- Então, você não poderá ter filhos. - foi o que o dr. Matt me disse um dia depois do meu aniversário de 18 anos. Realmente, um ótimo presente.

- Muito obrigada dr. Matt. - disse a minha mãe, que já estava se levantando da cadeira onde estava sentada e andando em direção a porta. Fiz o mesmo. Quando saímos da sala e atravessamos a recepção em direção ao carro, minha mãe, Catherine, me lançou um olhar de pena quase imperceptível, mas eu percebi. Desde pequeno eu sou bom em ler as emoções das pessoas.

- Veja pelo lado bom - disse ela quando entramos no carro e eu bati a porta - você pode adotar uma criança. Vai ajudar uma criancinha que precisa de um lar, certo?

- Eu não sei mãe - murmurei, mas ela ouviu.

- Ora, porque? - ela perguntou, mas eu continuei a olhar pela janela do carro. Chovia, e as gotas desciam devagar pela janela. Minha mãe deve ter percebido que eu não queria conversar, então, se calou até chegarmos em casa. Mas o que minha mãe havia dito ficou na minha cabeça por anos:

"Você pode adotar uma criança"

*

Ela estava cantando. Suavemente, assim como o vento balança a folha das árvores. Cantava a música Imagine, de John Lennon. Quando terminou, pude ouvir uma risada, daquelas contagiantes, que faz qualquer pessoa rir também. Depois de um longo tempo em silêncio, ouvi um choro de criança. Alguém ao fundo murmurava "Shh, shh". Mais um choro, e depois uma voz: "Eles não voltam mais, docinho. Mas você está bem."

Acordei assustado. Pude ouvir as gotas de chuva caírem sobre o telhado, fazendo um barulho bom, ideal para dormir. Levantei da cama e fui até a cozinha para beber um copo d'água. Enquanto enchia o copo, ouvi alguém cantando:

"Imagine there's no heaven

It's easy if you try"