Os dias na estância de meu pai eram sempre monótonos. Todos os dias eu, minha irmã e minha mãe nos ocupávamos na sala, aprendendo a bordar enxovais.
_Caetana, quando usted for se casar, farás seu próprio enxoval?_ Perguntou Isabel enrolando um pedaço de linha no novelo.
_Claro que não.Usted fará para mim._ Disse me levantando e jogando uma seda sobre seus braços.
_Vamos para com isso?_ Disse mamãe nos encarando._ Ninguém aqui está se casando.
_Claro que não._ Disse me sentando.
Sempre soube da vontade de Isabel de se casar, mas ela é só uma guria de quatorze anos sonhando com um casamento prefeito.
_Pois quando me casar, quero que meu casamento seja tão bem sucedido quanto o teu, mama._ Disse Isabel.
_Eu também, mama._ Sorri.
_Claro que terão,mi hijas._Disse ela nos abraçando.
Eu e Isabel sempre admiramos o casamento de nossos pais. Eles eram bem sucedidos em tudo, tinham uma bela família e terras, e o mais importante, eram felizes.
_Um dia irá aparecer o homem perfeito, que fará cada uma de vocês as mulheres mais felizes de todo Uruguai._Disse mamãe.
_Yo acho que já o conheci._ Disse Isabel suspirando.
_Pois bueno, se casará depois de Caetana.
_Caetana ,Caetana,sempre é a Caetana._ Disse Isabel balançando as mãos no ar.
_Claro Isabel, sou a mais velha, me caso primeiro e depois oste.
_Usted nunca vai se casar, não é enamorada por ninguém._ Disse exaltada correndo para fora da sala.
_O que se passou com a guria, Maria?_Perguntou papai entrando na sala.
_Que se passou é que nossa guria está enamorada, Narciso.
Ele me encarou e encarou mamãe por um momento, como se não acreditasse no que ouvira.
_Pelo poncho papa._ Sorri.
_Prendas minhas._ Disse ele abraçando a mim e mamãe.
_Por onde estavas papa?
_Eu é que deveria fazer essa pergunta, não é mesmo Caetana?_ Me repreendeu mamãe sorrindo.
_Em Cerro Largo. Parece que um rapaz do Rio Grande abriu uma casa de negócios por aqui._ Disse papai suspirando._Caetana, você poderia ver como sua irmã está?
_Si.
Ajeitei meu vestido e sai da sala. Abri a porta de nosso quarto e lá estava Isabel, olhando pela janela o cair da noite.
_Está brava comigo?
_Não._ Respondeu ela sorrindo.
_Esse rapaz pelo qual está enamorada é o filho do Coronel?_ Perguntei me sentando ao seu lado na cama.
_Si._ Ela sorriu e se deitou._Caetana, usted sabes falar sobre tantas coisas, mas nunca falou sobre o amor, e também nunca se enamorou por ninguém.
Me levantei e encarei os pampas pela janela.
_Eu sei falar sobre o amor, mas nunca senti esse amor que usted está sentindo agora,Isabel._ Disse me sentando novamente.
_Escuta,quando você sentir o mesmo que eu...Caetana,o amor é isso.Não tem explicação. Não se definir em palavras exatas.
Sorri e a abracei.
***
Semanas se passaram e papai estava envolvido naquela casa de negócio.
_Papai vai mesmo comprar mais cavalos?
_Vai sim Caetana. E Isabel está lá,o arrodeando. _Disse mamãe se levantando._Vou preparar algo, para quando eles chegaram.
Alguns minutos depois Isabel entrou chamando pelo meu nome na sala.
_Caetana,Caetana!
_Que passa Isabel?
_Venhas ver que moço mui guapo está no escritório de papa._ Disse ela me puxando as mãos.
_Moço? Que moço?
_Ele é..._Mamãe a interrompeu.
_Já chegou Preciosa. _Disse mamãe sorrindo._E tu papa,aonde está?
_No escritório, com o dono da casa de negócios.
_Vou mandar a Consuelo servir um café.
_Não...A Caetana levará.
_Eu?_A encarei.
_Si.Papa quer que usted leve para ele._Disse Isabel piscando para mamãe.
_Pois bueno._Ela sorriu.
Alguns minutos depois, mamãe chegou na sala com uma bandeja, em cima dela duas xícaras com o café delicioso que Consuelo fazia. Sem reclamar peguei a bandeja e caminhei em direção ao escritório, Isabel veio atrás de mim.
_Permission?_Disse ao abrir a porta do escritório.
_Si, entre Caetana._ Disse papai.
Ao entrar naquele escritório vi aquele homem sentado, de costas.
_Mama pediu para que eu servisse o café para vosmecês.
Então aquele homem se levantou e me encarou. E Deus, que homem. Olhos verdes e bem trajado.
_Caetana, esse é Bento Gonçalves._ Disse papai também se levantando._Bento, essa é Caetana, minha filha mais velha.
_Mui guapa._ Disse ele beijando minha mão.
_Encantada._ Disse encarando os céus dos pampas em seus olhos.
_Bento é dono da casa de negócios aqui em Cerro Largo, e também dono de uma bela fazenda._ Completou papai.
_Soube que usted gosta muito de cavalos._Disse Bento com um sorriso torto.
_Si_Disse encarando Isabel
_Sabe, tenho ótimos cavalos na minha fazenda.
_Não era um corcel que usted queria, Caetana?_ Disse Isabel.
_Bem, já que usted faz tanto gosto assim em um corcel, poderia ir até minha instância e conhecer as baías, se o senhor Narciso estiver de acordo, é claro._Disse ele encarando meu pai.
_Claro que sim.Caetana, escolha o animal que mais lhe agradará e eu o darei com muito gosto._ Disse papai.
Por um momento me senti desconfortável .Senti que todos me olhavam, esperando por uma fala minha.
_Si,eu irei._Sorri._ Bem,se quiserem algo, a Consuelo está na cozinha._ Disse e sai puxando Isabel para fora do escritório.
_O que foi aquilo Isabel?
Ela riu.
_Ele te desconcertou.
_Mas é claro que..._Passei as mãos pelo rosto._Preciso respirar, respirar._Disse balançando as mãos.
Corremos para varanda. De toda casa lá era meu lugar favorito, gostava de me sentar lá e ficar observando a movimentação na instância.
_Isabel, o que eu vou fazer agora? Não quero um cavalo.
_Escolha o mais bonito. Papai já permitiu._Ela sorriu
_Armou para mim. Você mentiu, disse para ele que eu gosto de cavalos.
_Eu posso ter dito isso.
_E o que mais você disse?_ Perguntei enquanto andava de um lado para o outro.
_Disse que você não é prometida a ninguém.
_Você o que?_Gritei.
_Não grite comigo,Caetana.
Me sentei na cadeira que papai costumava se sentar, respirei fundo, me recompus.
_Ele é mui guapo._Sorri.
_Pois é._Disse ela sorrindo._E é muito moço ainda, só vinte e cinco anos.
_E de onde ele veio?
_Pelotas,no Rio Grande Sul.
_Gaúcho._Sorri._Os olhos dele são lindos.
_Não são só...
A fala de Isabel foi interrompida por papai e Bento que já ia embora
_Passar bem Isabel e...Caetana, amanhã nós nos vemos?_Perguntou ele montando em um belo cavalo.
_Si._Sorri._Passar bem,senhor Gonçalves.
_Por favor, me chame de Bento._ Disse ele sorrindo.