Sui Generis escrita por Human Being


Capítulo 10
Lei de Fetridge: Coisas importantes que deveriam acontecer não acontecem, especialmente quando alguém está olhando...


Notas iniciais do capítulo

No capítulo anterior...
Kanon de Gêmeos, cavaleiro suplente da Terceira Casa e General Marina guardião do Oceano Atlântico Norte, caiu por acidente em uma lagoa com propriedades medicinais, ops, mágicas; e teve seu corpo transformado em um corpo de mulher. Além disso, devido à dissonância entre seu cosmo e seu novo corpo, está impossibilitado de elevar sua cosmoenergia; sob risco de danos físicos sérios. Segundo um antigo pergaminho, o encantamento só pode ser revertido se o cavaleiro for capaz de demonstrar amor puro, incondicional e verdadeiro ao espírito da feiticeira que habita a lagoa. E, assim, preso em um corpo que não é o seu, Kanon se vê obrigado a buscar uma solução enquanto resolver seus assuntos...



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Passados alguns dias do evento com Kanon...

Casa de Gêmeos, de manhã.

Em mais uma manhã ensolarada daquele recanto da Grécia, Saga tinha acordado de bom humor depois de dormir, de novo, até mais tarde. Teria a manhã de folga, então resolveu fazer a si essa indulgência.

Espreguiçou-se esticando as costas e os braços musculosos, bocejando sem reservas. Num pulo levantou-se da cama e saiu, lépido e faceiro, em direção ao banheiro do templo, que servia como banheiro de 'suíte reversa' tanto para seu quarto como para o do irmão através de uma porta para cada quarto.

Na verdade, uma pequena adaptação que Saori fizera em seu templo para que o quarto de Saga, que era uma suíte, dividisse o enorme banheiro com o quarto de Kanon, que era originalmente um quarto de hóspedes logo ao lado do banheiro - praticamente do mesmo tamanho, mas não era uma suíte. Foi uma crise que Saori optou por resolver dividindo o banheiro com uma nova porta dando para o quarto de Kanon, e não com a construção de um novo banheiro.

Desnecessário dizer que a dita alteração arquitetônica, apesar de engenhosa, tinha a total desaprovação de Saga. Porém não foi como se ele tivesse sido consultado, ou como se sua opinião valesse alguma coisa.

Mas Saga, naquele momento, nem parecia se lembrar do pequeno desgosto de ter perdido a exclusividade sobre seu banheiro.

Abriu a porta de pronto...

...Para dar de cara com a figura atualmente feminina, e muito despida, de seu irmão mais novo que saía da banheira.

— Ah... - Saga quase engasgou pela surpresa.

— Ei, mas que m****, não sabe mais bater na porta antes de entrar não? - Kanon protestou, mas sem fazer nenhum intento de cobrir sua nudez.

— Ah... Ah... KANON! Pelos Deuses! - Saga, depois de alguns segundos de paralisia involuntária, se vira de costas, embaraçado como nunca. - Não tem vergonha não?

— De quê?

— De... De... Ora, você está pelada!

— Peladô. Com ênfase no 'ô'. - Corrigiu Kanon, ainda desfilando como teria vindo ao mundo se tivesse nascido naturalmente a mulher que era agora. - Aliás, deixe de besteira, que você nunca teve vergonha de me ver pelado.

— Antes não, claro, mas AGORA é outra história!

— Saga, pelos Deuses, até parece que nunca viu uma mulher pelada na vida! Eu, hein?

— Ah... CLARO que já vi! - Protestou o mais velho, com as bochechas vermelhas e ainda de costas. - Mas VOCÊ pelado desse jeito já é demais!

— Aff, que drama... Eu não tenho nada agora que você não tenha visto em outras mulheres! Bom, talvez menos celulite e gordura localizada, mas ainda assim!

— Que ainda assim o quê! - Saga saiu andando nervoso até o cabide de toalhas, ainda de costas para o ex-rapaz, para então pegar uma das toalhas e jogar em cima da agora moça. - Se cobre com alguma coisa, que agora você tem que ter alguma modéstia feminina!

— Pra quê que eu vou ter que ter modéstia feminina, Saga? EU sou um HOMEM! - Kanon, finalmente, se cobriu com a toalha.

— Isso agora é ALTAMENTE DISCUTÍVEL!

— Ah... De qualquer jeito, não era pra eu me preocupar com isso perto do meu próprio irmão, né, mano velho?

— Eu... Preciso me acostumar com a ideia primeiro!

— Volto a repetir: o que tem de mais? Eu sou um homem, por mais que meu corpo seja de mulher agora! E novamente, mesmo sendo uma mulher eu não tenho NADA que você já não esteja careca de saber.

— Que é isso? Você está pensando por acaso que eu sou acostumado a ficar cruzando com mulheres peladas por aí?

— Com o tanto de dinheiro que você gasta lá no Harém(1) eu achei que você fosse sim...

— Eeeu? - Saga arregalou os olhos, já meio pálido.

— Éééé, vo-cê! Tá pensando que eu não sei que você volta e meia vai escondidinho e incógnito se esbaldar lá dentro? Depois fica duro e aí me vem com essa conversinha de 'querer rever a divisão de despesas da casa de Gêmeos'! Tudo pra ter mais dinheiro pra torrar com as 'primas' na gandaia!

— Eu... Não é por isso não! - Saga estava ficando furioso. - É que é realmente injusto que as despesas sejam divididas desse jeito! E eu não torro meu dinheiro na gandaia! Não mesmo!

— Vai falar na minha cara que nunca nem pisou lá, então?

— Er... Não, mas daí a dizer que eu torro dinheiro com as 'primas'...

— E com o que diabos você gasta tanto lá?

— Errr... É que lá tem uma... carta de vinhos muito boa...

— Carta de vinhos? - Kanon não conseguiu segurar a gargalhada. - Carta de vinhos... Essa foi a MELHOR desculpa que eu já vi alguém usar! Saga, você é impagável!

— Mas NÃO é desculpa!

