Minha Doce Passarinha escrita por Sanguini


Capítulo 1
De volta ao Desconhecido


Notas iniciais do capítulo

Sugestão de música para ouvir enquanto lê:
https://www.youtube.com/watch?v=LoeFEMFttUk



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Em um quarto bagunçado, coberto de objetos espalhados e alguns livros por cima da mesa, um jovem garoto, que aparenta ter em torno de 14 anos, dorme tranquilamente durante uma tarde levemente nublada.

O despertador marca 16:44 pouco antes de disparar um alarme de bips por todo o cômodo, o rapaz deitado à cama leva sua mão pesada sobre o despertador e o desativa depois de um pequeno click no topo do aparelho. Ele levanta com alguma dificuldade e se enche de disposição após ver os raios dissolutos do sol entrando pela janela e iluminando com um tom alaranjado todo o seu quarto.

Ele sorri e se senta na cama, esfregando seus olhos e olhando para o despertador, que já marcava 16:45. Lembrou-se do seu compromisso da tarde após ver um bilhete escrito em boa caligrafia e bem ao lado uma foto de sua amiga e interesse amoroso Sara. Ele pegou a foto ao lado do bilhete em suas mãos e apreciou o rosto dela, durante algum tempo ele ficou sentado pensando em como ele conseguiu ter um tempo a sós com ela.

— Wirt, você vai se atrasar. - Disse uma voz infantil atrás da porta, ele teve um pequeno lapso de pânico ao ver que faltava pouco para as 17:00h.

— Já vou! - Disse ele enquanto pegava seu casaco e ia em direção à porta para atender seu irmão Gregory.

Wirt abriu a porta e viu seu irmão o esperando.

— Estou pronto. - Disse Wirt animado.

Greg deu um sorriso amistoso, mas estava com uma expressão frustrada que Wirt percebeu imediatamente.

— O que foi, irmão? - Perguntou Wirt.

— Não é nada. É que eu... Bem, eu não vou poder ir com você.

— O que? Como assim, achei que você iria comigo até a casa do Martin - Perguntou Ele.

— Eu sei, mas eu lembrei que tinha algumas coisas pra fazer no jardim. A Beatrice disse que se você...

— Não diga isso. - Disse ele um pouco nervoso.

— O que? Jardim? - Perguntou ele.

— Não, aquele nome. - Continuou Wirt.

— Oh, Beatrice? - Disse Greg novamente.

— Sim, não me lembre os dias que... A gente passou no Desconhecido. - Disse ele enquanto pensava no lugar.

— Entendo... - Disse Gerg enquanto deixava Wirt, ele saiu e seguiu pelo corredor até a escada. - Boa sorte com seu encontro de hoje com a Sara. - Disse ele sumindo ao descer as escadas.

Wirt arrumou seu casaco e colocou a mão no bolso, se preparando para sair, ele sentiu uma folha plástica no seu bolso esquerdo, puxando a folha, viu a foto que estava admirando mais cedo. O jovem achou uma boa ideia levar a foto consigo, seria uma boa primeira impressão.

Ao abrir a porta, ele sentiu a brisa gelada entrar nos seus pulmões. Wirt saiu da casa e foi em direção à calçada. Apesar dos raios do sol baterem em toda a rua, o ar estava estranhamente gelado, a ponto de Wirt conseguir ver sua respiração sair de seus pulmões como um vapor de água sai de uma chaleira.

— Nossa, por que está tão frio? - Perguntou Wirt se aconchegando mais ainda dentro do casaco.

Enquanto andava em direção ao parque, Wirt viu a floresta dentro de um bosque urbano, as folhas secas caíam com a proximidade do inverno, as árvores mortas e contorcidas traziam à ele lembranças perturbadoras de sua estadia no desconhecido, não era a toa que o ar estava tão gélido. O jovem rapaz não se deixou superar por uma brisa gelada e continuou indo para o parque. Depois de uma longa caminhada por ruas quase vazias, ele chegou ao parque, local do encontro.

Diferente do que ele esperava, o parque estava deserto e coberto com as folhas secas que caíam das árvores mortas. Apesar disso, ele continuou em direção a um dos bancos de madeira e sentou-se lá, aguardando a chegada de sua amiga.

