2029 escrita por ginavroc


Capítulo 5
Capítulo Quatro


Notas iniciais do capítulo

Me perdoem pela demora para atualizar a fanfic. Fiquei um pouco sem tempo para escrever, mas agora já criei vergonha na cara e consegui mais tempo, vou continuar atualizando de pouco em pouco e devagar, mas isso logo melhora. Espero que gostem do capítulo.



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O barulho que me acorda é um som abafado, é o som abafado de uma respiração muito próxima ao meu rosto. É quente e confortável.
Não consigo abrir os olhos, eles parecem tão pesados, e eu me sinto tão cansada. Mas tenho que abri-los, ver onde estou, porque uma coisa da qual tenho certeza, é que não estou mais na cama dura e no dormitório gelado do Orfanato.
Então, quando abro os olhos, a primeira coisa que vejo é um borrão. Um borrão dourado que parece se mexer muito rápido, não consigo capturar uma imagem muito clara e ao tentar fazê-lo, uma tontura desagradável toma conta de mim. Estou deitada, mas de repente é como se estivesse caindo. A tontura faz isso. E ela também me deixa com um enjoo muito forte, algo no meu estômago, algo que remexe como se arranhasse tudo por dentro de mim. Eu quero chorar, e tudo parece doer. Meus ossos parecem pesados, e minha boca está tão seca, tão seca.
Permaneço deitada, tentando me acalmar, tentando fazer todas as sensações ruins e estranhas passarem. Leva alguns minutos, que mais me parecem horas, e quando tento me levantar novamente, dessa vez eu consigo. Fecho os olhos com força e os abro de novo, o borrão dourado pula em mim, e ele é um borrão macio e aconchegante. É um cachorro, um cão grande que bota a língua pra fora e lambe o meu rosto como se estivesse feliz em me ver. Tento afastá-lo de mim, mas ele é tão pesado e eu me sinto tão fraca.
De algum lugar atrás de mim, ouço uma risada forte e rouca, então passos. Alguém para ao meu lado e puxa o borrão dourado de cima de mim.
– Vamos, Pipoca, pare com isso. Acho que a Lana já entendeu que você sentiu saudades.
O cachorro se senta ao meus pés, a língua pendendo pra fora da boca, e seus olhinhos muito escuros parecem sorrir para mim. Mas minha total atenção se volta para o homem ao meu lado. Ele não me olha, não exatamente, mas eu sei que ele sabe que eu o observo.
De repente, de forma muito rápida, lembranças da noite passada me atingem. Uma avalanche de lembranças e visões e pensamentos e sensações.
Eu sinto meu peito doer, e eu sinto o cheiro, sinto meu corpo amolecer e então as lágrimas molham o meu rosto. E eu estou chorando e respirando muito rápido, ofegando com o medo. Eu me encolho, me afasto dele. E ele parece tão triste com isso, parece tão chateado. Mas ele me tirou do Orfanato e fez algo comigo, o que ele fez? O quê?
Acho que ele vê a pergunta em meus olhos, porque ele se senta ao pé da cama na qual eu me encolho, e ele junta as mãos e brinca com os próprios dedos. Então me olha e sorri, um sorriso tranquilizador, que não, não me acalma nem um pouco.
– É, eu te sequestrei. Mas foi por uma boa causa, Lana, você precisa entender.
Mas eu não quero. Não quero entender. Eu não me sinto segura, nunca me senti, e agora eu o reconheço. Ele é o homem que foi no Orfanato, aquele que queria me adotar, o que depois desistiu de mim. É ele, e ele me sequestrou e me dopou, e fez algo comigo. O que ele fez? O quê?
– Não fiz nada com você, não como você pensa. Eu só te mantive inconsciente por alguns dias, apenas isso.
Ele tenta se aproximar, ele estica a mão para mim, como se tentasse me tocar, mas eu me assusto e me encolho e choro, soluços estrangulados escapando pela minha boca. Eu pareço desesperada, porque é exatamente assim que me sinto.
E ele se vai. Olha uma ultima vez na minha direção, um suspiro lhe escapando por muito pouco. Ele tenta sorrir para mim. Ele olha para o borrão, e então diz:
– Cuide dela por mim, certo, Pipoca? – seus olhos se voltam na minha direção, ele sorri – Volto mais tarde, quanto você estiver mais calma. Tem um copo de água naquela mesa ali – ele aponta na direção de uma mesa do outro lado do quarto a qual eu não havia percebido – e também algo para você comer.
E então ele abaixa a mão, sorri mais uma vez e se vai, saindo do quarto e me trancando ali dentro junto com o borrão dourado, o cachorro do qual agora sei o nome, Pipoca.
Eu olho para o cachorro, ele me olha de volta e pula na cama ao meu lado, sua cabeça ele deita no meu colo, me olhando como se me fizesse uma pergunta “Tudo bem, menina?” não, nada está bem.
Eu acaricio o seu pelo, e penso que ele, Pipoca, será o meu único amigo por enquanto.

