Laços do Inverno escrita por Boneca


Capítulo 4
Capítulo 4 - Uma nova Vida para o Inverno


Notas iniciais do capítulo

Esqueci quem é a minha beta. Se ela estiver no site, e ler isso, me bipa, esqueci quem é você, amor s/2.



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Capítulo 4 – Uma nova Vida para o Inverno

 

 

Na manhã seguinte, um homem me encontrou escondida entre os destroços. Eu estava enrolada naquele casaco, usando uma pedra como travesseiro. Havia sangue seco em meu rosto e pequenas feridas em meus dedos, a dor de meus músculos ainda em mim. Eu encarei meus cortes curiosamente, sentindo o olhar daquele homem sobre mim. Ele estava parando em minha frente, de pé, mas não havia uma grande distância entre nós. Não uma distância que me mantinha afastada do mundo.

 

- Menininha, você está perdida? – ele me perguntou, ajoelhando em minha frente.

 

E foi assim que eu dormi, no casaco que ele me deu de madrugada. Deitada naqueles restos de um prédio. Por descuido, eu retirei o meu cabelo de minha face e encarei aquele belo rosto. Aquele homem jovem. Ele sorria mesmo quando o meu vermelho se fixou nele. Seus belos negros apontados para todos os lados, as roupas negras, e o cachecol vermelho que ele carregava no pescoço. Ele era belo, mas não era como o papai. Eram negros e não castanhos, aqueles olhos azuis que me encaravam, mesmo com o sorriso em sua face.

 

Ele não era o papai. Mas era a melhor coisa que eu teria no momento.

 

- Não. A mamãe sumiu... – senti os olhos quentes, parecia que as lágrimas queriam cair. – Ela me deixou. Você pode cuidar de mim agora?

 

Ergui os braços para ele, desejando que ele me pegasse e me levasse daqui, mas na realidade, eu esperei que ele me rechaçasse. Mas ele me abraçou. Nós caminhamos lentamente pelos escombros, desviando de várias pedras. Seus braços me apertavam fortemente, minhas pequenas mãos prendiam-se em seu pescoço. Nós chegamos ao seu carro, eu fui posta no banco de trás, e por um momento, seus olhos encararam os meus. Um sorriso e depois estávamos correndo numa estrada. Havia picos de sono meu, eu dormia e então acordava com o barulho de vários carros. Ele se mantinha calado, e quando eu estava acordada, ele me observava pelo retrovisor. Uma pequena criança deitada no bando de trás do seu carro, eu acho que deveria ser assim que ele me via. Uma criança machucada, com um olho azul, um olho vermelho, e esses fios que me escorriam pelas costas. Vermelhos, da mesma coisa do meu sangue que saia em minhas mãos.

 

- Qual o seu nome? – eu perguntei, abraçando-o pelo banco.

 

Ele me sorriu pelo retrovisor, belos azuis em mim. Eu sei que seria grata à ele pelo resto da minha vida. Eu estava para morrer, e parece que eu morri, pois uma nova parte de mim nasceu naquela madrugada. O casaco me provava isso, manchado de sangue no coração, onde a faca penetrara no coração daquele parecido com o papai. Sangue negro.

 

- Meu nome é Erich, minha bela ruiva. – ele disse, retirando a mão do volante para acariciar a minha em seu pescoço, meu queixo encostado no banco negro, eu estava feliz ali. – E qual é o seu?

 

Eu pensei por um momento, eu tinha um nome. Era Dorothea, mas eu não queria mais aquele nome. Ele não era o nome certo para mim. Eu lhe diria outro nome, já que eu havia morrido, então havia nascido novamente, era uma nova chance para um novo nome.

 

Eu sorri e então lhe disse o nome que estava em minha história preferida. Eu estava entrando na toca do coelho apressado. Eu estou entrando na toca do coelho apressado, eu espero que ele vá me salvar. Não é, coelho? Você irá me salvar, não é? Coelhinho apressado, por favor. Eu seria ela. Em cores diferentes.

 

- Meu nome é Alice, ou Kaiserin. Ele costumava me chamar de Imperatriz.

