Entreguei o corpo de Sakura para o meu clone, observei a forma como ele a segurava no colo, protetor, intimo, um olhar profundo, inquietante e talvez até mesmo apaixonado. Apaixonado. Era assim que eu olhava para Sakura sem nem ao menos perceber, naqueles breves segundos vendo meu outro eu se afastar com ela nos braços e acompanhado de Hinata, senti-me envergonhado por fazer aquele papel. Pelo canto do olho vi o homem que puxara o cabelo de Sakura soltando-se do jutsu de Shikamaru e vindo em minha direção com o punho armado para um soco. Levantei meus braços na frente do rosto pronto para receber o golpe, queria testar seu nível de batalha. Fui jogado alguns metros de distância até conseguir plantar meus pés no chão antes de bater na fria parede do galpão, minha pele queimava aonde tinha sido atingida, aquele não tinha sido somente um soco, era forte e violento, não só me atingindo, mas também como se alguma coisa estivesse me empurrando para trás.

Olhei bem para a forma que se posicionava buscando uma pista do porquê aquilo ter acontecido, ele percebeu meu interesse dando-me um sorriso presunçoso, aquilo só aumentou minha raiva para aquela criatura. Corri aparecendo de repente em suas costas, acertei o joelho em sua lombar, fazendo seu corpo ser lançado para frente, mas diferente do que eu esperava o golpe não teve o impacto que eu desejava e novamente a sensação de algo me empurrando voltou, como se algo repelisse qualquer contato com sua pele. Mais uma vez ele sorriu e aquilo só me irritava ainda mais, avancei novamente, cego de ira.

Captei Shikamaru iniciando uma luta com o Hyuuga, mas dei pouca importância, estava concentrado demais em ferir o desgraçado a minha frente, chutei e soquei de todas as formas, ele era lento e nenhuma de suas investidas surgiam efeito, seu defesa também era precária, baseado somente em bloquear ou desviar para os golpes não atingirem uma área mais sensível, porém nenhum ataque era tão efetivo quanto eu queria, nem mesmo o aumento da força, na verdade parecia que quanto mais forte a repulsão aumentava.

– Que foi Uchiha, bravo por não consegui bater de verdade no cara que torturou sua namoradinha?

Sem se preocupar em responder avançou mais um vez, sentia-se insano, irritado, irado, como a tempos não sabia ser possível, aquela sensação da adrenalina afetando seu organismo, o modo como sua mandibula se trincava, o sangue que corria rápido por seu corpo, mas principalmente a vontade de ver o sangue inimigo escorrendo pelo chão. Socava e chutava seu oponente como louco, não havia mais tempo para defesas ou desvios, ele simplesmente atacava, vendo o corpo ser lançado em diversas direções sem descanso.

Mas nada dava o resultado esperado, nada fazia o sangue escorrer, nenhum arranhão, nenhum ferimento grave, foi quando puxou sua katana da bainha, girou a lâmina direcionando para um corte no braço, vendo essa parar, tocava a pele, entretanto não cortava. Foi quando algo se passou por sua mente, afastou-se ativando o Sharingan, notando uma fina camada de chakra ao redor do corpo de seu oponente, quase como um brilho fraco, finalmente entendendo o que acontecia para nada surtir efeito.

– Armadura de chakra. - falou sua dedução.

– Você é o primeiro a perceber isso. - o homem estava ofegante, mesmo que ainda não estivesse sido verdadeiramente atingido sentia seu corpo doer, enquanto o Uchiha permanecia ileso, nem ao menos cansado.

– Provavelmente porque você é um merda que mandar seus subordinados fazer seu serviço sujo.

O homem iria lhe responder, mas não houve tempo, pois logo uma grande bola de fogo veio em sua direção, por um momento ele se assustou e pelo Sharingan Sasuke pode ver a infusão de chakra para a pele aumentar, o fogo simplesmente crepitou a sua volta até sumir, dando um sorriso a face sádica de Sasuke.

– Uma cobertura de Fuuton, fogo precisa de oxigênio para entra em combustão.

Sem dizer mais nada Sasuke utilizou de seu Amaterasu, logo as chamas negras se espalharam pelo corpo, desesperado ele infundiu mais chakra, entretanto, diferente de antes esse fogo não se apagava, ele continuava crepitando parecendo aumentar a intensidade cada vez que mandava mais chakra pra sua pele.

– Não adianta, o fogo negro nunca apaga, enquanto infundir chakra para sua pele ele continuará queimando, e se você parar ele te queimará.

