Through the Pinback escrita por Diana Lihn


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Eu mal disse á John as coisas que eu senti vontade de dizer, tudo aquilo baseado no que eu estava sentindo e presenciando novamente no meio das minhas amigas. Eu não sei se ele me compreendeu, aliás, nem sei se teve tempo pra ele entender alguma coisa. Somos complicados demais e ainda temos pouco tempo, sempre assim.



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Melaine, April e Rose.

As três amigas fodidas e bêbadas, com seus amigos de primeira viagem e histórias mal contadas, repetidas, não terminadas. Não há muito novidade nisso, afinal, quantas histórias dramáticas de adolescentes em crise vocês já leram?

-Vamos sair? A Melaine acabou de me dizer que precisa de um porre, precisa dar, precisa conversar, e parar de chorar. - Disse á Rose.

-Bem, considerando que são onze e meia da noite de um sábado e moramos longe da capital...

-Porra, Rose. Ela tá mal...

-É, eu sei, aquele otário do namorado dela, eu sei. Ela já contou pra Deus e o mundo, e já sabiam que ela estava sendo traída.

-Ah é? Eu não sabia.

-April, você é um tipo de pessoa avulsa do mundo.

-Não, sou imune á fofocas. Detesto rodinhas onde todo mundo só vive pra falar da vida alheia, isso é ridículo.

-Tá, quantos amigos você tem que não fazem isso?

-Mais fácil você perguntar quantos amigos você tem, porque o pouco de amigos que tenho não faz fofoca.

Rose me olhou encabulada. Ela participava dessas socializações estúpidas e convencionais, com músicas convencionais, comida convencional e bebida convencional. Ela também sabia que eu não estava mentindo mas, mais uma vez, minha hostilidade prevaleceu.

-Vamos, vá se arrumar... Eu vou tomar um banho e ver se acho alguma roupa sua que me sirva. - Concordou Rose, levantando-se da minha cama, indo em direção ao guarda-roupa.

-Tu não vai achar nada que tu gosta por aí, só tenho roupa de banda e jeans velhos, largos, não tenho saltos.

-Puxa vida, April... Você já tem 20 anos, né?

-E...?

-Deixa pra lá.

Rose era um caso curioso. Melaine e eu não sabíamos muito bem porquê andar com ela, logo uma pessoa tão distinta mas, sempre companheira e doce, apesar de todas as discordâncias. Tirou dos cabides uma camisa social branca (a única que não era xadrez ou de flanelas) e um short de lycra que e usava quando vestia camisas grandes demais, como vestidos. Olhou pra mim antes de pegar o All Star branco encardido, mas percebeu que calço 5 números a mais que ela.

Enquanto ela tomava banho, separei a toalha e voltei ao notebook pra perguntar á Melaine onde ela estava.

-Eu ainda não saí... Não sei se consigo ir aí.

-Não precisa, Rose não vai demorar, e eu menos ainda. Vamos passar aí. Já escolheu onde vamos?

-Vamos só pegar o metrô pra longe, bem longe. Em algum lugar que tenha muita gente e muita bebida, qualquer Alabama Tickets da vida.

-Melaine, vá com calma. Não precisa ir pra lá só pra encher o caco. Estamos te acompanhando porquê queremos conversar com você, queremos você melhor.

-Eu só vou melhorar quando estiver com uma garrafa de Jack Daniels na mão.

-Você não presta mesmo, menina... - E mandei um emot sorrindo como consolo. A gente faz isso de disfarçar as preocupações e a seriedade das coisas com um sorriso amarelo. Parece irônico, filosófico demais pra mim.

Rose demorou um pouco mas eu compensei o tempo. Vesti qualquer coisa e não mudei muito de como estava, só mudei de moletom pra jeans e fomos embora. Melaine estava num estado confuso, tanto físico como em espírito. O rímel borrado entregava a choradeira ininterrupta, a roupa extravagante mostrava alguém que estava voltando de uma puta noitada, e não indo á uma.

-Vá lavar esse rosto, eu não vou sair com você assim. - Fui categórica, não com a maquiagem em si, mas mais com o choro.

-Foda-se, ninguém vai reparar. - Disse-me, cabisbaixa, pegando a carteira como quem está prestes á levar um tiro na cara se não entregar o dinheiro.

-Ah é? Quer dar pra quem? Pro Batman?! Vai lavar esse rosto, Coringa! - Rose foi mais firme que eu.

