Não me abandone. escrita por Yuu Chan


Capítulo 1
Woof, woof.


Notas iniciais do capítulo

Olá. Sou a Yuu, e com uma breve conversa com um velho amigo, tive a inspiração de trazer esta história à tona. Não que isto tenha, de fato, acontecido. Apenas pensei como um cão deve se sentir esperando o retorno de seu dono, e este, nunca mais voltar.



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Lembra de quando nos conhecemos? Eu não conhecia bem o mundo. O que eu chamei de mãe por um tempo, logo se tornou apenas uma lembrança. Pra mim, você era minha mãe, meu mundo.

Antes de eu te conhecer, o meu mundo era formado por paredes geladas de metal e uma grade escura. Os únicos amigos que tinha, me foram separados. Acho que é porque não cabíamos mais no mesmo espaço. Não tínhamos muitas visitas, e a maioria das que ganhávamos era afim de nos curar a fome: três vezes ao dia. Às vezes, nos levavam para tomar banho, todos juntos, em duchas geladas de água. Era muito frio e desconfortável.

Eu não sei por quanto tempo fiquei lá. Só me lembro da primeira vez em que nos entreolhamos. Você era tão pequena quanto eu. Você me percebeu. Tinham vários outros ao meu redor, mas era para mim que você olhava. E foi com você, que fui embora. Naquele mesmo dia, você me deu um nome, um lar.

Algumas vezes, me deu refeições maravilhosas; Outras eram estranhas. Mas boas, mesmo assim. Você estava sempre disposta a brincar comigo e me ensinou um monte de coisas. Era tão legal. Adorava correr por aquele seu longo jardim, repleto de pequenos insetos e relvas que subiam pelas paredes dos grandes muros. Tinha até mesmo algumas lagartixas e pequenos pássaros que caiam do ninho que gostava de caçar enquanto você estava na escola. Só não gostava dos carrapatos. Mas você sempre dava um jeito, mesmo que alguns métodos me causassem dor, eu sabia que estava fazendo isso para o meu bem.

Às vezes, você me dava bronca por fazer minhas necessidades em lugares errados. Ou então por acabar com a sua chinela preferida. Eu não fazia por mal, mas tenho certeza de que sabia disto. Seus carinhos atrás de minha orelha sempre foram os melhores. Aqueles dias com você eram muito divertidos.

E eu lembro que você sempre me levava para cortar as unhas e aparar meu pêlo. O que eu mais gostava era de dormir em seu pé quando você estava estudando. Ou então quando me dava água de coco. Às vezes eu comia o branquinho do coco quando você não via e eu passava mal por isso. Mas você sempre percebia, me dava bronca, e aí cuidava de mim. Eu não gostava quando me repreendia, mas só assim entendia que o que fiz estava muito errado, e tentava não repetir aquilo novamente. Pois você ficava chateada. E eu não gostava quando estava magoada. Sempre que lhe via assim, eu ficava ao seu lado. Mesmo que talvez não adiantasse muito, eu gostava de lhe fazer companhia.

Ainda me lembro que muitas das vezes que ia ao colégio, eu sabia o momento exato em que iria chegar em casa, e já a esperava no portão. Teve dias em que fora pega de surpresa; Outros, em que estava distraída demais, e quase a faço tropeçar. Mas você nunca ficava brava comigo por estes motivos. Você sempre me lançava um sorriso seguido de um carinho repleto de mimos sob meu pelo.

Mas teve um dia que você saiu, e não voltou mais. Eu esperei, esperei, e esperei. Fiquei bastante tempo, no portão, lhe esperando. Até que teve um momento em que me tiraram de lá. Me amarram na coleirinha para abrir o portão da garagem. Confesso que muitas vezes aquele portão me atraía para fora, e eu acabava me perdendo. Mas aquele dia eu queria muito ir lá fora. Precisava encontrar minha dona. Precisava encontrar você. Mas eles não me deixaram ir. Por dias, as pessoas ao meu redor agiram de forma muito estranha. Como se tivessem perdido a alegria de viver. Elas me davam comida, e um carinho aqui, outro ali. Mas você não estava lá.

Comecei a uivar, na esperança que pudesse me ouvir e voltar para casa. Todos os dias, eu vou ao portão. Tenho certeza de que, se eu esperar lá, um dia você voltará, como todas as outras vezes. Não sei a quanto tempo faço isso, mas eu sinto sua falta. As pessoas aqui não são como você era. Às vezes eu mastigo algumas de suas sandálias, para ver se você volta. Caçar bichos não é mais tão divertido quanto era antes. Por favor, eu estou te esperando aqui, no mesmo horário de sempre. Por favor, não me abandone. Eu vou estar sempre aqui, mamãe. Sempre, sempre, sempre. Te esperando. Sempre.


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Notas finais do capítulo