A Viagem Para o Fim escrita por Mizuko


Capítulo 4
Pavores e Alívios


Notas iniciais do capítulo

Yoo~ minna-chan ^^ Tudo bom com vocês? ;3 Nesse capítulo haverá um pequeno suspense huahuahua Então :D Boa Leitura e nos vemos lá embaixo ^3^



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/634301/chapter/4

–--------------------------------------- Yona's POV: ON ------------------------------------------

"O tempo parou, meu coração parou..."

"Eu não tenho nada para fazer a não ser coletar trivialidades..."

Nada para se fazer a não ser olhar para mapas, fechar os meus olhos, e viajar dessa forma para lugares desconhecidos.

Um dia, eu comprei algumas revistas. Enquanto eu as estava folheando, uma certa capa chamou a minha atenção. Era uma foto profissional. Uma jovem modelo em um biquíni acanhado, de pé na arrebentação em uma pose elegante. O mar atrás dela era verde esmeralda, a cor do mar nos meus sonhos. Ela até parecia ser da minha idade... apesar das semelhanças acabarem aí. Eu não tinha um corpo como esse.

Mas ela estava sorrindo de volta para mim. Eu não era exatamente ciumenta. Eu nem precisava de um biquíni mesmo, e muito menos tinha um. Pijamas eram o suficiente para mim.

"Eu passei por todos esses anos, debaixo deste branco céu nublado, sem a necessidade de falar com ninguém..."

Eu me lembro daquele dia... daquele dia de Junho quando eu fui internada no hospital pela primeira vez. Eu encomendei um traje de banho no dia anterior, todos esses anos atrás.

Eu me lembrei do dia em que havia perdido a chance de estrear o meu traje de banho. Eu o retirei do armário pela primeira vez em anos. Apenas um traje de natação escolar novinho, azul-marinho, nunca antes usado.

Eu retirei o meu pijama timidamente para experimentá-lo. Ele coube perfeitamente.

Mesmo depois desses anos todos, ele coube como se tivesse sido encomendado hoje. A modelo ainda estava sorrindo para mim naquela capa. Sorrindo diante daquele mar esmeralda. Sorrindo diretamente para mim, sem se importar com sua vida perfeita e com o seu corpo perfeito.

Eu me senti...

triste.

Ciúmes não seria a palavra certa para isso, mas talvez eu realmente desejava ser igual à ela. Eu sabia que isso não ia simplesmente acontecer. Talvez isso me fez a idolatrar ainda mais.

"Mas... A longa cicatriz no meu peito... mandava eu desistir."

"Ela me disse que... tudo o que você tem nesse mundo é o que você vê quando fecha os seus olhos..."

–-----------------------------------------Yona's POV: OFF ------------------------------------

O dia estava acabando, o céu à leste estava ficando alaranjado.

Nós estávamos seguindo em frente, é claro... o que nós vamos fazer de agora em diante? Nós ficaríamos sem dinheiro logo logo.

"Eu posso... lhe perguntar algo...?"

Era incrivelmente raro para ela iniciar uma conversa assim. Sem palavras, eu acenei.

"Você pode tomar banho...?"

"Sim... mas só banhos curtos."

"Sei... comigo é a mesma coisa..."

O que ela quis dizer era que, no hospital, apenas os médicos poderiam tomar banho. Não era tão raro assim encontrar pessoas que eram proibidas de tomar banho normalmente, especialmente se tivessem problemas nos rins ou problemas digestivos. Se ela tinha os mesmos tipos de restrições que eu, talvez ela tinha a mesma coisa que eu também.

"Por quê? Você quer tomar banho?"

"............... algum problema?"

"Não. Eu bem que gostaria de tomar também."

Apesar de que nossas opções eram bem limitadas. Um hotel ou um abrigo seriam as melhores opções, mas não muitos deles estariam interessados no tipo de dinheiro que nós temos a oferecer.

"Que tal procurar por uma casa de banho?"

"... casa de banho?"

"É. Pelo menos é o que o nosso dinheiro pode pagar."

"............... deixa pra lá."

"Você tem certeza?"