Melaine a olhou agressivamente mas não hesitou em responder, e foi ao banheiro, já com a carteira em mãos. Seguimos ela e acabamos por sair assim: Sem maquiagem, tronchas na rua, com alguma dinheiro e sem lugar definido.

-Pensei no Shagbar. O que vocês acham? - Sugeri.

trash demais, sujão. Quero uma musiquinha menos birrenta, já chega a Melaine chorando.

-Rose, se você não fosse minha amiga, eu não sei o que eu te falaria agora... - Melaine suspirou com dificuldade.

-Minha preciosa, eu já lhe disse. Esse miserável não merece uma mísera lágrima sua. Ele é um babaca, não sabe a mulher que está perdendo!

Era clichê demais pra eu concordar. Fazia tempo que eu não conversava pessoalmente com Melaine, tanto que realmente nunca soube de boato algum contra seu namoro. Rose nos arrastou sem querer pro Pinback, depois de nos fazer descer "sem motivo" na nona estação. Era um bar cômodo, tinha área coberta e fechada, faria bem pra quando o álcool entrasse e as bochechas começassem a corar.

Pedimos uma cerveja e, enquanto sentadas, tentei puxar assunto com Melaine, tirando sua atenção do celular.

-Tá vendo o que aí, Mê?

-Nada... - E continuou na barra de rolagem frenética através do facebook.

-A gente traz você pro bar e tu fica no celular, valeu mesmo. - Retruquei.

-Desculpa... - E o guardou, relutante. - Eu não sei o que fazer. Sinceramente não sei.

-Beba! Caralho, beba! Te trouxe aqui pra isso. - E ergui o canecão de cerveja, dando um senhor gole.

Rose deu um sorriso, achou graça do que eu disse mas concordou inteiramente quando fez o mesmo gesto.

Uma música começou a rolar, um pouco mais alta no ambiente. As meninas se animaram e eu continuei observando o movimento. Olhei mais pra fora da janela do que pra qualquer outro detalhe e, notei um cara me olhando. Devia estar pensando "o que essa cara amarrada tá fazendo na mesa com essas meninas? deve ser namorada da ruivinha... Tem cara de marrenta." Mas, ainda assim... Tornou interessante, manter os olhares fixos por mais de 10 segundos. Decidi sair, e nem percebi que já estava sozinha na mesa.

Melaine gritava como louca no centro do salão, com uma taça de martini na mão levantada, tentando quebrar os quadris pra chamar atenção de quem fosse. Rose ria e se enturmava com certa facilidade no meio dos homens... Não era novidade alguma. E eu, me vi cruzando a rua com a caneca de cerveja na mão, caminhando em direção ao cara encostado num chevelle, que eu não sabia o ano nem o modelo, só li o que estava escrito ao lado de suas coxas.

Travei por algum momento. Fiquei como uma pateta olhando o carro, as pernas, as mãos... que mãos! E enfim, seu rosto. Um sorriso que rasgava qualquer coração desinibido de afeto.

-Oi, carrancuda. - Ele me saudou.

-Como assim, cara? Eu tô de boa... - Fiquei sem graça e desviei o olhar.

-Você não vai me bater por quê eu fiquei te olhando daqui, vai?

-Claro que não, bobo.

E paramos de novo. Nos olhávamos como quem já entende tudo... Tô aqui pra conversar, e outras coisas mais. Eu já entendi.

-Não vai me dizer seu nome?

-Não faço muita questão dele não... Não é com ele que assino meus livros, nem minhas canções.

-Wow... Você é escritora, então?

-Sim... Cronista. Prazer, April Derrm.

-Prazer o meu, John.

Caralho, que voz que ele tinha... O nome dele soava muito bem, e o ar enigmática mantinha-se quando se apresentou somente com nome. E que mãos...

-Você... Quer uma cerveja?

-Acho que já bebi demais, mas aceito pagar uma pra você. Venha, vamos encher seu copo.

E quando entramos, John tomou cuidadosamente a caneca da minha mão e me cortou com o olhar, de novo. Confesso que fiquei hipnotizada com aquilo... Ele parou na bancada, sacou a carteira e falava com o garçom com uma sobrancelha levantada, desviando o olhar pra mim e sorrindo. Mas, o que era aquilo, gente? Fazia tempo que não via alguém me flertar... Era bobo, mas faz falta.

Saí do transe e procurei om os olhos as meninas. Rose conversava em nossa mesa com um cara alto, de barba serrada e camisa igual á dela, no caso, a minha. Nem o social largo branco a deixava menos bonita. E Melaine? Melaine... Onde está você?

