Era uma tarde chata. Era a tarde mais chata das tardes chatas,com certeza.

Por que estávamos nos mudando de novo? Que coisa. Mamãe não consegue ficar parada... e depois eu sou a hiperativa. Com os meus 6 anos,eu já não conseguia ficar parada sem quebrar alguma coisa.

Não que eu quisesse continuar lá em San Francisco. Não,eu também não gostava de lá.

As meninas me batiam na rua,quase todo dia. A minha babá,nunca acreditou em mim.

Mas era o problema. Lá,eu sabia exatamente quem me batia. A qui em Manhattan,eu teria que apanhar de desconhecidos.

Que coisa.

Enquanto eu brincava com minha boneca da princesa Leia,não reparei que mamãe parou o carro.

Mamãe é a pessoa mais bonita do mundo inteirinho. Ela é alta,bem alta. Ou eu que sou baixinha demais,não sei. Ela tem os cabelos loiros como os meus,mas eles não tem os enroladinhos nas pontas. Ela tem as bochechas mais de mamãe do mundo. E hoje,ela usava um vestido claro,que a deixava como uma princesa.

-Vai ficar tudo bem,meu amor. Você vai gostar daqui.

Era o que ela dizia o tempo todo antes de sairmos de casa. Da outra casa.

Mamãe desceu do carro e foi para o caminhãozão que veio com as nossas coisas,mas a minha atenção estava no menino do outro lado da rua.

Ele tinha os cabelos pretos,e era bem branco. Ele era magricela e engraçado. Usava uma camiseta da Vila Sésamo e um shorts preto. Ele segurava um boneco dos power rangers na mão,e tinha um cachorro enorme do seu lado.

Como que ele não comeu a mão do menino? Ele parecia com fome.

Tinha uma moça do lado dele também. Ela tinha os cabelos castanhos e os olhos fofos,e verdinhos. Eu sempre quis ter os olhos verdinhos.A moça bonita,segurava um negocio na mão. Parecia de comer.

Eu estava com fome. Desci do carro e fiquei com mamãe,enquanto eles se aproximavam.

Quando menino magricela levantou o rosto,eu vi os olhos verdes mais bonitos do mundo. Parecia aquela pedra que custa caro.

E ele sorriu um pouco e estendeu a mão,me chamando.

Naquele dia,eu achei o meu melhor amigo.

-Percy! – gritei. Que garoto irritante.Meu Deuso – Me devolve a minha boneca!

-Vem pegar! –ele gritou. – Ah é,você não consegue. É baixinha e bobona!

Estavamos na casa da tia Sally.Era uma tarde de sábado,e aquele menino era irritante. Muito. Só por que ele era um ano mais velho que eu , e alguns centímetros mais alto,ele pegava minhas bonecas e corria pelo jardim da casa,me fazendo correr atrás dele.

Menino boboca. Todos os meninos. Não gosto de meninos!

-Tia Sally!

-Tia Sally! –ele me imitou,fazendo careta – Bobona.

-Não me chama de bobona!

-Não me chama de bobona!

-Para de me imitar,Percy!

-Para de me imitar,Percy!

-Que coisa!

-Que coisa!

-Percy!

-Percy!

-Mamãe! – gritei com raiva – Mamãe eu quero ir embora.

Perto da piscina,mamãe e tia Sally conversavam. Só pararam porque gritei minha mãe como nunca antes. Eu gostava de Percy.Ele é meu único e melhor amigo,mas ele é irritante as vezes.Principalmente qua do ele pega as minhas coisas e me irrita. É como se ele conversasse com as meninas que não gostavam de mim em San Francisco e aprendia a me irritar como elas.

Eu queria minha casa. Em San Francisco.

-Annabeth! A mamãe tá conversando! – Atena me repreendeu. – Vamos lá,ele só está brincando,meu amor.

-Não! – gritei,assustando aos três – Não! Eu quero ir pra casa. Não essa casa aqui da frente,a nossa casa.

-Annie-

-A nossa casa,longe!

-Annabeth! – Atena me repreendeu,usando aquele tom de mamãe brava. – Essa é a nossa casa agora.

