Saber, A donzela de Gales e da Bretanha escrita por Bueno


Capítulo 1
Feita de suor e lágrimas


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem!

Se encontrarem qualquer erro só deixar nos comentários, foi revisado, mas nunca se sabe, né? rsrsrs

Espero que gostem, retornem e compartilhem!
Obrigado!



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A lua estava assustadoramente cheia, tão cheia que parecia estar alguns quilômetros mais próxima da Terra. Ela estava imponente no céu escuro de inverno sem estrelas, nuvens ou sequer algum pássaro de hábito noturno. Saber estava em seu quarto admirando-a, boquiaberta. Seus olhos, encantados com o satélite natural da Terra, emitiam um brilho igual àquele que reproduziam quando seu corpo estava mergulhado em êxtase. Ela estava usando seu smoking preto de alta-costura que lhe caia muito bem, parecia que o estilista conhecia perfeitamente as curvas dela; era como se ele, o estilista, tivesse esperado a vida toda para fazer uma peça que caísse tão bem em alguém. Seu cabelo estava preso em um pequeno rabo de cavalo deixando os fios amarrados em um nó perfeito. Suas tranças rodeavam sua cabeça, começando nas laterais da testa e mergulhando no nó, de forma que parecia uma cortina que protegia algum cômodo importante de seu castelo de sua vida passada.

Andou lentamente até o jardim do casarão de seu mestre, observou cuidadosamente os cômodos da casa tentando achar algo fora de lugar, entretanto ela já havia verificado o local algumas vezes naquela noite. Tudo estava em seu perfeito lugar. Alguns pequenos postes estavam espalhados pelo imenso jardim da mansão, espalhando uma luz amarelada pelo espaço aberto. Ali o brilho da lua era ofuscado pelas luzes artificiais, porém, em alguns pontos afastados ainda era possível ver a luz prateada banhando o terreno. A lua com aquelas dimensões e refletindo aquele tom de luz atingiu em cheio a memória de Saber; foi como quando, centenas de anos atrás, ela virou rainha ao retirar a espada da pedra. Arbustos com rosas vermelhas estavam espalhados pelo jardim, de forma sufocante. Os arbustos eram altos, chegavam até mais ou menos a cintura dela. Suas folhas cresciam para os lados fazendo com que cada arbusto tivesse mais que a largura de uma parede de concreto. As flores estavam espalhadas desde as paredes do castelo até os limites da propriedade, chegando à muralha que protegia a casa. Havia também um pequeno lago artificial com kois nadando lentamente na água rasa do lago.

Saber sentou-se em um dos bancos de mármore branco que enfeitava o amplo jardim real, olhando para a lua ainda em êxtase.

— Perdoe-me pela interrupção de seu devaneio, minha senhora — disse uma voz grossa e levemente rouca.

De um salto, Saber levantou-se assustada. Olhou ao redor procurando pela fonte da voz. Caster — um dos servos mais poderosos daquela reencarnação, porém o mais louco dentre eles — estava alimentando as carpas. Jogava algo seco e escuro dentro do lago que mais parecia com um pedaço velho de pão. Ele ficou em silêncio por um tempo, admirando-a. Seus olhos grandes e estrábicos encaram-na, de forma devota. Era como se diante dele estivesse alguma divindade.

— Se me permiti dizer, você está ainda bem mais magnífica que nunca.

— Como conseguiu me localizar? - perguntou Saber, como se esperasse por um ataque surpresa vindo de outros servos.

— Não foi tão difícil quanto imagina, Joana — respondeu enquanto deixava uma risada debochada sair por entre seus dentes. — Na verdade, a barreira mágica que foi erguida ao redor desta propriedade é tão simplória...

Saber deu um grande passo para trás esperando o momento correto para empunhar sua espada invisível, seus ombros rígidos demonstravam nervosismo. Ela estava certa de que aquilo era uma armadilha.

— Como ousa vir até aqui para me atacar? — estava pronta para invocar seu traje de batalha — Eu consigo dar conta de você e de todos seus aliados — disse pondo o corpo em posição de ataque.

— Imagino que você, minha rainha, deve considerar-me um inimigo, mas não sou. Eu posso ser um louco, demente, desajuizado, maluco ou qualquer que seja a palavra de seu agrado. Eu também posso ter um desejo obsessivo compulsivo por morte e sangue, contudo, não seria tão cruel a ponto de elaborar uma armadilha para você — o som de algo afiado cortando o ar cada vez estava mais presente; os dedos e suas unhas pontudas do Caster dançavam pelo ar, rasgando-o e emitindo o som de foice cortando o vazio. — Que tipo de monstro eu seria se trouxesse mais alguns servos para lutar contra você, Joana? — indagou, sua voz era trêmula e embargada. Certamente que as palavras dela feriram o pouco da humanidade que vivia dentro de seu corpo corcunda.

