A Burguesa escrita por Blue


Capítulo 2
II- Uma perda, dor incomparável


Notas iniciais do capítulo

Wolfkytoki Muito obrigada por ter favoritado esse cap é para você
Esse é só apenas um um capítulo meio...
Diferente.
Não consegui pensar em nada menos ruim e saiu isso.
Enjoy



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Capítulo I

Uma perda, dor incomparável

Depois da pequena confusão — já houve piores— de ontem à noite, fui para meus aposentos e adormeci sem ter os rotineiros pesadelos. Não me importava se iria me casar ou não, para mim tanto faz então nem me dei o trabalho de ficar pensando “como que vai ser minha vida daqui para frente? ” “Será que vamos nos dar bem? ”.

Ah, me poupe.

Senti a comodidade da minha cama e não queria me levantar dela de jeito nenhum, mas já estava na hora de acordar. Olhei para janela e a paisagem estava clara afirmando que já era de manhã, provavelmente um pouco depois do sol nascer. Sentei-me na cama e prendi meu cabelo ruivo em um rabo de cavalo com a fita preta de seda que ficava presa em meu pulso esquerdo. Qual o problema de amarrar uma fita no pulso? Essa fita era da minha mãe, não quero perde-la.

Me espreguicei e decidi levantar da cama, meus pés descalços tocaram o chão frio e essa sensação era ótima, pelo menos para mim. Se eu quisesse viveria andando descalça, mas não é muito conveniente. Andei até o espelho e encarei aquele reflexo de uma mulher com uma expressão neutra no rosto, os cabelos vermelhos se destacando e os olhos azuis gelo sendo ofuscado pelos fios avermelhados, a pele tão branca e alva que deixava suas bochechas levemente coradas pela circulação de sangue. Sim, eu me sinto poderosa com todo o meu charme oculto e meu olhos que transmitem frieza e maldade, sou diferente das outras não só pela cor do cabelo e eu me orgulho disso.

Dei um sorriso com esse pensamento e troquei a camisola que usava por um vestido azul claro simples, de qualquer jeito iria ficar só em casa o dia todo mesmo. O colar que Elizabeth me deu combina com qualquer tipo de roupa.

Depois de terminar tudo o que tinha que fazer passei pela porta do meu quarto e caminhei pelo corredor levemente vazio, pois vez ou outra um servo passava para fazer seus afazeres. Só o que podia ouvir era o som dos pássaros cantando animados do lado de fora e algumas pessoas trabalhando, respirei fundo e continuei minha caminhada até onde teria o meu café da manhã pronto e quentinho, hum.

Entrei no cômodo— o mesmo de ontem— e olhei em volta, Derik, meu pai, passava geleia em seu pão totalmente concentrado, minha madrasta, Anastácia, notou minha presença e logo me olhou com um sorriso fingido na cara. Sentei-me na cadeira de madeira do mesmo conjunto que a mesa. Acabei me concentrando em ver o que tinha de bom para o café da manhã desse dia, vamos ver, geleia de morango, pãezinhos, pão de queijo, queijo, bolo de chocolate, suco de laranja e uva, não posso mentir, a melhor coisa dessa casa é a comida.

Dona Miranda é muito boa no que faz.

— Minha queridinha, soube que você vai se casar. — Anastácia me chamou a atenção, simplesmente ignorei e comecei a preparar o que iria comer, cortei um pedaço do bolo de chocolate e peguei a jarra de suco de laranja passando o liquido para o copo. A mulher deu uma risada sem graça por ter sido completamente ignorada.

— Como entrou nesse assunto, meu amor. — Falou terno se referindo a Anastácia, até parecia que ele não traía ela com damas/promiscuas, ainda não sei como ela ainda não descobriu, e se soubesse seria a mesma merda, muito submissa... Se fosse eu no lugar dela pegaria um facão da cozinha e o mataria enquanto dormia — Miriam, o senhor Streenford estará aqui nesse final de semana para busca-la. — Dei um sorriso só em imaginar meu pensamento virando realidade, mas ele me traz a realidade com essa última frase. Que pena.

