"The day after"
We're Going Back Home
Capítulo 4
POV Lost

Tá. Pra começar,que escolha. Maravilha,não acha? O garoto-schwein ia dividir o quarto comigo. E a mesa da escola. Maravilha mesmo. Adorável. Sabe,vocês deviam decorar o nome dele. Eu digo por experiência própria,ele vai grudar em mim feito um carrapato.
Um garoto-carrapato?
Eca.
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–Bom dia. Todos sentados,súbito.
Quando a professora dizia súbito,era melhor obedecer. "Lost,vem cá,súbito" ou "Classe,súbito,organizem a sala."
Era melhor obedecer,eu garanto.
–Classe,hoje o trabalho eh escrever uma carta pra alguém. Morto,vivo,família,amigo,qualquer um. Só digam o que querem dizer.
–Mas...-Alguém disse do fundo.
–O que?
–Como exatamente vamos mandar a carta?
–Não vamos.
–Ah. -Eu ouvi a turma dizer o mesmo.
–Agora,súbito.
A Srta. Allen era bem...Diferente. Mas era melhor obedecer.
Comecei minha carta.
E apaguei.
Então depois de tentar mil vezes,fiz algo mais fácil.
Acabou assim:
Cara Alice,
Porque você saiu do país das maravilhas?
Porque?
Eu não entendo.
Você estava procurando sua casa. Você está tão perdida quanto eu.
Mas o país das maravilhas eh sua casa,Alice!
Alice,acorde Alice!
Porque você deixou à todos?
Agora já eh tarde Alice.
Não tem Peter Pan,Coelho branco ou ciclone pra te levar de volta pra algum lugar real.
Agora você se perdeu pra sempre.
Com amor,Eu.
Entreguei a carta pra professora.
–vá sentar agora.
Então eu sentei.
–Senhor,o que pensa que está fazendo?
Virei a cabeça atrás da pessoa que tinha se ferrado,e que surpresa. Era o garoto-avestruz.
–Acredito que não queira fazer um seminário sobre a justei das cartas pra nós,não eh?
–Não,srta. Allen.
–Bom. Agora reescreva essa carta. Súbito.
Ouvi papel ser rasgado,e ele começou uma carta nova.
Virei e voltei a desenhar na minha própria mão com caneta preta. Até sentir uma bolinha de papel bater na minha cabeça.
Se eu não comecei a chorar,foi porque prometi não chorar mais.
Me virei e peguei a bolinha. Procurei o dono dela,e Hungry olhava pra mim.
–Abre. -Ele disse sem realmente produzir som.
–Tudo bem. Eh só ficar calma. Eh um bilhete,não uma provocação.
Abri o papel, e li o que estava escrito.
Não,comi ele. Às vezes eu sou tão óbvia. Nossa.
Cara Esquisitona,
Olha. Você eh ainda eh uma Esquisitona.
Sabe disso. Não eh?
Sabe jogar futebol?
Vamos ver.
Seu,Hungry
Imbecil. Essa foi a carta que ele precisou reescrever. Idiota. Claro que eu não sei jogar futebol. Mas eu não vou recusar.
⭐️⭐️⭐️
–Olha! A garota estranha veio jogar mesmo.
Apareci no campo em que o estupido e alguns garotos jogavam.
Haviam garotas também,e elas sorriram pra mim.
Me dirigi ao gol,porque eu não fazia ideia de como jogar aquela porcaria.
"E você se diz brasileira?"
Pois eh,pois eh.
Fiquei lá,esperando.
Ele me odeia. Só pode.
Ele
Insistia em jogar a bola direto na minha cara,mas eu sempre bloqueava. Até agora,meu time estava ganhando.
Agora,eles tinham decidido encerrar o jogo. Todos estavam saindo,e eu parei pra descansar,ainda no meio do gol.
Só consegui ver a bola vindo,e eu desviei no estilo Matrix.
A porcaria da bola bateu no meu ouvido,mas só foi isso.
–Qual seu problema?
–VOCÊ,ESQUISITONA!
Olha,eu não brigo com ninguém. Sério mesmo. Eu sou uma magricela,não poderia bater em ninguém. Odeio violência. Mas se eu ficar com raiva...Foge.
Avancei e meti o punho na cara dele.
Ele se abaixou,e eu acertei um chute nele,fazendo-o cair.
Subi nele,e comecei a estapea-lo.
Mas ele nem reagiu. Só tentou segurar meus braços,mas só.
Me perguntei por que,mas entendi que era por que eu era uma garota,e ele não ia bater numa menina.