— Tá, eu até acredito que você realmente tome uns vinhos lá e tudo, mas vai ter coragem de me falar que lá você fica só no vinho? Ai, Saga, para com isso que nem você mesmo tá comprando essa história ridícula!

— Mas...

— Aaah, quer saber? Deixa esse assunto pra lá. Não tem problema nenhum você ir curtir uns bons momentos com umas amigas no Harém. Melhor do que ficar aqui cheirando o fundo desse monte de macho, com certeza é...

Saga abriu a boca para falar algo, mas fechou em seguida.

— ...Desde que você não enfie a mão no meu bolso pra fazer isso.

— Mas eu NÃO vivo lá gastando meu dinheiro não senhor! Muito menos o seu, ora! - Exasperou-se o outro. - Tá me achando com cara de Máscara da Morte?

— Ah, aí também não. - Kanon estava saindo do banheiro em direção ao seu quarto, e de lá saga escutava a voz do ex-rapaz. - Porque aquele lá até teve que parar de ir lá um pouco...

— Ah... Parou? Por quê?

— Porque ele tava tão assíduo que já dava pras meninas enquadrarem ele alegando relacionamento estável. Ou vínculo empregatício, sei lá! - A voz de Kanon ressoou do quarto. - E depois... Se sai caro pra você, imagina então pra ele.

Saga tinha desistido de tentar discutir com Kanon, e fechou-se no banheiro pra tomar banho. Mas não conseguia deixar de se lamentar de que, mais uma vez, seu bom humor matinal tinha ido para o ralo. Inadvertidamente, começou a resmungar de si para si.

— ...Agora só me faltava essa, esse outro aí ficar falando que eu fico gastando meu dinheiro com as meninas do Harém. Tudo bem que eu vou lá, uma vezinha ou outra, que eu não sou de ferro, também, né... Mas daí a falar isso? Hunf. Um absurdo. Tirar um juízo desses sobre a minha pessoa, meu próprio irmão. Mas também, né, o que eu esperava? Quem tem um irmão desses não precisa de inimigos! Eu, pelo menos, nunca precisei! Pra quê? Ninguém me detona mais do que ele. Ninguém! Meus deuses, o que eu fiz pra merecer isso?...

— Pronto, começou. Saga, a vítima, agora só para de resmungar amanhã. - Kanon, ouvindo o resmungar tagarelante do outro, coloca a cabeça na porta do banheiro, para suspirar exasperado.

OOO

Santuário de Atena, manhã; mais precisamente na Casa de Áries.

Apesar dos últimos dias, com todas as suas confusões e agruras, Mu de Áries continuava respeitando um novo hábito que havia criado: O de dedicar um tanto mais de tempo de sua manhã para retomar seu ofício de restaurador de armaduras oficial da Ordem de Atena. Tinha um pouco de serviço acumulado, então era melhor começar mais cedo para não ficar tão assoberbado de serviço quando chegasse o horário dos treinos ou se por acaso o movimento aumentasse. Afinal, apesar do período de trégua entre os deuses, nunca se sabia quando apareceria em sua casa algum cavaleiro de bronze para consertar algum pedaço da armadura quebrado sabe-se lá Zeus como.

Era fato que os cavaleiros de bronze, especialmente Shun, Hyoga, Seiya e Shiryu, lhe brindavam com muito mais serviço do que as outras classes da Ordem. Em seu âmago, desejava ardentemente que todas as armaduras fossem como a de Ikki, que tinha seu próprio mecanismo de autorreparo.

De qualquer forma, não estava reclamando do serviço. Gostava de seu ofício, e hoje estava disposto a ter um dia tranquilo.

Mas...

Coelhinho, seu fosse como tu, eu tirava a mão do bolso e colocava a mão no Coelhinho, se eu fosse como tu, eu tirava a mão do bolso e colocava a mão no Coelhinho, se eu fosse como tu, eu tirava a mão do bolso e colocava a mão no Coelhinho...

...A voz estridente de Kiki quase o fez derrubar o cinzel que segurava em suas mãos.

Ergueu o rosto em direção ao quintal de seu templo, onde seu pequeno aprendiz cheio de energia pululava e cantava incessantemente.

Mu não pôde evitar a sensação de profundo desgosto que transpareceu em seu rosto. Tentou então retomar o trabalho enquanto Kiki seguia cantando num tom alguns decibéis acima do recomendado.

— ...Coelhinho, seu fosse como tu, eu tirava a mão do bolso e colocava a mão no Coelhinho, se eu fosse como tu, eu tirava a mão do bolso e colocava a mão no Coelhinho, se eu fosse como tu, eu tirava a mão do bolso e colocava a mão no Coelhinho , seu fosse como tu, eu tirava a mão do bolso e colocava a mão no Coelhinho, se eu fosse como tu, eu tirava a mão do bolso e colocava a mão no Coelhinho, se eu fosse como tu, eu tirava a mão do bolso e colocava a mão no Coelhinho...

Cerca de meia hora depois, Kiki seguia cantando incansavelmente, e Mu começava a considerar a hipótese de jogar o cinzel com que trabalhava no menino. Deu-se, porém, uma forte reprimenda mental por pensar semelhante coisa do pobre garotinho, por mais peralta que ele fosse.

Contudo...

— ...Coelhinho, seu fosse como tu, eu tirava a mão do bolso e colocava a mão no Coelhinho, se eu fosse como tu, eu tirava a mão do bolso e colocava a mão no Coelhinho, se eu fosse como tu, eu tirava a mão do bolso e colocava a mão no Coelhinho, seu fosse como tu, eu tirava a mão do bolso e colocava a mão no Coelhinho, se eu fosse como tu, eu tirava a mão do bolso e colocava a mão no Coelhinho, se eu fosse como tu, eu tirava a mão do bolso e colocava a mão no Coelhinho, seu fosse como tu, eu tirava a mão do bolso e colocava a mão no Coelhinho, se eu fosse como tu, eu tirava a mão do bolso e colocava a mão no Coelhinho, se eu fosse como tu, eu tirava a mão do bolso e colocava a mão no Coelhinho...

— KIKI!

