Sinceridade escrita por Blyez


Capítulo 4
Capítulo 4: Frustração




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Fred acordou no dia seguinte sentindo-se muito melhor do que na noite anterior. Olhou para o lado e descobriu que seu irmão já havia descido e, deverás, o relógio na cabeceira do criado mudo mostrava que já havia passado de meio dia! Seu pai já deveria estar em casa, todos já deveriam estar reunidos, e ele ali em cima, sozinho! Tentou abrir a boca e sentiu o gosto horrível da poção calcificadora e lembrou-se que Jorge havia lhe dado uma dose pela manhã enquanto ele ainda estava sonolento. Grato por não mais sentir-se tonto quando ficou sentado, Fred olhou ao redor tentando adiar o momento em que iria até o banheiro e se olharia no espelho: nunca de fato vira seu rosto nos piores dias, mas a expressão no rosto de seu irmão e no de Hermione já haviam dito tudo. Ele pegou o copo d’água sobre o criado mudo e bebeu todo o conteúdo de uma só vez, feliz por sua boca não fazê-lo gritar de dor.

Toc, toc.

Fred olhou para a porta a tempo de ver Gina e Harry entrando no quarto com um olhar temeroso. Ele os saudou com um gesto da mão enquanto ambos tomavam lugar na cama de Jorge.

–Você parece bem. – disse Gina olhando para o irmão com curiosidade. – Hermione disse que estava com o rosto bem inchado.

–Disse? – ele não falava há horas, sua voz pareceu estranhamente rouca quando respondeu a irmã.

–Ela estava bastante preocupada com você. – Harry remexeu-se sentindo um incomodo nos quadris, quando puxou o que o incomodava, deparou-se com uma calça recheada com uma cueca de Jorge. – Adorável.

–Desculpe por isso. – Fred pigarreou alto tentando limpar a garganta. – Papai já chegou?

–Mamãe acabou de sair com Lupin e Olho-Tonto para buscá-lo. – Gina aproximou-se do irmão e segurou o rosto dele com cuidado – Só falta sumir esse hematoma e vai ficar novo em folha.

–E Hermione? – ele não conseguiu segurar a pergunta por muito tempo, e não ficou surpresa quando sua irmã e Harry trocaram um olhar divertido.

–Saiu com Ninfadora de manhã e já deve estar voltando. – respondeu Harry com um brilho esperto por detrás dos óculos. – E foi isso que viemos conversar com você.

“Até vocês?”, Fred pensou pegando o saco de gelo e pressionando contra o queixo. Já estava demorando até que Gina viesse esclarecer seus termos sobre não machucar sua melhor amiga e manter suas mãos longe de Hermione, ele só não esperava que Harry também estivesse a par da situação também.

–Do que estão falando? – talvez se desconversasse sobre o assunto pudesse enganá-los....

–Fred, a última vez que você beijou a mão de uma garota foi porque ela deu um fora em Percy. – Gina voltou a sentar-se e lançou um olhar debochado para o irmão. – E não me lembro de vê-lo deixar ninguém tomar conta de você além de Jorge.

–Hermione é inteligente, e boa com poções e machucados, eu não vejo porque...

–Então se eu chamar Snape para resolver isso daí, vai deixá-lo a vontade para olhar sua boca e depois abraçá-lo no final?

A visão de seu professor de poções o tocando da mesma forma que Hermione fez o estomago de Fred embrulhar.

–Eu gosto dela. Até demais. – grunhiu ele de maneira relutante. Detestava admitir seus sentimentos para qualquer outra pessoa que não fosse Jorge, e isso era extremamente raro já que seu gêmeo geralmente tinha consciência dos pensamentos que seu irmão guardava. – Eu nunca senti isso antes, eu... – os três se assustaram quando Jorge irrompeu pela porta com um jarro cheio de água.

Ele logo percebeu que havia interrompido algum assunto sério pelo silêncio e tensão no ar. Fred suspirou: seria mais fácil ter aquela conversa com seu gêmeo do lado. Por toda vida Jorge fora seu ponto de equilíbrio e estímulo de força, não conseguia se diferente naquela ocasião.

–Eu trouxe isso caso ficasse com sede. – Jorge pôs o jarro sobre o criado mudo e sentou-se ao lado do irmão – E então? Estavam falando sobre Hermione?

–Como você...? – começou Fred, porém o irmão o interrompeu.

–Você não fica vermelho a toa, “Fredie”. E então, a quantas andamos?

Gina pensou em tirar sarro do irmão, mas via como Fred estava se sentindo em relação a tudo aquilo: havia ansiedade, expectativa e medo em seus olhos quando eles o encurralaram. Jamais esperava ver o irmão daquele jeito, quando estavam junto os gêmeos parecia se imbatíveis, nada podia estragar seu humor, mesmo quando Filch conseguia flagrá-los enchendo o banheiro feminino de lesmas. Então foi estranho ter um olhar infeliz no rosto de Fred enquanto seu irmão precisava confortá-lo. Jorge parecia partilhar da mesma dor que o irmão, mesmo que essa lhe parecesse pessoalmente estranha, mas queria ver o outro feliz, não importava onde e como tudo aquilo fosse acabar.