O tempo passava com velocidade de lesma, a paciência de Wirt corria junto com o ponteiro dos segundos, ele já estava em dúvidas se ela realmente viria. Enquanto esperava, ele observava as árvores ao seu redor e de repente, ele viu um pássaro azul e branco de porte médio bicando uma das árvores secas. Aquele passarinho lembrou novamente Beatrice a ele, que, apesar de não querer relembrar do seu tempo no desconhecido, ainda sentia falta dela. Desde quando voltou, Wirt estava curioso com a suposta imagem da Beatrice em sua forma humana, até ali, sua única imagem dela era uma fofa passarinha que os guiou para a fuga do desconhecido.

Durante um breve momento de confusão, ele viu o passarinho azul parado em cima do encosto do banco. Animais como aquele não costumam chegar tão perto de humanos assim.

— B-Beatrice? - Falou ele, se sentindo um pouco patético por assimilar o pássaro à sua amiga.

Como esperado por Wirt, o pássaro alçou voo e deixou o jovem rapaz só no banco. "Grande Ideia" Pensou Wirt, voltando sua atenção para seu redor procurando Sara.

Wirt solta um forte suspiro.

— É, pelo visto ela não vem. - Disse Wirt enquanto se levantava e andava de volta para a calçada que levava pra casa, imaginando o que fez Sara faltar ao encontro. Porém, ele seguiu para a direção oposta, procurando o caminho mais longo pra casa. A noite chegava, e com ela, a temperatura baixava ainda mais, não demorou muito para algumas gotas começarem a cair, o sol já não mais aparecia, mas sua luz ainda iluminava o céu em conjunto com a escuridão. Wirt seguiu seu caminho imaginando os motivos possíveis de Sara não ter vindo, "Será que foram os poemas muito melosos ou o clarinete?" Pensava ele.

Pouco antes de chegar ao centro, ele viu uma construção soturna, escondida por gavinhas e videiras. A construção se resumia a um muro de tijolos de concreto, o grande portão de ferro escuro, com o escrito "Cemitério" em cima. O mesmo cemitério onde eles foram no dia do Halloween, acabaram caindo no lago e foram parar no desconhecido.

Wirt sentia alguns calafrios quando lembrava dos dois rolando rolando morro abaixo e caindo inconscientes no fundo do lago.

O jovem parou de andar e ficou alguns segundos olhando para o cemitério, com uma certa curiosidade, ele nunca tinha voltado ao lago depois de ter caído neles.

— Será que... - Wirt pensou em algo que para ele era uma loucura. Mas apenas uma pessoa poderia ajudar ele com a Sara.

Antes de prosseguir, Wirt atravessou a rua e foi em direção ao cemitério, contornou ele e seguiu em direção ao trilho do trem. Ele sentia uma pequena carga de adrenalina percorrer o seu corpo, guardando um certo receio pelo medo que guardou de cair novamente no lago.

Wirt continuou em direção ao morro, descendo em direção ao lago escuro que o levou ao desconhecido. O jovem parou na margem do lago, observando os arredores do lugar que tinha o aprisionado, mesmo com medo, ele teria que tentar entrar lá.

— Como foi mesmo que eu caí aqui? - Disse Wirt imaginando que sua entrada no desconhecido aconteceu por causa da sua posição ao cair na água. Ele fechou seu casaco e andou lentamente para dentro do lago, á água gelada subia pelo corpo de Wirt, que prendia sua respiração, quando chegou a um certo ponto do lago, ele se sentou, deixando a água à altura de seu pescoço e afundou a cabeça nas águas escuras. Apesar de afundar-se várias vezes, ele não conseguia chegar ao ponto de atravessar ao desconhecido.

— Será que vale tudo isso só pra visitar a Beatrice? - Perguntou ele pra si mesmo depois de estar totalmente encharcado. Por algum motivo estranho, seu medo do desconhecido não conseguia impedi-lo de visitar a garota do desconhecido.

Wirt estava prestes a desistir quando sentiu a sua perna esquerda começar a formigar. Ele se assustou, sabia que a temperatura da água estava baixa demais e estava ficando perigoso. Ele tentou sair do lago, sem sucesso, seus membros inferiores estavam dormentes e paralisados.