O garotinho parou de cantar imediatamente ao ouvir seu nome gritado dessa maneira, e foi de encontro a seu mestre com a energia que lhe era habitual.

— Sim, senhor mestre Mu!

— O que você está fazendo? - Perguntou o cavaleiro de Áries, mantendo um leve tom acusatório em sua pergunta.

— Eu... Eu estava... Treinando!

Mu levantou um dos pontos que ficavam no lugar de suas sobrancelhas, num gesto aprendido com Shion e repassado de geração em geração de mestres lemurianos. Kiki baixou os olhos, envergonhado, visto que ele também já estava familiarizado com esse gesto que denotava que seu mestre seguramente o pegara na pequena mentira.

— A propósito... - Mu continuou. - Que música é essa que você está cantando?

— A do coelhinho?

— É. - A boca de Mu se torceu por perceber claramente o duplo sentido da música que seu pupilo cantava, e isso lhe desagradara bastante. - Essa do 'coelhinho'. Quem te ensinou a cantar isso?

— Foi o Hyoga! - Os olhos azuis do pequeno aprendiz se iluminaram. - Ele me ensinou quando eu estava junto com eles lá no orfanato! Ele disse que eu precisava de um pass... passa...

— ...Passatempo... - Completou Mu.

— Isso! Um pas-sa-tem-po pra eu ver se eu parava de ser incon... inconve...

— ...Inconveniente?

— Isso! E daí ia me ensinar uma música pr'eu cantar e parar de ser isso aí que o senhor disse! Ele até falou que o senhor ia gostar, porque eu perguntei se não era alguma coisa que o senhor não ia gostar!

Mu mantinha a expressão séria, mas seus olhos quase faiscavam. Lentamente virou seu rosto em direção à pilha de peças de armadura em que deveria trabalhar nos próximos dias; nelas divisou o elmo da armadura de Cisne, uma das partes da armadura que estava ali para reparos.

— ...Ele disse, foi? - Perguntou Mu, com certo tom de ironia na voz.

— Foi... - Kiki estava estranhando o comportamento do mestre. - O senhor não gostou?

— Bem... Eu... Ah, isso não tem importância! Pode ir continuar seu treinamento lá fora.

— Mas...

— Lá fora, Kiki!

— Sim, senhor! - O menino, estranhando não ter recebido maiores punições, girou nos calcanhares e disparou em direção à arena.

Assim que se viu sozinho, Mu pegou o elmo da armadura de Cisne, com a raiva estampada no rosto usualmente sereno. Contemplou o elmo, olhando para as rachaduras e fissuras, enquanto travava o maxilar. Com um suspiro, lançou o elmo no fundo da pilha de peças que estavam ali para conserto.

— Vai ser a última que eu vou arrumar. E que se divirta bastante com a burocracia da Fundação enquanto estiver parado esperando pelo elmo, Hyoga...

— Mu? - A voz serena de Aldebaran o tirou de seus devaneios de vingança.- Tá acontecendo alguma coisa?

— Oi, Aldebaran! - Mu imediatamente desfez a cara enraivecida. - Que bom te ver aqui!

— Eu... Ih, Mu, eu achei você com uma cara, agora há pouco...

— Ah, não ligue não, foi mais uma danação do Kiki. Esse menino está impossível!

— Ah, tá. - Aldebaran desfez a expressão preocupada.

— Mas então, o que te traz aqui? Está precisando arrumar a armadura? Finalmente resolveu dar um jeito naquele chifre cortado?

— Não! Na verdade, eu vim aqui falar da vida alheia! Como é que você não me contou o que aconteceu com o Kanon? Eu descobri por acaso, dei de cara com aquele monumento loiro no templo de Gêmeos e quase morri de susto quando eu descobri que ELA era ELE! E você que acompanhou a coisa toda nem pra me falar nada! E o pior é que o cara agora está brabo feito um siri na lata!

— Ai, nem me fala... - Mu franziu a testa, enquanto Aldebaran ria divertido. - Eu ainda estou todo doído de ficar tentando segurar aquela fera. Você acredita que apesar de estar com o corpo feminino, ele está quase tão forte quanto era antes?

— Fiquei sabendo que ele deu uma coça no Saga.

— Opa, se não deu! O Saga entrou lá sozinho e apanhou feito vaca na horta!

— Pois é, mas nem vou falar que não entendo, viu... Deve ser difícil pra um cara que nem ele virar de repente aquele mulherão. Imagina, o Máscara da Morte estava até agora discorrendo sobre os 'predicados' da moça que ele virou. Tudo bem que ele não é parâmetro, porque você sabe como é o Máscara, mas o Afrodite, logo o Afrodite, estava concordando! "Uma beldade digna das passarelas mais internacionais da Europa! Linda, maravilhosa, deslumbrante!"

Mu já ria com gosto da imitação dos trejeitos de Afrodite pelo colega da segunda casa, que apesar da aparência séria tinha um verdadeiro dom para imitar outras pessoas.

— Mas e aí, Mu, o que você achou? - Aldebaran baixou o tom de voz, como se fosse falar um segredo. - Na tua opinião a mulher que o Kanon virou também é isso tudo?

Mu imediatamente sentiu suas bochechas arderem.

— Ah... Eu... Ah, você sabe que eu não reparo muito nessas coisas! - Gaguejou o ariano, o que arrancou boas risadas do brasileiro.

— Que não repara o quê, Mu! Gente do céu, que coisa mais louca, mas até você bem que reparou! Até você está pensando besteira só de imaginar os bons dotes da moçoila! Mas tá muito certo, porque olha, ficou um sucesso!

— Não é nada disso, Aldebaran! - Mu protestou, ainda sentindo suas bochechas quentes, enquanto Aldebaran ria com mais gosto ainda. - O-Olha... Ele virou uma mulher bonita sim, mas isso não quer dizer que eu vá pensar besteira! Você sabe muito bem que eu não sou de fazer essas coisas! E pare de rir, que você está sendo inconveniente!

— Olha, Mu... -ai,ai- ...Deixa de se fazer de santinho! Que mal tem você prestar atenção numa moça bonita e desejável daquelas?