Alguns metros estavam entre eles, Saber ainda mais certa de que não poderia confiar nele, já o Caster queria apenas diminuir a distância entre eles. Deu mais alguns passos para trás tentando elaborar algo para contra atacar quem quer se estivesse às sombras, todavia, ela não poderia criar uma luta ali, no centro da propriedade. Aquele jardim era a rota principal de fuga caso a mansão sofresse algum ataque, criar uma batalha ali impossibilitaria que seu mestre fugisse em segurança.

As rosas chamaram a atenção do Caster de tal forma que seus grandes e acinzentados olhos vibraram com o que viram. Rastejou até o arbusto mais próximo, deslizou as mãos freneticamente por cima das flores vermelhas como se seu sistema respiratório estivesse nas palmas de suas mãos. Delicadamente encostou dois dedos, da mesma maneira que um joalheiro toca cuidadosamente em sua pedra preciosa com luvas, na parte mais baixa do caule liso da rosa, quase tocando no solo. Arrancou-a com um fraco puxão. Ergueu contra a luz, acima da cabeça e pareceu esperar que algo saísse dela e lhe abençoasse.

— São suas favoritas, estou correto? Devo dizer que vermelho não lhe caí tão bem — ele sussurrou algo brevemente. — Minha alma canta de alegria quando a vejo usando preto, seus olhos ganham vida sobrenatural — a vermelhidão da rosa morreu lentamente e o preto assumiu seu lugar. O feitiço matou a planta. Todavia, ela ganhou um brilho que não tinha nem quando viva.

— Estou pronta para a luta! Não seja covarde! — disse ela em um tom alto e ameaçador.

— NÃO OUSE QUESTIONAR MINHA CORAGEM, JOANA! — gritou em um tom tão acima do possível que pássaros que viviam na floresta fora da casa piaram. — Peço perdão, minha intenção não era exaltar-me — curvou-se em sinal de referência, sua coluna torta entortou-se ainda mais, e não parecia lhe incomodar.

Saber não estava confortável naquela situação, seus músculos ainda estavam rígidos devido à tensão. Deslizava o olhar ao redor, procurando por alguma suposta ameaça escondida. Ouvia-se o barulho das pequenas mariposas batendo na lâmpada do poste próximo a ela, algumas estavam caídas, certamente mortas carbonizadas.

O farfalhar da longa capa do Caster arrastando no chão era agonizante, era como um corpo embrulhado em um lençol sendo arrastado. Ele sentou-se em um banco de cimento, maior do que Saber estava, rodava a flor negra em seus longos finos dedos e suas unhas pontudas alisavam os enormes espinhos da planta.

— Você não a quer, Joana? — questionou ele, seu olhar estava triste. — É a sua favorita?!

Ela estava imóvel, seus punhos cerrados. Sua testa estava coberta por uma fina camada de suor, refletia a luz amarela do poste que estava a poucos passos de distância.

— Eu quero confiar em você, mas... — ela disse.

— Creio que você, minha Joana, esqueceu-se. Contudo, eu não tenho problema nenhum em trazer os pensamentos de volta à sua cabeça — tirou seu livro de dentro de um bolso interno no seu manto, folheou usando sua unha do dedo indicador até achar uma página levemente rasgada pouco depois do meio; murmurou o que estava escrito e então o fechou.

— O que você quer tanto me lembrar, Caster? — perguntou.

— Talvez por causa do nervosismo ou da tensão, você acabou por esquecer que todos os servos, isso obviamente inclui você e eu, têm uma espécie de sensor acoplado em sua alma renascida. Isso permite que todos nós sintamos a presença de nossos irmãos servos — deu uma risada barulhenta como se aquilo fosse uma coisa óbvia. — Você consegue sentir mais alguma presença além da minha?

Analisou o ambiente ao seu redor, deu um giro em torno de seu próprio eixo procurando por alguém. Mas nada foi descoberto.

— N-Não...

— Como eu imaginei.

— M-Mas isso não quer diz...

— Não seja tola, Joana! — expirou ferozmente. — VENHA A MIM! — disse em uma espécie de voz embebida de prazer.

O corpo de Saber estava sendo controlado por um feitiço dele. Caminhava em sua direção. Dava passos tortos e desengonçados como uma marionete que possuía fios ligados aos seus braços.

— Como ousa lançar um feitiço sobre mim? — questionou Saber, usava toda sua força para puxar o corpo na direção oposta, porém, sem sucesso.

— Não seja tão dramática, Joana, não estou controlando seu corpo contra sua vontade, apenas usando o desejo de seu subconsciente a meu favor.

— Eu não sou Joana, já lhe disse anteriormente, Caster.

— Nem eu, diante do grande poder que tenho, imagino, seria capaz de reproduzir tamanha semelhança entre pessoas diferentes.


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