A bondade de seus corações escrita por magalud
– Bom-dia a todos! – Alvo Dumbledore ergueu os braços, sorrindo – Antes de dar início ao café da manhã, eu gostaria de fazer um anúncio que me deixa especialmente feliz. Gostaria de comunicar que o Prof. Snape e a Srta. Martha Scott decidiram se unir em matrimônio. Os dois se casarão aqui mesmo em Hogwarts. Por favor, queiram todos se erguer e dar uma salva de palmas ao casal e desejar-lhes muitas felicidades.
Não deu para dizer que a casa veio abaixo. A maioria dos alunos ainda estava em estado de choque e aplaudia mecanicamente, mas as reações variavam. A mesa de Sonserina, por exemplo, parecia ter aprendido a lição. Sem sorrisos, sem entusiasmo, todos aplaudiam, até Emília Bulstrode – que ostentava uma expressão digna de quem não comeu e não gostou. Os grifinórios pareciam perplexos; corvinais, intrigados, e algumas meninas lufa-lufas trocavam risinhos e enrubesciam.
Os professores foram cumprimentar os dois, alguns por mera educação e outros com genuína satisfação. Minerva McGonagall ofereceu um raro e aberto sorriso, o Prof. Hagglemore sacudiu entusiasticamente a mão de Severo e Hagrid abraçou Martha tão efusivamente que ela temeu por suas costelas. O Prof. Dumbledore esperou todos se aquietarem e anunciou:
– O casal de noivos receberá cumprimentos antes do almoço, no hall adjacente ao Salão Principal. Em homenagem aos noivos, será servida uma porção extra de bolo de chocolate – O entusiasmo por mais bolo de chocolate foi bem grande, consideravelmente maior do que o anúncio do casamento. – Então... bom apetite a todos!
Quando a comida apareceu magicamente nos pratos, o burburinho voltou ao Salão Principal, mas em níveis maiores que o normal. O anúncio de Dumbledore tinha caído como uma bomba na escola. Em todas as mesas, a conversa era a mesma.
– Gente, que loucura! O Snape tá noivo.
– Vejam! Está na seção de Anúncios do Profeta Diário. Diz aqui que a data ainda não foi marcada.
– Quem iria imaginar um troço desse?
– Ela não deve ser boa da cabeça.
– Ou está sob a Maldição Imperius.
– Ela parecia ser gente boa.
– E o que será que os amigos dele vão dizer? Ela é trouxa, não é?
– E desde quando Snape tem algum amigo, aquele morcego velho?
– O que será que ela viu nele?
– Eu estou achando isso super-romântico. Ele bruxo, ela trouxa... Um amor proibido... Ah, eles vão ter que lutar por esse amor!...
– Isso não é lindo?
– Aposto 10 galeões como eles não vão se casar. E se eles conseguirem se casar, não dou nem dois meses antes de se separarem.
– Por quê?
– Ora, tá na cara que isso não vai dar certo. Uma trouxa e um sonserino? Nem daqui a um milhão de anos!
Harry e Hermione se entreolharam, escutando as opiniões dos colegas grifinórios cheios de apreensão. Harry cutucou o amigo:
– Rony, o que você acha?
O ruivo deu de ombros:
– Acho que ela realmente não deve ser boa da cabeça, cara. Casar com o Snape? Pode ter ideia mais nojenta?
Hermione bateu no braço dele, irritada:
– Rony, você é um tapado, sabia? Não viu o jeito como ela falou dele na cabana de Hagrid? Ela gosta dele de verdade.
– E ela fez Sonserina perder muitos pontos – lembrou Harry.
Rony disse:
– Não me importa o que vocês digam. Para mim, o problema começa que ela quer se casar com o Snape. De livre e espontânea vontade. Só alguém fora de si ou muito má iria entrar nessa por querer.
– Não, Rony, bastaria estar apaixonada, e ela disse para gente que gostava dele – disse Hermione – Acho que ela vai fazer muito bem a ele. Não, deixe-me corrigir isso: acho que ela *já está* fazendo muito bem para ele.
Harry concordou:
– É verdade, Rony, ele não tem tirado pontos nem nada – ele se virou – Neville, como Snape anda te tratando? Melhor ou pior?
– Melhor, eu acho – disse o menino rechonchudo – Mas eu fico muito nervoso perto dele.
– Viu?
