– Alteza, Alteza, onde a senhorita se meteu? Alteza! – Gritava meu melhor amigo pelo meio do palácio enquanto eu me escondia para fugir das aulas particulares de economia.

Eu estava no meu esconderijo de sempre, no corredor mais estreito, no armário onde ficava o material de limpeza do palácio. Aquele armário era bem grande pra ser somente um armário de limpeza, nunca vi a necessidade de uma coisa tão fútil, quando poderiam construir qualquer coisa mais legal. Havia uma porta que se misturava a madeira da parede de onde ficavam penduradas as vassouras e esfregões. Mas não havia nenhuma maçaneta. Bufei. Onde aquilo levaria? Minha curiosidade falou mais alto e eu soquei de leve a tal porta escondida, que acabou se abrindo com o ranger das dobraduras enferrujadas. Ri com aquilo e vi um grande corredor escuro e lá no final, uma luz. Mas não artificial, a luz do dia.

“Isso! Maravilha! Sienna, você é um gênio. Achou um escape desse palácio chato e desse pessoal chato! Se bem que o Chad não é tão chato assim... Foco!” Pensei e suspirei fundo, olhando mais uma vez o túnel em minha frente. Não era muito, acho que uns vinte metros, trinta? E eu poderia ir me apoiando nas paredes, mesmo se estivesse tudo escuro.

Assim, tomei coragem e fui.

A parede era irregular, como se fosse feita de terra, ou algo parecido, mas o mais engraçado é que era bem fria. Depois de quase tropeças, coloca a mão sem querer em um monte de teias de aranha, e quase bater a cabeça na parede quando quase tropecei, finalmente consegui sair. Não sei bem se palavras conseguiriam descrever o lugar em que eu acabara de sair. Tenho quase certeza que já explorei todos os arredores do castelo, mas nunca havia visto aquele lugar.

Era um jardim que era cercado por paredes que pareciam ser de grama, com algumas flores pequenas nelas. Havia uma pequena mesinha branca no centro, com duas cadeiras, todas feitas de ferro. O chão, era coberto por pequenas flores brancas e uma grama baixa. O lugar parecia totalmente vazio e abandonado... Ou melhor, esquecido.

Depois da minha brilhante descoberta de um lugar onde ninguém do castelo iria, aquele acabou sendo meu refúgio. Ia pra lá todas as vezes que estava triste ou quando queria ficar sozinha, e quase sempre acabava levando um livro ou um caderno para desenho comigo. Eu era sim, apaixonada pelo Chad. O problema era que ele não tinha sangue real. Era somente uma criança que era minha companhia quando eu era mais nova, e depois de crescido, o meu pai, que o amava como um filho, deu o cargo de meu conselheiro real para ele.

O que era bom, por quê ele ficava muito comigo. O problema é que ele não era tão próximo de mim como antes e eu sentia falta daquilo. Suspirei ao lembrar de como dormíamos de mãos dadas quando meu irmão mais velho faleceu. Eu sentia falta dele e ficava deprimida, e ele me fazia companhia, dizendo que ia cuidar de mim assim como meu irmão fazia. O problema é que eu o via bem mais que um irmão. E acho que ele só me via como uma irmãzinha boba que ele tinha que tomar conta por que o próprio rei designara essa tarefa chata a ele.

Lembro de uma noite em que eu estava chorando num dos bancos do corredor do palácio. O Chad ia passando, acho que ia para seus aposentos depois de um dia cansativo me perseguindo para tudo quanto é canto.

– Alteza! Ainda não foi para o quarto? Tem que descansar. Amanhã tem lição de etiqueta e será apresentada ao príncipe que pretende a pedir em matrimônio e...

– Chad, sente aqui. – Pedi baixinho, puxando um pouco do vestido azul que eu usava, ele era muito armado, mas minha mãe amava quando eu usava aquela coisa, e eu fazia isso para agradar a ela. Acho que passei toda a minha vida assim, agradando as pessoas e deixando de agradar a mim mesma. – E me chame de Sienn. Que nem fazia quando era pequeno.

– Mas Alteza...

– Chad.

– Sienn, o que deu em você?

– Estou agradando a mim mesma pela primeira vez na vida. – Murmurei e o puxei. Eu nunca havia beijado ninguém na boca antes, e não sabia muito bem o que fazer, mas tentei. Encaixei meus lábios aos dele e os movi de leve. Os lábios do Chad eram quentinhos e macios, é difícil de explicar como eu me senti, mas foi algo maravilhoso. Ele retribuiu e acariciou meu rosto, murmurando ao afastar minimamente o rosto:

– Você é louca, Sienn.

Depois disso, ele concordou com a minha ideia louca de fugir. Do castelo, daquela vida. Eu não queria sair do reino, amava muito aquele lugar, e as pessoas. Assim, nos misturamos ao povoado que vivia nos vilarejos do reino. Chad acabou achando um bom emprego e eu cuidei da casa. Era bom aquela vida, sem os deveres de ser princesa, nem ser forçada a casar com alguém que eu não amava. Acabamos por nos casar, e nesse mesmo dia, veio o problema. Meu pai, o rei, havia falecido. E a minha mãe não poderia tomar conta do reino sozinha. O marido que pretendiam para ela, era um duque da própria família que sempre planejara em usurpar o reino, ele era o único na linha de sucessão...

Assim, o rei do reino vizinho ao nosso, mandou uma busca pela princesa desaparecida, no caso, eu. Por que ele não queria ver o reino do melhor amigo falecido dele, nas mãos de um ganancioso que nem o duque era. Acabaram achando a nossa casa, e eu aceitei voltar, com uma condição, eu poderia casar com quem eu quisesse. O desespero deles era tanto, que meu desejo fora concedido. Acabei virando rainha, e casei com o Chad, meu melhor amigo de infância, que depois se tornara meu conselheiro real, e depois, meu rei. Conseguimos cuidar bem do reino, até em suas piores crises, sempre pensando primeiro no povo e no bem estar deles. E até mesmo, fugindo de vez em quando dos nossos conselheiros, para um certo pequeno jardim escondido que eu havia encontrado quando mais nova.