–Ela está me evitando. – sussurrou ele tão baixo que até mesmo Jorge, que estava ao seu lado, teve dificuldade de ouvi-lo – Saiu hoje sem ver como eu estava...

–Deixa de ser bobo, ela não quis acordar você. – Jorge socou o ombro do irmão – Quando encontrei com ela durante o café, ela estava de saída com Tonks e não queria demorar. Mas perguntou como você tinha passado a noite.

–Fred, por que você simplesmente não fala com ela? – Harry entendia como aquela situação podia ser complicada. Ano passado andava pela escola a procura de Cho em todos os lugares, ficava nervoso quando a garota aparecia no Salão Comunal e mal tinha coragem de olhá-la nos olhos.

–E....Ela vai rir da minha cara! – disse ele exasperado.

–Ah, sim, porque todos nós sabemos como Hermione gosta de pisar nos sentimentos dos outros. – retrucou Jorge agarrando o irmão pelos ombros – Eu a quero como cunhada e quero sobrinhos inteligentes!

–Já estamos falando de casamento?! – Fred urrou de dor conforme era sacudido pelo irmão e as risadas de Harry e Gina só fizeram seu humor piorar. – Parem com isso! Droga... – as dores ainda voltaram, e junto com elas, Hermione entrou no quarto acompanhada de Rony enquanto ela mesma sacudia a neve de sua roupa.

–Es-Está-á-á inc-c-c-crivelment-t-te frio-o lá fora.... – balbuciou abraçando o próprio corpo junto com as sacolas de compras.

–Encontrei com ela lá embaixo. – Rony foi até a cama de Jorge e empurrou Harry e Gina para o lado – Por que estamos todos aqui?

–Porque estávamos aguardando por mais histórias sobre Fleur, seu panacão. – Jorge ajudou Hermione com as compras e o casaco molhado. Ofereceu a garota seu lugar ao lado de Fred onde ela se instalou com gratidão.

Jorge olhou para Harry, que virou a cabeça e encontrou o olhar de Gina que logo encarava Fred esperando que ele dissesse qualquer coisa, porém quando Rony começou a resmungar baixinho e lentamente introduzir uma história sobre suas aventuras com Lila, Hermione empertigou-se antes de voltar-se para Fred.

–Deixe-me ver sua boca. – disse ela, já sabendo qual era a melhor maneira de segurar o rosto do rapaz enquanto inspecionava seus dentes. – Hum...Estão muito, muito melhores. Realmente acho que não vai precisar de outra dose da poção além da de hoje a noite.

Ela enfiou pegou as sacolas com compras perto de seus pés e vasculhou o conteúdo com um ar animado enquanto cada integrante do quarto (exceto Rony, que visivelmente estava irritado por ter sido interrompido) olhava fixamente para Fred esperando que ele fizesse algo, qualquer coisa mais explícito do que segurar o gelo perto do rosto.

–Não sabia qual sabor você gostava mais, então comprei de chocolate porque a maioria das pessoas gosta de chocolate. – começou ela tirando uma caixa de sorvete da sacola. – Uma pomada analgésica pra passar no queixo; e não arrisquei qualquer aspirina porque não sei o efeito que faria misturada com a poção. – Hermione pôs o medicamente sobre o sorvete e continuou – Sopa de aspargo enlatada, afinal o que eu servi ontem não podia nem ao menos ser chamado de “comida”, e essa é mais gostosa e consistente, então...

–PARA COM ISSO! – o som da lata com sopa caindo no assoalho de madeira foi a única coisa que foi ouvida quando Fred gritou e bateu no objeto entre os dedos de Hermione para longe.

Ele ofegava e mal notava a dor em sua gengiva, já estava cansado da pressão que estava sendo posta sobre ele, todos aguardando alguma atitude, algum ato, alguma palavra, algum acontecimento onde ele e Hermione magicamente estariam juntos e felizes pelo resto de suas vidas. Não, não podia suportar. Não dormira direito, passara o dia anterior deitado e com dor, mal conseguia falar e isso tudo tornara o seu humor o pior possível para ter que lidar com seus irmãos e Harry lançando olhares ansiosos para ele. E não, não podia entender porque a garota estava sento tão atenciosa se nem ao menos gostava dele, não queria saber o porque de Hermione cuidar com tanto afinco, que a verdade fosse para o diabo, tudo que queria era um pouco de paz e ser levado mais a sério pelos seus amigos.

Ele não queria que Hermione o tocasse mais, não queria que ela o beijasse ou lhe dirigisse a palavra de forma tão amável, pois assim nutria uma esperança cheia de falhas que ruía dentro de Fred como uma construção mal feita que logo começa a desmoronar. Frustrado e sentindo o peito doer, Fred colocou-se de pé. Suas pernas vacilaram e ele quase caiu, porém Jorge o ajudou a manter-se pé antes de se lembrar como o irmão gêmeo havia gritado com Hermione. Fred suspirou e seguiu a pé até o corredor apoiando-se nas paredes e porta, a respiração ofegante: era impressionante como tantas horas deitadas podiam deixar um corpo desnorteado.