— Nesse caso, o fato de que na verdade ela é um homem? - Sugeriu Mu, ainda em tom de protesto.

— Ninguém tá falando de pedir o Kanon em namoro! - Aldebaran estava tendo certas dificuldades em conter as gargalhadas. - Mas olhar não arranca pedaço, ora pois!

— Ah, é? Deixa o Kanon te ouvir falando isso, pra ver se ele não vai te arrancar um pedaço!

— Isso é! - Disse Shura, que acabava de entrar no templo de Áries, em roupas de treino e caixa de pandora nas costas. - E aí?

— Shura, meu colega, você que também viu a nova versão de Kanon de Gêmeos... Compensa? - Indagou Aldebaran, usando uma das 'marcas-registradas' do espanhol.

— Olha... O fato de saber que aquilo tudo lá na verdade é um galalau barbado que nem eu me deixa nervoso. Mas não vou mentir que se ela fosse, por exemplo, uma amazona original de fábrica do Santuário... Compensava! - Shura meneou a cabeça afirmativamente.

— Amazona? Eu ouvi direito, você dizendo que pegar uma amazona compensava?

— É, Touro, agora que não tem mais que amar ou ser morto a coisa fica mais fácil, né? - Shura respondeu. - Mas ainda acho que é má idéia. Muito perigoso isso de misturar mulher e treinamento avançado de combate. Coisa de louco, só pro Leão mesmo. Mas a propósito... Mu, por que é que estavam brigando o Milo e o Aiolia?

— E pelo quê eles não brigam? - Mu fez um muxoxo.

— Não é bem assim! Tudo bem que eles vivem se bicando, mas briga mesmo, pra valer, eu só vi uma vez; e foi aquela do dia que o Escorpião descobriu que -ah,ah- a Shina de Cobra tava caidinha pelo Seiya.

— Milo de Escorpião, pelo jeito, adoraria misturar mulher e técnicas avançadas de combate... - O taurino riu. - E nem é qualquer mulher com qualquer treinamento em combate, é a Shina de Cobra, ninguém menos...

— Nem me fale. - Mu suspirou. - E vamos mudar de assunto, porque esse é um que só traz problemas.

— Mas espera, foi por isso, Mu? - Shura pegou a deixa no ar. - Foi por isso que eles brigaram? De novo?

— Ah... Ah, está bem, eu conto! Nós estávamos lá na China, o Milo tava com um humor horroroso, e o Kanon tirou um sarro dele dizendo que ele estava daquele jeito porque tinha perdido de ver a Shina no Baile Sem Máscaras das amazonas... Aliás, como é que foi?

— Foi demais! - Riu Aldebaran. - Não tinha só amazonas não, tinha muita gatinha. A propósito, e que o Milo não me ouça, mas a musa dele tava um sucesso. Nem eu imaginava que ela era lindinha daquele jeito.

— Pena que passou a noite toda de olho comprido pra cima do Seiya e daquela namoradinha dele... Como é o nome dela mesmo?- Perguntou Shura.

— Miho. - Respondeu Mu. - Mas enfim, continuando, eu tive a infeliz ideia de perguntar se a Shina era bonita, porque até o Kanon já tinha visto ela sem máscara. E o Aiolia disse que ela era.

— Ela é. - Concordou Aldebaran.

— É, eu sei, eu encontrei com ela lá na casa de Leão... Mas enfim, lá se foi então o Kanon perguntar se eu tava interessado na garota... O Milo, obviamente, foi falar que não tinha interesse nenhum na amazona de Cobra e, conforme ele ia ficando estressado, o Aiolia resolveu levar a cabo seu ponto de vista de que na opinião dele o Milo não tinha motivo nenhum pra ficar bravo se alguém se interessasse por ela.

— E não tem. - Concordou Shura.

— Aí é que o Milo se estressou mesmo, que nem o dia daquela briga, que o Shura viu...

— Hehe, nem me fala.

— E eles começaram a brigar de novo.

— Eu não acredito. - Shura balançou a cabeça. - Mas aí, ó, tá vendo como não compensa?

— Não compensa é o Milo e o Aiolia ficarem se estranhando o tempo todo por causa desse assunto. - Mu desabafou, no que os outros dois cavaleiros acenaram com a cabeça em sinal de concordância. - Agora, olha aí a situação. Mas enfim, Shura, veio deixar a armadura pra arrumar?

— É... - O espanhol coçou a cabeça, olhando para a pilha de armaduras amontoadas na oficina de Mu. - Ela tá precisando de um trato. Mas eu posso trazer depois, você parece que está com um pouco de serviço acumulado...

— Imagine! - Mu iluminou o rosto com um sorriso e pegando a caixa das costas de Shura, sem admitir recusas. - Eu apronto a sua rapidinho!

— Mas... Não tem armadura na frente da minha? Por exemplo, a caixa da de Cisne está bem aí na frente de todas...

— Sim, mas você é um cavaleiro de ouro! Tem prioridade!

— Temos? - Aldebaran também não sabia dessa novidade.

— Claro que têm. Aliás, Aldebaran, tem certeza mesmo que não quer arrumar o chifre do seu elmo?

Aldebaran e Shura se entreolharam, estranhando o comportamento do tibetano.

OOO

Filial da Fundação Graad, nas proximidades de Rodório e Atenas...

Saori estava confortavelmente instalada na sala principal do setor da Direção da filial da sua Fundação localizada nas proximidades do Santuário, e que servia de 'cobertura' para as atividades 'paramilitares' do Santuário - que por razões óbvias tinha que se manter suas atividades incógnitas do resto do mundo.

Afinal, imaginem a confusão que seria se as pessoas, especialmente o governo grego e seus aliados europeus, descobrissem as reais atividades do Santuário e sua posição como deusa Athena. Isso no meio de um mundo de paz frágil devido à Guerra Fria entre Estados Unidos e Aliados e União Soviética, e Aliados. Muito melhor seria seguir à risca os sábios conselhos de Shion e manter o Santuário à parte, encobrindo suas ações com um verniz 'humanitário' emprestado pelas atividades da Fundação erigida pelo seu avô.