Wirt entrou em desespero e tentou sair da água o mais rápido possível, ele começou a hiperventilar e seu batimentos cardíacos começaram a ficar acelerados. O jovem rapaz tentou fugir se arrastando, mas logo seus braços sucumbiram à hipotermia, aos poucos eles foi afundando nas águas geladas do lago, por um breve período, ele pensou que não sairia mais de lá.

Em um pequeno espaço de tempo, uma visão escura tomou seus olhos; Logo depois, uma enorme e densa floresta surgiu no ambiente, com árvores de formatos estranhos e com pequenas tartarugas pretas ao redor. Ele sentiu seu corpo firme novamente, olhando para suas mãos.

— É isso, eu consegui? - Disse Wirt enquanto passava a mão pelo seu corpo e procurava qualquer ferimento. Ele sentiu seu coração bater mais aceleradamente, o medo que ele tinha guardado do Desconhecido se repetira, e ele sabia exatamente que estava morrendo no fundo do lago novamente.

— Ah, meu deus. - Ele levantou um pouco desesperado, depois de esperar alguns segundos ao pé de uma das árvores, ele recompôs seu fôlego. Wirt pensou sobre o tempo que seu corpo estava embaixo d'água. "Tenho que me apressar" Pensou ele.

Wirt iniciou sua caminhada pela floresta, procurando sinais da sua vinda anterior, a mata fechada agora era bem menos densa, parecia que tudo tinha mudado depois que ele e Greg saíram. O jovem continuou sua caminhada até chegar em um rio corrente, ele tomou a direção em que o rio corria para chegar a algum lugar.

— Hum... O que eu estava pensando, eu mal sei onde a Beatrice foi depois que saí daqui. - Disse Wirt enquanto olhava para a outra margem do rio. A presença das tartarugas pretas deixava ele nervoso, a qualquer momento um animal desavisado poderia comer uma delas e se tornar uma dor de cabeça pra Wirt.

A medida que a escuridão tomava conta, Wirt acelerava o passo, o rio diminuía sua velocidade, sinal de que havia algo travando água. Para a sorte de Wirt, após a segunda curva do rio, um moinho de água era possível de ser visto ao longe. O jovem ficou mais tranquilizado, mas estranhou o fato de não ter nenhuma luz acesa dentro da construção.

— Ótimo, parece que não tem ninguém aqui, vamos ver se está tudo igual como era antes. - Disse ele indo ao fim do leito e atravessando o rio pela parte mais rasa. Ao chegar à construção, ele notou que o moinho estava com as engrenagens enferrujadas, pelo visto, o homem da mata não veio mais para abastecer sua lanterna com óleo. Wirt foi em direção à entrada e olhou pela janela, a casa se mantinha a mesma, com exceção de alguns móveis e uma mesa. A lareira estava acesa, o que mostrava que havia alguém dentro da construção.

Antes de considerar bater na porta, Wirt resolveu sair da parte da frente e ir para a lateral da construção para inspecionar os outros cômodos, alguns eram quartos em que tinham algumas pessoas dormindo em camas longas. Quando chegou à janela do último quarto, Wirt viu uma vela acesa e uma cama vazia. Não tinha certeza de quem era o dono do quarto, mas as chances do dono da cama estar fora de casa é mínima.

O jovem voltou para a entrada e olhou novamente a janela, não parecia muito educado bater na porta enquanto dos estavam dormindo. Ao olhar na janela, Wirt viu uma garota com aproximadamente a mesma idade que ele, com cabelos castanhos levemente avermelhados presos em um coque, atiçando a lareira que estava fraca. Seja lá quem for, ele ficou tranquilo em achar alguém ali, mas não era quem ele estava procurando.

Wirt deu alguns passos para trás para sair silenciosamente, porém seu plano falhou quando pisou em um galho seco caído à frente, causando um ruído que alertou imediatamente a garota. Ela deixou a fogueira de lado, entrando em um dos quartos, Wirt tentou sair de lá o mais rápido possível, correndo em direção ao rio.

— Alto aí! - Disse uma voz feminina firme. Wirt, que já estava assustado, não teve opções a não ser parar. Ele ficou esperando para ver quem o rendeu, ela então se aproximou.

— Quem é você? - Perguntou ela novamente, sua voz era familiar para Wirt. Ele se virou lentamente e viu a mesma garota que estava dentro da construção, apontando para ele a ponta de uma lança rústica feita com um cabo de madeira.