-Ela saiu com uma outra ruiva por aí.

-Caralho, como assim? Ela já deve ter bebido todas...

-Estamos aqui a pouco tempo, April. Olá, estranho! - Rose, saudou John, que observava eu e minha fúria gratuita.

-Não interessa, o tempo é pouco mas o cartão e os copos dela não tem limites. Cadê ela?

-Não sei, oras! Ela é grandinha, deixa el... Puta que pariu.

-Rose? Que foi?? - E até o cara que a acompanhava mudou sua feição.

-Olha isso. - E Rose me entregou o celular. Uma postagem, cheia de erros ortográficos, dizendo "Eu e essa gostosa aqui vamos dar ao mundo o que ele realmente merece!" - OK, dado ao detalhe da foto sem edição e ainda visível, um galão de gasolina na mão de cada uma. Não poderia haver mentira na palavra de uma bêbada, piorou nas palavras de Melaine McCartney.

-John, você pode me fazer...

-Vamos atrás dela. - E um tom de entusiasmo fora sentido por mim. Acho que daria tempo de chamar os bombeiros.

Saímos eu, John, Rose e seu partido, á procura do gps de Melaine. Eu não sabia o que estava acontecendo, pois é super normal, o cara fica te encarando, tem uma voz gostosa de ouvir e um carro legal, te dando carona, pra você e sua amiga e o cara que ela nem conhece... Pra ir atrás de duas ruivas gostosas, que vão atear fogo em algum lugar. Suspeito, no mínimo.

E então, este lugar é o estacionamento do Trade-Shopping. Nessas épocas de férias, o shopping estendia o horário... Porém, deduzi que o mundo de Melaine seria o canalha do Bart. E o que Bart merecia? É, atear fogo no ex namorado parece legal. Desconheço tal sensação.

-Ela postou outra coisa, "estou te procurando, filho da puta". Essa menina está louca... Não sabia que ela ficou fraca pra beber.

-Com uísque e martini em shots e música alta, nenhum de nós, Rose. Vá procurá-la. John e eu vamos rodar no estacionamento.

E Rose desceu do carro com o rapaz, John esperou as portas fecharem e esticou-se, aqueles braços... Sobre o volante e riu.

-Do que você tá rindo?

-Você nem tá preocupada com ela e fica mandando ordens pra sua amiga.

-Ah, uma bêbada correndo pelo shopping com um galão de gasolina é perfeitamente aceitável.

-April... O que você faria?

-Com o cara que me traiu? Nada.

-Como assim...? - Disse, enquanto torcia os braços pra virar o volante.

-O que eu ganharia com isso? O que foi feito já está feito e eu não posso mudar as coisas na vida. Melaine já sabia com quem estava se metendo. Acho que eu até tinha esperanças de que ele ficaria certinho com ela, sem aprontar nada.

-Você acredita no melhor das pessoas.

-Pode ser. Eu não acredito em muita coisa.

John parou o carro em uma vaga, de frente com as portas dos fundos do saguão.

-Quer sair pra procurá-la?

Hesitei em respondê-lo. Sou ridiculamente egoísta, já estava hipnotizada e morta de preguiça pela bebida. Liguei para Rose, antes de qualquer coisa.

-Eu já a encontrei.

-Por que não me ligou? Porra.

-Ela está se atracando com a amiga dela no banheiro.

-O que? E a gasolina?

-Tá aqui.

-Aonde vocês estão?

-No banheiro, já disse.

-Você, o cara e as minas?

-Sim, April. Está tudo sob controle... - E Rose começou a gargalhar. Estava bêbada. Desligou o telefone. John me olhou ainda esperando resposta.

-Eles estão no banheiro. Com a gasolina.

-Estão fazendo o que?

-O que eu queria estar fazendo com você se não estivesse tão preocupada com a sanidade alcoólica das minhas amigas. Desculpa. - Soltei, catatônica, e o fiz rir.

-Você é uma figura, April.

-Jocoso demais pra mim, esse termo.

-Não. Você é diferente.

-Ah, que conversa mole, cara... - John me interrompeu, partindo pra cima de mim, me encurralando no banco do passageiro. Meu coração veio na boca.

-Você é passiva demais.

-Eu só... Não tenho como... O que falar, ás, vezes.

-Pois, fale. A sua voz é bonita, suas palavras tem força.

-O que você tá fazendo?