O final de semana seria daqui três dias. Ignorei uma pessoa pela segunda vez no dia, não daria o gostinho de olhar para cara dele. Mordi o pedaço do bolo e dei um gole no suco, tudo estava maravilhoso.

Eles já eram acostumados com meu comportamento então nem gastaram o tempo e saliva deles para dizer que esse meu comportamento não era apropriado a uma dama, coisa que se fosse feita entraria em um ouvido e sairia por outro. Terminei minha refeição.

— Se me derem licença. — Pedi me levantando da mesa e cortando a pequena conversa que os dois estavam tendo. Sou uma moça educada, muito.

Voltei ao meu quarto e comecei a ler um livro que peguei escondido da estante de livros de Derik. Algumas horas depois, lá para o final da tarde, minha madrasta adentrou o cômodo possessa de raiva, Deus, o que ela tem?

Me levantei da cama e só esperei ver o que ela queria comigo.

Seus olhos verdes estavam totalmente escurecidos pelo ódio, sua face demonstrava rancor, muito rancor.

O que eu tinha feito de errado dessa vez? Notei que ela segurava um papel totalmente amassado em sua mão direita com muita força, talvez querendo que ele desapareça.

Ela deu passos curtos, mas firmes, em minha direção. Lágrimas grossas marcavam suas bochechas e a boca tremia levemente. Anastácia ficou frente a frente comigo, estendeu o braço tão rapidamente quanto me deu um tapa, a única coisa que senti foi a ardência em minha bochecha e o impacto do golpe fazendo minha cabeça virar com tudo para a direita, uns fios de cabelos ficaram sobre meus olhos.

Mas eu preferia ser espancada mil vezes do que ouvir suas seguintes palavras.

— Você! É tudo sua culpa. — Sua pose desmoronou e ela começou a chorar copiosamente, coisa que eu nunca tinha visto antes — Elizabeth morreu por sua culpa! — Soluçou e preparou para me dar mais um tapa, se fosse qualquer outro momento eu a teria parado, mas aquelas palavras me chocaram profundamente.

Elizabeth morreu?

Anastácia estava mentindo, recebi uma carta da minha irmã três semanas atrás falando que estava bem e a com a vida às mil maravilhas.

Claro, é mentira, não poderia ser verdade, Elizabeth não me deixaria só, não...

É tudo uma grande farsa.

— Você está mentindo, isso não é verdade— a encarei voltando a realidade.

Anastácia cerrou os punhos se segurando para não me bater, por que? Será que notou o quanto fiquei abalada?

Ela então me deu o papel, relutante, percebi que se tratava de uma carta, desamassei e comecei a ler a primeira linha.

“Senhor e senhora Grace, sinto informar, mas encontramos o corpo de Elizabeth, com o do marido dela nos destroços da carruagem (...) ”

Encontramos o corpo de Elizabeth. Era realmente o que eu estava pensando?

Minha visão ficou turva, meus joelhos cederam. Senti um nó se formar na minha garganta, respirar se tornou difícil, um fardo. Meus olhos marejaram.

Como... como isso é possível? Para onde ela iria? Nos visitar?

Leves tremores passavam pelas minhas mãos, me levantei com dificuldade, minhas pernas não queriam obedecer meus comandos. Não queria mostrar a minha fraqueza para ninguém, caminhei lentamente para fora do meu quarto, só mais alguns metros. Abri a porta de um quarto que ficava ao lado do meu, o quarto da minha querida irmã, esperando vê-la para afugentar meus medos e dizer que estava tudo bem, que não passava de um pesadelo, um terrível pesadelo.

Mas ela não estava lá. Não havia ninguém.

As lágrimas começaram a cair sem a minha permissão, meu mundo estava destruído, minha vida sem significado, um vazio se apossou em meu coração, mas ele ainda pesava, parece que a cada batida era mais uma facada, como se fosse esmagado sem dó, como doía, uma dor insuportável.

Coloquei a mão sobre o peito como se esse gesto amenizasse a dor, como se por algum milagre eu pararia de sentir isso. A outra mão na boca para conter os soluços, chorava que nem uma ... não tenho palavras, mas pela primeira vez senti o que era realmente tristeza, o que era dor, a perda.


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Notas finais do capítulo

Sei lá.
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