– É, mas só o que eu sei é que ele já trabalhou para Você-Sabe-Quem e eu ainda não vi uma prova convincente de que ele esteja do nosso lado agora.
Hermione se irritou:
– Já discutimos isso antes! Dumbledore confia nele. Se não confiarmos em Dumbledore, em quem podemos confiar? De qualquer forma, eu pretendo ir cumprimentá-los antes do almoço. Acho que os dois vão enfrentar muita oposição a esse casamento, e vão precisar de todo o apoio que pudermos dar.
De todas as coisas sábias que Hermione já tinha dito em sua vida, aquelas palavras foram quase proféticas.
*
Dessa vez era uma turma bem maior. Martha olhou para a classe dupla formada por corvinais e grifinórios do sétimo ano, e sorriu, sentindo todos os olhares para ela. O Prof. Hagglemore lançou-lhe um olhar encorajador e ela respirou fundo, antes de dizer:
– Bom-dia a todos. Acho que todos já sabem quem eu sou, mas no caso de terem se esquecido, meu nome é Martha Scott e fui convidada pelo Prof. Hagglemore para essa conversa a respeito de meios de transporte trouxas. Se alguém não estiver ouvindo, por favor, me dê um grito, e se vocês tiverem qualquer dúvida, sintam-se à vontade para me interromper.
Ela se dirigiu ao quadro-negro e houve um burburinho entre as meninas. Sem saber o motivo, Martha resolveu continuar, escrevendo no quadro:
– Um meio de transporte trouxa bastante popular é chamado carro ou automóvel. Ouvi falar de um incidente aqui mesmo em Hogwarts há alguns anos envolvendo um modelo bastante popular, o Ford Anglia. Então acho que a maioria deve ter uma ideia do – uma aluna grifinória ergueu o braço de maneira impetuosa – Sim?
A moça enrubesceu ligeiramente, mas formulou sua pergunta em alto e bom som:
– Srta. Scott, a senhorita pretende ter filhos assim que se casar com o Prof. Snape?
Houve um silêncio ensurdecedor na classe. Martha foi rápida em não deixar seu rosto transparecer o choque diante da pergunta, mas encarou a mocinha cuidadosamente para ver que ela não tinha a malevolência do olhar sonserino. Era o mero caso de uma adolescente desafiando uma figura de autoridade.
E disso Martha entendia. Lidar com crianças, mágicas ou não, era algo que ela estava começando a aprender.
O Prof. Hagglemore pareceu finalmente se recuperar:
– Srta. Sherman!... Cinco pontos a menos para Grifinória por sua impertinência!
– Calma, professor – disse Martha, de maneira pausada – A Srta. Sherman fez uma pergunta que, garanto, está na mente de muitos alunos. Parece justo que eu tente respondê-la da maneira mais honesta e sincera possível.
Houve burburinho na sala. Martha aproximou-se da moça e disse:
– Mas terá que me dar uma boa razão para eu fazer isso, Srta. Sherman.
– Como é que é?
A voz de Martha estava muito menos doce e bem mais ferina ao dizer:
– A senhorita me ouviu, mas eu repito. Dê-me uma boa razão para eu colocá-la a par sobre meus planos em dar um herdeiro à família Snape.
Dava para ver que a última coisa que a garota esperava era aquilo. De olhos arregalados, a menina Sherman arriscou, trêmula:
– Uma boa razão... Eu estou curiosa, ora.
– Essa é sua razão?
– É. Muita gente também está curiosa.
– Resposta errada – Martha disse – Até a senhorita conseguir produzir uma razão relevante para que eu responda sua pergunta, ficará sem resposta. Se a senhorita ou qualquer outro de seus colegas quiser falar sobre meu casamento, eu posso até mostrar minha aliança e trocar impressões sobre os preparativos, desde que seja fora da sala de aula, preferencialmente no horário marcado pelo Prof. Dumbledore para os cumprimentos aos noivos – ela deixou as palavras ecoarem um pouco, pois a turma estava em silêncio total, absolutamente chocada. E Martha deu o golpe de misericórdia – Mas tenho certeza de que o Prof. Snape terá prazer em responder pessoalmente sua pergunta, Srta. Sherman. Posso transmiti-la a ele na primeira oportunidade, gostaria disso?
A ameaça velada teve o efeito esperado. A perspectiva de confrontar Snape deixou vários alunos pálidos. Completamente sem cor nas faces, a garota Sherman se adiantou em dizer:
– Não precisa perguntar nada para ele, obrigada. Não será necessário. Por favor, não conte a ele.