-Te entretendo. Tá muito tensa.

-Não tô falando disso... - Disse-lhe, com a maior cara de otária, de boca aberta e sem piscar.

-Me mostra alguma coisa.

-Pára de ser louco, minhas amigas...

-Suas amigas estão loucas trepando no banheiro, já esqueceram de queimar o cara.

-Mas...

-Mas o que? Com o que você tem de se preocupar? Já vi sensatez demais na sua cautela medrosa, enquanto vinha cruzar a rua pra falar com o estranho. Me mostra o que tem de mais aí.

-Você é... Um puta de um maluco. Excitante demais, mas maluco.

-Gosta de aspirantes á psicopatas?

-Com um sorriso desses você pode fazer a merda que quiser comigo... - E me aproximei para beijá-lo, feito pateta. Ele se afastava, e se afastou até sair de cima de mim. E aquilo me frustrou um pouco.

John se sentou na parte de trás e eu fiquei ali, azul de vergonha pelo vácuo, sentada no banco da frente com as pernas tremendo.

-Senta aqui.

-Vai se foder. - Fui espontânea demais. E ele gargalhou.

-Não tem graça, cara. As pessoas fazem isso comigo o tempo todo.

-Fazem o quê? Me diz.

-Ameaçam me dar coisas e tiram sem ao menos eu provar. Constantemente me tiram coisas, me tentam, me provam, me testam, e levam o pouco que eu tenho.

-Se fosse pouco, você não estaria aqui ainda, tentando.

-E dai? Ninguém vê medidas de nada, ninguém se importa com ninguém.

-Caralho, queria saber quem foi que te machucou.

-Não interessa.

-Você é nova demais pra isso tudo. Se priva de coisas e permite que os demais te privem também.

-Cara, - E me virei para o banco de trás, com certa fúria - Quem é você pra dizer alguma coisa de alguém que conheceu essa noite?

-Sou um cara que decifra pessoas previsíveis como você.

-Eu não sou previsível!

-É o que pessoas previsíveis dizem.

-Vai pro inferno. - E abri a porta do chevelle, e não demorou muito pra que ele me seguisse.

Uma perseguição silenciosa, porém abafada com o barulho dos nossos passos apressados, se prolongou até o banheiro. Obviamente, se uma orgia estava rolando, era provável que fosse no terceiro andar. Ainda estava meio tomada pela brisa da gigantesca caneca e o vento no estômago, pois não comi nada desde ás 13h do dia anterior. Continuava escuro, John continuava me perseguindo e eu continuava com as coxas trêmulas. Entrei.

-Suas vagabundas, vamos saindo daí! - E os gemidos se tornaram audíveis. Porém, eram Rose e o carinha.

-Porra, April. Cara estranho, dá um jeito nela, por favor! Nossa... - Rose reclamava (relinchava) decepcionada, cortada pelo ápice de um próximo orgasmo.

-Cadê a Melaine?

-Meu Deus, será possível? Deixa-a.

-Rose, vai se foder. Não, aliás, pare de foder. Saia daí e vamos atrás dela.

E esperamos, John e eu, Rose e seu camarada saírem apresentavelmente do box.

-Espera, tá ouvindo? - John tocou meu braço, dessa vez, não olhava pra mim.

-Rose, ela está lá embaixo.

-Que saco... Vamos.

E partimos, meio que sem entender o que estava acontecendo. Todos bêbados ou cansados demais. Ao contrário de mim... Num Up Horns absurdo, infantil por me sentir tentada, quinze vezes mais por alguém que alem de tudo, me irrita com as coisas que eu já sei, mas não imaginava que poderiam descobrir tão rápido a meu respeito.

As risadas aumentavam gradualmente e, me impressionou nenhum maldito segurança, na porta, nas lojas (maioria fechadas), em lugar algum... Ninguém apareceu pra tirar os tarados do banheiro e nem conter as ruivas com gasolina.

-Melaine! Sua vadia, volta aqui!

-AAAAAAAAAAAAAPRIL, que delicinha de cara que você arrumou! Parabéns!

-Sem piada, vamos pra casa.

-Não! NÃÃÃÃO, eu achei o carro do Bart e ele estava na sala do cinema...

-Cara, vamo embora... April já acabou com a minha foda no banheiro, você já terminou a sua, vamos. - Rose me olhou torto, de frustração e de embriaguez.

-Vão se foder! - E gargalhou, pegando a mão da ruiva muda e correndo pra fora, sentido estacionamento.

