Laços do Inverno escrita por Boneca


Capítulo 1
Capítulo 1 O Pequeno Começo do Inverno Prólogo




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Capítulo 1 – O Pequeno Começo do Inverno

 

 

Dizem que o primeiro amor é o que marca, o que fere, o que devasta. Aquele que tanto dói e que tanto cura. É o mais profundo, o mais verdadeiro, o amor mais amor. Eu nasci assim, sem amor, jogada no mundo como lixo na rua. Sem amor, sem família. Não... Talvez eu não deva dizer assim. Eu nasci entre um laço podre e um laço vermelho. Juntos, eles se uniram para me formar. Fio assim que eu nasci. A junção do podre com o vermelho.

 

Mas não foi sempre assim. O meu laço vermelho foi embora, e só ficou a podridão em mim. Foi então que eu me deparei com a solidão, o medo, e a tentativa. As tentativas de amar e de ser amada. Era a minha necessidade, eu deixava de me amar para amá-la. Eu queria que todo o amor do meu ex-laço vermelho fosse para ela. Mas ela só me dava o laço podre, negro, corroído. Era tudo o que eu tinha.

 

E não adiantava me deixar de amar. Eu sempre seria assim. Quando o meu lado vermelho se foi, sobrou apenas ela. Mais ninguém. Era apenas eu e ela. Nós duas sempre. Era triste, eu deixo de me amar para amá-la, ela não faz o mesmo por mim. Eu queria que fizesse.

 

Há certas coisas que o tempo não muda. Ela era assim. Mesmo depois da minha partida, da minha morte – que ela causou – eu duvido que ela tenha mudado. Algumas coisas nunca mudam. É certeza, eu sei disso.

 

Largada, era assim que eu era.

 

Mas naquele dia de neve, ele apareceu. Ele apareceu quando eu estava para morrer, e desejava isso, do fundo da alma, do fundo do coração. Era podridão demais para mim. Eu era apenas uma criança, uma simples criança. Mas ele me achou, nos meios dos escombros, abandonada por todos. A neve continuava a cair docemente sobre mim, sobre nós dois. Ele me perguntava, eu mal ouvia. Eu era uma criança que queria morrer. Ele era um adulto que queria me salvar. Quem de nós era pecador?

 

Eu desejava a morte.

 

Ele a tirava de mim.

 

Ele era uma versão do meu laço vermelho. Uma nova versão que me completaria, e faria parte de mim. Ele era tudo o que eu queria. Ele seria tudo o que eu desejava. Eu precisava dele, de sua companhia e de seu amor. Simplesmente, de tudo o que ele pudesse me dar.

 

Então eu o chamei de papai.

 

Logo depois, apareceu o meu primeiro amor. Eu nunca o esqueci, mesmo durante a minha morte. Ele me salvou de morrer novamente, o frio e a solidão estavam me congelando naquela manhã fria de janeiro. Eu precisada de calor, e dele. Do que eu não preciso?

 

A minha primeira morte. Eu morri tantas vezes. Eu morro tantas vezes. E é sempre a neve que me mata. Ela vem sorrateira e cobre tudo. Ela é bela, mas ela é cruel. A neve sempre me mata. Mas eu quero viver.

 

Papai, eu quero viver.

 

Por favor.


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Notas finais do capítulo

Para o amiguinho rmbcullen que gosta tanto dessa fic ♥