Minha cabeça rodava. O que eu estava fazendo afinal? Eu deveria estar estudando para tirar boas notas, mas eu estava pensando em uma garota que nem seu nome eu sei. O que me surpreendeu é que comecei a idealizá-la. Na minha mente ela é uma boneca. Uma boneca de cera, tão perfeita quanto um ser humano, mas sem uma alma, por isso é sem vida. Eu queria muito ajudá-la, mas eu precisava saber mais...

― Higiênico, Helicóptero, Hoje, Horta, Hidratante... ― Dizia Rafael olhando para a parede. ― Cara não consigo pensar em palavras com ‘’H’’.

― E se a gente pesquisasse ‘H7’ na internet... Talvez apareça algo. ― Sugere Bruno já pegando seu celular do bolso da calça jeans. Comecei a observar Bruno, seu rosto era redondo, seus olhos e cabelos ralos escuros, Bruno gostava de barba, e tinha uma rala crescendo em seu rosto. Já Rafael. Tão magro que sou capaz de ver seus ossos. Louro, e dos olhos azuis, seus cabelos também são ralos, diferente dos meus, tão cheios e bagunçados.

― Boa ideia... ― Falou Rafael.

Resolvi levantar da cama, mas assim que levantei a porta do meu quarto se abriu, entrando no recinto a mesma menina que me entregara o ‘’7’’. Arregalei os olhos. Ela abaixou a cabeça e estendeu o braço, tendo em seus dedos outro pedaço de papel rosa. Sem pensar arranco o papel de sua mão, e olho para o mesmo. ‘’Magnesia ‘’ estava escrito, mas o que seria isso?

― Diga... Pelo menos seu nome. Por favor. ― Suplico a criança.

― Laura. ― Responde sem cerimônia. ― Eu quero ajudar...

Olho para os meninos. Eles me olhavam da mesma forma esperando que eu dissesse algo, mas eu queria que eles decidissem por mim.

― A deixe... Ela deve saber de alguma coisa, afinal ela trouxe as duas últimas dicas. Qual sua idade Laura? ― Pergunta Bruno.

― oito. ― Laura responde.

― Quem te deu essas cartinhas pra você entregar pro Thomas? ― Ele perguntou novamente. Percebi que esse era o momento certo para interrogá-la.

― Não sei quem é que me deram elas, mas eu nunca estou acordada quando isso acontece. E sei que vai perguntar como sei onde Thomas mora... É porque minha irmã sempre me deixa aqui.

Olhamos-nos novamente. Será que a irmã de Laura é a minha admiradora secreta?

― E onde está a sua irmã? ― Pergunta Rafael aparentemente sério.

― Lá fora.

†

Saímos então da minha casa. Laura nos guiava até onde sua irmã estava, assim que íamos nos aproximando do local: um lugar no outro lado da rua cheio de árvores, comecei a ouvir uma risada sinistra que logo virou um engasgo. Laura corre até atrás de alguns arbustos e puxa de lá uma garota linda. Ruiva natural, seios grandes, e um sorriso esplêndido. Usava uma regata branca e uma minissaia preta.

― Essa é a minha irmã. Luana ― Diz Laura a puxando para perto de nós.

Olho para Bruno. Ele parecia recuar. Já Rafael boquiaberto se aproximava da moça encantado com sua beleza. Tento cutucar Bruno para que ele chegasse mais perto de mim.

― Porque recuou? ― Cochicho.

― Acho melhor você se afastar dela... Algo me diz que ela não vai nos ajudar positivamente. ― Diz Bruno sem tirar os olhos da menina.

― Como assim? E se ela for minha admiradora secreta?

― Sua admiradora secreta não parece ser... Assim... ― Ele a examina dos pés a cabeça enojado.

― Assim como? ― Pergunto também a analisando.

― Vulgar e impura. Observe... Até parece que ela foi mandada para lhe testar... Fique de olho, sua admiradora te observa... ― Finaliza Bruno, virando-se de costas.

― Olá Thomas, ― Diz a irmã de Laura se aproximando de mim. Seu olhar era fascinante. No mesmo momento olhei para Bruno. Cerrando um pouco os olhos eu pude ler seus lábios dizendo ‘’ Faça perguntas, não se encante por ela’’. E ele estava certo.

― Você que escreve as cartas para mim? ― Vou direto ao ponto.

― Sim sou eu. ― Luana responde fechando a cara. ― Todas que recebera por correio foi eu.

Ao mesmo tempo, Rafael, Bruno e eu arregalamos os olhos e começamos a encará-la.

― Mas não fui eu que queria enviá-las, resumindo, não sou a tal admiradora... Simplesmente me pego escrevendo-as, eu tento parar, mas é como se eu não estivesse sob controle do me próprio corpo. Eu estou consciente enquanto escrevo, mas meus movimentos não são controlados por mim. Ou seja, sua namoradinha deve estar morta.

Morta? Ela estava morta? Isso não era possível... Olhei para Bruno, ele a encarava com precisão de braços cruzados.

― Não quero te assustar... ― Disse Luana se aproximando. ― Mas essa é a única explicação, não é? Haha... ― Luana arregalou os olhos enquanto ria, seus braços se elevaram até a altura do meu pescoço e suas mãos cravaram no mesmo. ― Mas eu não quero que você a encontre. Eu a odeio, sempre a odiei, mas você sempre a preferiu. SEMPRE. Ela é mais bonita que eu? Tem mais corpo que eu? Beija melhor que eu Thomas? RESPONDE!

Percebi algo. Luana era bipolar, ou então fingia muito bem ser alguém que não é. E o que ela queria dizer com tudo isso?

― Maia sempre conseguiu tudo. TUDO. Inclusive você. Ela sabia que eu era apaixonada por você, mas ai decidiu se intrometer... Roubou você de mim, e como ela se diz minha melhor amiga? Aquela falsa, mas tudo que eu fiz com você foi melhor, não foi? Eu roubei todas as suas primeiras vezes, eu te fiz feliz... Eu poderia ter mata... ― Luana não conseguiu terminar de falar, ela simplesmente caiu ao chão. Afasto-me. Olho para o lado, uma mão saia do bueiro e puxava seu pé, a menina gritava com toda sua força, mas eu estava paralisado. Não porque eu queria, mas porque não conseguia me mover.

Ouço grunhidos entrarem no meu ouvido cada vez mais alto. Sons de pássaros desesperados... Ou melhor, famintos. Ao olhar para o céu, vejo um bando de aves que não consigo identificar a espécie. Laura gritava assim como Luana. Nem mesmo a pequena menina conseguia se mover.

Um pássaro pousa nas costas de Luana e simplesmente a perfura com seu bico comprido e fino. Luana solta um grito agudo de dor, e logo todos os pássaros do bando se juntam no corpo de Luana, devorando-a viva.