Acasos escrita por Renata Guimarães


Capítulo 1
Capítulo 1




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Mais uma segunda-feira parada aqui no estúdio... É normal o movimento fraco em uma segunda-feira. Normalmente os trabalhos que eu e meus amigos temos a fazer são coisas já agendadas. Então como eu não tenho nada agendado agora a tarde eu resolvi ficar na recepção enquanto o Gabriel, que é o recepcionista, foi andar de skate. Pode não fazer muito sentido "nossa como assim um recepcionista sai no horário de expediente para andar de skate", mas nós somos parceiros aqui no estúdio e bom... Cada um faz seus horários de certa forma, contanto que não atrapalhe o andamento das coisas e não prejudique nenhum cliente não há nada de mal. Eu to aqui de bobeira podendo cobrir ele. Então ele pode andar no bairro de skate, qualquer coisa eu chamo ele no Whatsapp.

Eu uso todo esse tempo livro jogando conversa fora com garotas que conheci em aplicativos de relacionamento. É ridículo usar esse tipo de aplicativo? É, muito, muito ridículo. Eu sei disso. Eu assumo isso, mas nós fazemos tantas coisas ridículas na vida, que uma a mais ou uma a menos não vai mudar muito. E pra mim é a maneira mais cômoda de conhecer alguém, eu sou muito tímida quando estou fora da minha zona de conforto.

Eu já puxei assunto com um numero razoável de garotas, mas nada teve muito futuro, esses aplicativos são muito baseados em aparência. Aparência pode ser importante, pode chamar atenção, mas não é o que conquista. Pelo menos não para mim. Por exemplo, agora eu estou conversando com uma garota chamada Elizabeth. De aparência muito encantadora, ruiva de cabelos cor de fogo, teria tudo para dar certo. Se não fôssemos tão diferentes. Não temos assunto, nada do que eu gosto ela gosta e vice-versa. Além de ser sem filtro, diz as coisas sem parecer quão estranho aquilo soa. Como dizer que "a arte é subestimada, qualquer idiota pode ser um artista, já viu Dalí? Eu poderia fazer aquilo". Não seria maravilhoso se todos no mundo parassem para pensar um pouco antes de falar merda? Porque arte não são só quadros que valem milhões e ficam em paredes de grande museus. Grafite é arte, musica é arte, tattoo é arte... Há tantas formas de arte no mundo. Que chega a ser um pecado minimizar a arte a apenas uma coisa. Porque se for pensar direitinho, muitos dos artistas que estão em museus, estão lá pela historia, talento e técnica. Até parece que se der um paleta na mão de qualquer um na rua eles vão conseguir fazer algo magnifico, muitos só vão conseguir desenhar um boneco de pauzinho.

— Olá, boa tarde. - Eu sai da minha nuvem de devaneio e bloqueei meu celular no automático antes de olhar para a moça.

— Oi, boa tarde - respondi educadamente com um sorriso no rosto.

— Então... - ela parou, olhou em volta pensou e então disse. - Acho que quero fazer uma tatuagem.

— Acha que quer? Tem algo em mente?

— Não, pra falar a verdade eu não faço a mínima ideia... - ela sacudiu a cabeça e olhou nos meus olhos. - Pra falar a verdade, todas as tatuagens que eu tenho foram bem pensadas e calculadas, só que eu estava agora passando em frente ao estúdio e eu só sei que quero fazer uma tatuagem.

Eu estava sorrindo, achando interessante a historia. Eu nunca teria uma ideia louca dessas. Ela tinha varias tatuagens no braço, inclusive nos dedos. Muito bonita, tinha um estilo alternativo.

— Diferente sua história, mas não tem problema você não saber o que você quer tatuar, na verdade é mais comum do que você imagina.

— Que bom, estou me sentindo menos estranha - ela sorriu. - Ai... Desculpa minha falta de educação, nem perguntei seu nome.

— Alana... Garner, sou tatuadora aqui então posso te dizer que temos ótimos tatuadores que sabem criar desenhos magníficos e criativos.

Nós duas estávamos meio atrapalhadas, meio nervosas normal pra uma apresentação inicial, ainda mais pra uma pessoa tímida.

— Prazer, Alana, meu nome é Vicky Ogienko.

— Ogienko? - fiz uma cara para ela e ela riu.

— É russo, normal estranharem.

— Você é russa?

— Não, só meu sobrenome... E meu pai! - Vicky disse de forma engraçada, como se tivesse esquecido um detalhe. - Então, podemos tatuar agora?

— Acho que você só vai ter que esperar uns 30 minutos que o Lewis ainda está terminando de tatuar um cliente.

— Não da pra ser com você? - Nossa, vou ter que ligar pro Gabriel e tomara que ele chegue rápido, se não eu não vou poder tatuar ela, não posso perder cliente assim.

— Você ta com muita pressa? Porque depende disso.

— Na verdade não, mas eu queria tatuar com você.

— Vicky, me da 10 minutos que eu vou ligar pro recepcionista, eu to cobrindo ele, porquê o movimento segunda-feira é bem baixo e você me pegou de surpresa.

— Eu me peguei de surpresa.

— Fica a vontade pra andar no estúdio, ver as artes e pensar no que você quer.

Enchi o celular do Gabriel com mensagens no Whatsapp e nada, liguei pra ele diversas vezes, mandei até SMS para caso ele tivesse sem 3G no momento e nada dele responder ou dar sinal de vida. Eu tava ficando ansiosa, ao ponto de batucar nas coisas de maneira frenética. Eu não queria perder a oportunidade de tatuar hoje. Ainda mais ela. Não queria deixar de participar desse momento de impulso. Isso me lembra um pouco do impulso que eu tive quando tomei a decisão de deixar a faculdade, é um medo e uma liberdade ao mesmo tempo. Olhei pra ela e imaginei se ela estava se sentindo assim. Bom... uma tatuagem é uma decisão pesada. É algo que fica pra sempre no seu corpo, que você sente dor e sangra. E mesmo hoje em dia existindo métodos pra apagar, até apagar a tatuagem é algo dolorido. Então é algo que normalmente é pensado. Eu a observei de longe enquanto olhava a variedade de sketch de diferentes tipos de tatuagens que ficavam espalhados pelo estúdio.


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Notas finais do capítulo

Não é um dia comum, as vezes as casualidades tem peso nas nossas vidas.



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