Observou conforme o homem se abaixou, apoiando-se nos joelhos para controlar o próprio chakra, quase rindo da figura patética.

– Porque torturaram Sakura? - abaixou-se na frente do homem - Ela não tinha nenhum doujutsu. O que queria com ela?

– Haruno Sakura, aluna do Rodukaime, pupíla da Godaime, amiga do Nanadaime, membro do lendário Time 7, jounin de confiança de Konoha. Não é como se ela não fosse uma ninja valiosa, - sua voz era arfante por conta do fogo ao seu redor - eu nunca a reconheceria, mais graças ao Hyuuga traidor, eu não poderia perder essa chance.

Pelo canto do olho Sasuke via que Shikamaru afastava-se preguiçosamente das investidas do Hyuuga que tentava ao máximo se aproximar. Rápido apareceu nas costas, dando um chute tão veloz que mesmo vendo seus movimentos com o Byakugan não foi capaz de parar. Viu o corpo caído no chão e avançou sem dó ou se importar com Shikamaru, com a lâmina de sua espada bateu no rosto do rapaz antes que esse pudesse reagir, batendo daquela forma, com a parte plana do metal, não faria corte profundos no rosto, mas seria o suficiente para romper os vasos do rosto, tal o impedindo de um dia voltar a usar seus olhos novamente.

– Então se divertiu dando informações da vila para um inimigo, - sua voz fria preencheu o lugar assustando o garoto que tinha sido pego desprevenido - achou mesmo que ferraria com Sakura e sairia sem nenhum arranhão?

Shikamaru o chamou tentando fazê-lo parar, entretanto sua atenção estava voltada em bater o máximo possível no garoto, seja com chutes ou murros, o outro sentia-se horrorizado assistindo ao espetáculo, sem saber alguma forma de fazer o Uchiha parar. Naquele momento desejou Naruto ou Kakashi por alí, mas principalmente que Sakura passasse por aquela porta milagrosamente recuperada, abraçando-o por trás assim como fizera anos atrás durante o Exame Chunnin.

– Poxa, - uma risada veio do outro canto da sala, atraindo a atenção de Sasuke para o homem ainda envolto em chamas - a putinha deve ser boa mesmo pra tudo isso, talvez eu devesse ter usado esse tempo de outra forma.

Sasuke soltou a blusa que prendia entre seus dedos largando o corpo do traidor no chão soltando baixos gemidos, seu rosto impassível não demonstrava emoção alguma, entretanto emanava quase uma áurea negra, sombria. Antes mesmo de perceber o feito de suas palavras Sasuke já estava sobre si, utilizando de seu Sharingan para abrir o fogo em regiões especificas, dando-lhe espaço para socar no outro. Um animal, era isso que ele era, um animal furioso, atacando aquele que tinha mexido com o seu preciso companheiro, não havia nada além do som do punho afundando na carne, os gritos de dor a cada novo golpe. O sangue escorria nas mãos de Sasuke e ele não se importava podendo até achar o brilho vermelho bonito, se não tivesse tão concentrado em espancar o inimigo. Foi quando percebeu que a lâmina da Kusanagi ia em direção ao pescoço do homem já desmaiado para um golpe fatal, que Shikamaru não teve outra alternativa a não ser interferir, juntou uma quantidade de chakra ainda maior que o normal para parar a insanidade do Uchiha, o imobilizando com sua sombra.

– O que? - Sasuke falou ao ver que não conseguia mover o braço, reparando depois na sombra que o circulava. - Shimakaru, que merda pensa estar fazendo?

– Sasuke, pare com isso. Precisamos dele para interrogá-lo na vila.

– Estou nem aí, me solte, eu devo matá-lo pelo o que fez com Sakura.

– Não deve. - soltando um suspiro ele resolveu usar a lembrança em sua mente com esperança que aquilo pudesse pará-lo - Lembre-se de como estava aquele dia na Floresta da Morte durante o Exame Chunnin, veja como está agora, lembre-se do que Sakura fez com você quando o viu nesse estado.

Um silêncio cobriu a sala, Sasuke encarou a figura desmaida em sua frente e pelo canto do olhou viu o outro corpo largado próximo a parede, sentia-se como a anos atrás mas o prazer de ver os corpos daquela forma por sua causa não era o mesmo, ele não precisava mais daquilo, ele não devia mais ser aquilo, pois se fosse assim não era ainda digno de ter Sakura.