Estranhamente, quando ela analisou o rosto de Wirt, a garota ficou com uma expressão totalmente chocada, como se ela o conhecesse a muito tempo, logo depois, ela abriu um enorme sorriso.

— Wirt... Você voltou!? - Disse ela enquanto abaixava a lança lentamente e olhava fixamente pra Wirt.

— Eu? Sim, eu voltei mas, quem é você? - Perguntou Wirt. A garota fincou a lança no chão e aproximou-se dele, ele sentia um impulso natural de se afastar, ela então pôs sua mão em um bolso do seu vestido azul-claro e tirou de lá uma tesoura moldada com o formato de um pássaro.

Ao ver a tesoura, Wirt percebeu que era a mesma tesoura mágica que transformaria a família de Beatrice de volta em humanos, e que ele devolveu à ela quando voltaram para casa.

— Beatrice? - Perguntou Wirt chutando uma possibilidade.

Beatrice assentiu, Wirt entrou em animação ao perceber que sua viagem seria mais curta que imaginava. A garota passou seus braços ao redor dele dando um forte abraço, enquanto algumas poucas lágrimas caíam de seus olhos.

— Eu senti tanto a sua falta. - Disse Beatrice.

Wirt sentiu seu rosto esquentar e seu rosto começar a ficar vermelho.

— Er... Eu também senti. - Disse ele tentando esconder sua timidez.

Depois de solta-lo, Beatrice enxugou as pequenas lágrimas em seus olhos e voltou a olhar para Wirt.

— Então Wirt, o que trás você aqui? - Perguntou Beatriz enquanto segurava uma das mãos de Wirt.

Wirt pensou em milhares de forma de como começar a conversa, mas escolheu ser direto, ignorando as formalidades.

— Pois é. Então Beatrice, eu... - Antes que Wirt completasse sua frase, Beatrice interrompeu ele.

— Vamos entrar, está muito frio aqui fora. - Disse Beatrice enquanto puxava Wirt pelas mãos a fim de leva-lo para sua casa. Ao chegar na quente e aconchegante casa, Beatrice selou a porta com um ferrolho de metal. Logo depois enxugou o suor da testa e foi em direção ao sofá que tinha próximo à lareira. Wirt ficou todo momento esperando ao lado da porta de entrada, esperando alguma ordem.

Sem falar nada, Beatrice deus alguns tapinhas no lugar do sofá ao lado dela, olhando para Wirt.

— Você não vem? - Perguntou ela, convidando-o para sentar.

— Oh, sim. Claro. - Disse ele se dirigindo ao sofá e sentando um pouco distante dela, corando levemente.

— Então, você dizia? - Perguntou docemente Beatrice.

Ele respira fundo novamente.

— Sabe quando você e eu estávamos na floresta depois de sair da balsa dos sapos. - Disse Wirt.

— Sim, eu lembro. - Disse ela respondendo à Wirt.

— Pois é, e eu contei pra você sobre aquela garota. - Disse Wirt procurando as palavras certas.

Beatrice ficava confusa e continuava sem saber o que ele queria.

— Wirt, vá direto ao assunto. - Disse Beatrice com cautela.

Wirt expirou todo o ar de seus pulmões.

— Tudo bem, vou direto ao assunto. Eu consegui marcar um encontro com ela mas... Er, eu não tenho certeza se ela furou comigo ou... Enfim, eu devo ter feito algo de errado na última vez que encontrei ela, então eu preciso que você me ajude. - Disse ele em velocidade.

— Te ajudar com o que Wirt?

— Você é a única garota que eu conheço que saiba do assunto. - Disse Wirt.

Beatrice corou fortemente ao ouvir Wirt.

— Pensei que seus pais pudessem ajudar. - Disse Beatrice.

— Hum... - Wirt levantou e foi em direção à mesa de jantar, onde tinha uma mesa de centro com uma rosa vermelha.

— Minha mãe não tem muito tempo pra isso, e meu pai? Humpf, meu pai costuma dar mais atenção ao Greg. - Disse Wirt com um tom de frustração.

Beatrice sentiu-se mal por ele.

— Olha... Geralmente minha mãe me dá algumas dicas sobre o que fazer e...

— Espera aí, você já saiu com alguém? - Perguntou Wirt curioso.

