xxx escrita por Evee


Capítulo 5
Doces Ilusões, Amarga Realidade?


Notas iniciais do capítulo

Leia ouvindo as Gymnopédies: https://www.youtube.com/watch?v=K0k1WCPWZ8Q



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— Maria Julia, você tá bem?

Abri os olhos com dificuldade devido a claridade da luz do Sol, e levei um susto tão grande que quase cai. Estava deitada no mesmo banco beijando minha bolsa, e minha turma a minha volta estava a rir daquele momento traumático. Cacete.

Desmaiei de novo e só lembro de acordar na barca, já indo embora. Haviam comprado uma garrafa de água para eu beber e estavam tentando enfia-la na minha boca. Lembro de ouvir risadinhas o tempo todo, e o motivo era eu. Perguntei o que aconteceu, e disseram que eu tinha sumido. Quando perceberam que eu não estava entre o grupo, começaram a procurar pela ilha até que um senhor avisou que tinha uma menina com o mesmo uniforme dormindo em um banco e foram até lá. Perguntei a hora que me acordaram, e responderam "devia ter sido umas 12:30, por ai". Eu vivi 2 dias em 30 minutos? Então aquilo tudo havia sido um sonho?

Me compraram um sanduíche, e queriam que eu comesse a força. Mas eu não estava com fome, um pouco estranho pois não tinha comido nada o dia todo.

Quando cheguei no porto minha mãe, a original, estava me esperando. Agradeceu a todos e me levou até o carro.

— Maria, o que aconteceu minha filha? Eu vim correndo quando me ligaram.

— Te ligaram? Falaram o que? — perguntei

— Disseram que você estava deitada num banco sozinha, beijando a bolsa. Mas isso aí é que você não come, ai desmaia e depois é a mãe que não cuida. Por causa de você, o passeio acabou mais cedo e tudo, vocês iam chegar só bem de tarde.

Minha mãe tem o dom de me fazer ficar mal, e agora eu estava preocupada com o dia seguinte. Não queria aparecer na escola, já imaginava todos falando de mim.

Chegamos, minha mãe estacionou o carro e pegamos o elevador que dessa vez estava funcionando, o que é difícil no nosso prédio. Entrei em casa e fui direto pro quarto. Que saudade, que alívio de estar de volta. Joguei minha bolsa em qualquer lugar, troquei de roupa e entrei pelo computador nas redes sociais, claro. No facebook, algumas pessoas me perguntavam o que havia acontecido, e eu só respondia que tinha desmaiado ou que estava me protegendo do sol com a bolsa, uma desculpa bem estúpida, mas funcionou.

Minha mãe me chamou pra almoçar (bem tarde inclusive), meu pai tinha acabado de chegar. E lá fui eu explicar pra ele o que tinha acontecido. Almoçamos e quando voltei pro quarto, fui arrumar minha bolsa. Peguei o carregador do celular, e os fones e os coloquei em cima da mesa do lado do computador. Peguei o batom, o espelho e o rímel e os guardei na gaveta de maquiagens. Peguei minha carteira e meu colar e coloquei em cima da cama. Não, espera. Que colar? Eu não tinha levado colar nenhum. Dei meia volta e fui olhar em cima da cama. Lá estava ele, o colar que Antônia tinha me mostrado e eu esqueci de devolver. Peguei ele e abri, a foto estava lá. Eu estava lá. Ou Iara, só Deus sabe.

Fechei os olhos, respirei fundo e fui até a varanda da sala e voltei. E ele ainda estava lá. Então tudo foi real! Eu vivi mesmo aquilo tudo, eu voltei pro passado! Será que eu podia voltar no tempo a qualquer hora, ou era só eu desmaiar ou algo do tipo? Talvez isso nunca mais aconteça, mas se acontecer, se eu voltar, vai ser pra onde eu parei? Eu estava tão feliz por ter tido a melhor experiência da minha vida! Quem no universo volta no tempo? Prometi a mim mesma que nunca, nunca mesmo contaria a ninguém, nem mostraria aquele colar. Então guardei-o numa caixa de sapatos debaixo da cama. Tive também a ideia de relatar a viagem em um caderno, como um diário de viagem.