Só quando estava sozinho no corredor ele sentiu o aperto do arrependimento embrulhar-lhe o estomago, ou era apenas o enjôo por se colocar de pé tão rápido? De qualquer forma tudo que queria era voltar correndo, pedir perdão para Hermione, pronunciar todas as juras de amor que havia criado mentalmente, realizar as fantasias românticas que a envolviam. Oh, como queria o perfume daqueles cabelos castanhos em seu nariz, como queria.

Acabou sentando-se no primeiro degrau da escada e enterrando o rosto nas mãos: estava ofegante e nervoso, a sala estava rodando ao redor de sua cabeça. Respirou fundo várias vezes querendo recuperar a calma, porém a chegada de alguém arruinou seus objetivos.

–Papai! – gritou, correndo até seu velho e o abraçando com força necessária para demonstrar o quanto sentiu a sua falta e não machucá-lo.

–Como vai Fred? Ou é o Jorge? Eu realmente...

–Fred, pai. Fred. – riu o rapaz se afastando enquanto sua mãe tentava tirá-lo do caminho.

–Vamos, Fred, está incrivelmente gelado lá fora. – a Sra. Weasley tentou não se zangar com a forma não cuidadosa que seu filho apertava seu marido cheio de bandagens. – O que é isso no seu queixo? Oh, esqueça, melhor não me contar agora ou vou enlouquecer. Onde estão seus irmãos?

–Lá em cima, no nosso quarto. – resmungou ele antes de voltar a olhar para o pai. – Como está? Ainda dói? Eles não torturaram o senhor, torturaram?

–Ora, menino, que besteira. Sinto-me novo em folha! – riu Arthur pondo o braço bom sobre os ombros do filho. – De fato acho que adoraria uma partida rápida de futebol. É um tipo de esporte dos trouxas onde eles correm e chutam uma bola, não faz muito sentido para mim também. – explicou ele diante do olhar confuso de Fred.

Ele tentou, e tentou mesmo, mas desabou na frente do pai. Estar de cama no dia anterior, discutir com a garota a quem seu coração pertencia e agora ver o pai chegar do hospital ainda com bandagens cobrindo a ferida criaram um misto de emoções que transbordaram sem aviso e sem trégua por seus olhos. Ele tropeçou nos próprios pés quando a tontura levantou e detestou ter que obrigar o pai, naquelas condições, a guiá-lo até o sofá na sala.

–Calma, calma. Venha comigo. – Arthur o colocou no sofá e sentou-se ao lado do filho com um certo esforço ainda sentindo as feridas incomodarem – Vamos, filho, o que está havendo? Não pode ser tão emocionante assim ver seu velho pai chegar do hospital.

–Me desculpe, eu...

–Papai!

Gina e Jorge surgiram ao pé da escada e saltaram sobre o Sr. Weasley com a mesma vontade que Fred, claro que ambos precisando disputar espaço entre eles. Harry e Hermione vieram logo em seguida enquanto ela, para o horror de Fred, tinha os olhos vermelhos, porém secos. Nenhum deles ousou olhar para o gêmeo que discretamente se afastava do pai e observava a cena de longe, como se ele não pertencesse a aquele mundo, pelo menos não mais. Fred encostou-se na parede onde a tinta estava gasta e saltou quando uma mão desceu por sobre seu ombro.

–Por que está tão longe? – Lupin observou o rapaz com curiosidade - Não deveria estar brigando por um pedaço do abraço de Arthur?

–Acho que não sou forte o suficiente pra entrar nessa guerra – riu ele sem muita disposição.

–O que houve com seu rosto? – ele avaliou o hematoma no queixo de Fred com cuidado.

–Um acidente. Já estou cuidando disso. – ele começou a sentir o rosto inchado e dificuldade de falar. Sua cabeça latejou e Fred não tolerou ficar nem mais um segundo ali. – Vou subir e dormir um pouco.

E dormiu muito mais do que achava. Ninguém ousou incomodá-lo durante a tarde inteira e boa parte da noite, as vezes Jorge subia para ver como seu irmão estava e enchia o copo d’água no criado mudo toda vez que o encontrava vazio, uma vez precisou acordá-lo e dar a última dose do remédio e ficou ali, vendo o irmão dormir tão em paz, porém com um ar aflito sobre o rosto.

Jorge o amava. Mais do que a própria vida, precisava do irmão junto a ele e precisava vê-lo sorrir. Ver Fred sair tão agoniado do quarto e saber que ele o rejeitaria se fosse atrás dele o magoou, porém sabia que a tristeza do gêmeo devia estar ainda mais enterrada em seu peito. Jorge suspirou perdendo o apetite com todos aqueles pensamentos e deitando-se ao lado de Fred, afagando-lhe os cabelos ruivos e mirando aquele rosto que ele conhecia melhor do que qualquer outro.

Ia tomar uma atitude, e ia tomar logo.


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