Mas não era fácil manter o disfarce. Ainda mais para ela, que apesar de Deusa da Sabedoria não deixava de ser uma garota que agora descobria, enquanto examinava os balancetes da contabilidade da Fundação, que deveria ter efetivamente escutado seu avô e se dedicado muito, muito, muito mais aos seus estudos do que efetivamente fizera.

Os malditos balancetes em suas mãos podiam ser muito bem hieróglifos egípcios, que para ela dava na mesma. Mas obviamente ela não podia dar a impressão de que era uma analfabeta financeira, ou poderia ser facilmente levada à falência. E Shion, apesar de ser a competência encarnada como Grande Mestre do Santuário e lhe prestar uma ajuda verdadeiramente inestimável, era quase tão inexperiente quanto ela no lide com os assuntos relacionados com a administração da Fundação. Os outros cavaleiros, quando se dispunham a ajudar, também não eram muito úteis - apesar de terem, a despeito de seu treinamento, uma formação escolar muito boa. Afinal, eram egressos do Santuário da Deusa da Sabedoria, tinham que ter boas noções de matemática, ciências, filosofia, línguas, astronomia... Shion sempre fora muito exigente em relação a isso. E os garotos do Orfanato de seu avô também não ficaram atrás.

Mas, de qualquer forma, cavaleiros eram treinados para serem cavaleiros, não graduados em ciências contábeis.

E ela, logo ela, odiava matemática.

— Saori, posso entrar? - A voz suave de Shun se fez ouvir no outro lado da porta.

Verdade seja dita, o cavaleiro de Andrômeda tinha se mostrado bastante solícito em ficar na Fundação, ao contrário dos seus outros colegas que fugiam daquele lugar como o diabo corria da cruz. E o temperamento doce do rapaz, aliado ao seu perfil metódico, o faziam uma excelente companhia.

Mas naquele momento precisamente, até mesmo a voz do Shun pareceu deixá-la irritada.

— Entra...

— Ah... - Shun olhou para a pilha de papéis que ela tinha em mãos. - Ainda não terminou de analisar os relatórios da contabilidade?

Apesar de toda sua bondade e ingenuidade, Shun aprendera com os colegas esse defeito, o de fazer perguntas impertinentes nas horas mais impróprias. O olhar de exaspero de Saori foram resposta suficiente ao jovem, que logo entendeu que a amiga não tinha a mais mínima ideia do que significasse aquelas porcentagens e gráficos.

Mas, para o azar dela, nem ele.

— O que você quer, Shun? Eu estou no meio de uma coisa difícil aqui...

— Desculpe interromper, mas é urgente... - O cavaleiro de Andrômeda, ao contrário de seus colegas, ao menos tinha a qualidade de se desculpar quando percebia que tinha sido inconveniente. - Eu realmente achei que devia te avisar...

— E o que é assim tão urgente que você teve que interromper minha análise dos balancetes da contabilidade, hein?

— O Julian está vindo pra cá...

— O QUÊ? - Os balancetes imediatamente perderam a importância. - Pelos deuses do Olimpo...

— Calma, não precisa ficar tão preocupada...

— Como não? - Saori andava de um lado para o outro. - Eu não tenho ideia de como eu vou explicar pra ele o acontecido com o Kanon!

— Ah... Ele ainda não sabe?

— Claro que não! Como eu vou dizer pra ele que o general marina dele virou uma mulher em uma missão liderada por um de meus cavaleiros? Como eu vou explicar uma coisa dessas? Eu vou parecer uma incompetente!

— Saori...

— ...Fora que pra ele vai ser uma chateação enorme! Ele vai brigar comigo! Tanto que ele queria colocar o Kanon no templo de Poseidon perto de Sounion, e eu, logo eu, o convenci a deixá-lo sob minha responsabilidade! Aí olha só o que me acontece! E agora, como eu viro pra ele e falo uma coisa dessas?

— Ah... Saori...

— Será que ele demora muito pra chegar? Eu tenho que pensar em alguma coisa!

— Saori...

— ...Que é, Shun? - Exasperou-se a moça.

— Tem mais...

— Mais...?

— Sorento e Thetys já estão no Santuário. Foram atrás do Kanon...

— O QUÊÊÊ?

OOO

Naquela manhã atípica para o aprendiz do cavaleiro de Áries, Kiki não podia reclamar.

Tinha levantado cedo, mas logo se distraíra de suas obrigações para começar uma brincadeira. Mas ao ser pego pelo seu mestre, teve uma grata surpresa: Ao invés de ser punido pela desatenção, foi mandado para 'treinar lá fora'.

E isso, em seu 'dicionário', podia ser traduzido por brincar lá fora.

Coelhinho, seu fosse como tu, eu tirava a mão do bolso e colocava a mão no Coelhinho, se eu fosse como tu, eu tirava a mão do bolso e colocava a mão no Coelhinho, se eu fosse como tu, eu tirava a mão do bolso e colocava a mão no Coelhinho , seu fosse como tu, eu tirava a mão do bolso e colocava a mão no Coelhinho, se eu fosse como tu, eu tirava a mão do bolso e colocava a mão no Coelhinho, se eu fosse como tu, eu tirava a mão do bolso e colocava a mão no Coelhinho...

— Olha, olha... Mas vejam quem foi que a maré trouxe...

Uma voz feminina e melodiosa, próxima a si, chamou a atenção do pequeno, que se voltou para ver quem era e...

— AAAAAHH!

— Thetys, deixe o menino em paz, pelos deuses... - Sorento bufava enquanto ajeitava a gravata rendada de seu elegante terno de linho bege claro, mas era ignorado por Thetys que, embora parecesse bem inofensiva em seus trajes civis, olhava para o garotinho com um brilho malvado nos olhos.

— Vo-vo-vo... VOCÊ! - Kiki, pobrezinho, parecia apavorado. Não era para menos: Se lembrava, e bem, do seu último embate com a comandante marina Thetys de Sereia, que o perseguira fazendo ameaças e juras de vingança por meio Reino de Poseidon enquanto ele corria e se escapulia para tentar ajudar os cavaleiros de Bronze.

