Cocei a barba, pensativo. Na última noite a sua neta e os dois jovens tinham sido atacados por Irene. Se eu não me tivesse mostrado para ela, de certeza que não se iria embora. Isso foi o que eu pensei nessa noite. Refletindo agora acabei de me aperceber de outra probabilidade: e se ela estivesse apenas a vigiá-los? Afinal David derrotou Tego, e aposto que eles querem saber mais acerca de David, seria melhor tê-lo debaixo de olho.
Mas este pensamento levou a outro. A DR sabia que apenas eu, a minha neta e a mulher do meu filho sabíamos onde se encontrava a espada de Light. E se estivessem á espera de os seguir? Este pensamento ecoou na minha cabeça. Enviá-los até ao local podia ser o fim de tudo. A DR matá-los-ia e ficaria com a espada. Tremi a cabeça aos pés, a situação era muito arriscada!
Os meus pensamentos foram interrompidos pela minha lácrima de comunicação. Alguém queria comunicar comigo. Cliquei no centro da lácrima e a imagem de Dina apareceu:
–Dominous! Estou feliz em te ver!
–Também eu Dina! Mas chamares-me assim. De certeza que tens um motivo.
Ela deu um longo sorriso e acenou afirmativamente:
–Alice e David já chegaram?
–Sim. E aqueles dois têm demasiado azar! Mal chegaram foram atacados por Irene!
Dina mostrou-se pensativa, mas não surpreendida. Um silêncio pairou pelo ar. Dina prosseguiu:
–Por isso temos de ser rápidos! Tens que lhes dar a localização da espada!
–Também já pensei nisso. Mas eu acho que é precisamente isso que a DR quer. Enviá-los seria uma missão suicida e tudo iria por água abaixo!
–É verdade. Mas tens que te lembrar de outros três rapazes que já se começaram a movimentar
Eu sabia bem quem eram: Herman, Keita e Albert.
–Como podes ter tanta certeza?
–Porque os conheço de trás para a frente! Herman, neste momento, já deve estar com Keita e devem já estar a vigiar o David e a Alice. E o Albert Bom nunca se sabe o que vai naquela cabeça, mas pelo que eu conheço, aparecerá no momento certo, já com tudo resolvido!
Cocei a barba outra vez. Sim era verdade. Mas ainda assim
–Dominous, a DR já começou a agir! Cada segundo conta! E se eles não forem até á espada, então para onde os mandarás?
Encolhi os braços derrotado. Sim, não havia sítio seguro para eles:
–Prontos! Eu vou dar-lhes a localização!
A Dina abriu um largo sorriso:
–Sabia que ias dizer isso!
E depois a comunicação acabou. A imagem de Dina desapareceu. Encostei-me na cadeira e passei a mão pela cara. Tinha de ser! Mandei chamar David e Alice. Encostei os cotovelos na mesa, Lydia também deveria ser chamada. Voltei a repetir, desta vez com o nome de Lydia junto. Não demorou muito para os três chegarem. Fiz um gesto para as três cadeiras, e eles sentaram-se sem dizer nada. Um silêncio pairou por nós. Meditei um bocado por onde começar. Dei um suspiro e quebrei o silêncio:
– Lamento muito pelo que passaram esta noite. Parece que eles conseguiram ser mais espertos que nós.
–Não se precisa de preocupar com isso! – Disse Alice.
–Preciso sim! Eu ainda não consegui digerir o facto de jovens andarem no meio de uma guerra que poderá indicar o destino de Harley!
Eles nada disseram. Apenas pelas caras deles consegui perceber que tinham inúmeras perguntas. Decidi quebrar o gelo.
–Bom, mas isto eu já não posso mudar. Mas posso fazer-vos um favor. Respondo a qualquer pergunta que me colocarem!
Para minha surpresa quem se chegou á frente foi Alice:
–Então vou fazer a pergunta que não me sai da cabeça. Qual é o objetivo da DR?
Encostei-me na cadeira e fechei os olhos. Estava á espera dessa pergunta. Abri os olhos, inspirei e expirei, e decidi contar tudo de uma vez:
–Como devem saber Light usou a sua poderosa armadura para derrotar o seu irmão Dark que comandava um grupo de demónios. O que vocês não devem saber é que Dark também tinha uma armadura igual á de Light
Silêncio profundo. Tal como previra. Tinha sido apagado da história contos sobre a armadura de Dark, com medo que alguém a encontrasse e usasse para fins cruéis. Alice gaguejou:
–Ou seja
–As partes da armadura das trevas que vocês vistes a ser usadas pela DR são de facto armaduras com igual poder de Light, e não foram criadas por Adrian. Ele é que as encontrou por causa do capacete de Light.
Alice e Lydia ficaram sem uma palavra. David disse, descontraído:
–Isso já era mais que fácil de adivinhar, o poder daquelas partes da armadura era demasiado para ser criado por mãos humanas. Vá direto ao ponto!
Observei-o de lado, aquele rapaz era melhor do que parecia. Isso era bom para a tarefa que tinha pela frente. Decidi contar de uma vez o objetivo da DR:
–O que Adrian quer é juntar a armadura de Light com a de Dark para criar a armadura suprema!
