Os últimos raios de sol iam desaparecendo aos poucos por trás dos montes, um espetáculo que eu adorava sempre ver da janela do meu quarto. Olhei o meu relógio – 9 horas. Alisei os meus longos cabelos castanho-claros, ajeitei a minha camisola rosa-choque e a minha saia azul. Calcei os sapatos azuis, no momento certo. Os grandes portões da mansão onde vivo abriram-se para o meu pai entrar na sua carroça, junto com o seu fiel criado – Daniel. Sim vivo, numa mansão, tenho criados ao meu dispor e a minha família é rica. Isso tudo é devido ao meu pai, um dos conselheiros do rei de Ales e também um dos melhores Enchants do continente do raio. (Os enchants são aqueles que falam palavras da língua antiga para criar encantamentos). Eu também sou uma enchant, mas nada comparada ao meu pai. De facto ainda estava em formação.
Olhei de novo para o grande jardim, e para o meu pai, Como esperava ele continuava com aquela cara preocupada, tinha estado assim já há duas semanas. Mas hoje estava diferente, estava apreensivo e… com medo?! O meu pai, Herman, com medo! A preocupação invadiu-me o coração, o que poderia assustar o meu pai?
Os meus pensamentos foram interrompidos por um berro de uma criada a chamar-me. Sem pensar duas vezes saí a correr do meu quarto, e continuando assim pelas escadas abaixo, assustando a pobre criada:
–Minha senhora, os seus pais estão há sua espera no escritório do senhor seu pai.
Agradeci á empregada e fui direta para o escritório, não sem dar um sorriso por me sentir mais velha quando a criada se dirigia a mim. Tenho apenas 16 anos, mas aquela criada tratava-me como uma senhora, e eu gostava disso.
Voltei a pensar na razão para me terem chamado ao escritório, alguma coisa tinha acontecido isso era certo!
Estava eu a pensar nisso quando abri a porta do escritório, a minha mãe e o meu pai encontravam-se ao pé da mesinha e o criado Daniel encostado a um canto. Fui logo recebida por um abraço apertado da minha mãe, as suas lágrimas caíram em cima da minha testa, prontos já não consegui evitar e perguntei:
– Alguém me pode explicar o que se passa?
A minha mãe afastou-se, enxugou as lágrimas e desviou-se para que o meu pai se aproxima-se. Fitou-me nos olhos e eu fiz o mesmo. Nunca o tinha visto tão abatido, aqueles olhos azuis tinham perdido toda a felicidade A cor dos olhos eram a única coisa que tinha herdado do meu pai, o resto era igualzinha á minha mãe.
–Ouve tenho uma coisa para te dizer, mas tens de ser forte, está bem?
Acenei afirmativamente com a cabeça, perguntando-me o que raio se passaria.
–Há algum tempo, numa das minhas pesquisas, encontrei um objeto raro, sem valor que se possa atribuir. Era, nada mais, nada menos, do que o colar de Light, o herói de Harley!
Pasmei sem saber o que dizer, o colar de Light?! Uma das sete partes da armadura mais poderosa de Harley?! A armadura usada pelo bravo guerreiro Light para derrotar os demónios que invadiram Harley?! Não podia acreditar! Em todas as lendas cada uma das partes tinha um poder incrível, e era necessário muito poder para conseguir controlar uma, então controlá-las todas era praticamente impossível! O facto de o meu pai ter encontrado o colar também a surpreendia, já que após derrotar os demónios, Light separou as partes da armadura e escondeu-as em lugares, para nunca ninguém as encontrar! Fiquei sem saber o que dizer, mas o meu pai falou de novo:
–Bom, eu tentei manter isso em segredo, mas parece que uma organização das trevas chamada “Dark Rises” está atrás das partes da armadura, e neste preciso momento eles estão se a dirigir para aqui, com o intuito de tirar o colar.
O horror atravessou o meu rosto, nunca tinha ouvido falar de tal organização, mas a expressão de medo que o meu pai tinha, fez-me perceber que deviam ser bastante poderosos. O meu pai suspirou, e deu a volta, indo direto a uma das prateleiras secretas da secretária, tirou de lá uma caixa e voltou na minha direção. Abriu, e quase que desmaiei, era realmente o colar! Olhei para o meu pai, e perguntei:
–Porque me o estás a mostrar?
–Eu quero que tu fujas por uma passagem secreta, que a tua mãe te vai mostrar, e que sigas até á casa de uns amigos nossos, eles saberão o que fazer. E quero também que leves o colar contigo.
–Mas vocês não vão fugir comigo? – Perguntei com medo.
–Não filha, eu preciso de ficar, para os atrasar, e a tua mãe decidiu ficar comigo até ao fim.
–Mas… - Ia tentar convence-lo, mas o meu pai abanou a cabeça.
–Tu tens que fugir, tens que ficar a salvo, e já agora… - O meu pai aproximou-se de mim com o colar nas mãos e colocou-mo, estava á espera que ele me rejeita-se, mas não. Senti o meu corpo a abanar, e a minha força a fluir, o meu pai sorriu.
–Como eu estava a pensar, és a dona certa para ele.
Tentei falar alguma coisa, mas era muito para a minha cabeça raciocinar, ia a pensar no que dizer, quando recebi um forte abraço do meu pai.
–Vive, Alice. Luta até ao fim e faz a tua família orgulhosa!
Senti lágrimas a cair na minha testa, queria dizer alguma coisa, mas fomos interrompidos por um guarda.
–ELES CHEGARAM!
O meu pai mudou a posição e deu uma ordem:
–Preparem as linhas de defesa, aguentem o máximo que puderem! – Deu-me um sorriso e logo a seguir o meu braço foi puxado pela minha mãe, não me lembro que caminho tomámos, estava absorta nos meus pensamentos, que acabaram por ser interrompidos por várias explosões, senti o chão a tremer, mas a minha mãe não parou por um segundo, chegámos a uma porta minúscula, a minha mãe abriu e deu-me um forte abraço. Queria- lhe dizer alguma coisa mas ela foi primeiro.
–Até mais, Alice…
A porta fechou-se com um rangido e a escuridão envolveu-me, só tinha um único caminho que eu segui a correr, foi então que chorei, como há muito tempo não chorava!