-Eu não gosto daqui!

-Annie-

-Não! –bati o pé –Eu quero a minha casa. Longe daqui. Eu quero minha casa! –gritei.

-Mas você mora aqui agora! – Atena gritou também. –Chega! Você quer voltar para San Francisco,meu amor? Lá? Você nem ao menos gostava de lá!

-É! – gritei,sentindo meus olhos arderem – Pelo menos lá –apontei para Percy –Ele não tava!

Tia Sally olhou para Percy,que abaixou a cabeça.Isso tia,briga com ele!

-Perseu - tia Sally disse – Você não gosta da Annie?

-Mamãe!

-Perseu – ela disse de novo –Gosta?

Percy olhou pra mim,meio revoltado,e eu tive que resistir ao impulso de mostrar a língua pra ele :

-Gosto.

- Então,meu amor –Tia Sally olhou para ele – Você não pode brincar assim. Assim magoa a sua amiga,e ela vai embora. Você quer que ela vá embora?

-Não –ele disse – Eu só tenho ela de amiga. –ele sussurrou.

-Então,meu amor –ela passou a mão nos cabelos de Percy,os deixando bagunçado. Ele ficava engraçado – Peça desculpas.

-Mas mamãe-

-Perseu – ela disse.

Percy olhou pra mim,e sorriu de lado. Eu odiava seu sorrisinho de lado. Nenhum menino sabia sorrir daquele jeito em San Francisco. Ele olhou pra mim com aqueles olhos verdinhos e pegou na minha mão esquerda.

-Desculpa,Annie. –ele se abaixou e beijou a minha mão – Assim,sempre nas historinhas da mamãe o mocinho beija a mão da mocinha.

-Eca,Percy! –eu ri – Sai.

-Você me desculpa? –ele sussurrou baixinho – Eu te dou uma bala.

-Duas!

-Fechado!

Era uma noite de quinta-feira. Percy estava na minha casa,porque a Tia Sally teve que ir para outro planeta à trabalho.

Ou algo assim.

Daqui há duas semanas é aniversário de Percy. Ele vai fazer treze anos,e eu tenho doze. E mesmo assim,ele continua fazendo gracinha sobre o meu tamanho e idade.

Ele é tão bobo. E é meu melhor amigo.

Estavamos na sala da minha casa.Mamãe fazia pipoca na cozinha enquanto eu e Percy assistíamos ao nosso filme favorito juntos : Toy Story.

- Percy? Perguntei,baixinho.

-Sim? –ele nem piscava enquanto olhava para a televisão.

-A Brenda me chamou pra uma festa na casa dela – disse baixinho – Festa do pijama.

Eu ainda tinha problemas de ... fazer amigos. Quero dizer,eu não tenho problemas nenhum,é só...bem,as pessoas não parecem gostar de mim. Além de Percy,eu não tinha amiga nenhuma,então eu fiquei surpresa quando a menina mais bonita da minha sala me chamou para uma festa na casa dela.

-Sério ? – ele nem me olhou –Que legal,Annie!

Certo...lá vai a bomba.

-Bem....é no dia do seu aniversário,sabe. –sussurrei.

Percy se virou no mesmo segundo. Os olhos brilhantes e o cabelo bagunçado. Ele estava usando aquele pijama azul de Doctor Who,que mamãe deu pra ele no ultimo aniversário dele.

-O que? –ele perguntou. – Você não vai ficar comigo?

Eu queria amigas. Para ter amigas,eu teria que sacrificar o dia mais especial do mundo do Percy.

Eu queria tanto ir.

-Eu...- peguei em sua mão,como ele sempre fazia quando ia se desculpar comigo –Eu queria muito ir,sabe...

-Mas –ele suspirou – Vai ter bolo. Muito bolo.

Os olhos verdinhos de Percy me encaravam.Eu queria tanto que ele viesse a festa do pijama comigo. Seria tão mais fácil se ele estivesse lá,comigo.

As meninas da minha sala achavam ele...fofo. Eca.

Apertei sua mão e sussurrei :

-Desculpe.