Beatrice continuou desviando olhares e procurando o que responder, corando novamente.

— N-Não, não é fácil encontrar alguém especial aqui. - Disse Beatrice.

— Hum... Não é fácil passar muitos humanos por aqui, não é? - Perguntou Wirt

Beatrice suspirou.

— Na realidade, você e Greg foram os únicos humanos além da minha família que eu já vi andando por aqui. - Disse ela olhando para Wirt.

— E isso é bom, não é? Ninguém pra incomodar... - Disse Wirt.

— É, mais ou menos. - Disse ela olhando para o chão.

Wirt notou a expressão frustrada de Beatrice.

— Tem certeza que não tem nenhum problema, Beatrice? - Perguntou ele novamente.

— Não é nada... - Disse ela ainda disfarçando. - Enfim, você quer que eu te ajude a reconquistar ela. - Sugeriu Beatrice.

A frase de Beatrice clareou a mente de Wirt. Era exatamente isso que ele queria pedir.

— Exatamente isso. - Disse Wirt.

— Muito bem. - Disse ela se levantando e indo em direção à mesa onde estava Wirt. - Você pode me dizer algo sobre ela, como ela é? - Disse ela.

Antes de começar a falar, Wirt puxou do casaco a foto com a imagem de Sara.

— Bom, ela é legal, gosta de andar com os amigos...

— Hu-hum

— E... Ela gosta de rock clássico. - Dizia Wirt.

— É só isso? - Disse Beatrice um pouco desconfiada.

— Er... Eu não conheço muita coisa dela. - Disse Wirt esfregando a manga do casaco.

— Você quer namorar uma garota que mal conhece?

Wirt parou pra pensar na sua vida amorosa.

— Ela gosta de algo em você? - Perguntou Beatrice.

— Bem... Na última vez que eu visitei ela, eu toquei algumas músicas, não sei se ela gostou. - Disse Wirt.

— Tocou clarinete? - Perguntou Beatrice.

Wirt deu um leve sorriso.

— É, eu achei que ela ia gostar. - E o que ela achou.

Wirt ficou alguns segundo mudo.

— Ela não me disse, sempre que eu perguntava, ela mudava de assunto. - Disse Ele.

— Hum... É uma pena, eu sempre gostei da sua música. - Disse Beatrice desviando o olhar enquanto seu rosto ardia.

— Obrigado. - Disse Wirt

Ambos ficaram lado a lado submissos a um silêncio constrangedor, finalmente Wirt falou novamente

— É, você tem razão. - Disse Wirt puxando a cadeira da mesa de jantar e sentando-se. - Acho que isso não é pra mim. - Disse Wirt desistindo de sua vida amorosa.

— Espera aí. - Disse Beatrice também sentando-se à mesa. - Você não precisa desistir, não é por causa de uma coisinha assim que você vai largar tudo.

— O que você quer que eu faça Beatrice, ela era a única garota que tinha alguma relação comigo. - Disse ele com leve irritabilidade.

Beatrice deixou ele descansar um pouco.

— Ouça, eu sei como isso pode ser dolorido, mas não é momento pra desistir, digo. Você é um garoto legal, divertido e corajoso na maior parte do tempo. - Disse Beatrice sorrindo.

— Nossa, sério? - Disse novamente Wirt.

— Claro, você foi praticamente um herói quando esteve aqui. Você enfrentou a fera quando ela tentou capturar seu irmão. - Disse Beatrice com tom determinado.

— Puxa, obrigado Beatrice. - Disse ele um pouco mais satisfeito.

Ela assentiu.

Novamente eles entraram na atmosfera silenciosa.

— Wirt, o que você acha de tocar algo. - Disse Beatrice.

— Desculpe, eu deixei meu clarinete em casa.

— Hum, você acha que é o único que tem um? - Disse Beatrice irônica.

— Er, você quer dizer agora? - Disse Wirt.

— Claro, está esperando o que? - Perguntou Beatrice levantando rapidamente e entrando em seu quarto, logo depois ela voltou trazendo um Fagotti preto que Wirt havia tocado na barca dos sapos. Ele, por sua vez achou o fagotti familiar.

— Esse é o... - Beatrice interrompeu ele.