 

Ele alargou o sorriso, me acariciando as costas das mãos com o polegar.

 

- Um belo nome, Alice, pequena imperatriz. Para onde nós vamos, você será tratada como uma imperatriz, isso lhe agrada? – ele me perguntou.

 

Eu considerei a sua proposta por um minuto, meus olhos fechados, e eu não encarava mais aqueles azuis. Eu podia sentir o conforto, pela primeira vez na vida. Podia sentir uma cama macia para me deitar sobre, um travesseiro, cobertas quentes no inverno, e comida. Eu até sentia meu estômago reclamar dentro de mim, só em pensar de saborear alguma comida bem feita.

 

- Agrada muito, papai. – eu sorri, inclinando-me de forma estranha no banco para lhe dar um beijo na bochecha. Eu acho que ele gostou. O papai.

 

Então voltei a me deitar. E adormeci pensando no quanto morrer foi bom.

 

 

Quando acordei novamente, ele estava deitado ao meu lado, no banco de trás de seu carro. Uma coberta escura nos cobria, e a chuva caia bruscamente lá fora. Chuva e neve... Era algo triste de se ver. A neve me alegrava, assim como me entristecia, mas isso era passado. Eu morri na neve, e nasci na neve, agora ela é minha amiga.

 

Ela me matou, mas ela é minha amiga.

 

- Papai... – eu sussurrei, esticando minha mão para tocá-lo no rosto.

 

Ele era tão belo, e seria meu novo pai. Eu teria tudo novo. Nova vida, novo nome, nova pessoa, novo papai. Só me faltava uma mamãe. Ele suspirou levemente, me fazendo sorrir. Ele estava adormecido e me mantinha em seus braços, de uma maneira quase paternal. Lágrimas começaram a manchar meu rosto.

 

Finalmente, algo de bom viera para mim.

 

Eu só tinha que agradecer a minha morte por ter me dado uma nova vida.

 

 

No dia seguinte, nós estávamos ainda na estrada. O papai quase nunca parava em algum posto ou estabelecimento. Só quando eu queria. E agora eu queria comida. Meu estômago estava reclamando dentro de mim, com uma fúria que se assemelhava à de animais selvagens que nós víamos no zoológico. Mas era assim, eu estava faminta.

 

- Papai. – eu o chamei, pousando minha pequena mão em seu ombro.

 

Eu estava no banco de trás e ele continuava a dirigir rapidamente. Nós passamos por várias cidades destruídas, fábricas e terrenos onde pessoas estavam mortas. Eu não consegui encarar por muito tempo, pois eu tinha medo que se a morte me visse ali, olhando para ela, ela viesse me buscar.

 

- Sim? – ele perguntou, virando o rosto em minha direção.

 

- Estou com fome. – choraminguei.

 

Ele sorriu, pegando a minha mão em seu ombro e levando-a até os lábios. Ele a beijou delicadamente. Como um verdadeiro cavalheiro. Como um pai. Eu acho que o amo.

 

Não demorou mais que meia hora e nós paramos em um estabelecimento à beira da estrada. Era bem bonito lá dentro, decorado com tons vermelho e branco. Eu gostei. Papai escolheu uma mesa, e antes de partir para o balcão, ele me beijou as bochechas e me disse que já voltava.

 

E tão logo se foi, tão logo ele voltou. Havia um copo enorme cheio de Milk Shake de morango para mim e um prato com enormes panquecas recheadas de mel. Papai sorria docemente para mim, vendo-me sujar toda. Ele ria, o som era bem agradável. Eu tenho quase certeza de que o amo.

 

Então nós voltamos à estrada. E não se passou muito tempo até papai precisar descansar novamente. Ele pulou para o banco de trás e se deitou comigo ali. Seus braços me envolviam e me apertavam de maneira terna. Era gostoso estar ali com ele. E eu não via a hora de ir para sua casa, acordá-lo de manhã e ficar em sua cama até ter coragem de levantar. Eu queria brincar de bonecas com ele.

 

Eu sei que o amo.


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