Percy soltou minha mão,e parecia bravo.Ele nunca ficava bravo comigo. As sobrancelhas dele ficavam juntinhas e as bochechas vermelhas.

-Tudo bem. – ele deu de ombros – Não importa.Vai ter mais bolo pra mim.

Naquele semana,Percy voltou pra casa dele e todas as vezes que eu ia até a casa da tia Sally pedir pra ele vir brincar no balanço comigo,ele não vinha. Eu sabia –e mamãe disse –que ele tinha ficado bravo comigo.

A gente passava o aniversário sempre junto,mas agora não dava pra deixar de ir à festa do pijama da Brenda.

Eu só esperava que ficasse tudo bem com meu melhor amigo. No final,sempre ficava.

Era o dia de aniversário de Percy.Ele deveria estar comendo todo o bolo de chocolate que eu via a tia Sally pegar na confeitaria. Talvez ele tenha chamado o menino da sala dele. Nico e Grover. Talvez a Thalia vá,já que ela ensinava matemática de vez em quando pra ele. Talvez o tio de Percy,Apolo vá. Ele me salvou uma vez que cai na piscina da casa dele.Era o tio mais legal da história dos tios.Talvez ele esteja comendo todos os enroladinhos de queijo sozinho,como sempre fazia nos aniversários. Ele só me dava um.

Será que ele vai guardar esse um pra mim?

-Vamos meninas,hora de dormir! – disse a Brenda.

A mãe dela tinha forrado nossos sacos de dormir na sala delas. Elas fizeram trancinhas nos cabelos uma da outra,mexeram nas maquiagens da mãe dela,pintaram as unhas uma da outra com esmalte rosa chock e brincavam de adoleta e essas coisas.

Era tão besta que eu fiquei de fora. Na verdade,nenhuma delas pareceu me notar.

Quero dizer...até irmos nos deitar. Era tarde,e a mãe dela subiu as escadas para dormir também. Brenda e as outras meninas ficaram conversando,até que eu não resisti e dormi.

Até acordar com uma delas passando a tesoura pelo meu cabelo,cortando-o até os meus ombros.Eu gritei.

Gritei alto. Eu chamei pela minha mãe,pela tia Sally e por Percy e nenhum deles veio.

Claro que não. Eles deviam estar comendo bolo.

A mãe de Brenda que veio. Ela brigou com a menina – Tânia – e depois de me dar um banho ( eu fiz xixi na calça. Muito xixi) – ela ligou para minha mãe. Metade do meu cabelo estava no ombro e a outra metade – que a Tânia não com seguiu cortar – estava na minhas costas.

Eu chorava muito. Chorava e chorava.

Por que ela cortou o meu cabelo? Por quê? Eu nem falei com ela,nunca falei nada com ela.

Por que me fazer tão mal assim?

Eu só tinha certeza de duas coisas : eu queria sumir daquele lugar e queria abraçar Percy. Eu nunca estive tão arrependida de não ter ficado em casa.

Quando o carro da minha mãe parou de frente para a casa de Brenda,eu corri.

Quando a porta de atrás abriu,eu chorei.

Quando Percy saiu da porta de trás,arregalou os olhos para mim e levou a mão direita ara frente do rosto,eu parei de correr.

Não era pra ele vir.Não era pra ele me ver assim.

Mamãe saiu do carro e logo depois ela,a tia Sally.As duas estavam com as bochechas vermelhas e os olhos também. Elas pareciam tristes.

-Meu amor – mamãe disse,vindo até mim – Meu amor.

Eu abracei minha mãe e funguei. Eu estava tão cansada de chorar. Eu queria ir pra casa,comer bolo e ficar com quem era meu amigo de verdade.

-Você tá bem,meu amor? – mamãe passou a mãos pelo meu cabelo – Seu cabelo...

-Não – sussurrei – Tem bolo em casa ainda? – perguntei.

-É claro que tem –ele disse. Ele tava ali,atrás da mamãe,com os cabelos bagunçados e os olhos verdinhos me fitando. Ele me olhou,e ficou vermelho. Depois,correu para dentro da casa da Brenda,atrás de alguma coisa e tia Sally foi atrás dele,também correndo.

