No dia seguinte antes de entrar no carro, Helena se despedia de Armando que fez questão de acompanhá-la até o veiculo. Mas no seu rosto estava evidente que sentiria os dias que ficaria longe da mulher amada, percebendo essa inquietação ela se antecipou.

_ Calma, são apenas três dias!

_ Eu sei, mas confesso que vou sentir sua falta.

Ela tocou a face dele e o beijou no rosto em sinal de despedida.

_ Também vou sentir falta de você e da filhotinha . Cuida muito bem dela!

_ Pode deixar!

Armando se aproximou e tomando a iniciativa a beijou só que dessa vez com mais intensidade e não se importou com o fato deles não estavam sozinhos, pois Rafael estava aguardava dentro do carro e assistia a cena. Como que demonstrando sua impaciência ele buzinou várias vezes e ela se afastou sentindo o rosto corar.

_ Agora vai, ou então meu irmãozinho vai nos matar!

Ela entrou no veiculo sob o olhar penetrante de Rafael que estava com óculos escuros, mas deixou claro sua insatisfação. O que de fato não lhe importava nenhum pouco, pois tudo o que menos lhe interessava era saber os sentimentos dele, mas ela o observava e viu sua inquietação na tentativa de manter a atenção à estrada.

Rafael tentava manter a concentração na direção, mas a cena onde via ela e Armando juntos se beijando ficava rodeando sua mente para lhe perturbar e isso lhe impediu de prestar atenção ao carro que tinha parado no semáforo, se não fosse a Helena em alertá-lo teria e causado um acidente

_ Cuidado!

A voz dela o trouxe de volta a realidade e então ele parou e a fitou.

_ Desculpa, eu estava distraído.

_ Cuidado, por favor, ainda não quero morrer.

_ Não se preocupe, você ainda vai ter muito tempo para desfrutar ao lado do meu irmão.

Helena sabia muito bem que aquela inquietação era causada pelo fato dela está com Armando, mas não queria brigar com ele e em sinal de paz levantou as duas mãos.

_ Por favor, apenas por esses dias, vamos ter uma trégua. Sim? Pelo bem da empresa e pela nossa sanidade.

Rafael tinha que concordar que assim seria bem melhor, já que tinham assuntos sérios a tratar e ficar brigando a cada dois minutos por qualquer coisinha já estava lhe irritando, então ele assentiu concordando.

_ Você tem razão, manteremos uma trégua durante a viagem.

O semáforo abriu e ele avançou com o veiculo e para amenizar o clima dentro do carro ligou o som e sintonizou na FM onde tocava uma musica conhecida a ambos “ Bella – Viente Viente” imediatamente seus olhares se encontraram de relance , mas como ela não comentou nada Rafael disse num sussurro:

_ Você lembra?

E claro que ela recordava muito bem dessa musica e ouvi-la ainda nesse momento tinha o poder de lhe levar até aqueles instantes de tão grande paixão, mas jamais admitiria essa fraqueza diante dele.

_ Não. Algumas lembranças já não fazem mais parte de minha memória.

E assim ela encerrou o tema sob um riso no rosto porque na realidade ele não tinha acreditado em nada do que Helena falou, mas na realidade não importava por isso deixou por assim.

Ao chegarem ao aeroporto foram recebidos pelo piloto que os levaria até a Espanha. O avião era de pequeno porte e parecia muito seguro aos olhos de Helena, apesar de não entender nada de aeronaves. Apesar da aparente segurança ela sempre ficava tensa na hora de viajar.

Rafael percebeu a tensão que ela estava e na tentativa de ajudá-la segurou sua mão no momento em que ela estava ajeitando o cinto de segurança.

_ Calma, vai ficar tudo bem.

Ela agradeceu com um sorriso tímido e falou:

_ Eu sei, mas é que sempre me sinto nervosa quando preciso viajar.

Como tinham combinado uma trégua durante a viagem eles acabaram por pensar numa estratégia para resolver o fato de terem sido perdidos grande quantidade de mercadoria exportada para a Espanha.

O olhar dele se mantinha atento a cada palavra que ela dizia, era impossível não notar seu tom profissional, tão diferente daquela Helena tímida que uma vez tinha entrado em seu escritório com o olhar assustado. Ela tinha mudado muito ao longo daquele tempo e não tinha sido apenas sua aparência e profissionalismo, mas também sua segurança era outra, agora era uma mulher bem mais firme, e isso a tornava ainda mais bela.

