O dia estava definitivamente quente. O País do Vento era conhecido pelos seus grandes desertos, e mesmo que não fosse a primeira vez que eu passava por alí não conseguia deixar de me sentir desgastado com tamanho calor, provavelmente os shinobis dessa região recebiam um treinamento especial para resistirem as altas temperaturas, ou talvez o hábito de andarem sobre aquele sol escaldante os deixassem preparados para esse tipo de caminhada. Eu não estava acostumado a isso, minha terra tem arvores e muitas sombras, era uma terra fresca e confortável de se estar, mas como eu estava longe de casa, das sombras, das folhas e do conforto, tudo por uma escolha minha. Então numa tentativa de diminuir os efeitos dos raios, me escondo nas sombras dos grandes rochedos, aquela era umas das poucas regiões daquele lugar que não era coberta totalmente por areia e dunas.

Continuei minha caminhada por entre as depressões até que ouvi um barulho que me chamou atenção, pulei apressado até chegar a um rio que corria no meio do vale, canalizei chakra nos pés e nas mãos, desci com cuidado para não pisar em nenhuma pedra solta do rochedo até que finalmente plantei meus pés no chão. Tirei a capa que me protegia do sol, aproveitando a sombra protetora do vale, me abaixei na margem, peguei um pouco de água nas mãos e joguei no meu rosto, sentindo então as gotas descerem até meu pescoço, trazendo uma sensação boa de algo gelado contra a minha pele quente, repeti o movimento mais duas vezes, molhando meu cabelo e a barba que estava por fazer. Olhei para o céu observando o sol, pela sua posição conclui que não passava das quatro da tarde, era cedo, entretanto dificilmente acharia um lugar melhor para passar a noite.

Perto de uma pedra larguei a bolsa que eu carregava, lá dentro achei o cantil que carregava comigo, enchi de água fresca e o guardei em um canto, teria que achar comida, porém ali seria difícil. Me decidi por mergulhar no rio, já fazia três dias sem passar por uma fonte d’água, e mesmo assim foram paradas rápidas, era basicamente uma semana sem tomar banho. Com uma facilidade que tinha adquirido com o tempo, tirei o coldre que prendia a katana e logo depois a blusa, foi quando ouvi um barulho que me fez parar. Apurei meus ouvidos e ouvi passos no ritmo de corrida na direção em que eu estava, peguei Kusanagi e me posicionei atrás de uma grande pedra aguardando chegar quem quer que fosse, alguns poderiam considerar imprudência deixar todos os pertences no campo de visão, mas aquilo seria perfeito para atrair o oponente.

Olhando para o paredão do outro lado do rio, vi um homem de roupas azuis escuras e verdes descendo as rochas, o que se assemelhava ser sua bandana parecia estar amarrada na perna, mas daquela distância não era possível distingir de qual vila. E ainda assim não dava para saber se pertencia a uma vila, muitos nukenins ou renegados andavam disfarçados de shinobis para passarem despercebidos durante fugas, ou evitar conflitos na estrada. Assim que terminou de atravessar o rio andando pelas águas, o homem observou minhas coisas, mas antes que ele pudesse pensar, eu já estava atrás dele com a lâmina da minha espada tocando seu pescoço.

- O que quer aqui? - perguntei com um tom razoavelmente acusador.

- E-eu tenho uma mensagem do Rokudaime Hokage. - olhei para a manga de suas vestes e vi uma faixa vermelha com o redemoinho desenhado.

- Como me achou aqui? - questionei apertando ainda mais a lâmina. - O que querem comigo?

- Sou um ninja sensorial, e tenho treinamento especial de rastreamento. - pude perceber suas mãos tremendo levemente antes de se fecharem em punhos. - Faço parte de uma equipe especialmente montada por Kakashi-sama para localizá-lo e lhe entregar um pergaminho.

- Equipe? Quantos estão atrás de mim?