Se eu conhecia Percy,eu sabia que ele ia acabar ficando de castigo.

-Ele ficou tão bravo,sabia? –mamãe disse,pegando a mochila das minhas costas – Todos ficamos.

-Eu não queria atrapalhar a festa dele –sussurrei chateada – É que-

-Não teve festa. –mamãe disse – Ele não queria festa sem você,meu amor. Agora,entre no carro,sim? Eu preciso falar com a Sra.Tanner e já vamos embora.Vou pedir para o Percy vir ficar com você.

Depois de me deixar no banco de trás do carro,mamãe entrou na casa e foi atrás da mãe de Brenda. Percy voltou sozinho,o rosto vermelho e os olhos tristes e chateados.Ele entrou no carro bravo,sentou-se ao meu lado e bateu a porta com raiva.

-Menino não bate em menina,blá blá blá – ele imitou alguém,fazendo-me rir. – Eu ia bater nela.Eu ia. Mas são tantas dela lá dentro,que eu nem sei qual que fez isso com você.

-Não precisa – sussurrei,enquanto olhava para as minhas meias – Tá..tá tudo bem.

-Não tá tudo bem –ele disse bravo – Ela cortou o seu cabelo. Seu cabelo de princesa,ela cortou.

-Vai crescer de novo –sussurrei quase sem voz. Comecei a sentir aquela coisa na garganta de novo e meus olhos arderem...eu não posso chorar.

- Eu deveria ter vindo com você –ele resmungou –Eu sabia. Tava sentindo aqui –ele colocou a mão do lado do coração – Que ia acontecer alguma coisa.

-Tá tudo bem.

-Para com isso –ele disse – Para. Não tá.

Suspirei e entrelacei meus dedos. Eu só queria abraçar ele,e mamãe. Ela tava demorando,eu queria ir pra casa,que coisa.Fechei os olhos e deixei a cabeça cair para frente,para que Percy não me visse chorando de novo. O meu cabelo sempre caía na frente do rosto assim....mas eu não tinha mais cabelo grande para que ele caísse ali.

Então,eu desabei. Eu chorei como nunca tinha chorado antes na frente do meu melhor amigo. Eu queria me desculpar por não ter ficado para o seu bolo,mas ele me abraçou e disse que ia ficar tudo bem.

Eu não me lembro de alguma situação em que Percy disse que ficaria tudo bem,e não ficou.

-Desculpe – sussurrei – Eu deveria ter ficado com você...você é meu amigo,só você – funguei e encostei minha cabeça em seu ombro,dando um jeito de olhar para aquele menino bobo – Eu amo você,Percy.

-Para de ser melosa – ele brincou,e passou a mão no meu cabelo – Eu sinto muito,Annie.

-Elas não gostam de mim – sussurrei de novo – Ninguém gosta.

-Eu gosto. –ele disse – Você é boa demais ,é por isso. Elas não gostam das pessoas que são boas demais.

-Você é péssimo em consolar –brinquei.

Percy ficou naquele tom de vermelho,que eu achava fofo. Só quando ele ficava assim,que eu o achava fofo.

-Agora a pergunta é... –ele brincou,fazendo-me cosquinha,agarrando minha mão – Você vai cortar o cabelo todo,ou vai ficar assim,hein?

-Besta!

Eu não consigo me lembrar de alguma situação em que ele não esteve comigo.Ele estava em tudo,ele era meu melhor amigo. Ele era carinhoso,era legal e me protegia. As vezes,me irritava.

A maior parte do tempo ele me irritava.

Até que eu comecei a perceber,que Percy,era o único.O único amigo que eu tive.

Quando tínhamos 15 e 16 anos,por exemplo... ele quem tirou minha historia em quadrinhos da mão da menina da escola. Ela ia rasgar.Quando o garoto do time de basquete me chamou para tomar um sorvete,ele ficou completamente transtornado. Ele não queria que eu fosse de modo algum..

- Necas,nunca,nop,never,no,negativo,na na ni na não – ele disse.

Eu disse... de modo algum.

