Suzana estava de frente para o espelho, terminando os toques finais de sua maquiagem. Seu cabelo, agora com alguns fios prateados pelo tempo, estavam presos de forma que alguns cachos ficavam soltos, roçando seu pescoço.

Carlos se aproximou da esposa, ficando atrás dela, admirando seu reflexo no espelho.

Ele estava bem mais grisalho que a esposa, com algumas rugas ao redor dos olhos mas continuava tão charmoso quanto ela.

Ele segurou seus ombros e deu um beijo em seu pescoço, fazendo-a sorrir.

– Já está pronta?

– Quase, só falta uma coisa.

Ela abre a gaveta de sua penteadeira e de lá tira um saquinho de veludo, tirando de dentro dele um colar.

– Pode colocar pra mim? - pergunta o entregando a Carlos.

Ele sorri ao ver o colar e o pingente de cristal em forma de coração. O presente que ele havia lhe dado quando fizeram quinze anos de casados.

Assim que coloca o colar em Suzana, ele segura em sua mão e a gira.

– Você está linda. Se bem que você está linda todos os dias.

Ela, que usava um vestido longo verde escuro sorriu.

– Pronta? - diz ao estender o braço para ela, que aceita.

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Estavam sentados na terceira fileira, mas ainda assim conseguiam ver com clareza os formandos no palco. A colação de grau estava sendo realizada no teatro da faculdade.

Felipe sorriu assim que os viu, acenando.

Suzana abraçou-se ao braço de Carlos com um sorriso de orelha a orelha.

Não demorou muito até anunciarem o nome dele.

– Agora com a palavra, representando os formandos do curso de odontologia, Felipe Castiel.

Em meio as palmas, Felipe se posiciona no palanque.

– Boa noite mestres, familiares e amigos.

Enquanto o jovem falava, Carlos e Suzana sentiam o peito se encher de orgulho.

Em determinado momento, ambos viram quando Felipe olhou diretamente para eles e sorriu.

– Agora, com a licença de todos, gostaria de fazer um agradecimento em especial.

Suzana olha para Carlos, que tem uma expressão tão confusa quanto a dela.

– Dizem que família a gente não escolhe. Bem, a minha me escolheu. Pra quem não sabe, eu fui adotado por um casal maravilhoso. Há vinte e cinco anos atrás, fui escolhido pra fazer parte da família deles. E se hoje estou aqui, é graças a eles, meus pais.

Suzana sentia os olhos arderem enquanto Carlos mantinha a pose séria, apesar do sorriso.

– Pai, quero agradecer por sempre estar presente em todos os momentos da minha vida, me ensinando o que é certo e errado e o senso de justiça. Mãe, obrigado pelas noites em claro e por ter me fornecido o meu primeiro alimento nesse mundo. Sim senhoras e senhores, como disse, fui adotado, mas enquanto minha mãe biológica se negou a me alimentar, essa linda senhora aqui presente foi agraciada por Deus com mais esse presente. O amor dela por mim sempre foi tão grande, tão sobrenatural, que Deus lhe concedeu leite e assim permitiu que ela me amamentasse. Posso não ter sido gerado no seu útero mãe, mas desde o início fui gerado no seu coração.

Suzana deixou as lágrimas caírem. Ouvir aquilo de Felipe foi a melhor coisa que já havia lhe acontecido.

– Em resumo, pois levaria horas e horas falando aqui, pai, mãe, amo vocês.

Todos aplaudiam, inclusive Carlos e Suzana. O orgulho mal cabia no peito de ambos. Suzana não conseguia parar de chorar.

Ao menos dessa vez, não eram lágrimas de dor ou tristeza, mas sim lágrimas de felicidade, de orgulho por ver o filho ali, formado, homem feito e com princípios.

O sangue de Suzana e Carlos não corria nas veias de Felipe, mas isso não importava e nunca importou para nenhum deles, afinal, os laços que existiam entre eles eram laços de puro amor.