-Definitivamente, eu desisto. Quer saber, se ela meter fogo nela mesma, meter fogo no carro do cara, na vagabunda dele, quer saber, foda-se.

Fiquei transtornada. John continuou a me seguir e, era só ele quem via, ainda que de relance. E nada mais me importava.

-Tá começando a jogar pra fora o que você anda carregando durante centenas de anos. Muito bem.

-Você é um otário, tá, ouvindo?

-Não adianta você se revoltar comigo... Pára de fingir que tá bêbada. Eu não estou, e nem você.

-Eu tô bêbada sim, de tesão.

-Você-não-faz-nada.

-Você nem me beijou, cala a sua boca.

Continuei andando. Fui em direção ao chevelle, novamente, e entrei! Não sabia muito bem o que estava fazendo... Deu aquele branco de lucidez, não por excesso, justamente pela ausência da mesma.

-Você costuma ser desorientada assim?

-Ué, diga-me você, senhor eu sei decifrar pessoas previsíveis como April Derrm.

Senti a atmosfera mudando. De encantador e cercante, John ficou agressivo e impaciente. Era o que eu estava esperando.

-É, eu tô lendo seu pensamento. - Disse ele, segurando meu maxilar com força. - Você não sabe brincar de falar sério, de ser irônica... Se levar tudo ao pé da letra sempre, vai se foder sempre. Se ser verdadeira sempre, vai atrair dor sempre. Ninguém sabe lidar com isso, sinceridade, hostilidade... Você sequer sabe o que é verdade.

-E você pode me dizer o que é verdade?

-Absolutamente nada que nos convém, nesses tempos de superficialidade.

-E você quer me convencer de quê? De que está falando a verdade? Você já se contradisse várias vezes. Diz sobre verdades como se soubesse o que é, como eu. E diz que minhas palavras tem poder, mas sobre o quê? Assim como as tuas tem em mim? Você se enganou, veemente.

-E o que você quer?

-O próprio perdedor. - E o beijei, como há tempos não o fazia. Podia jurar que nossos corpos estalavam faíscas... Ok, é mais clichê ainda mas, o senti. Toda paixão é clichê, seja inicial, intensa, antiga, dane-se. Todo mundo se apaixona, todo mundo transa, todo mundo fala de amor, chora por amor, todo mundo passa por isso.

Me perdi de Rose, não soube o nome do seu partido, Melaine deu as caras logo, quando passou correndo perto do chevelle e bateu o galão na lataria, dando risada. Paramos pra olhar e, o carro de Bart estava visivelmente perto de nós, mas longe o suficiente pra nos proporcionar uma visão segura. Melaine e a sua ruiva gostosa, começaram a espalhar o galão sobre a lataria e atacaram os galões pro alto. Rose e o partidão saíram correndo, dando risada, assim como a ruiva. Melaine, ah, moça... Me deu um orgulho e uma pontada de inveja, da sua coragem. Pegou o isqueiro, acendeu e o deixou com a tampa aberta, atirou-o e recuou bem devagar, observando o fogo se espalhar. Senti-me em câmera lenta.

-Você não acha que as pessoas tem o que merece, April?

E o olhei, olhei pro carro e chamas, pra Melaine esmaecendo, talvez se tocando pela merda que fez ou melhor, repensando que não era o suficiente... Me peguei pensando e voltei a olhar para John. Ri... Hipnotizada, de novo.

-É, eu acho que sim... - E o beijei mais uma vez.

Rose abriu a porta e entraram todos no chevelle, em silêncio. Não procuramos entender, pois já estava tudo feito... Não que fosse normal atear fogo num carro no estacionamento do shopping mais fuleiro da subúrbio. Ou talvez fosse. Todo mundo perde, ou pelo menos deveria perder essa etiquetagem dos valores, como eu. John me disse sobre verdade, eu o disse sobre dores, Melaine foi traída e se vingou, Rose se divertiu mais do que a consolou e o carinha dela, e a ruiva de Melaine continuaram calados. Aproveitaram o silêncio pra beijar cada qual que lhes pertenciam aquele momento. E era o que fari com John, depois e dirigir sem rumo por aí.

As sirenes foram abaixando gradualmente, conforme John torcia os braços no volante rumo á quinta avenida, fazendo o fogo sumir dos retrovisores.


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Notas finais do capítulo

Agradeço o Sr.Calazans por me dar os nomes, mostrar a banda e a sua voz.



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