-Mas... eu não estou te pedindo permissão,Percy – estávamos os dois no quarto dele,na casa da Tia Sally.Era sábado,e os sábados eram dedicados as séries. Faziamos maratona das nossas séries favoritas (e filmes). Comiamos besteiras,e ele sempre chamava o Nico,que trazia Thalia. Era divertido.

-Esse garoto,Bradley-

-Brandley – corrigi – É Brandley..

-Ele nem tem nome de gente,pra começo de conversa – resmungou – Eu acho...acho que você não deveria ir.

-Por que? –perguntei. – Ele não vai fazer mais que me pagar um sorvete.

-Eu tenho dez dólares na minha carteira – ele resmungou,levantando-se da cama e me puxando pela mão –Vamos,eu te pago um sorvete.

Ele continuava aquele garoto legal e gentil....só que agora,até mesmo eu via uma beleza nele. Os cabelos negros,continuavam os cabelos revoltos. Os olhos verdes eram os mais bonitos do mundo. Percy começou a ganhar corpo...ele ficava definido. Não definido...definido enorme e forte,mas..bonito. Ele começou a fazer corrida no parque,todas as manhãs.

E me arrastava com ele...

-Olha,eu juro que se você não me pagar aquele Muffin,eu te mato –resmunguei na parada para beber água. – Eu juro.

Você tá fedida e suada. Vai escorregar tentando me pegar –ele piscou.

Idiota. Menino idiota.

As nossas corridos começaram a ser acompanhadas por Thalia e Nico...e Rachel.Rachel fazia o colegial conosco,e era apaixonada por arte. Ela ficava no parque as vezes e começou a nos notar.

Principalmente à Percy. Ela se oferecia para pagar os nossos Muffins e a correr conosco..

Eu não achava ela uma garota chata ou algo do tipo. Mas...ela estava afim dele,isso era obvio.

-Você é tão lerdo –resmunguei. Era sábado de novo. Estavamos no quarto dele,escolhendo a série para hoje – Chuck?

-Lerdo? Por que? – ele resmungou pegando os travesseiros,e o lençol – Chuck de novo? Doctor Who.

-Isso mesmo –peguei a quarta temporada de Doctor Who – Cadê o dvd daqui?

-Ah é! – ele bateu na própria testa – Está com Rachel. Eu coloquei-os na caixa da primeira temporada.

Encarei os olhos verdes daquele menino idiota. Como que ele não percebia? Rachel estava ali,o tempo todo. Não literalmente , mas estava.

-O que foi? – ele perguntou,com aquele sorriso de lado imbecil e os olhos sarcásticos – Hein?

-Nada - resmunguei- Vamos ver o que então...? Você tem empestado tudo para a. .. hn,Rachel.

Percy jogou um dos travesseiros na minha cabeça e sorriu. Aquele idiota estava vestindo aquele moletom grosso como pijama,e se não fosse por suas meias de Toy Story,eu estaria jogada aos seus pés.

Mas ele tinha chulé e... éramos apenas amigos.

-Idiota !

-Deixa de ser ciumenta,anda. – ele pegou minha mão e me empurrou porta a fora – Vamos assistir filmes hoje.

Não era ciúme. Ela estava entre nós o tempo todo.

O tempo todo.

-E aquela vez em que o Percy chamou a Sra.Dodds de Adam Sandler? Só por causa da cabeça dela? Cabeça de ovo – Rachel riu alto,junto com os outros.

Era uma sexta-feira,eu estava morrendo de dor de cabeça. Ela ria muito alto.

Estavamos na pizzaria da cidade,com Nico e Thalia. Contavamos historias bobas ,e riamos de formas mais boba ainda.

Percy estava especialmente mais bonito hoje. Ele usava uma camiseta azul marinho,e o jeans preto. O all-star estava desamarrado e ele sorria bobo para os amigos.

Eu estava apaixonada por ele. Desde ... bem,sempre? A minha recém descoberta foi depois de uma conversa com a voz da razão...Atena.