Observei as caras deles. Alice e Lydia bloquearam totalmente sem saber o que dizer. David cerrou o punho:
–Então isto tudo é apenas para ter poder?! – Bateu com o punho na parede – Isso dá-me nojo!
Olhei-o de alto a baixo. Tudo nele me lembrava o Edward. Suspirei e decidi contar a verdade a David, sobre as suas origens e o seu destino. Tossi e comecei:
–Ouve, David. Tenho uma coisa para te contar - Fiz uma pausa e inspirei o ar á minha volta – Tu e a Lydia são primos
Os olhos de cada um iam saltando das órbitas. David começou a balbuciar:
–Masentão
–Eu sou o teu tio-avô. A minha irmã teve dois filhos Adrian e Albert
Não foi necessário continuar. David manteve a boca aberta e Lydia abaixou a cabeça. Alice olhava especada para os dois sem saber o que dizer. Um silêncio pesado abateu-se na sala. Meditei sobre o que eu ia a dizer, pois isso iris afetá-los profundamente. Ganhei forças e desabafei:
–Bom, mas o pior ainda está para vir. A nossa família tem protegido a gruta sagrada há anos, quem se encontra a guardá-la agora é a mãe da Lydia, é uma grande responsabilidade! E para a proteger é necessário que duas pessoas, do mesmo sangue, se juntem para dar origem a um filho e uma filha. E eles devem casar entre si e assim por diante. Bom e foi isso que aconteceu. Como era o único homem da família casei com uma das minhas irmãs e tivemos Edward e Wendy. Eles casaram-se e tiveram Lydia. Mas o problema começa aqui. Edward morreu sem deixar um filho, e a linhagem tem de continuar Lamento dizer, mas o parente mais próximo és tu David. Tu e a Lydia estais destinados a ficar juntos
Silêncio mortal. A boca de Lydia escancarou-se, David imobilizou-se e Alice tremeu da cabeça aos pés (uma atitude estranha já que não tinha nada a ver com isto). David bateu outra vez com o punho na parede:
–Mas, você não pode forçar duas pessoas a casar contra a sua vontade
–Lamento te dizer David, mas o teu destino está traçado, é assim que deve ser e é assim que será!
Os três jovens estremeceram. Tinha sido duro de mais. Acalmei um pouco a voz:
–Quando era jovem apaixonei-me por uma rapariga. Passamos grandes momentos juntos. Éramos felizes Mas os deuses foram contra isso. E então num dia de tempestade, vi-a a cair de um penhasco. Tentei salvá-la mas foi em vão David, se prezas a vida daqueles que amas, entrega-te ao destino que os deuses confiaram em ti.
David cerrou os punhos, mas acabou por se render:
–Tudo bem. Assim farei
Lydia e Alice olharam-no com pena nos olhos. Levantei-me:
–Bom, as explicações estão dadas. Agora, a Lydia levar-vos-á até á gruta onde está a espada. Isso também é bom para que vocês se juntem. Ah! Tenho um presente para vocês!
Fui buscar uma caixa que tinha debaixo da mesa. Abri-a e entreguei-lhes o que estava dentro. Três mantos, com o símbolo de um anjo atrás. Para David o vermelho, para a Alice o azul e para Lydia o verde.
–Assim pensarão que sois simples peregrinos. E prontos, irei mandar preparar todas as vossas coisas, partireis logo depois do almoço.
Os jovens saíram sem dizer uma palavra. Encostei-me novamente na cadeira. Fechei os olhos e rezei pela sorte deles. Rezar. Era a única coisa que conseguia fazer. Como me tinha tornado inútil!

∞

Os passos de Tego ressoaram pelo esconderijo de Dark. As feridas tinham começado a sarar e a formar cicatrizes. Cerrou o punho pensando apenas na sua vingança contra David. A escadaria ergueu-se á sua frente. No topo estava uma cadeira negra como as trevas. E sentado nela estava Dark. Tego ajoelhou-se dizendo-se arrependido.
–Não há agora nada a fazer Tego. – A voz de Dark ressoou entre as paredes. – Desapontaste-me. Bom, Irene tem me feito teu suposto trabalho. Não precisas de fazer nada. No entanto, vou te punir! Estás pronto para passar pelo treino para seres mais forte?
Estalou os dedos. Braços apareceram vindos de uma porta, arrastando Tego com isso. Este gritou e espernou, pedindo misericórdia. De nada serviu. A porta fechou-se.
Dark suspirou e uma sombra atrás de si falou:
–Bem, não se pode ter tudo
–Não te preocupes, Caim. Isto foi apenas o começo. Mas, estou bastante interessado neste David. Acho que o potencial dele esta muito além das nossas expectativas. Teremos de ter cuidado
–Oh! O incrível Dark, está com medo do sobrinho?
–Caim, eu não sou assim tão medroso. Eu disse-te que te iria mostrar um mundo perfeito, onde toda a gente dirá o meu nome com medo nos olhos! Ahahahahaha! Prepara-te, o melhor ainda está por vir!