xxx escrita por Evee


Capítulo 7
Uma Nova Saudade


Notas iniciais do capítulo

Leia ouvindo as Gymnopédies: https://www.youtube.com/watch?v=K0k1WCPWZ8Q



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Quando anoiteceu fomos para casa nos preparar para dormir, principalmente eu que tinha aula no dia seguinte. Só sei que antes de dormir pedi pra Deus me levar logo de volta pro futuro por que eu não queria estudar principalmente numa escola nova em um século diferente. Mas infelizmente não aconteceu.

Acordei no outro dia às 06:30 da manhã. Estava preocupada por que da outra vez, passei só um dia e pouco no passado. Dessa vez já estava no terceiro dia, já estava pensando na minha vida sem internet e televisão. Enquanto tomava banho, mamãe me levou o uniforme e a toalha. Ao sair do chuveiro e vestir o uniforme, notei que já me era conhecido, só não me lembrava de onde. Era uma blusa branca de manga e saia reta azul até o joelho, e uma gravatinha da mesma cor. Tomei o café correndo e fomos. Não sei pra onde mas fomos. Mamãe me deu um beijo na testa e me deixou na porta da escola que era um palacete branco, em estilo neoclássico.

Estava perdida, não sabia o que fazer e nem pra onde ir. Devia esperar para ver se alguém vinha falar comigo. Quando entrei no pátio um arrepio me percorreu todo o corpo, era o mesmo pátio do sonho que havia tido antes de começar toda essa loucura, antes do passeio à Paquetá. Na verdade, era a mesma cena. Só tinham meninas, todas vestidas com o mesmo uniforme do sonho, com livros nas mãos indo para suas salas. Eu não sabia pra onde ir, então corri para o banheiro que estava ali na minha frente, e entrei em uma das cabines. Fiquei lá por um tempo, pensando. Então aquele sonho foi uma premonição ou algo do tipo, estava tentando me avisar o que aconteceria mais pra frente.

Esperei até que não ouvisse mais barulhos nenhum no banheiro e no pátio. Sai da cabine, e fui direto à pia. Lavei o rosto e o sequei com a blusa. Estava tudo calmo, de modo que o silêncio fosse gritante. Olhei no espelho e quando me virei em direção a porta, senti a luz piscar em cima de mim. Pensei "bom, da ultima vez que a luz piscou eu voltei pro passado. Agora eu só posso estar voltando pro futuro.", e então decidi fazer um teste. Entrei de volta na cabine e fiquei lá por alguns minutos pra ver o que acontecia.

Depois de algum tempo, alguém entrou no banheiro. Era uma menina com o mesmo uniforme que eu, então eu ainda estava no passado. Decidi então sair e enfrentar isso. Abri a porta da cabine, olhei no espelho pela última vez e quando toquei na porta para abri-la, uma tontura muito forte me atingiu. Eu não conseguia enxergar mais nada, então abri a porta rápido e corri pra qualquer lugar, me guiando pelo tato, e logo depois cai. Só me lembro de ter sido acordada com alguém gritando:

— Marcelo, sua menina ta caída aqui no chão da sala.

Lembro dos parentes dos meus pais a minha volta, me dando copo de água com açúcar e tentando me acordar. Me levaram ao hospital e fiquei no soro durante algum tempo mas logo depois fui liberada pois não diagnosticaram nada. Eu estava saudável, comia bem, não estava com anemia nem nada do tipo.

Depois disso, não tive mais sonhos nem voltei ao passado. Já havia voltado a minha rotina normal. Me lembro que na primeira semana de férias da escola, meus pais saíram com alguns amigos e eu fiquei sozinha em casa à noite: Estava vendo TV com meu gato no colo, e no intervalo do programa me bateu uma vontade repentina de organizar meu guarda-roupa. Entre uma pilha e outra de roupa, lá no fundo da gaveta, achei algo que me pegou de surpresa. Uma gravatinha azul. A gravatinha do uniforme que eu usei nos anos 40. Lembro vagamente da minha mãe ter perguntado de onde era aquilo, e eu respondi algo como "não sei, deve ser meu". Eu nem presto atenção no que ela fala.

Coloquei a gravata junto com o colar na caixa de sapatos embaixo da cama, terminei de arrumar meu guarda-roupa e voltei pra sala. Procurei um desenho ou algo que me distraísse e me aconcheguei no sofá, me cobri com uma coberta bem leve e fiquei lá. Quando estava pegando no sono, fui acordada por um sussurro:

— O que estás fazendo deitada neste banco?

Meu coração disparou, todos os pelos do meu corpo se arrepiaram. Levantei rápido e não havia ninguém lá. Me lembrava a voz de Miguel. Achei que fosse um sonho e logo esqueci. Alguns dias depois naquela mesma semana, havia sonhado algo diferente: eu estava andando em uma rua de paralelepípedos, ela era linda e arborizada. E de repente parei e observei a rua. À minha esquerda, havia uma casa com um muro bem alto com cerca elétrica de um lado da calçada de outra rua que se encontrava com a que eu estava, e do outro lado uma casa antiga, muito bonita e grande que ficava nessa esquina, haviam muitas árvores que quase a escondiam, parecia abandonada e tinha um portão e grades antigos, de ferro. À minha direita, o mar. Era calmo e sem ondas, com alguns barquinhos ancorados.

Na semana seguinte, iria ter um feriado e meu pai decidiu fazer uma viagem para Petrópolis. Como eu amo Petrópolis! A Cidade Imperial, fria como outra cidade qualquer da Europa. Eu fiquei imensamente empolgada, sabia que se tivesse sorte poderia voltar no tempo e quem sabe me encontrar com o imperador pelas ruas da cidade. Eu sempre o via nos livros de história e pesquisas na internet, mas a gente sempre os vê como personagens de uma história criada, nunca passa pela nossa cabeça que eles eram pessoas normais de carne e osso, que comiam, bebiam, caiam, se engasgavam.

Subimos a serra pela manhã e a neblina já tomava conta. Abri a janela do carro e senti o vento gelado e fresco, não tinha nada melhor. Visitamos alguns lugares turísticos e depois fomos ao Museu Imperial. Já tinha ido uma vez e adorei.

Já no museu, minha mãe não parava de bocejar e meu pai só pensava no quanto cada coisa valia. Inventei uma desculpa qualquer para ficar sozinha, disse que iria a um outro aposento, e fiquei lá, vagando pelo museu esperando qualquer tontura que me levasse ao passado. E só de pensar no que eu poderia viver lá me dava um frio na barriga.

Fiquei um bom tempo esperando e nada aconteceu. Desisti então e fui procurar meus pais, que a este ponto estariam perguntando a todos se não viram uma menina desmaiada por algum canto. Eu só precisava achar a saída.

Estava numa sala, não me lembro o que tinha nela, mas estava olhando os móveis. Pelo reflexo de um espelho na parede, vi uma pessoa parada na porta. Era do sexo masculino e vestia roupas do século 19. E em questão de segundos ele saiu correndo. Algo me fez correr atrás dele e a cada quarto que eu saia eu via ele entrando em outro, como se estivesse querendo me levar a algum lugar, ou fugindo de mim. E então esse alguém correu para fora do museu e entrou nos jardins. E eu fui atrás.


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Notas finais do capítulo

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