– Não mesmo? Como queira. Agora, se todos concordarem, podemos concentrar nossas atenções nos meios de transportes trouxas? O que acha, Prof. Hagglemore?
O titular da cadeira estava meio boquiaberto, e demorou a se recompor:
– Hã? Oh, sim, eu quero dizer, claro! Claro, Srta. Scott, falemos de transportes trouxas.
Mais aliviada, Martha abriu um sorriso e continuou:
– E falávamos de carros, professor. Esses meios de locomoção são tão importantes para os trouxas que se tornaram símbolos de status, posição social e até de potência sexual. Todos requerem combustível para rodar, embora...
Ainda sob o impacto do ocorrido, os alunos passaram a se dedicar a meios de transporte trouxas, e se mostraram quase tão interessados no assunto quanto no casamento dela. Martha ficou particularmente aliviada em ter conseguido contornar uma situação potencialmente explosiva e prosseguir a aula sem novos incidentes. Corvinais e grifinórios eram bastante bons de se lidar, ela concluiu, torcendo para que Severo aprovasse sua abordagem da situação.
– Você fez *o quê*?!
Severo parecia pasmo, e Martha quase se sentiu como um de seus alunos, prestes a ter pontos retirados e receber detenção. Mas ela sabia que na tinha feito nada errado, então simplesmente repetiu:
– Eu pedi que ela me desse uma boa razão para eu responder, depois sugeri que ela fizesse essa pergunta a você em pessoa.
O mestre de Poções de Hogwarts jogou a cabeça para trás e deu a maior gargalhada que Martha já vira. Martha viu que ele até segurava a barriga de tanto rir, e mal conseguia respirar.
– Eu precisava ter visto isso. Aposto como a pestinha desistiu na hora.
– Claro.
– Típica ousadia grifinória irresponsável – ele sorriu e passou a mão na cintura dela – E você cuidou dela como uma verdadeira sonserina. Estou orgulhoso de você.
Martha enrubesceu, enroscando-se nele:
– Bem, eu tenho que mostrar que posso destilar algum tipo de veneno, senão os alunos perdem o respeito.
Severo estreitou os olhos:
– Hum... perigosa e sexy... Eu tenho que me cuidar...
Ela sorriu e deu-lhe um selinho demorado, antes de dizer:
– É melhor subirmos. Os cumprimentos estão para começar.
– Isso deve ser quase tão interessante quanto sua aula.
A princípio, parecia que apenas professores e funcionários iriam à sala perto do Salão Principal. Martha aguentou estoicamente a Profª Trelawney fazer mais previsões sobre as dificuldades que eles iriam enfrentar até o casamento e o tom monocórdico do Prof. Binns. Eles também receberam cumprimentos do Barão Sangrento, que se disse bastante satisfeito, mesmo que não fosse um casamento entre sangue-puros. O Sr. Filch cumprimentou Martha com entusiasmo ("Um grande partido a senhora pegou, moça! O melhor professor de Hogwarts!") e Madame Pomfrey parecia tocada. Severo e Dumbledore discutiam detalhes sobre a cerimônia e Martha aproveitou a oportunidade para discretamente puxar a Profª McGonagall de lado:
– Minerva, eu gostaria de lhe fazer uma pergunta, mas... nem sei direito como começar...
– O que foi, Martha? Algum problema?
– É o que eu estou querendo evitar. Você deve saber melhor do que eu que esse casamento vai atrair muitas atenções.
A velha professora assentiu:
– Certamente, minha cara.
– Por isso ele tem que sair perfeito. Para isso acontecer, eu vou precisar de ajuda. Não conheço seus costumes, posso dar alguma gafe, e isso poderia prejudicar Severo. Acho que estou tentando lhe pedir que seja minha madrinha.
McGonagall não escondeu que aquela era a última coisa que ela esperava ouvir:
– M-madrinha? Eu?! Nossa, eu jamais imaginei... Eu nunca fui madrinha antes.
– Mas você conhece um casamento bruxo. Pretendemos fazer uma cerimônia simples e discreta, mas eu temo ferir alguma tradição, já que eu sou trouxa. Poderia me ajudar nisso?
– É claro – disse Minerva – Posso passar antes do jantar em seus aposentos?
– Eu adoraria! Muito obrigada, Minerva.
– Fico feliz em poder ajudar – ela olhou adiante e seu sorriso caiu – Acho melhor você receber seus convidados recém-chegados.