Realmente, pensando melhor agora, fora uma má ideia fazer troça da garota usando seus poderes telecinéticos(2), porque pelo brilho nos olhos da moça, ela pretendia cumprir cada ameaça que fizera naquela ocasião...

— Muito bem, pestinha insuportável... - Thetys colocou a mão na cintura e sorriu de lado, enquanto Sorento revirava os olhos em desaprovação. - ...Que sorte a minha encontrar justo você por aqui, não? Porque nós temos contas a acertar!

— Olhe aqui, sua bruxa! - Kiki tentou parecer valente. - Não pense que eu tenho medo de você!

— Pois devia, moleque insolente!

— Há, você não é de nada! Tá pensando que você me assusta? Ainda mais aqui no Santuário! Meu mestre tá aqui, sabia?

— Por quê? Vai correr pra se agarrar na perninha do seu mestre? Se acha muito valente, mas na hora da verdade, mesmo, corre feito um coelhinho assustado! - Thetys seguia se trocando com o menino, já vermelha de raiva, para desgosto de seu acompanhante. - Pra você ser mariquinha desse jeito, ele deve ser um incompetente!

— Thetys, por favor... - Sorento tentava impedir que a garota avançasse para cima do menino, a quem seguia provocando.

— Incompetente é você, sua bruxa, feia, burra, chata, mocreia dos infernos! - Gritou o menino, vermelho pela ofensa a si e a seu mestre.

 A garota franziu a testa com um brilho assassino nos olhos.

— O que foi que você disse, moleque abusado?

— ...Pronto, agora foi. - Sorento suspirou, derrotado.

Podiam fazer tudo com a comandante, que ela mantinha uma razoável calma, mas atacar sua beleza física era realmente algo imperdoável para a garota. E...

— Mocreia! MOCREIA! MO-CREIAAAAA!

— GrraaaAAARRRHH... - Thetys perdeu toda a compostura e partiu para cima do garoto, que soltou um grito e saiu em disparada para as doze casas, sendo prontamente seguido pela sereia, realmente empenhada em assassinar o pequeno.

— Mas que falta de elegância, pelos céus... - Sorento revirava os olhos, para então seguir correndo em direção aos dois e, com sorte, evitar um infanticídio.

OOO

Enquanto isso...

— Ué, vocês sentiram isso? - Shura parecia desconfiado.

— Visitantes? Mas eu acho que conheço esses cosmos... - Aldebaran matutou. - Mu, um deles não é...

— Kiki! - O ariano matou a charada, e já se adiantou para ajudar o pupilo, no que foi seguido pelos outros dois cavaleiros.

Mas, ao sair da Casa de Áries e se postar nas proximidades das doze casas, nem precisou procurar muito. Foi quase atropelado pelo pequeno, que se jogou ofegante em sua direção.

— Mestre Mu! Mestre Mu! Aquela bruxa vai me pegar!

— Calma, Kiki! Que bruxa é essa?

— Ela vai me pegar! - O menino estava agitadíssimo. - Ela veio até aqui para me matar!

— Calma, Kiki! - Mu seguia tentando acalmar seu pupilo. - Ninguém vai te fazer nada!

— Você vai matar aquela bruxa feia boba e chata, não vai?

— Kiki, eu já te disse que ninguém vai te fazer nada! Muito menos essa bruxa...

— Bruxa? Que bruxa? - Aldebaran parecia confuso, mas parou ao ver que ao fundo chegavam os visitantes do Santuário.

— AAAHH! Olha ela aí! Ela vai me matar! Essa mocreia, bruxa dos infernos! Vai lá, Mestre Mu! Vai lá e bate nela!

Mu, de costas para o grupo que sentiu chegar, virou-se já para dar um 'sabão' na pessoa que ameaçava seu pupilo.

— Olha aqui, quem quer que você seja! Kiki é meu discípulo e... - Parou em seco ao ver a comandante marina, tão ferrenhamente chamada de bruxa por seu pequeno pupilo.

Na verdade, uma formosa moça com louros cabelos compridos, rosto delicado, lábios rosados e olhos azuis, metida num tailleur rosa-salmão muito justo ao corpo.

— Mas esse aí não é o tal Sorento de Sirene? - Cochichou Aldebaran.

— É... Então essa loirinha deve ser a assessora pessoal do Julian, a tal Thetys de Sereia que a Saori tanto detesta. - Shura respondeu, no mesmo tom baixo do colega para que a conversinha paralela não fosse percebida pelos visitantes.

— Pudera, né? Olha que saúde... Competição ferrenha mesmo. E essa roupa, pelos deuses...

— Tá uma sereia, literalmente. Mas esse terno do Sorento, viu... Será que onde ele comprou não tinha pra homem, não?

— Mestre Mu, vai lá e bate nela! - O menino Kiki, agarrado na perna do cavaleiro de Áries, parecia muito mais confiante agora.

Mas Mu, por sua vez, parecia congelado no lugar, com a boca aberta sem soltar nenhum som e corado até as orelhas.

— Então... - Thetys, já mais recomposta e menos ensandecida do que quando estava perseguindo o garoto, se aproximou lentamente do cavaleiro de Áries, que seguia calado. - Você é o mestre desse garoto?

— ...

— Bom... - Thetys continuou, um pouco constrangida pelo fato do outro se mantar tão calado quanto antes. - ...Enfim, você tem que dar uma boa lição nesse menino, que ele é muito mal-educado e desrespeitoso com as pessoas, sabia?

— ...

— Mestre Mu, faz alguma coisa! - Kiki estava impaciente devido ao silêncio do mais velho. - Fala alguma coisa pra essa bruxa!

— Ahhh, Kiki... - Aldebaran gentilmente resolve pegar o garotinho pela blusa, já que Mu seguia tão calado quanto antes, aparentando um desconforto terrível. - Vai ali com o tio Shura, vai.

— Mas o Mestre Mu...