Já faz três dias desde que fugimos. No sétimo andar, tínhamos banhos duas vezes por semana, e passadas com toalhas quentes duas vezes por dia. Poderia ter sido pior. Nessa época do ano nós não íamos suar muito. E contanto que permanecêssemos no carro, provavelmente não ficaríamos sujos. Mas mesmo assim...

"Qual o problema de banhos públicos? Você é tímida demais para isso?"

"........Nem tanto... não da forma que você está pensando."

O Sol caiu do céu por completo; a lua o substituiu.

Nós seguimos em frente por mais um tempo, até que eu avistei um prédio que parecia ser uma escola.

... isso deve servir.

Eu encostei na calçada próximo ao portão. Então eu me virei para a pilha de roupa suja que ainda cobria o banco de trás, e comecei a procurar nela. Podia ter certeza que havia umas duas ou três toalhas por aqui.

Em seguida, tirei algumas roupas imprestáveis, e surpreendentemente achei uma toalha. Elas eram baratas e gastas, com os escritos ´Construção Shiraishi´ estampados nelas. Pareciam brindes.

"Não demoro."

"...?"

Eu fui à escola, levando algumas toalhas comigo. O portão estava trancado, mas escalei facilmente. Ao entrar, encontrei o que procurava quase imediamente. Uma torneira, provavelmente para uso dos jardineiros. Dois giros foram suficientes para jorrar um jato de água gelada e paralisante dela.

Segurei as toalhas embaixo dela até ficarem ensopadas, então as torci até pararem de pingar.

"Pronto, aqui está."

Dei uma toalha úmida para ela. Eu já estava tirando minha camiseta e começando a limpar o meu corpo. O frescor é um agradável contraste ao calor do carro; a umidade, um antídoto para a aridez do ar condicionado.

"Qual é, é melhor que nada."

"............"

"Está frio o suficiente para refrescar."

"Tudo bem..."

Ela estava sentada lá apenas olhando para a toalha, e lentamente começou a desabotoar suas roupas. Sua camisa branca folgada e seu par de jeans enrolados. Ao contrário de mim, ela não tirou nada; apenas abriu sua camisa o bastante para pôr a toalha dentro.

"Ei..."

Ela parou novamente. Com suas roupas penduradas frouxamente em seu corpo, ela olhou para mim.

"O que foi?"

"... não olhe."

"Ah, desculpa! Eu não estava querendo..."

Aquela foi uma expressão que eu nunca vi em sua face antes.Uma mistura de frustração, confusão e timidez. Sem muito espaço dentro do carro, nós basicamente ficamos sentados de costas um para o outro.

"Está bom, não acha?"

"Sim..."

No meio da escuridão, a fraca iluminação do carro se destacava. As janelas eram como espelhos. Meu corpo refletia neles com vívida clareza. Bem como o corpo dela. Ela havía tirado a parte de cima de sua roupa agora, assim como eu. Eu não tive escolha a não ser olhar. Em seu peito, eu pude ver uma grande cicatriz.

Então ela foi operada também. Eu não fazia idéia se foi há muito tempo ou não. Nós não conversávamos sobre esses assuntos. Mas eu podia ver que a sua cicatriz era maior que a minha.

"Ei, você..."

"Ahn?! Ah, s-sim...?"

"Isso... é tão incomum assim?"

Ela estava falando para o meu reflexo no espelho do seu lado do carro.

O coupé prata roncava juntamente sob o céu nublado.

Mais três dias se passaram quase desapercebidos. Nós dirigíamos como antes, sem nenhum destino fixo. Nada particularmente excitante aconteceu naquele tempo. O momento mais interessante foi quando nós encontramos um balneário a céu aberto que estava praticamente livre para uso.

Não havia muitas pessoas, então nós aproveitamos a oportunidade para tomar um banho decente. Fora isso, estávamos apenas gastando o nosso curto dinheiro e usando nosso curto combustível.

"Ainda não está cansada dessas coisas?"

"Na verdade não..."