Por não ser um voo demorado ele foi fazendo algumas anotação que certamente precisariam e a medida que se aproximavam da capital espanhola ele começou a sentir que algo estava estranho com o avião , pois ele parecia inclinar para o lado esquerdo.

Certamente teria algo errado! Constatou vendo que a asa do lado esquerdo saia fumaça, por sorte Helena não tinha percebido essa diferença e para não alarmá-la tentou manter a calma, ainda que fosse complicado, mas ele se conteve e foi até a cabine do piloto e perguntar o que estava acontecendo.

De forma bem calmo ele explicou que estavam com um problema no lado esquerdo da asa do avião e que estava tentando um local para pouso de emergência. Mas que depois de consultar a torre de controle tudo o que pode encontrar foi uma área de floresta e que por isso seria muito arriscado.

_ Nos vamos cair!

A voz dele saiu embargada devido à falta de ar que começou a sentir por causa da adrenalina no corpo então em passadas largas sentiu seu corpo cair sentado na poltrona ao lado de Helena que ao ver o semblante dele notou que algo estava muito errado.

_ O que houve?

O olhar dela estava assustado e suas mãos trêmulas, mas quando o ouviu falar que iriam fazer um pouso forçado ela começou a ser tomada pelo desespero.

_ Nos vamos morrer Rafael!

Era preciso crer que sairiam todos bem daquela situação! Ao olhar para Helena viu que ela estava angustiada e no desespero tentava soltar o cinto de segurança, mas Rafael segurou sua mão e disse apenas a única coisa que lhe veio à cabeça.

_ Nos vamos ficar bem!

Não houve tempo para dizer mais nada porque o que o cenário era de um avião caindo e gritos de desespero. Logo após isso houve um silêncio ensurdecedor no momento em que o avião tentava se equilibrar, mas com muita dificuldade e então houve uma batida muito forte que fez com que seus corpos fossem jogados para frente numa grande velocidade.

Rafael conseguiu se manteve acordado, mas ainda tentava se recobrar do que estava acontecendo olhou envolta e em meio ao silencio no avião viu algumas chamas de fogo. Lutando contra as dores em seu corpo e olhou para o lado e viu que Helena estava com um corte na cabeça e o rosto sujo de sangue.

Era preciso sair daquele lugar o mais rápido possível antes que algo pior acontecesse. Com o pouco de força que lhe restava Rafael se liberou do cinto de segurança e tentou acordá-la.

_ Vamos Helena, acorde!

Helena apenas abriu os olhos e resmungou algo voltando logo em seguida a ficar desacordada. Teria que tira-la dali o mais rápido possível, ou algo pior poderia acontecer! Liberou-a do cinto de segurança e com dificuldade alcançou a porta de emergência que graças não tinha ficado presa por causa da vegetação onde tinham pousado.

Quando conseguiu sair do avião ele olhou em volta e tudo o que viu foram árvores, mas ainda assim precisava se manter firme , pois precisava ver se o piloto estava bem , mas quando tentou entrar na aeronave novamente o inevitável aconteceu . Houve tempo apenas para que ele se abaixasse e logo em seguida se formou uma grande bola de fogo e em seguida o avião todo começou a pegar fogo.

Não haveria chances de ninguém sobreviver aquilo, por isso com pesar ele voltou para junto de Helena que nesse momento já começava a recobrar a consciência e abria os olhos e ainda atordoada perguntou:

_ O que houve?

_ O nosso avião caiu, mas graças a Deus conseguimos sobreviver.

Apesar da dor que sentia em todas as partes do seu corpo o semblante de alivio era visível.

_ E o piloto?

Rafael apenas gesticulou em negativa e lágrimas começaram a rolar no rosto dela, isso era normal depois de uma grande situação como aquela. Helena estava muito nervosa devido à adrenalina e na tentativa de acalmá-la ele a abraçou e apertou suas mãos entre as suas.

_ Helena, você não pode entrar em pânico agora... Nós precisamos procurar por socorro.

_ O que nos vamos fazer Rafael, esse lugar... Eu estou com medo!

_ Eu sei que você está medo, mas precisamos nos manter atentos!

Ela assentiu e levou a mão ao ferimento em sua testa que estava latejando, mas que já começava a parar de sangrar.

_ Ainda dói?

_ Só um pouco.

_ Ainda bem... Vamos, precisamos encontrar ajuda.

***