde que deixara Bran eram diferentes daqueles que tivera, eles tinham forma mais definida, às vezes até cheiro, e ficavam gravados em sua mente dia após dia.

Seu ultimo sonho ruim o emudecera. Nada que Osha pudesse fazer conseguia que ele se abrisse para ela. Cão Felpudo também sentia o fechamento da criança e rosnava com nada em especifico, apenas tinha o desejo incontrolável de atacar e rasgar algo.

Aquele sonho ruim. Era muito, muito ruim. E ele tinha certeza que veria novamente a mesma imagem assim que fechasse os olhos para mais uma noite de sono.

***

A velha ama havia lhe contado inúmeras vezes em suas historias como era o Trono de Ferro em que o Rei de Westeros se sentava. Havia lhe contado varias e varias vezes como o rei Aegon forjou seu trono com as inúmeras espadas dos inimigos conquistados, e como rei do Norte se ajoelhou perante o conquistador Targaryan. De modo que Rickon não tinha nenhuma dificuldade em distinguir o enorme trono forjado de espadas. O enorme trono que de certa forma fora responsável por tudo o de ruim que acontecera em sua família. O enorme trono no meio de um grande salão vazio que ele fitava no momento.
Rickon observa atentamente aquele trono. Não havia ninguém sentado nele, mas ele sabe o que logo verá, pois já tivera aquele mesmo sonho uma outra vez.

Cão Felpudo rosna ao seu lado sentindo que ambiente está prestes a mudar. Tochas de fogo aparecem acesas nos cantos distantes do salão lançando uma luz bruxuleante em todo o ambiente, mas nenhuma pessoa é vista, eles ainda estavam sozinhos ali.

Logo Cão Felpudo começa a latir e rosnar para algo no chão. Algo que se aproxima dos pés de Rickon como se fosse um rio escuro.

Um rio escuro de sangue.

E quando Rickon novamente fita o trono de ferro ele pode ver lá, sentado, imponente como um verdadeiro rei um homem com rosto de lobo.

Ele sabe quem é, mas ele deseja que não pudesse saber.

O rio de sangue que escorre do alto do trono, pelas pernas do Rei ali sentado e correm até os pés de Rickon e Cão Felpudo é vermelho escuro e brilhante, e parece iluminar o salão ainda mais de uma forma fantasmagórica.

O garoto sente frio em sua face e percebe que são lagrimas, mas não entende por que está chorando. Lentamente ele se aproxima do trono. Ele deve se aproximar para confirmar o que vê a distancia, mesmo sabendo que já sabe, e mesmo não querendo confirmar o que parece ser. Ele precisa ir até lá.

Sentado majestosamente no trono de ferro o Rei do Norte mostra orgulhoso as flechas que saem de seu peito e sua espada amparada sobre os joelhos. Rickon podia fechar os olhos e ver em sua mente de forma borrada o espesso cabelo vermelho do irmão e os olhos azuis brilhantes. Mas ao abrir os olhos novamente era a cabeça de Vento Cinzento o que via. Ele não sabia se Robb havia de fato virado o lobo, ou o lobo se unido a Robb. Mas ali estava, seu irmão sentado no Trono de ferro, com um rio de sangue correndo de seu corpo.Morto

***

Osha disse que mesmo que ele fosse uma criança, Rickon tinha que aprender a interpretar seus sonhos. Como aquele antigo sonho em que vira o pai nas Criptas de Winterfell.

Os lobos gigantes eram os símbolo da casa Stark e nenhum outro Rei do Norte faria mais jus a isto que Robb Stark.