Eu não entendia muito bem o que estava acontecendo, só conseguia encarar os corpos quase sem vida de meus amigos jogados por todos os lados, ouvia os gritos de pessoas desesperadas tentando correr para longe de você, tentei de forma inútil me erguer para então notar minha perna quebrada pendendo para o lado, engoli o bolo que se formou em minha garganta que veio com a ânsia de vomito.
–Droga.
Soco o chão ao perceber que nem naquela hora eu poderia deixar de ser fraca, sei que muitas vezes tinha esse pensamento de inferioridade em mim, e você como sempre dizia que eu era forte e que sem mim nenhum daqueles momentos felizes teria acontecido, eu aceitava aquilo com um sorriso, mesmo que no fundo eu soubesse que aquelas eram apenas palavras vazias, ditas para que eu me sentisse melhor e não ficasse triste, coisa que você já assumiu que odeia.
–"Ver você chorar é uma das piores coisas, não quero mais ver isso, eu protegerei seu sorriso."
–Mentiroso.
Digo em um fio de voz para então colocar todo meu peso sobre minha perna boa, para enfim conseguir me erguer.
–O que você vai fazer?
Olhei de relance para o corpo de um de nossos companheiros que tinha acabado de retomar a consciência.
–Irei terminar com isso...
Dou um sorriso fraco, ao notar o quão tolo aquilo deve ter parecido aos ouvidos de quem estava consciente.
–É loucura.
–Nunca abandonamos nossos nakamas...certo?
Ergo minha mão mostrando o símbolo de minha tão amada guilda, de minha única família, encarei o ser que estava a alguns metros de onde estava, sentia o calor infernal que exalava de sua pele e impregnava tudo ao seu redor, tornando o simples ato de respirar quase impossível.
–"Minha filha sabe o que é magia?"
Lembrei-me de minha infância, dos poucos momentos que passei com minha mãe.
–"Magia?"
–"Sim..."
–"Ser forte e derrotar os inimigos com poderes especiais"
Sorri comigo mesma ao lembrar-me desta época em que eu não me preocupava com nada e achava que tudo se resolveria de forma fácil, grande equivoco esse meu.
–"Também, mas a verdadeira magia não é feita de poderes físicos, mas se esconde aqui"
Neste momento levei minhas mãos até meu peito, podendo lembrar claramente do toque quente de minha mãe sobre aquela área.
–"Nenhum poder é maior do que o dos sentimentos e do amor minha pequena"
Senti minhas vistas embaçarem e só então percebi que estava chorando.
–Mamãe...
Comecei a arrastar-me em sua direção, sentia minha respiração falhar e minhas feridas que sangravam agora se fecharem com o sangue que coagulou devido o calor em excesso.
–Lucy volte, ele vai te matar.
Ouvi ao longe os gritos desesperados da Titânia, como sempre ela se preocupava mais com seus companheiros do que consigo mesma.
–Obrigada Erza.
Sussurrei com a certeza de que ela não tinha me escutado. No trajeto passei pelos corpos de Gray e Jubia, a qual estava tentando de forma desesperada resfriar o corpo de seu amado Gray-sama com seu corpo que naquele momento estava no estado liquido, mas que devido ao calor estava evaporando rapidamente e ferindo a maga, fazendo com que a agua que resfriava seu amado ao invés de pura e límpida fosse vermelha e grossa.
–Tudo ficara bem
Disse ao encarar o rosto de pânico de Jubia que pela primeira vez não chamou-me de rival do amor, mesmo que de fato eu nunca tenha sido uma.
–Lucy-san...!?
Continuei meu caminho, sentindo aos poucos minhas roupas sendo consumidas pelos enormes gases de vapor que emanavam de todas as direções, de fato agora não tinha mais como eu voltar, essa era uma viajem sem volta, espero que para apenas um de nós.
–Natsu!!!?
Gritei de forma desesperada tentando de alguma forma chamar sua atenção, não a atenção do E.N.D, mas do Salamander que eu sei que ainda estava em algum lugar. Ouvi um rosnado em resposta e logo pude sentir-me ser erguida do chão por grandes garras que circundavam meu pescoço.
–Natsu...
Disse de forma engasgada, pois além do ar rarefeito ainda estava sobre o efeito de seu esmague em minha garganta.
–Sou eu...Lucy.
Observava a confusão em suas feições antes tão infantis, mas que agora eram recobertas por escamas grossas e um olhar desfocado.
–Luce...
Senti meus olhos marejarem, porem antes mesmo de cogitar chorar, as lagrimas foram evaporadas pelo seu calor.
–Vamos para casa Natsu...
Olhei para seus olhos que por um momento voltaram a ser daquele menino homem que eu tanto...amava...? Deixei meus olhos se arregalarem para logo dar-me conta do que sentia por aquele ser atrapalhado que invadia meu apartamento, comia minha comida e sempre me surpreendia nos piores momentos....eu o amava.
–Natsu
Levei uma de minhas mãos até seu rosto, sentindo logo a ardência sobre minha pele, além do horrível cheiro de queimado que exalou do local. Ouvi um grunhido e então senti-me ser jogada contra o chão, ouvi o barulho de ossos estalarem, porem antes que eu tivesse algum tipo de reação, senti um peso sobre mim, para logo senti-lo de novo e de novo, estavas a me golpear de forma incessante, queimando-me de forma implacável, ouvia ao fundo os gritos daqueles que tinham voltado a consciência, pedindo, implorando para que você parasse
–"Minha filha sabe o maior tipo de poder e de amor que existe?"
–"O de filhas e mamães?"
–"Também...mas aquele em que você não se importa em se sacrificar para o bem e felicidade do outro"
Abri meus olhos em pratos, para logo deixa-los semiabertos.
–Obrigada mamãe.
Sentia-me aquecer, meu peito ficou incrivelmente leve e eu não mais sentia dificuldade em respirar, e não mais sentia seus golpes em mim, olhei por sobre os ombros, encarando sua expressão de raiva, confusão...e algo que não saberia explicar.
–Lucy, rápido se afaste.
Ergui-me com dificuldade, minha perna antes quebrada agora jazia a alguns metros de onde eu estava.
–Tudo ficara bem...minna.
Então com um impulso lancei-me em sua direção, sentindo minha pele queimar com o contato direto em suas escamas que cobriam partes de seu corpo, porem aquilo não doeu, muito pelo contrario me deixou confortável, tal como me sentia quando dormias comigo nas noites de frio excessivo.
–Luce...
Ergui minhas vistas encarando então os olhos que eu tanto amava, sentia meu peito se aquecer mais e uma luz dourada começar a emanar de mim e a medida que esta luz aumentava suas escamas iam desaparecendo, dando lugar a sua pele levemente bronzeada a qual eu já tive o prazer de estar em contato através de seus abraços.
–Obrigada por tudo....minna
E então pude presenciar as lagrimas que se formaram em seus olhos e escorreram por seu rosto até caírem em mim, até mesmo suas lagrimas eram escaldantes.
–Eu te amo Natsu
E então não pude lembrar de nada que não fosse você voltando a sua forma, se agarrando em meu corpo e gritando algo que sinto, mas não pude compreender, pois aos poucos assim como minha magia que ia se esgotando minha existência também fora esgotada.
–"Seja feliz....Natsu"