— Exatamente, é o mesmo Fagotti que você tocou enquanto estávamos indo à casa da Adelaide. - Disse ela.

— Nossa, onde encontrou isso? - Disse Wirt.

Beatrice soltou um leve suspiro.

— Quando você foi embora, eu procurei alguma coisa que pudesse me lembrar vocês dois, então consegui comprar o fagotti dos sapos. - Disse Beatrice.

— Isso é incrível! - Wirt exclamou enquanto analisava o fagotti.

— Eu sabia que ia gostar. - Disse ela.

— A sua família não vai acordar? - Disse Wirt preocupado.

— Nesse caso, toque baixo. - Disse ela em sussurros.

— Então senhorita, o que quer que eu toque? - Disse Wirt em tom solene

— O que você achar melhor pro momento. - Disse ela como uma aristocrata.

— Como queira. - Disse ele antes de plantar seus dados nos pistões e assoprar a boquilha. Entoando um som melodioso e compassado, similar ao de festas da alta sociedade, aos poucos a melodia começava a tomar traços românticos e poéticos.

Ao terminar, Wirt saldou Beatrice como se estivesse se dirigindo a uma platéia.

— Bravo, Wirt. - Disse ela batendo palmas silenciosamente. Ele pegou a rosa que estava no vaso em cima da mesa e jogou em direção à Beatrice

Ambos riram daquele pequeno concerto de um instrumento só. Beatrice devolveu a rosa à Wirt em um gesto romântico.

Enquanto descansava, Wirt continuou olhando para Beatrice que estava imóvel olhando para a rosa em suas mãos. Nesse momento, Wirt puxou a manga de seu casaco e viu o relógio de pulso parado, porém, lembrou ele de que seu corpo ainda estava submerso.

Ele teria que se apressar se quisesse voltar com corpo ainda inteiro, mas ele não queria deixar Beatrice, aquele curto espaço de tempo que ele passava com ela não era suficiente para compensar todo o tempo que ele passaria longe dela. Porém, Wirt não conseguia considerar o fato de que estava morrendo, e seu instinto o fez tomar alguma atitude.

— Er... Sabe Beatrice, pra eu chegar aqui eu tive que entrar em sérios riscos. Eu queria poder ficar mais aqui com você mas... Mas eu tenho que voltar pra casa agora. - Disse Wirt.

Beatriz sentiu toda a animação e felicidade que sentiu ao ver Wirt ruir em segundos. Porém, manteve seus sentimentos guardados.

— E-Eu entendo. - Disse ela um frustrada.

Wirt pensou em alguma forma de despedida, mas achou que aquilo só agravaria a frustração de Beatrice, ele preferiu se manter nas despedidas tradicionais. Se levantou e se afastou da mesa.

— Enfim, obrigado por me ajudar. - Disse Wirt.

— Não se preocupe com isso. - Disse Beatrice. Wirt conseguiu arrancar algum sorriso dela.

Beatrice pegou o Fagotti e cima da mesa de jantar e acompanhou Wirt até a porta de saída, seguidos do silêncio constrangedor que se formava entre eles.

— Ah, antes que eu me esqueça. - Wirt tirou seu casaco e o dobrou, depois entregou para Beatrice.

— O que é isso? - Perguntou ela.

— Você disse que queria uma lembrança minha. Pois bem, eis ela aqui. - Disse ele tentando anima-la. Ela pegou o casaco dele em suas mãos.

— Eu adorei. - Respondeu ela.

Sem saber muito como reagir ao momento, Wirt deu sua mão para ela apertar. Beatrice segurou com força a mão de Wirt.

— Sentirei sua falta, Wirt. - Disse ela deixando algumas lágrimas cair, Wirt então passou sua outra mão pela cintura de Beatrice e a abraço com força, enquanto as lágrimas dela caíam sobre o ombro do rapaz.

O abraço de ambos foi duradouro, quando finalmente se soltaram, Beatrice rapidamente plantou seus lábios na boca de Wirt, que surpreso, retribuiu o beijo. Eles finalmente se separaram quando sentiram algumas gotas de água caírem sobre o corpo, a chuva de aproximava e ameaçava a caminhada de Wirt.

— Até a próxima, minha doce passarinha. - Disse Wirt ainda com os olhos fechados.

— Eu estarei esperando, garoto perdido.

