Minha vontade nesse momento é dá meia volta e ir para casa, mas o agarre de Ian na minha cintura me impede de minha fuga.

O lugar estava cheio. Cheio de alunos da SM. Então eu entendi, o porquê de toda essa insistência, ele queria que as pessoas nos vissem juntos. Essa era a nossa primeira vez como um casal, já que passei o dia como faxineira do colégio. Todos se viraram para nos ver, como se fossemos um casal importante e isso estava me deixando desconfortável. Vi uma loira acenando para nós e achei estranho ela está nesse lugar. Monique não era de se enturmar com os alunos da SM, ela nem gostava de almoçar no refeitório.

Ela estava sozinha, em uma mesa perto da janela, com um pequeno sofá acolchoado ao redor e pela primeira vez reparei no lugar, o “Guloses” se parecia com aquelas lanchonetes antigas, mas bem confortáveis, haviam discos e pôsteres espalhados por todo lugar fazendo referência aos anos 80, mas o que me chamou atenção foi a lambreta no meio da lanchonete. Realmente deu um toque de especial no ambiente.

Eu nunca havia ido ao “Guloses”, ele ficava numa parte da cidade, longe da minha casa, mas sua fama era grande. Ian me agarrou mais pela cintura, ignorando as pessoas que nos fitavam e me guiou até onde Monique estava, nos sentamos com o olhar curioso de uma Monique muito sorridente.

— Lise, não sabia que você vinha.

— E eu não sabia que você participava dos encontros dos alunos da SM. – sorri tentando não corar com os diversos olhares nada sutis das garotas para mim.

Porque uma coisa era certa, esse era o ponto de encontro deles.

Ver Monique me lembrou de nossa conversa mau-acabada, mas que devia ficar para outra hora por causa de Ian. Eu não queria que ele soubesse o que sei sobre ele. O pouco que sei pelo menos.

— Eu e a Monique já vínhamos aqui muito antes da SM invadir esse lugar, temos muito mais direitos do que eles. – se intrometeu Ian.

— Tudo bem, não me importa quem chegou primeiro, se foi o ovo ou a galinha, só quero comer e ir embora. – respondi mau humorada. Minha mente não deixava de pensar na minha mãe, ainda mais quando eu ainda estava de castigo.

— Tudo bem.

Ian chamou um garçom e fez os pedidos. Para mim uma fatia de bolo com frutas vermelhas, para Monique um suflê com calda de caramelo e Ian quis um bom e velho Milk-shake. Ao que tudo indica, no local só vendia doce e eu não reclamei quando minha torta chegou, estava uma delícia.

— Então, o que perdi na aula?

— Nada demais. – respondeu Ian. – O professor Erico continua no meu pé. Não sei o que faço para me livrar dele. Saco! – resmungou.

— Você já pensou em se comportar na aula dele e parar de fugir?

Ele me olha como se tivesse nascido chifres na minha cabeça. Monique rir.

— Aprenda Lise. Não existe isso de se comportar. Um aluno marcado pelo professor, é sempre um aluno marcado pelo professor.

Dei de ombros não me importando e comendo minha torta. Se ele parasse de se meter em confusão não estaria nessa situação.

— Cá entre nos, o professor Erico e a professora Gertrudes têm algum relacionamento amoroso? – perguntei curiosa, me lembrando da intimidade dos dois quando fiz minhas provas de admissão.

— Bom... se tem não sabemos, mas se assim for professora Gertrudes vem sendo uma bela de uma vaca. – comentou Monique.

— Por quê? – agora eu estava bem curiosa.

— Ela e o treinador Markes tem um caso de quase dois anos.

Eu ainda não havia tido a oportunidade de conhecer o treinador Markes, mas pelo que ouvi nos corredores o homem era foda. Palavras dos alunos da SM.

— Bom, não posso afirmar, mas que a atitude deles era suspeita era.

Olhei para Ian que estava bem pensativo.

— O que foi Ian? – perguntou Monique.

— Nada de mais. – disse com um largo sorriso. – Acho que descobri como me livrar do professor Erico.

— Certo sabichão e como você pretende fazer isso? - perguntei.

— Simples. – ele me olhou e sorriu. – Chantagem.

Arregalei os olhos. Ele não seria capaz. Ou seria? 

— Esqueça ele Lise, Ian é bem idiota as vezes, ele só está tirando sarro com a sua cara, ele não vai fazer nada. – mas as palavras de Monique não me confortaram. Eu queria perguntar se ele estava falando serio, mas Monique tratou de mudar o rumo da conversa. - Você e a Cassandra conseguiram limpar todo o ginásio?

— Falando no demônio. – murmurou Ian quando Cassandra entrou no lugar com roupas limpas e cabelo lavado, assim que nos viu se aproximou e se sentou em nossa mesa, mas precisamente ao meu lado, me abraçando como se fossemos velhas amigas. Todos pararam para olhar a cena.

— Lise. – exclamou me apertando, quase me sufocando.

Mas o que mais me intrigou foram as palavras de Ian e seu olhar de ódio. Eu não sabia qual era a relação de Ian com Cassandra? Por que se ele já gostou dela algum dia para namorá-la, hoje ele só faz odiá-la.