Como surgem os Pesadelos escrita por V M Gonsalez


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura ^.^



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Os pesadelos... Que atire a primeira pedra o sortudo que nunca teve um pesadelo. No entanto, poucos já pararam para pensar na origem desses sonhos malditos, que atormentam nossas noites e perturbam as manhãs.

Então sente-se e aproveite a história, pois eu lhes contarei a origem dos pesadelos.

Para isso precisarei de uma...vítima. Sim, este vai servir. Contarei a história então de Josef. Ele era um homem qualquer, nada de especial acontecia em sua vida. Solteiro, não muito inteligente, nenhum tipo de característica especial, sim desses que existem aos montes. Certa noite, nosso nada especial herói estava em sua cama nada especial, tendo um sonho nada especial, quando, de repente, algo muito especial aconteceu.

Ele teve um pesadelo.

Mas não um pesadelo qualquer, desses que temos durante nossa vida, em que sonhamos estar pelados na frente de uma grande multidão, ou algo do tipo, mas sim um pesadelo de verdade. Sim, um pesadelo de verdade, com monstros e fantasmas e sangue e escuridão e todas essas coisas lindas que existem aos montes no Reino dos Pesadelos, um ótimo lugar para se visitar.

Sem mais delongas, vou-lhes contar o pesadelo de nosso pobre Josef.

O mundo havia se tornado escuro, escuro como a morte. Não havia em cima ou embaixo, não havia um lado ou o outro, em resumo, não havia nada além da escuridão. Josef estava parado, contemplando o esplendor do nada, quando sentiu algo quente cair sobre seu ombro esquerdo. Com a inocência comum aos humanos, ele passou a mão sobre o local atingido e, quando olhou para os próprios dedos, eles estavam vermelhos de sangue.

Assustado, Josef olhou para cima, bem a tempo de outra gota de sangue cair sobre seu rosto e escorrer por sua bochecha. Lá no alto, havia uma enorme mancha vermelho-sangue em algo que poderia lembrar uma parede na escuridão. Assustado, nosso herói começou a recuar, mas a mancha parecia segui-lo através da escuridão. Em dado momento, Josef e sua brilhante inteligência foram capazes de tropeçar sobre os próprios pés, e ele caiu com a boca e os olhos escancarados olhando a mancha vermelha que parecia borbulhar.

De dentro da mancha, uma figura branca e preta começou a emergir. Era levemente humanóide, com longos e magros braços e pernas, um rosto longo e magro, que terminava em emaranhados cabelos negros sujos de sangue. Seus olhos eram dois orbes negros, que pulsavam de ódio procurando por Josef na escuridão. Seu corpo era esquelético, suas costelas eram saltadas de forma que era perfeitamente visível sua ossatura e também, algo parecia bater lá dentro, movendo a pele levemente a cada batida, um coração demoníaco, como podemos observar.

Se arrastando sujo de sangue pela estranha parede na escuridão, a criatura olhava fixamente para Josef, com movimentos de pescoço quase tão perturbadores quanto sua aparência física. Nesse momento, o homem estava completamente paralisado pelo medo, incapaz agora de fugir daquela criatura terrível.

Lentamente, o monstro se aproximou de Josef e o olhou de cima a baixo. O cheiro de sangue fresco era tão forte que o homem teve náuseas, ele se infiltrava em seus pulmões e se alastrava por suas veias, paralisando-o ainda mais, e causando uma sensação de dor leve, mas perturbadora.

- Você será... Nosso – a criatura disse, lentamente, como se esforçando para pronunciar as palavras no idioma dos homens. Seu bafo de miasma envolveu Josef, que se sentiu inebriado e começou a desmaiar.

Antes, porém, de cair em um sono eterno, Josef viu a criatura se aproximar de si e desferir uma mordida sobre seu ombro direito. A dor agarrou o homem pelo estômago e o levou direto do Reino dos Pesadelos para sua cama nada especial, agora completamente encharcada de suor e urina, desarrumada e com um Josef aos berros acordando sobre ela.