Com um sorriso, Wirt deixou Beatrice para trás, enquanto ela acenava de longe. Ele atravessou o rio enquanto carregava consigo a rosa que a jovem garota havia lhe dado.

Quando finalmente ele tomou distância do velho moinho, a chuva aumentou seu peso e começou a cair torrencialmente, ele experimentou seguir a margem do rio para voltar pelo mesmo lugar que entrou. Porém seus planos foram atrapalhados por uma poça de lama que o fez escorregar e cair sobre o rio. Sem forças para levantar, Wirt deixou-se levar pelas águas do riacho, que entravam nos seus pulmões, "Acabou" pensou ele, ele perderia seu futuro tanto com Beatrice quanto com qualquer outra pessoa.

— Sua visão novamente foi tomada pela escuridão inconsciente, ele já não conseguia mais ver ou ouvir nada ao seu redor. Depois de alguns segundos, Wirt sentiu uma mão tocando seu peito, depois ele sentiu essa mesma mão o puxando para a superfície. Finalmente sua visão voltou ao normal e ele conseguiu ver alguns feixes de luz no horizonte, enquanto via uma parede de tijolos no alto de um morro. Era o muro do cemitério.

Sem reação, ele foi posto de bruços enquanto vomitava a água dos seus pulmões. A escuridão da noite era iluminada pela lua, mostrando que Wirt passou muitos minutos submerso.

— Você está bem? - Perguntou uma voz feminina ao lado de Wirt.

— Sim, eu... - Wirt tossiu - Eu estou bem, só fiz uma pequena loucura. - Disse ele tirando a água do rosto.

— Wirt? Por que você estava na água esse tempo todo? - Perguntou em tom preocupado a garota.

— Na realidade eu... - Wirt se virou para ela e viu os cabelos escuros de Sara que havia o resgatado.

— Sara? O que está fazendo aqui? - Perguntou ele um tanto chocado.

— Eu fui ao parque procurar você, como não estava lá eu voltei pra casa e vi você contornando o cemitério, eu não queria parecer intrometida nem nada, mas como você não voltou, fiquei preocupada. - Disse ela preocupada. - Por que você fez isso?

Wirt ficou envergonhado em ter se afogado de forma a toa, realmente não havia motivos pra tentar se afogar apenas pra visitar o desconhecido, mas ele também sentia que valeu a pena.

— Isso não importa agora. Mas por que você não foi ao parque na hora do encontro. - Disse ele corando.

— Me desculpe, eu nunca pensei que faria isso no nosso primeiro encontro. - Disse Sara, provavelmente ela estava com problemas maiores que o dele.

— Está tudo bem. - Disse ele enquanto falava pausadamente pra respirar.

— Escuta, quem sabe nós ainda possamos ter o encontro. - Disse ela.

— O que? Mas já está escuro. - Disse Wirt preocupado.

Sara colocou o seu braço esquerdo pelo corpo de Wirt e o levantou.

— Eu não disse que seria no parque, vamos para sua casa. - Disse Sara com um sorriso estimulante.

Wirt assentiu enquanto ela o ajudava a subir o morro em direção à parte de trás do cemitério. Enquanto subia, Wirt pensava em como conseguiu voltar para o Desconhecido, convenceu-se de que o desconhecido era nada mais que um sonho que tinha uma estranha relação com o lago, e que nenhuma pessoa que ele encontrou no desconhecido era real, muito menos Beatriz.

— Eu pensei que você estivesse usando um casaco. - Disse Sara.

— Sim eu... - Wirt lembrou de ter deixado seu casaco com Beatrice, ele ainda conseguia sentir a pressão deixada pelos lábios dela em sua boca.

"O desconhecido é real?" Pensou relutantemente Wirt, ele ficou preso em meio à pensamentos aleatórios e confusos. Ele estava a ponto de surtar quando viu a rosa de Beatrice presa com seus espinhos na calça dele. No mesmo momento ele tranquilizou-se. Pegou a rosa com alguns espinhos e olhou para ela.

— Você realmente me ajudou Beatrice. - Disse ele voltando seu olhar para Sara com a flor em suas mãos. Enquanto ambos saíam das margens do desconhecido.


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Notas finais do capítulo

Bom, eu atualizei a história e corrigi alguns erros, agora está bem melhor.



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