O dia (ou a noite, não sei bem, não tenho noção de tempo dentro desse quarto sem janelas) passa muito rápido, ou assim parece. Pipoca está a um bom tempo deitado na porta, cheirando a pequena fresta da porta entre o chão, como se esperasse que alguém chegasse de repente.
O quarto é grande. Muito grande. Tem a cama bem no meio, uma cama enorme e muito confortável, duas mesas uma de cada lado do quarto. Algumas cadeiras em volta das mesas, e então outra porta que leva para um banheiro maior ainda de paredes brancas, chão de um cinza chumbo brilhante como um espelho e, completamente sem janelas. Não há uma janela sequer por onde eu possa escapar ou me distrair com a paisagem.
Eu não faço ideia de onde possa estar, e isso me apavora, porque posso estar em qualquer lugar. Posso estar em outra Aldeia, posso nem estar em terra regulamentada. Posso até estar em uma daquelas terras não oficiais da qual ninguém jamais fala. Se for isso, estou perdida pra sempre, ninguém virá procurar por mim. Nem uma autoridade que possa se interessar pelo caso de uma menina órfã que desapareceu no meio da noite do dormitório do Orfanato e provavelmente foi levada para terras nas quais ninguém que esteja em sã consciência vá pisar. Porque nesses lugares, nada de bom acontece.

A porta se abre de repente. Pipoca pula e late um pouco, se esfregando nas pernas dele, que logo se aproxima de onde estou sentada na cama. Eu não me afasto, ele sorri um pouco para mim e se senta na minha frente, do mesmo jeito que eu, de pernas cruzadas, como dizem que índios fazem.
– Boa noite. Sente-se melhor? – ele pergunta, e tenta me olhar nos olhos, mas eu os desvio para longe dele.
– Sim. O que você me deu para me manter adormecida? – pergunto, sem querer de fato conversar, mas sentindo uma vontade estranha de ter uma conversa com ele.
– Você quer sair do quarto? Você não precisa ficar trancada aqui, você é livre para sair a hora que quiser. – Ele diz, já me ignorando como eu achava que faria.
Ele se levanta e me puxa de repente, me arrastando para fora do quarto. E eu não consigo gritar e implorar que ele pare com aquilo, porque de repente eu estou muito curiosa para saber onde estou.
Fora do quarto tem um corredor, com uma única saída, que dá numa sala gigantesca e muito bonita. Toda de madeira com mesas bonitinhas e algumas poltronas que parecem confortáveis nas suas estampas engraçadas e fofas, tudo é tão colorido.
– Essa é a sala, Lana. Ali, - ele aponta uma outra porta – é a cozinha. E é só isso. A casa parece ser grande, mas na verdade é pequena. Pequena mas muito confortável. Espero que você goste daqui.
Eu balanço a cabeça, sem querer comentar que já gosto.
– Não existem janelas aqui?
Minha pergunta parece assustá-lo e ele olha para o chão antes de voltar a me responder.
– Só uma. Venha, eu te mostro.
E ele me puxa pela mão, me guiando até a cozinha, onde eu finalmente vejo: uma janela. Uma janela imensa que cobre metade da parede. E é toda de vidro.
Eu corro para ela e observo a noite do lado de fora. Não existe mais nada ali. Apenas uma rua com asfalto rachado e nada mais, nem sinal de outras casas, ou de outras pessoas, ou de postes de luz. Nada. Lá fora apenas a Lua serve como guia, como iluminação.
Eu me viro para ele, de repente muito consciente de que ainda sou a garotinha assustada que fora sequestrada, e pergunto:
– Quem é você? E... aonde estamos?
Ele me olha, me olha nos olhos, e eu vejo, um brilho muito estranho, mas tão aconchegante que é como se nunca mais quisesse parar de olhar em seus olhos.
– Meu nome é, Andrew e nós estamos na Aldeia Boreal.


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