— Chispa, Kiki! - Aldebaran chiou entre os dentes, e o garotinho pareceu entender o recado.

— Olá, suponho que vocês sejam Sorento de Sirene e Thetys de Sereia, não? - O brasileiro voltou-se para a dupla de visitantes após desvencilhar Kiki das pernas de seu mestre, e Shura pegou o garotinho pela mão lançando para a garota um sorriso 'colgate'. - Eu sou Aldebaran, guardião da casa de Touro. Aquele é Shura de Capricórnio, e o mestre do garotinho é Mu de Áries. Em que podemos ajudá-los?

— Estamos procurando pelo Dragão Marinho. - Sorento ajeitou a gravata rendada de seu impecável terno, que contrastava com a puída vestimenta de treinamentos dos outros três cavaleiros de ouro presentes.

Aldebaran e Shura trocaram olhares rápidos, tentando disfarçar o desconforto.

— Ah... - Shura pigarreou, tentando ganhar tempo. - Aconteceu alguma coisa?

— Nada demais, é só uma visita de rotina. - Sorento respondeu, enquanto Thetys mantinha os olhos cravados no cavaleiro de Áries, que seguia calado.

— Bem... Ele deve estar na casa de Gêmeos, se estiver por aqui no Santuário. Eu não o vi hoje, ainda. - Shura falou pausadamente, escolhendo com cuidado cada palavra. - Podem subir até lá, e procurem por Saga. Ele vai saber onde o irmão está, com certeza...

— Muito obrigado, cavaleiro de Capricórnio. - Sorento empertigou-se e novamente ajeitou a gravata rendada dentro da lapela do terno, e preparou-se para seguir em direção a Gêmeos. - Thetys?

— Hã? - Thetys seguia com os olhos cravados no cavaleiro de Áries, que por sua vez ainda estava plantado no mesmo lugar e mudo como uma porta.

— Me acompanhe, por favor?

— Ah, sim... - Thetys ajeitou-se, ainda olhando para o mudo cavaleiro de Áries, e seguiu o General Marina.

— Senhorita Thetys, desculpe qualquer coisa em relação ao garotinho. Ele é um menino bastante hiperativo, muito danado... Até mesmo o Mu tem bastante trabalho para treiná-lo como se deve. Não é mesmo, Mu? - Aldebaran cutucou o colega de Áries, mudo, enquanto tentava contornar a situação.

— ... - Foi a eloquente resposta do tibetano.

— Não tem problema... - A Comandante meneou a cabeça. - Até mais...

— Até... - Sorriram Aldebaran e Shura enquanto os dois subiam em direção à terceira casa, e Mu seguia tão quieto quanto antes.

Alguns instantes de desconfortável silêncio depois, e Shura resolve se manifestar.

— Ihh... Caramba, e agora?

— Bom... - Aldebaran estava pensativo. - A casa vai cair, né? Tomara que o Saga tenha o senso de pensar em uma solução... Não é, Mu?

— ...

— Eh? - Shura olhou para o tibetano, vermelho e ainda mudo.

— Ahhh! - O menino Kiki, depois de se ver livre da ameaça da sereia, resolveu desafogar a sua frustração com seu mestre. - O Mestre Mu NÃO me defendeu daquela bruxa loira! Mestre Mu não falou NADA pr'aquela mocreia! Ficou mudo! Mudo mudo mudo feito uma planta!

Mu, que já estava vermelho, ficou quase roxo. Mas isso não sensibilizou o menino, que continuou.

— AAAHH! Que vergonha! Que vergonha! Parece até que aquela bruxa loira enfeitiçou meu Mestre Mu!

— CALA ESSA BOCA, KIKI! - Mu explodiu, finalmente rompendo seu mutismo. - Que enfeitiçado o quê!

— Mas...

— Kiki, vai dar uma volta, vai... - Shura tentava despistar o menino.

— Mas por quê? - O garoto parecia revoltado.

— Porque... Porque sim! Vai logo!

— Porque sim não é resposta! - Rebateu o menino, de pronto.

— SOME, KIKI!- Shura explodiu. - A gente vai conversar assunto de adulto aqui! Chispa da minha frente que você já arrumou confusão demais!

— Mas...

— A-GO-RA! - Shura avançou na direção do garoto, que percebeu o perigo e saiu correndo.

— Mas Mu... - Aldebaran parecia preocupado com o amigo. - O que foi que aconteceu?

— Não aconteceu nada não!

— Você ficou sem falar nada! Tudo bem que o Kiki te fez passar uma vergonhazinha, mas você ficou mudo!

— Não fiquei mudo não! Só... Não quis falar nada!

— Sei... - Shura fez um muxoxo. - E não quis falar nada com a sereia por quê?

— Ah...

— Deixa de conversa, Mu. Nós estamos aqui pra te ajudar... - Aldebaran interpelou noamente o colega.

— Estamos? - Shura levantou uma sobrancelha.

— Claro! É evidente que o Mu teve problemas na hora de interagir com a moça...

— Mas eu não estou entendendo... Ele fala normalmente com as amazonas! A Shina, A Marin... - Shura estava confuso.

— A Marin é namorada do Aiolia, e a Shina é o interesse amoroso do Milo! - Rebateu Mu.

— Então... Você tá interessado na sereia? - Novamente, o cavaleiro de capricórnio pegou a deixa no ar.

— NÃO! Eu não tou interessado em ninguém não, só...

— Então o que é que acontece? Você só fica mudo perto de meninas solteiras e desimpedidas?

— Ah... Se eu falar, vocês JURAM que não contam pra ninguém?

— Claro! Já me viu espalhar alguma coisa por aí? - Indignou-se o cavaleiro de Touro.

— Você fala pro Seiya, o que na prática dá na mesma. - Respondeu Mu de bate-pronto.

— Tá, eu não falo pra ele, então...

— Eu... - Mu suspirou, desolado. - Eu fico assim quando uma mulher bonita vem falar comigo. Eu travo, fico mudo feito uma porta! Pronto, falei.

Os outros dois cavaleiros olharam para o tibetano, consternados.