Depois de uma conversa com ela e Sally,eu tive que admitir :

A forma como o sorriso de Percy mexia com a minha cabeça não era certa. A forma como a sua risada me deixava em paz,não era certa. A forma como seus olhos não deixavam a minha cabeça,não era certa.

Certa para amigos não. Não era.

Então estava lá. A risada,o sorriso,os olhos...tudo.

Eu simplesmente não conseguia não gostar dele.

-Eu preciso ir –sussurrei para Thalia,enquanto Percy tinha ido ao banheiro – Eu tô morrendo de dor e...a risada dela só piora.

Thalia era uma boa amiga. Talvez...a única amizade feminina que eu tinha,e ela era incrível.Ela só...só era minha melhor amiga,que me ameaçava as vezes.

Era uma amor de pessoa,sim.

-Vai lá.Cuidado hein! –ela pegou minha mão e sorriu – Qualquer coisa,usa aquele chute certeiro que você sabe dar.

Despedi-me de todos e sai para o estacionamento,querendo ver se passava algum taxi na avenida.

-Para onde você pensa que vai? –ouvi a voz dele.

-Que susto,seu...idiota- sussurrei – Vou pra casa.

-Vamos pra casa? –ele perguntou.

-Vou – resmunguei- Você não..precisa vir comigo.

Ele virou a cabeça para o lado confuso. As sobrancelhas unidas,os lábios se crispando,os olhos irritadiços por conta do escuro.

-O que..que quer dizer com isso? –perguntou.

-Percy –cheguei ao seu lado,e baguncei os seus cabelos – A Rachel ta lá dentro. Ela gosta de você.

-E o que isso tem haver com a gente? –ele perguntou,segurando minha mão – Você não vai embora sozinha.

-Eu vou pegar um taxi –sorri.

-Você não vai pegar um taxi ,com um estranho,essa hora sozinha. –ele resmungou – Vamos embora.

Ele agarrou minha mão e começou a me puxar em direção à rua.

-Você nem se despediu deles!

-Eu mando uma mensagem.

-Percy!

-Percy –ele me imitou.

-Ah ! Lá vem você com isso.

Era sábado de novo. Eu escolhia uma das séries na estante de Percy,apesar dele não estar em casa.

Isso mesmo. Antes,estavam todos aqui.

E..aparentemente,Rachel precisava que alguém a acompanhasse até em casa.

Qual é..nem estava escuro. Que coisa.

Peguei as temporadas de White Collar,e desci para a sala,forrando os lençóis no sofá e jogando os travesseiros em cima,no exato momento em que Percy chegava em casa.

-Ei! – ele sorriu,tirando os tênis e jogando-se por cima de mim – O que vamos assistir?

-White Collar – resmunguei – Sai daqui.

-Ah não. Odeio essa série –resmungou,colocando a cabeça em cima do meu colo.

-Odeia? O dvd é seu! –passei minhas mãos pelas suas mechas teimosas. Era tão macio.

Droga. Era tão tão tão macio.

- Só porque você começou com essa de achar esse cara bonito –ele revirou os olhos e olhou para mim.

Continuamos a assistir...quer dizer,eu continuei.Percy continuava me encarando,com a cabeça no meu colo. As vezes eu desviava os olhos da televisão e sorria,mas ele continuava a me encarar hipnotizado. Era desconfortável,mas eu gostava de tê-lo olhando pra mim.

Era quase como se ele correspondesse aos meus sentimentos. Que coisa.

-Ei acorda- sorri,batendo em sua testa –Ta me encarando tem mais de oito episódios!

-Você fica bonita daqui –ele sorriu – Você é tão bonita.

-O que Rachel te deu naquele caminho hein? Bebeu alguma coisa? Perguntei rindo.

Ele franziu a testa e levantou-se,sentando-se ao meu lado,e voltando a me encarar com a sobrancelha arqueada.

-Percebeu que você sempre coloca a Rachel entre a gente?

-Eu coloco a Rachel entre a gente? –perguntei sarcástica – A Rachel tá entre a gente há um tempão,Percy.

-Não –ele gesticulou com as mãos –Não assim,eu digo...sempre.