Isso foi em relação ao onigiri barato que sempre comíamos. Embora fosse melhor que o cardápio do sétimo andar, não era bom o bastante para que se pudesse comer para sempre sem enjoar. E enquanto isso era a comida mais barata de que poderíamos comer, nós não seríamos capazes de comprar muitos deles.

"Eu estou cansada desse barulho..."

"Hã? Qual barulho?"

"Do carro. Ele está ficando barulhento..."

"Sim, isso é verdade..."

Eu não notei até ela ter mencionado, mas realmente estava mais barulento do que antes.

Isso era quase 100% culpa minha, por quebrar o silenciador na pressa de sair daquele salão de jogos. Foi uma bênção não ter danificado nada de extrema importância. Nesse momento, contudo, a gasolina era um problema maior.

O contador já estava no reserva por uns 5 minutos. Infelizmente, eu só tinha 20 reais sobrando. Não daria para reabastecer nem com reza brava. Se nós ficarmos sem gasolina, será o fim da linha para nós. Eu não podia aceitar isso. Procurei por um posto de gasolina. Um que não tivesse frentista.

Por sorte, encontramos um antes do motor começar a falhar. Eu parei na bomba mais próxima à saída...

"Eu vou encher..."

"Tá."

"Fique no carro, está bem?"

"............"

Eu abri a tampa do tanque de combustível e coloquei o bico dentro, como vi outras pessoas fazerem. Eu olhei em volta enquanto enchia. Tinha apenas outro cliente presente no momento. Haviam atendentes, mas neste momento ambos estavam dentro do quiosque.

Parecia que lá era o caixa. Havia um informativo preso à parede, o qual indicava que se devia primeiro abastecer e então levar a nota ao balcão e pagar.

Se deixarmos de fora a última parte, poderemos escapar com segurança.

Eu olhei para a bomba.

23, 24, 25, 26...

Da última vez esses dígitos pareciam passar tão rápido. Agora, o medidor parecia contar extremamente devagar. Senti o mesmo nervoso de antes... à cada giro do contador, a sensação piorava. Os números continuavam subindo. Exatamente quando eles alcançaram a marca de 40 litros...

"Boa tarde, senhor!"

Era um dos atendentes malditos. Eu não o notei saindo do quiosque.

"Precisa limpar o cinzeiro? Os pneus estão calibrados?"

"Ah, não, está tudo certo..."

"Tudo bem. Tem que tomar cuidado nessa época do ano, sabe. Fica um pouco perigoso com o frio."

Então, aparentemente pensando que eu apreciei o serviço, ele começou a lavar as janelas do carro.

Com um maravilhoso senso de tempo, o tanque escolheu aquele momento para ficar cheio. O gemido da bomba cessou, e foi substituído pelo rangido da impressão da nota fiscal.

"Leve isso para o caixa para acertar..."

O atendente parou de esfregar por tempo o bastante para apontar em direção ao quiosque. Eu me espreguicei e peguei a nota com uma mão, completamente perdido sobre o que fazer, apenas parado por lá.

"Algum problema, senhor?"

"Não... não, está tudo bem..."

Confuso, eu voltei para dentro do carro por um momento. Dei a partida no motor instintivamente. O que eu devo fazer... o que eu posso fazer... O atendente ainda estava cuidando do carro. Parece que ele começou a lavar os faróis traseiros.

Eu poderia apenas fugir. Este era um carro rápido. Eles nunca me alcançariam. Mas eles certamente fariam um B.O. Nós seríamos presos em questão de horas. Bem, nós já estávamos encrencados de qualquer jeito. Pelo menos poderíamos adiar o inevitável. Eu pisei na embreagem, mentalmente amaldiçoando o superzeloso atendente e todos os seus serviços.

Então, no momento que engatei a primeira marcha...

"Aqui."

"Hã?"

"Pode usar..."

Ela estava segurando um envelope com uma mão. A outra, estendida para mim, tinha uma quantia de 230 reais.

"Você... você tinha isso... esse tempo todo?"

Eu não pude acreditar que todo esse tempo ela me fez pensar que eu era o único com algum dinheiro. Eu não pude acreditar que ela ficou sentada lá e assistiu enquanto eu recorria a um crime só para tentar nos manter alimentados e nos movendo.