— Timidez patológica? - Shura coçou a cabeça. - E quanto à Shina e à Marin?

— Elas... É como se elas já tivessem 'dono', né... Tá, eu sei que a Shina é tecnicamente solteira, mas eu não consigo olhar pra ela sem pensar no Milo! Então ela também não conta... E quanto às outras... Toda vez é isso. A moça vem falar comigo e eu travo. Uma vergonha. Não tem jeito...

— Ah... Mas pra isso... Tem jeito sim, Mu!- Shura riu, vitorioso.

— Tem? - Mu pareceu iluminar seu rosto anteriormente triste.

— Claro! Isso não é nada que umas boas doses de tequila não possa resolver.

— Ah, não. O Mu não pode beber. - Aldebaran balançou a cabeça, pesaroso. - Da última vez que ele tentou, tomou uma dosezinha só de licor e quase baixou no hospital... Como é que era o nome do que o médico disse?

— Efeito dissulfiram. - Mu parecia ainda mais tristonho. - Em resumo, é como se eu tivesse alergia ao álcool...

— Nossa, mas que saco... - Shura paricia ainda mias tristonho do que Mu, ao imaginar uma vida sem bebidas alcoólicas; enquanto Aldebaran olhava para o amigo ariano compartilhando de seu pesar...

OOO

Escadarias das doze casas...

— Sorento... - Thetys parecia querer puxar um assunto com o arredio músico austríaco, que não estava com um humor dos melhores ao vislumbrar todas aquelas escadarias que teria de subir.

— Sim?

— Er... Muito calado aquele cavaleiro de Áries, não?

— É...

— Muito reservado, sisudo, misterioso... Nem parece que treina aquela pestinha, né?

— É...

— É tão estranho que um tipo como ele seja mestre daquele terrorista mirim. Porque ele me pareceu um cara muito respeitável, sabe? Apesar do jeito caladão e tudo... Se bem que, verdade seja dita, nem ele saiu em defesa daquele projeto de meliante. Isso já fala muito bem dele, como uma pessoa justa e correta...

— É...

— Os outros dois eu achei muito saidinhos, mas ele... Parece ser tão educado, respeitador, interessante... O tipo de homem que sabe tratar bem e valorizar uma mulher! Não esses que ficam aí rindo feito uns bobos alegres enquanto estão olhando pra gente. E ele tem um ar de mistério, entende?

— É? - Sorento franziu a testa, ainda sem olhar diretamente para a sereia, estranhando como diabos a garota tinha depreendido tantas informações a respeito do cavaleiro de Áries que não trocara nem três palavras com ela.

— Bem que eu pensei que todos os cavaleiros desse Santuário fossem que nem o idiota do Kanon, ou que nem aqueles retardados que estiveram no Santuário Submarino... Vai que foram todos criados à imagem e semelhança daquela baranga que se diz deusa... Mas parece... Parece que o Mu de Áries não é assim!

— É?...

— É! Ele é diferente! Parece ser tão culto, tão inteligente, tão cheio de personalidade! Tem que ser, afinal, não é ele quem conserta as armaduras desses parvos?

— É...

— Então! Precisa de muito conhecimento técnico pra reparar armaduras com tantos anos de existência! É como se ele fosse um restaurador de obras de arte!

"Pelos sete mares, ela está viajando!" - Pensou Sorento, enquanto Thetys continuava a discorrer sobre as qualidades do Cavaleiro de Áries. - É... Acho que é aqui, Thetys.

— É?

— Tem duas estátuas na porta e tem o sinal de Gêmeos no umbral. Só pode ser aqui... - Sorento resmungou, parando na porta ao perceber que a pessoa que buscavam saía pela porta. - Alto, Dragão Marinho!

Saga levantou o rosto, olhando com estranheza para duas pessoas plantadas em sua porta que nunca tinha visto na vida.

Conseguirá Saga de Gêmeos explicar aos recém chegados a totalidade dos novos fatos acerca do verdadeiro Dragão Marinho? Conseguirá Thetys de Sereia ver ainda mais qualidades no misterioso Cavaleiro de Áries? Conseguirá Saori Kido, a incrível Deusa Atena, se explicar para seu amigo Julian Solo sem que ele tenha um chilique ao descobrir o que aconteceu com seu General Marina? E conseguirão Aldebaran e Shura ajudar o seu colega de armas Mu de Áries a superar seu problema de comunicação?

Tudo isso e muito mais nos próximos capítulos!

Stay tuned!


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Notas finais do capítulo

1- Harém: Pois bem, pra quem estranhou... Aqui vai a explicação:
Em 1988, foram publicados três livros da coleção Jump Gold Selection, que traziam informações adicionais sobre os episódios do anime, OVA's, histórias laterais e informações adicionais diversas. Pois bem, em um deles consta a informação de que o falso Grande Mestre do Santuário, no caso Saga, mantinha um harém particular (e era possessivo a ponto de matar qualquer um que sequer olhasse para suas mulheres!). Que fique claro que isso é uma informação exclusiva do anime, no mangá não tem nada disso ahahahaha! Maaaas enfim, eu resolvi dar uma adaptada e 'usar' esse dado a meu favor: como nos tempos atuais (mesmo nos '80) um harém propriamente dito sairia muito caro e complicado de manter, o 'Harém' desse universo alternativo é uma luxuosa... casa de entretenimento masculino. (Para bom entendedor: entre otras cositas más, um pu-tei-ro! O Café Photo -ou o Bahamas- dos arredores do Santuário!)

2 - Fato presente no anime, Kiki usa seus poderes telecinéticos para derrotar Thetys, que depois de escapar o persegue para impedir que ele chegue até os outros combatentes de Atena. Acho que deve ter ficado um sentimento negativo entre eles, não?

3 - Em medicina, a expressão "efeito dissulfiram" ou "efeito antabuse" se refere à hipersensibilidade ao álcool que ocorre como uma reação adversa a medicação específica, como o dissulfiram. Os sintomas são depressão respiratória, arritmias cardíacas e convulsões, o que pode levar ao óbito.



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