A dor em seu ombro persistia mesmo após acordar e, como ele conferiu em um espelho mais tarde, havia nítidas marcas de dentes irreais delineando uma grande e forte mandíbula. Assustado, ele tomou um banho, mas as marcas persistiram como cicatrizes que o lembravam das palavras da criatura. Sem saber o que fazer, ele se limitou a colocar o seu desconfortável terno e desejar com todas as forças que aquele fosse apenas mais um dia chato e normal no trabalho.

E é claro, não foi.

Quando chegou ao entediante prédio no qual trabalhava, tudo parecia normal. A recepcionista cumprimentou-o pelo nome errado, como era de costume, ninguém pareceu dar nenhum tipo de atenção ao homem, perfeitamente normal. Josef já respirava aliviado e quando entrou no elevador, já exibia algo que parecia um sorriso.

Mas essa alegria não durou muito.

No meio do trajeto do elevador, as luzes começaram a piscar e o elevador começou a fazer alguns barulhos estranhos. Não demorou muito para que o elevador parasse completamente no escuro. Ao redor, Josef ouvia barulhos cada vez mais estranhos, pés correndo, objetos sendo arrastados, gritos humanos e um estranho barulho incomodo de ossos sendo mastigados. A cicatriz em seu ombro doeu de uma forma lacerante, fazendo-o se encolher sobre si mesmo, deitado no chão. Após alguns minutos que pareceram horas, o elevador voltou a andar.

Agora, como seu ilustríssimo narrador, cabe a minha pessoa descrever para vocês o ambiente no qual Josef trabalhava. Ele era, basicamente, um conjunto de pequenos cubículos onde pessoas completamente normais trabalhavam. Havia dois elevadores e duas escadas, uma em cada extremidades do andar retangular, completamente recoberto por paredes de vidro, que davam uma linda visão para a poluição da cidade. Não são necessários mais detalhes, afinal, era um ambiente comum e sem graça.

Por fim, Josef recuperado da dor se pôs em pé no momento em que a porta abriu. E ele teve uma grande, grande surpresa.

A primeira surpresa foi o escuro no qual estava imerso a sala.

A segunda foi que esse escuro era causado por sangue.

Além da iluminação natural proveniente das janelas, havia grandes lâmpadas no teto, que estavam obviamente quebradas. As janelas, por outro lado, estavam tapadas quase completamente por um grossa camada de uma mistura de sangue e entranhas, que parecia ter sido ali passada quase de propósito, quase por acaso.

O ambiente macabro se estendia por todo o escritório, os sapatos caros de Josef grudavam no sangue espalhado pelo chão, fazendo um barulho quase engraçado a medida que ele avançava cambaleante e nauseado pelo escritório. Algo pareceu se mover vindo da escuridão, se arrastando penosamente pelo chão. Logo, os olhos de Josef conseguiram diferenciar a figura de um de seus colegas trabalho, ou ao menos o que restava dele, pois estava partido a metade, com seu intestino caindo como uma calda atrás de seu tronco. Parecia quase mágico que ele estivesse vivo, um verdadeiro pesadelo vivo.

- F-Fuja...daqui...

Mal seu colega havia terminado a frase sofrida, Josef ouviu um rugido medonho vindo do outro lado do escritório. Sem pensar duas vezes, ele se escondeu sob uma das mesas, antes brancas, agora rubras de sangue.

A criatura do pesadelo de Josef havia avançado com uma velocidade assustadora para a escada, perto de onde Josef estava. Por lá subia Karen, uma mulher de meia idade dura e rigorosa, era a supervisora daquele setor, e não estava nada contente com os barulhos que ouvia lá de baixo. Por alguma obra de magia, os barulhos da carnificina eram camuflados nos demais andares por barulhos de pés se arrastando e música alta, quase uma festa. Não que estivesse errado, dependendo da perspectiva.

A criatura avançou sobre Karen antes que ela pudesse distinguir o que acontecia, e a mordeu na lateral do corpo arrancando um grande pedaço de carne. O sangue jorrou sobre a escada, caindo como uma cachoeira sombria degrau a degrau, mas o monstro ainda não estava satisfeito. Ele agarrou a mulher pela cabeça e a esmagou contra uma mesa próxima, fazendo pedaços do crânio e do cérebro se espalharem por um raio de metros ao redor. Ele então lambeu os dedos, a fim de aproveitar a massa cinzenta que se espalhara por entre seus longos dedos.