- Somos um total de cinco Uchiha-san, - franzi a testa com o sufixo, aquilo aparentava respeitoso demais para mim - nos espalhamos por diversos países a sua procura à cerca de um mês.

- E como posso saber que está falando a verdade? - perguntei circulando o homem até ficar na sua frente ainda com a katana apontando seu pescoço, olhando seu rosto conclui que ele ainda não devia ter dezoito anos completos, mas se teve a coragem de vir me procurar mesmo depois de todas as minhas histórias, devia ser corajoso.

- Porque bem… - sua voz vacilou na resposta, inclinei para lado observando uma determinação surgir em seu rosto - Porque estou te tratando como um legítimo companheiro da Folha enquanto você apontou uma espada para me ameaçar.

Senti minha sobrancelha se levantar, aquele moleque era com certeza corajoso, apesar da tremedeira evidente em suas pernas, e os punhos fechados provavelmente por estarem na mesma situação, ele sabia controlar o que sentia pelo bem de uma missão. Abaixei a arma de seu pescoço e ele soltou um suspiro de alívio quase imperceptível, estendi a mão esperando o pergaminho ser entregue, mas ele só sabia encarar a minha mão como se fosse um enigma a ser descoberto, bufei com a lentidão do garoto.

- Tsc, quanto tempo vai ficar olhando pra minha mão ao invés de me entregar o pergaminho?

- Oh, sim… gomen.

Ele remexeu um bolso tirando um rolo branco com um selo de lacre vermelho feito do símbolo da vila, rompi o lacre e observei que o moleque não fez nenhum movimento para se mexer, olhei para ele, mas ele parecia ser lento demais, já que me olhava como se eu fosse uma figura curiosa a ser estudada.

- Sua missão foi concluída moleque. - usei um tom de repreensão que pareceu o deixar envergonhado com a situação.

- Ah sim, bom… com licença, irei retornar para a vila.

Observei ele sair e se afastar até sumir do meu campo de visão, bufei achando graça na reação do rapaz que oscilava facilmente entre a coragem e o medo. Me abaixei no chão apoiando o pergaminho e o desenrolei, na hora reconheci a caligrafia de Kakashi.

“Yo Sasuke!

A quanto tempo não nos falamos? Como não tive oportunidade de fazer isso antes, desde já agradeço por sua ajuda com os meteoros um ano atrás, graças a você a Vila da Folha escapou de ser completamente destruída e ter seus moradores mortos. Sei que você não se importa com esse tipo de coisa, mas depois de muitas especulações sobre quem tinha lançado aquele jutsu, contamos aos nossos ninjas que tinha sido você a salvar a Vila, e a notícia logo se espalhou por entre os moradores, sei que provavelmente você iria preferir que isto fosse mantido em segredo, porém depois que soube Naruto fez questão de te declarar como o Herói do Raio. Sakura disse que o nome era ridículo e que você provavelmente iria matá-lo quando soubesse, mas nem isso foi o suficiente para impedi-lo.

Sei que deve estar se perguntando o motivo de entrar em contato com você só agora, quero deixar claro que não queria atrapalhar sua viagem por sua busca pessoal, porém me sinto no dever de sensei do lendário Time 7, e um espectador da sua amizade com Naruto, a lhe informar que este tomará o posto de Hokage dentro de cinco semanas a partir de hoje, o dia em que lhe escrevo. Talvez não seja correta minha intromissão, porém duvido que seja errada, sei que ele ficaria muito feliz em ter seu melhor amigo ao seu lado. Entretanto Sasuke, se não se sentir pronto para isso ignore isto que estou lhe dizendo, faça aquilo que lhe deixa mais confortável.

Espero que você esteja passando bem, do seu antigo sensei

Hatake Kakashi.”

Olhei para data, tinha sido escrito à quatro semanas e dois dias. Bufei, maldito Kakashi. Guardei o pergaminho já novamente enrolado na bolsa, tornei a me despir e entrei no rio, até o final daquela noite eu iria me decidir.