-Percy-

-Você não gosta dela –ele disse com os olhos cerrados –Eu já percebi isso.

-E não percebeu ainda que ela tá afim de você? –perguntei,mudando de assunto. –Que coisa.

-A Rachel não é afim de mim –ele revirou os olhos – Deixa de ser ciumenta.

-Eu não tô com ciúme. Fica quieto,to tentando assistir –resmunguei,sentindo meu rosto esquentar.

Que droga. Eu odiava quando ele fazia isso.

-Você é tão ciumenta. –ele riu.

-Para! To tentando assistir –resmunguei.

Percy se jogou em cima de mim,prendendo minhas mãos com as suas por cima da minha cabeça,e sorrindo de forma travessa.

- Sai de cima de mim –resmunguei.

-Nhe nhe nhe de mim –ele resmungou – Nhe he nhe nhe.

-Irritant.

-Você.

-Idiota!

-Você

-Para com isso! – fiz força para sair de debaixo dele – Sai,Matt Bomer tá me esperando na televisão.

-Vem cá hein –ele riu,fazendo um carinho gostoso no meu cabelo – Você é bem ciumenta.

-Chato.

-E eu tô completamente encantado por você –ele disse baixinho,fazendo- me arregalar os olhos – Você é tão bonita.. Tão bonita.

-Percy-

-Me deixa falar –ele disse,se aproximando ainda mais de mim, seus lábios estavam tão próximos de mim,as pupilas estavam enormes e a bochecha vermelha não deixava de mostrar o quão envergonhado ele estava – Eu acho que...que tô apaixonado por você,sabe.

-Percy..eu-

-Fica comigo –ele sussurrou ainda mais próximo de mim. Os lábios já se moldando aos meus – Namora comigo,Annie.

Seus olhos já se fechavam e eu já estava entregue à ele. Eu queria tanto..beijá-lo. Ele tava ali. O garoto,meu vizinho,meu amigo,meu melhor amigo...ali.

Mas a porta abriu,e no mesmo segundo,Percy se lançou para o outro lado do sofá,com a respiração ofegante,o rosto vermelho e os cabelos bagunçados.

-Hm,é isso Annie você tá mesmo com febre – ele se levantou –Oi mãe,vou mijar.

E saiu,me deixando com Sally e aquele sorriso encantado no rosto.

-Tia Sally...hm,nós-

-Finalmente!

Agora eu estava ali,ele estava dormindo ao meu lado,o cabelo com a mesma zona de sempre. A respiração calma,o rosto descansando em cima do travesseiro,e o fio de baba caindo por ele. Ele estava sem camiseta,e a calça de moletom estava coberta pelo lençol em cima da sua cintura. Procurei sua camiseta em maio a bagunça,e percebi que estava vestindo-a.

-Você tá encarando. –ele sussurrou com a voz grossa por conta do sono e os olhos ainda fechados . –Para.

-Você é tão bonito daqui – sussurrei.

Um sorriso mínimo se apossou do seu rosto e seus olhos se abriram minimamente.

-Você é tão boba.

-Não fala assim – sussurrei,chegando mais próximo de seu rosto – A gente veio para aqui com você me chamando de boba ontem.

-Foi incrível –ele sussurrou – Devo deixar você com raiva mais vezes.

-Idiota – sussurrei.

Ele me puxou pela cintura,fazendo-me ficar por baixo dele,e sorriu. Sem dizer uma palavra,Percy abaixou seu rosto na altura do meu,e mordue minha bochecha. Fazendo carinho na nossa aliança,deu um beijo em minha testa,e desceu seus lábios pelo meu rosto. Deu um selinho rápido em meus lábios e logo depois,me mordeu.

-Para com isso! Que coisa –reclamei,passando as mãos pelo seu pescoço.

-Para com isso –ele me imitou –Que coisa!

E sem me dar chance de bater nele,beijou-me. Segurando minhas mãos,como ele sempre fez.

Seus lábios,talvez os únicos lábios que eu me interessaria daqui pra frente. Talvez o único que me beijaria daqui pra frente.

E não era sempre assim com Percy?

Ele sempre foi o único.

E sempre seria.