Desde a infância, Luffy foi instruído por Makino quando Garp o deixou na responsabilidade de Dadan e um dos maiores ensinamentos fora a respeito de como tratar uma garota. A mulher participou efetivamente na educação de Ace e Luffy, só que o sardento tinha mais jeito com as maneiras do que o moreninho, que se limitava a enfiar o indicador dentro do nariz ao coçá-lo e era repreendido pela dona do bar.

Mesmo anos depois, tendo sua própria tripulação e sendo o capitão dela, o Chapéu de Palha ainda não era tão inclinado às boas maneiras. A maior prova deste fato era a navegadora, cuja já escassa paciência era testada com a falta de etiqueta do garoto. Justo num dia que Nami jurava estar fadado à calmaria. Como estava enganada.

Eles já estavam atravessando o Novo Mundo e por um acaso do destino, navegavam em águas tranqüilas. O que deixava todos um pouco mais relaxados, o bastante para curtirem o dia ou as poucas horas, afinal, o mar ali era impetuoso e imprevisível. E apesar de estar deitada junto de Robin em cadeiras de praia, a ruiva estava atenta a qualquer pequena mudança no clima, mas por hora resolveu aproveitar a brisa e o sol que beijava seu corpo.

Sanji admirava suas musas de longe, os meandros voluptuosos de seus corpos onde as peles refletiam a luz do sol que as iluminava, partiu em seguida para a cozinha a fim de fazer para ambas um drink refrescante que não deixasse aqueles belos corpos desidratarem com a exposição ao sol. Chopper as advertia sobre não passar muito tempo ao sol, para não sofrerem insolação e recebia um aceno de cabeça de Robin cujo olhar estava fixado num certo espadachim que estava sentado adiante no deque gramado do Thousand Sunny, tentando cochilar após secar algumas garrafas de sakê.

Apesar da calmaria, fazia muito calor.

Mas isso não tirava a energia de Luffy, não mesmo. Enquanto Franky aperfeiçoava o próprio corpo ciborgue e Usopp cuidava de suas sementes e invenções, Brook se afastava das mulheres do bando após ser atingido por um chute certeiro de Nami ao questioná-la sobre a polêmica calcinha. Uma pergunta particularmente ridícula, uma vez que a navegadora estava de biquíni. Por algum motivo desconhecido, aquilo despertou o interesse de Luffy.

- Brook, por que você sempre pede para ver a calcinha da Nami?

Se tivesse um rosto, o músico teria esboçado uma feição confusa diante da pergunta. Talvez corasse de uma maneira pervertida ao respondê-lo, mas não sabia ao certo como dizer o motivo para aquele que era seu capitão – e que também era tão ingênuo e inocente.

- Você saberá quando ver, Luffy-san. Yohohohoho. – entoou a risada divertida.

O esqueleto o abandonou e partiu para outra parte do navio, deixando-o sozinho com suas indagações. Não que fosse do feitio do moreninho gastar seus neurônios pensando em algo, ele simplesmente agia por impulso. E não podia falhar com a sua própria natureza. Por que pedir para Nami mostrar, se ele podia ir de fininho até o quarto dela e ver por si próprio? Essa era a resposta clara para aquilo que Brook o dissera minutos antes. Então ele se certificou que todos estavam distraídos em suas ocupações e sumiu da vista de todos sem que os demais percebessem.

Mas a ausência de Monkey D. Luffy nunca passava despercebida.

Não pela severa Gata Ladra.

O Chapéu de Palha adentrou o quarto após olhar para os lados e também acima de seu próprio ombro, verificando que não estava sendo observado – apesar que, em sua cabeça, não estava fazendo nada demais. A primeira coisa que reparou era que o quarto das meninas era bem mais organizado do que o dos homens. E o local exalava um cheiro bom, e ele pôde identificar ali o cheiro cítrico que pertencia à sua navegadora. As camas estavam arrumadas e num canto havia um baú que provavelmente estaria cheio de berries e tesouros, também pertencentes a Nami. Balançou a cabeça e focou em seu objetivo, que era ver as calcinhas da ruiva.

Aproximou-se de uma das cômodas e abriu a primeira gaveta, que estava repleta de calcinhas, mas todas de cores mais escuras. Curioso, puxou um pouco mais da gaveta e tomou uma peça que era extremamente pequena com pequenos fios. Ainda que não entendesse a razão, sentiu o rosto esquentar enquanto encarava a lingerie.

“A Nami usa essas coisas?”, pensou e revirou a gaveta.

A feiticeira do clima repousava tranquilamente em sua cadeira enquanto se deleitava com a bebida trazida por Sanji. Robin estava ao seu lado, mas sua atenção estava focada num livro de história antiga.

- O dia está ótimo. É bom ter uma folga de vez em quando, mesmo sendo o Novo Mundo. – proferiu, enquanto esticava os braços ao espreguiçar.

- Você tem razão. – disse Robin, ao folhear o livro.

- Tudo está tão tranqüilo, que é possível relax--... – Nami calou-se de súbito. Tudo estava calmo demais, e isso significa que algo estava definitivamente errado. Luffy não conseguia passar tanto tempo quieto, com certeza estava aprontando algo. Virou-se para Robin, aflita. –Onde está o Luffy?!

A morena sorriu.

- O vi indo em direção ao nosso quarto agora há pouco. – a respondeu, sem sequer tirar os olhos do livro.

- O QUÊ?!

Sem sequer pestanejar ou hesitar, a ruiva ergueu-se de onde estava e correu em direção ao quarto das mulheres que ficava no piso superior ao deque. Não sabia o que Luffy estava fazendo em seu quarto, mas podia prever que não era nada bom. Mas quando irrompeu pela porta, não estava preparada para a cena que contemplou.

O chapéu dele estava sobre sua cama, e ele estava defronte ao espelho. Virou-se para ela assim que ouviu o som da porta ao ser aberta e sua reação foi mais natural que o esperado.

- Eu sou o Capitão Calcinha, Nami! – falou para ela, sorrindo. – Shishishi.

Uma veia saltou na testa da navegadora ao vê-lo com uma calcinha vermelha colocada sobre a cabeça, dividindo os fios negros do cabelo alheio em duas partes. Respirou fundo ao levar uma das mãos até o próprio rosto, se perguntando o que passava pela mente de seu capitão idiota.

- Como você usa essas coisas, Nami? Isso não incomoda na bunda não? – dizia ao erguer um fio-dental preto e apesar da idiotice, era uma pergunta inocente.

O rosto dela ardeu em febre, e logo perdeu a calma, como de praxe. Afinal, apenas Luffy conseguia tirá-la do sério de tal forma.

- O que você está fazendo com as calcinhas da Robin?!

- Eeeh, Robin? Não são suas? – indagou, confuso.

- Claro que não! – defendeu-se, ainda com as bochechas coradas.

- Ahhn... – bufou, desanimado. – Pensei que fosse as suas--...

Antes que pudesse dizer mais alguma coisa, sequer a viu se aproximar até sentir a mão pesada de Nami acertando-o no topo da cabeça. O teria golpeado mais algumas vezes, mas o moreninho desvencilhou-se dela e saiu pela porta aberta, rindo e arrancando risadas dos outros enquanto era perseguido pela ruiva. Ela ainda não sabia o que Luffy queria com suas calcinhas, mas se certificaria de dar uma lição de boas maneiras para seu capitão desajeitado e impulsivo quando o alcançasse. Isso, depois de umas boas porradas.

Mal sabia Nami que ele seria o único a ver suas calcinhas.