Desinteressado no que restava do corpo de Karen, a criatura avançou contra o colega de Josef, que tentava desesperadamente fugir se arrastando pelo escritório. Ele devorou a metade esquerda do que restava de seu corpo em uma única mordida. Depois, arrancou o braço direito do pedaço de carne disforme que sobrara e, com seus dedos longos e finos, arrancou o osso e o mordeu, se lambuzando com as lascas de osso e o tutano que escorria dele.

Josef estava simplesmente aterrorizado. Ele olhava em volta e seus olhos, agora acostumados à escuridão, distinguiam seus colegas de trabalho – ou o que restava deles - completamente mutilados ou destruídos. O sangue, as vísceras e os ossos se amontoavam como uma decoração macabra por todo o escritório. O primeiro impulso do homem foi chorar silenciosamente, pois não tinha forças para mais nada.

Lentamente, o monstro se aproximou de Josef e de seu esconderijo. Com um golpe violento, ele arrancou a mesa sob a qual ele se escondia, deixando-o completamente exposto. Agora, os olhos de Josef já eram verdadeiras nuvens carregadas, que despejavam pesadas quantidades de água, tendo o auxilio agora de seu nariz, que escorria descontroladamente.

A criatura fez algo com a boca que lembrava um sorriso e disse, lentamente:

- Venha comigo

A boca do monstro se abriu assustadoramente muito e engoliu Josef com apenas uma mordida.

Acreditando estar morto, Josef pensou com alivio que tudo havia acabado, mas, novamente, ele estava errado. Ele havia sido transportado de volta para a escuridão absoluta, o Reino dos Pesadelos. Lá, a criatura estava parada, em pé, e a sua frente estava uma taça prateada com detalhes dourados, incrustada por pedras de um vermelho sanguíneo assustador, porém, belo.

A criatura, com suas longas e finas garras, rasgou o próprio peito, atingindo seu próprio coração, derramando um líquido negro semelhante à sangue sobre a taça, que logo transbordou e começou a encher a pequena mesa na qual estava e, consequentemente, o chão ao redor. Depois de um tempo, a criatura caiu morta ao lado, embebida no próprio sangue, mas, a sua volta, milhares de seres quase tão escuros como o ambiente, com apenas olhos completamente brancos para separá-los definitivamente da escuridão que os circulava, começaram a aparecer.

Eles se juntavam ao redor de Josef e, com suas bocas espirituais, clamavam “Beba”, e repetiam isto centenas e centenas de vezes. As criaturas começaram a empurrar o homem contra sua vontade em direção a taça, fazendo o homem completamente aterrorizado ficar frente a frente com a taça agora cheia de sangue negro. Tomado pelo terror, em parte pelo cansaço, ele colocou as mãos sobre a taça, mesmo que sua consciência gritasse para que ele a largasse naquele exato momento, mas envolto pelos gritos das criaturas, ele ergueu a taça e despejou o líquido sombrio pela garganta.

A medida que o líquido se alastrava pelo corpo do homem, sua pele queimava e se tornava completamente escura. A escuridão se espalhava pelas veias do antigo humano e as destruía centímetro a centímetro. Josef morreu lentamente e seu corpo se tornou completamente sombrio, até que seus olhos brilharam em branco e todo o resquício de consciência ou pensamento humano foram deixados de lado. Josef havia se tornado um pesadelo.

Josef foi encontrado dias depois, ainda deitado na cama. Havia engasgado com algo durante o sono, morrendo sem nem mesmo acordar. Em seu enterro, os pais e os colegas de trabalho prestaram homenagens comuns sem um grande significado, destacando-se apenas as declarações da mãe, que muito sabiamente disse:

-... ele teve um sonho ruim aposto. Agora sua alma está presa na terra dos sonhos, um lugar melhor, eu imagino.

Pobre e inocente humana...


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Notas finais do capítulo

Bem, este foi pequeno conto foi um exercício de desenvolvimento de texto baseado em imagem. Espero que tenham gostado e lembrem-se, cuidado com seus sonhos, vocês podem ficar presos neles.



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