Isso me fez parar de bater nele,e cair do lado.
Ele levantou,e sorriu pra mim.
–Você eh boa dando uma surra em meninos.
–E você não eh um covarde.
–Esquisitona.
–Estupido.
–Trégua?
–Trégua.
Ele levantou, com um olho roxo e cortes no rosto.
Me ofereceu a mão,e eu aceitei.
–Desculpe. Eu vou com você até a enfermaria.
–Tá bem.
Ficamos em silêncio.
A enfermeira enlouqueceu.
–O que diabos aconteceu aqui?
Fiquei com medo. Ele ia dizer,e se vingar. Que droga.
–Eu cai de cara no chão.
–Mas como?
–Tropeçando.
–Mas...
–Senhora,eu sei que soa ridículo,mas eh a verdade. Estou até com vergonha,mas eu cai de cara no chão e ela-Nessa hora ele apontou pra mim.-Me viu caído e me ajudou.
A essa altura,minha boca formava um "O".
–Eh. Eh verdade. Ele meio tonto sabe,acho que ele tem algum problema no cérebro ou...
Ele pigarreou.
–Enfim,ele caiu.
–Bem...Então acho que podem sair.
Depois que ele estava com band-aids e curativos,saímos da enfermaria.
–Obrigada.
–De nada. Nada melhor que uma mentira pra selar uma trégua,não acha?
–Eh. Com certeza.
Saímos andando.
Sabe,em um livro especial,eu li que uma bolada de neve na cara era a melhor coisa pra iniciar uma amizade.
–Mas uma surra também pode entrar pra lista.
–O que?
–Nada.
–Você eh estranha.
–Obrigada.
⭐️⭐️⭐️
Tudo bem. Nota mental.
Colegas de quarto:
–Sad
–Lonely
–Hungry
E eu. Lost.
Soa como um grupo de suicidas.
Sad eh uma garota da minha idade. Cabelos lisos ,castanhos claros. Ou loiros? Eh não faço a menor ideia. Olhos castanhos cor de chocolate.
Lonely era um garoto que também tinha minha idade. Olhos azuis gelo,branquelo como eu. Cabelos castanhos avermelhados.
Eu precisava de apelidos pra esses desajustados.
–Sabe,então vou te chamar de Ely.
–Ely?
–Eh. Lon"Ely".
–Ah. Essa foi inteligente. Bate aqui.
Ri e demos um High-five.
–E eu?-Sad perguntou.
–Não acho que tenha um apelido possível pra Sad.
–Eh. Concordo.
–Eu não quero ser indelicado,mas eu entendo meu nome e o da Sad.
Eu era solitário,e ela triste. O Hungry estava com fome. Mas como assim perdida? Você se perdeu e...?
–Se eu morri depois de me perder? Olha,pode até ser. Mas eu não sei. Eu acho que eu me sentia perdida.
–Ah. Sinto muito.
–Não precisa. Eu estava perdida,mas você estava solitario. Eh um saco,não eh?
–Totalmente.
–Sabe,nós precisamos de terapia.
–Também acho,Sad.
–Oi.-Hungry entrou do nada.
–Olha! Tai,o apelido perfeito pra ele. Estupido. Quem sabe imbecil.
–Há há. Engraçadinha.
–Tá. Pode ser Gry.
–Gry?
–Eh. Hun"Gry"
–Mas não se pronuncia assim.
–Quem liga? Vai ficar assim mesmo. Se você não se importar. Mas se você se importar com isso,eu vou te chamar do mesmo jeito.
–Eu já esperava isso. Pensei que fossemos amigos agora.
–Eh. Coisa do tipo. Eu trato meus amigos assim.
–Trata mesmo. Ely disse.
–Hey,você eh o garoto que jogou no meu time,não eh?
–tentei. Eu sou uma droga no futebol.
–Tudo bem. Eu também sou.
Eles riram,e eu já fiquei pensando "Aí não. Bromance. Saco."
Ele sentou do meu lado na cama.
–Tem algum beliche vago?
–Não. Foi mal cara. Sad está no de baixo,eu estou com o de cima.
–Ah não. Eu vou ter que...
–Dividir meu beliche com você? -Eu completei.
–O DE BAIXO EH MEU!-Dissemos ao mesmo tempo.
–Ah não. Não mesmo. Sai daqui,peste!
–QUE? Nem vem. Eh meu!
Sabemos quem ganhou.
Eu.
–Boa noite.
–Humpf.
Dei uma risada de puro deboche e adormeci bem devagar.