Dinah Charles: Uma Semana e Três Contos escrita por Arquivo


Capítulo 3
A Macieira




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/635192/chapter/3

Infelizmente, minha mãe havia me telefonado dizendo que logo iria me buscar, eu queria saber um pouco mais sobre minha avó, uma vez que hoje seria nosso último dia juntas no verão, quem sabe. Então fui para a sala e depois para a cozinha, mas não a encontrei em lugar nenhum. Então fui para o jardim atrás da casa e lá estava ela, regando suas plantas, mas a mais bela delas todas com certeza era a macieira. Ela olhou de leve sobre seu ombro e sorriu para mim.

–O que sua mãe queria no telefone, querida?

–Ela vem me buscar talvez no fim do dia...

–Ah, meu amor, queria que você pudesse ficar mais um pouco. Ficarei tão sozinha sem suas perguntas.

–Eu também adoro suas respostas, vovó. – Eu olhei novamente para a macieira, então uma brisa de curiosidade veio até mim. – Falando nisso, vovó?

–Sim.

–Quem plantou essa macieira, não sei ao certo, mas eu crio que tenha sido minha irmã.

–Eu nunca conheci a sua irmã vovó.

–Ela morreu, minha querida, faz muito tempo.

–Eu... sinto muito...

–É difícil perder um irmão gêmeo, é quase como morrer um pouco também. Eles nunca a encontraram, minha mãe ficou quase louca depois disso. Meu pai se tornou um homem super-protetor e rigoroso, eu... bem, eu apenas fiquei sozinha.

–Mas como isso tudo aconteceu?

–Sabe, minha irmã amava maçãs, comia quase 6 por dia. Eu gostava de irrita-la uma vez ou outra, a chamava de “Menina Cavalo”. Para meus pais ela nunca morreu, apenas sumiu, mas eu sabia que ela estava morta, pois tínhamos uma conexão e tinha um suspeito.

–Suspeito...?

–Sim, o jardineiro que nosso pai contratou para plantar toda a nossa pequena horta, ele estava sempre nos observando e nos elogiando de forma estranha. Ele dizia que nós parecíamos anjos, minha irmã tinha nojo dele, ele não devia ser muito mais velho que nós. Talvez possuísse seus 19 anos, mas nós éramos moças de 16 anos que ainda brincavam de casinha, como era de costume em minha época. Vivíamos uma etiqueta rígida de nossa mãe e evitávamos nos interessar por garotos. – Ela se aproximou da macieira e colocou sua mão sobre o tronco grosso. – Foi numa noite bem calma, ela acordou e saiu do quarto sorrateiramente, mas mesmo assim conseguiu me acordar. Eu não me preocupei em segui-la, ela deveria estar com vontade de beber água ou no caso dela, estava com vontade de comer uma maçã. Foi então que eu escutei algo, um gemido que me persegue até hoje, dor, alguém que sentia dor. Eu podia ouvir porque a janela de nosso quarto estava aberta e tinha visão para o jardim, então eu decidi olhar.

–O que você viu?

–Eu não me lembro, me lembro de apenas uma coisa que acredito ter sido meu cérebro que contou para mim, para me iludir, me enganar... me proteger do que eu realmente havia visto. Eu vi minha irmã deitada na areia e segurando com força uma maçã em sua mão.

–O que você acha ter sido a verdade?

–Vez em outra eu vejo duas cenas diferentes, em uma ela está apenas dormindo, em outra o jardineiro está sobre seu corpo.

–Eu... não entendo...

–As vezes é bom não entender, os inocentes são mais felizes por não saberem a verdade.

–Foi depois dessa noite que ela sumiu?

–Sim, no outro dia eu fui até onde eu achava tê-la visto. A terra estava remexida e molhada e um grande espaço sem nada. Um ano depois a macieira já estava crescendo...

Eu olhei para baixo, onde a árvore estava fixada, eu queria pensar em outro assunto, eu queria fugir daquela situação. Então um doce cheiro vindo da cozinha chamou minha atenção.

–Que cheiro é esse?

–Ah! Muito bem lembrado, eu estava esperando a torta de maça assar!

Minha avó correu até a cozinha, eu a segui e sentei-me à mesa de jantar. Ao retirar a torta do fogão, o maravilhoso aroma inundou o cômodo todo.

–Parece uma delícia.

Nós esperamos a torta esfriar um pouco, então ela me cortou uma fatia.

–Então, como está? – Seus olhos brilhavam a espera de minha critica.

A torta estava deliciosa, eu poderia tê-la comido toda, mas não seria educado.

–Está incrível!

–Obrigada querida. Quem sabe a gêmea idêntica é você em vez desta velha que vos fala.- Ela gargalhou. Eu adorava sua risada.

Foi então que ouvi alguém entrar pela porta da frente, com certeza era minha mãe, então corri ao seu encontro para abraça-la, mas ao chegar na sala me deparei com uma surpresa.

–...Vovó...?

Minha avó acabara de entrar em casa segurando varias compras de supermercado.

–Acordou, querida. Eu não queria deixa-la sozinha esta manhã, mas tive que sair bem cedo para fazer compras.

–M-Mas... você estava nesse instante na cozinha... fazendo torta de maçã...

–Eu não gosto de maçãs.

Eu corri de volta para a cozinha, havia apenas um pra vazio sobre a mesa.

–Vovó...

–O que houve, querida?

–Eu quero ir pra casa.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Dinah Charles: Uma Semana e Três Contos" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.