P.O.V. Killian

            Eu mancava pelo corredor agora escuro. Tinha consciência de que meu sangue pingava pelo tapete, e de que provavelmente eu havia feito muito barulho ao esbarrar em algumas armaduras no caminho. Também tinha consciência de que Emma poderia acordar a qualquer momento, e que ela com certeza faria muitas perguntas. Perguntas que eu preferia evitar responder.

            Mas foi inevitável. Porque ela acordou e veio atrás de mim. E cuidou dos meus ferimentos, e me fez abrir os olhos para como eu estava agindo –injustamente- com ela. Ela foi simplesmente... ela mesma. E era isso que eu mais gostava nela. Ela não forçava ou outros ou ela mesma, não tentava ser alguém que não era para agradar os outros, e muito menos agia como uma garota indefesa e assustada. Porque ela definitivamente não o era.

E então ela me deixou sozinho por uns instantes. E enquanto eu observava o fogo tremeluzindo, lembrei dos seus cabelos voando ao vento enquanto cavalgávamos, e de sua risada contagiante quando eu contava uma piada, ou como sorria de lado quando estava lendo.

Mas meus devaneios não duraram muito, pois logo ela estava de volta, as feições suaves e carinhosas quando me entregou a xícara de chocolate quente e se sentou ao meu lado, esperando pacientemente eu beber.

Mas o silêncio não durou muito, pois ela logo começou a me fazer perguntas, e sua curiosidade era palpável no ar. Mas eu sabia que ela não queria respostas apenas por saber. Ela entendia o quanto tudo aquilo era importante.

E eu jamais esqueceria o que dissemos (com certeza por impulso) antes de que ela decidisse se retirar da sala.

“-Eu queria te agradecer por ter me cuidado. E por ter entendido e querer me ajudar. Vindo de você significa muito para mim, Emma.

—Quem ama cuida, não é? –as palavras escorregaram da minha boca antes que eu pudesse impedir.

—É. E pode ter certeza de que eu vou fazer o mesmo, love.”

Eu poderia me arrepender por anos por ter dito tudo aquilo. Mas eu decidi que não era momento para remorsos. Porque tudo o que eu queria era tê-la em meus braços e provar seus lábios, e abrir meu coração para ela. E foi isso que eu fiz. Eu beijei a garota (garota não, mulher) a minha frente, como se fosse a minha última chance de fazê-lo –e quem garante que não fosse? Seus lábios eram doces como morangos, e eu não duvidava que aquele sabor acabaria me levando ao paraíso.

Também não saberia dizer quanto tempo ficamos assim, apenas provando um ao outro, mas em algum momento o ar se foi, e tivemos que nos separar. E eu observei Emma se dirigir ao seu quarto com um sorriso no rosto. E agora estava deitado em minha cama, fitando o teto e sentindo falta daqueles lábios e de Emma, duas coisas das quais eu agora era viciado.

E antes de me entregar ao sono e ao cansaço, eu me preocupei pela vida dela durante a viagem. Jamais me perdoaria se algo lhe acontecesse –ainda mais por minha culpa. E então me preocupei pelo meu coração também, porque havia acabado de notar que ele estava desprotegido e tentando escapar do meu peito. Porque eu estava inevitavelmente me apaixonando por Emma Swan.