Martha se virou e sentiu seus músculos se enrijecerem. Tão tensos quanto ela, os alunos da Sonserina começaram a chegar em peso à sessão de cumprimentos. Martha achou melhor posicionar-se ao lado de Severo, que estava tão tenso que parecia estar em posição de sentido. E a melhor analogia realmente era a militar. Os alunos entraram marchando, em fila indiana, liderados por ninguém menos do que Draco Malfoy. Martha notou que Draco trazia um distintivo brilhante no peito, com os dizeres: "MONITOR". As outras pessoas que estavam na sala afastaram-se para observar a cena.
Sem perder o passo, Draco Malfoy deteve-se diante de Snape e, com um ar altivo que lhe era característico, disse solenemente:
– Prof. Snape, nós, os alunos de Sonserina, viemos apresentar nossos cumprimentos pelo seu casamento e desejar muitas felicidades. Aproveitando a ocasião, gostaria de publicamente me redimir da descortesia que cometi contra sua futura esposa – Snape ergueu uma sobrancelha e Martha sentiu seu coração acelerar. O rapaz estendeu a mão e dirigiu-se diretamente a ela – Srta. Scott, por favor, eu lhe peço que aceite minhas desculpas e meus profundos votos de felicidades.
Agindo mais por instinto, ela também ofereceu sua mão a Draco, dizendo:
– Desculpas aceitas, Sr. Malfoy.
Com uma expressão indecifrável, o herdeiro do clã Malfoy inclinou-se e, como um perfeito cavalheiro, beijou a mão de Martha. Em seguida, apertou a mão de Severo e abriu espaço para o aluno seguinte apertar a mão de Martha e Severo, e então o próximo, e mais um, e a fila começou a andar, um por um. Parecia que as tropas estavam passando em revista aos dois.
Dumbledore assistia a tudo de maneira divertida, mas Martha notou a argúcia brilhando nos seus olhinhos azuis por trás dos pequenos óculos de meia-lua. Ela também viu que o gesto incentivara outros alunos a comparecerem à sessão de cumprimentos, e ela se sentiu gratificada ao ver Harry, Hermione e Rony entrando na sala. De algum modo, aquilo aqueceu o coração de Martha. Ela sentia que os votos de felicidade daqueles três eram sinceros e genuínos. Cautelosamente, ela observou Harry Potter estender a mão para Severo. O noivo de Martha parecia ainda mais tenso ao apertar a mão de Harry do que a de Draco. Ela tomou a decisão naquele instante de falar com Severo a respeito daquele assunto.
O resto do dia pareceu arrastar-se. Martha não entendia como se sentia tão cansada.
– Não é difícil de entender – ofereceu Severo, diante de uma pilha de cadernos para corrigir – O dia foi tenso e movimentado.
Ela disse, animada:
– Mas foi bastante produtivo, não acha?
– Sim, fizemos muitas conquistas hoje. Ainda estou surpreso com algumas delas.
– Você tem razão. Foi mesmo uma surpresa ver toda a sua casa comparecer em peso à nossa sessão de cumprimentos.
– Não, aquilo não me surpreendeu. Foi a oportunidade perfeita para que eles demonstrassem aliança com o chefe da casa e para que se retratassem de pecados do passado.
– Acha que agora eles vão me aceitar?
– Isso não vai ser possível saber com certeza. Mas agora eles pelo menos saberão agir com mais astúcia.
– Então acha que não foram sinceros?
Severo deu um risinho:
– Não se trata de uma questão de sinceridade. Mas agora eles aprenderam a tratar esse assunto de uma maneira sonserina. Vão saber calcular melhor, analisar, explorar vulnerabilidades. Esse é um jogo que eu conheço bem. E você parece estar começando a aprender, Martha.
– Eu? Desde quando, Severo?
– Desde que você virou o jogo com a garota grifinória. Perspicácia e raciocínio rápido são características sonserinas, e você as usou de maneira brilhante. Isso pode ter sido decisivo para convencer meus sonserinos a nos darem votos de felicidades.
Martha abraçou-o por trás, dizendo:
– Você é um amor. Amanhã conversaremos melhor. Eu estou indo dormir.
– Está bem. Eu devo demorar.
– Procure não se cansar, querido – ela o beijou. – Boa noite.
Mal sabia ela que aquela noite seria longa, e que ela teria tudo, menos descanso.
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