"Por que você não me disse?!"

"............... você perguntou?"

"Eu... hum... eu pensei... que você nem..."

"Foi só por isso."

Como sempre, ela parou lá e começou a olhar para fora da janela novamente.

Nós estávamos nos movendo novamente.Tínhamos um tanque cheio, que para o meu alívio consegui pagar sem nenhuma pergunta estranha. Nós tínhamos dinheiro, mais de 115 reais agora, com o troco da gasolina. Eu ainda estava incomodado, claro, mas dessa vez a culpa era da garota.

"Então, deixe-me acertar isso... Aqui, fique como o resto."

"Hã?"

Ela me interrompeu antes que eu pudesse terminar de perguntar, e deixou um envelope no meu colo.

"Posso usar isto daqui?"

"É para isso que serve."

Dei uma olhada dentro. Havia mais quatro dessas quantias de 230 reais lá (1065 reais no total). Achei que havia mais dinheiro do que precisaríamos para a viagem. O que era muito bom, mas me levou a outras dúvidas.

Por que ela estava carregando tanto dinheiro pra começo de conversa? Dinheiro não era algo que nós precisávamos no hospital. Era por isso que eu só tinha alguns reais comigo. Era como se ela realmente estivesse se preparando para fugir...

"Espera um minuto... Você sempre disse que não queria morrer no sétimo andar, certo?"

"... e nem em casa, também."

"Sim. Eu também...Então... você estava planejando ir pra algum lugar todo esse tempo, então?"

"............"

"É por isso que você tinha todo esse dinheiro?"

Então eu me lembrei de outras coisas que ela disse. Ela disse que andaria enquanto ela conseguisse. Ela me perguntou se eu tentaria pará-la, ou se eu queria ir junto com ela.

"Você tinha algum lugar em mente, não é?"

"Na verdade não..."

"´Na verdade não´, poxa, assim não dá para entender você."

"............. nenhum lugar em especial..."

Ela sussurou, com uma voz triste e solitária.

Então ela realmente esteve se preparando durante todo esse tempo, mesmo não tendo lugar nenhum para ir? Era difícil de acreditar que alguém escolheria um caminho tão mundano. Mas ela estava lá ao meu lado para responder, e o desespero em sua face me confirmava tudo.

"... e quanto à você?"

"Eu... na verdade... não tenho nenhum lugar em mente também."

"... não me imite."

"Não estou. Sério mesmo."

Lá estávamos, ainda com o carro em movimento. Eu, que tive a iniciativa de fugir, mas sem qualquer planejamento para isso. A garota, que estava sempre preparada sem sequer agir.

"Eu quero ir para algum lugar... eu não me importo onde, eu só quero um destino."

"... hã?"

"Por que não vamos para aquele lugar, a ilha Awaji?"

"............"

"Nós temos dinheiro suficiente agora."

Sinceramente, não importava para onde fôssemos. Contanto que não fosse para o sétimo andar ou para casa. Qualquer outro lugar seria bom. E desde que não estivéssemos apenas vagando inutilmente por aí como estávamos até agora...

Não me importava para onde fôssemos. A ilha Awaji seria tão boa quanto qualquer lugar.

"Você quer ir pra lá também, não quer?"

"... nem tanto..."

Ela deu a mesma resposta de sempre, e olhou para fora da janela como de costume. Seus olhos se tornaram distantes e desfocados, como se eu não tivesse perguntado nada.

Eu me perguntei o que ela estava olhando. Me perguntei o que ela estava pensando, e pelo que ela esperava, ao chegar tão longe...

...

Continua...


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Aqui foi mais um capítulo yey õ/
Como muitos de vocês devem saber a minha escola é Tempo Integral e eu passo muto tempo nela ocupado sem tempo para escrever fanfics... mas irei me esforçar huahaha
Foi isso ^^ espero que tenham gostado e nos vemos daqui a pouco com mais um capítulo õ/
Bye õ/ >



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A Viagem Para o Fim" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.