Os dias foram passando, e minha vida foi voltando ao normal aos poucos. Não tive mais os tais sonhos e minha vida voltou a monotonia. Todos os dias eu fazia as mesmas coisas, chegava da escola e ficava a tarde inteira em casa sozinha, as vezes com minha mãe, quando ela não saia pra fazer alguma coisa, o que acontecia quase sempre. Mas dessa vez era pior, eu sentia a falta da tranquilidade do século 19, sentia falta do Miguel, da Antônia, e principalmente do Inácio.

Passaram-se umas 2 semanas, e sonhei de novo: dessa vez, sonhei com uma rua larga de paralelepípedos que dava para uma praça grande e bastante arborizada. O dia era ensolarado, e pelas roupas pareciam ser da década de 1900. Haviam pessoas andando, mulheres com sombrinhas conversando, homens as cumprimentando tirando o chapéu e algumas charretes passando. Era como se eu fosse uma pessoa que estivesse andando na rua também, e de repente eu vejo no final da rua, quase em frente a praça, um casarão onde uma moça jovem e muito bonita estava à janela, parecia ver o movimento na rua. Logo um moço também muito bonito passa e tira o chapéu para ela em gesto de galanteio. Ela sorri. E então eu acordo.

Algumas semanas depois do sonho, meu pai decidiu visitar uma tia-avó bem distante que não via a muito tempo. Já estava velhinha, iria partir a qualquer momento. Eu não a conhecia, só minha mãe que a viu em seu casamento. Tomamos café e saímos de casa de manhã cedo, pelas 09:00 da manhã de uma quinta-feira. Ela morava num prédio no Catete, um bairro do Rio de Janeiro.

Adorava ir ao centro, ver os prédios e ruas arborizadas. A cada três imóveis, uma era uma construção antiga, fosse um prédio, uma loja ou casa. Chegamos em seu prédio, estacionamos o carro e pegamos o elevador. Ao chegarmos lá, encontramos mais algumas tias e primos do meu pai. Fomos recebidos com carinho e e falavam coisas como "nossa, como sua menina cresceu", "aposto que ta te dando muito trabalho", "ta namorando já?".

Entramos no apartamento, não muito grande mas espaçoso o suficiente. Era particulamente bonito, o chão era de azulejo portugues e haviam alguns retratos com fotos antigas pindurados na parede, em cima de mesas de centro e canto, e em um armário desses que colocam taças ou bebidas que ficam na sala. Logo fomos levados até o quarto da tia-avó do meu pai, e o que era pra ser uma visita rápida demorou horas, principalmente por que quando minha mãe começa a falar não para mais.

Enquanto estavam conversando, fui até o banheiro. Não tinha ido em casa, fiquei a viagem toda apertada, mas enfim. Enquanto estava no meu momento de alívio, tive uma leve tontura. Veio do nada, era como se minha alma tivesse saído do corpo por questões de segundo, foi bem parecido com o que senti a algum tempo, em Paquetá. E em seguida, tive a sensação de que as luzes haviam piscado. Terminei o que tinha que fazer e fui lavar as mãos, e as luzes piscaram de novo. Então as apaguei por que poderiam queimar, e colocariam a culpa em mim como sempre fazem.

Sequei as mãos, abri a porta e me olhei no espelho que ficava na frente da porta do banheiro, que inclusive não tinha visto quando passei por lá. O clima estava quieto, não ouvia a voz da minha mãe falando do tempo com as primas do meu pai e nem meu pai falando do governo com seu tio.

Fui até o quarto onde estavam e eles não estavam lá. Ouvi algumas risadinhas e pensei "devem estar tentando me assustar, eu vou ficar na minha.", comecei a procurá-los atrás das portas e onde mais pudessem se esconder. Mas por que eles iriam se esconder de mim? Principalmente a tia-avó de meu pai, como ela iria sair da cama? De repente, ouço uma voz feminina, era doce e desconhecida:

— Fernanda, está tudo bem?

Então lentamente eu me virei e... merda.


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Notas finais do capítulo

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