Pretending escrita por Aline Song


Capítulo 5
Novas lições


Notas iniciais do capítulo

Então, dessa vez nem demorei. Esse capítulo acabou ficando maior do que eu tinha planejado, eu até tentei diminuir, mas eu realmente precisava colocar algumas informações nele pra seguir com a história do jeito que eu pensei. Espero que vocês tenham paciência pra ler até o fim hahaha. E espero que gostem também.
Quero agradecer os comentários do capítulo anterior, e dizer que quanto mais vocês comentam, mais feliz eu fico e mais rápido eu posto kkkkkk
Antes de ir direto ao capítulo, quero só dizer mais uma coisinha: eu preciso dar uma aviso sobre os próximos capítulos, então, por favor, leiam as notas finais.
E agora sim, vamos ao capítulo 4!



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POV Tracey

– Não adianta. Não, adianta, Tracey, eu desisto. – Luke empurra um pouco os livros que estão em sua frente na mesa, apoiando seus cotovelos sobre ela e passando a mão pelos cabelos. – Eu nunca vou entender isso. Vamos deixar pra lá. Nós já estudamos bastante as outras matérias, tenho certeza que minhas notas vão melhorar. A senhorita Herrera não vai me proibir de jogar por causa de matemática.

Estou tentando ensinar matemática a Luke faz uma semana, e como ele parece realmente não entender nada do que eu explico, tivemos que intensificar os estudos. Por isso, na última semana, passamos todas as tardes juntos. Agora, estamos sentados na minha sala de jantar, a prova de Luke é amanhã, e embora ele tenha apresentado uma considerável melhora, sua falta de confiança em si mesmo quando se trata de números me deixa preocupada. Toda vez que ele começa a acertar, algo o faz cometer os erros mais simples e temos que começar do zero novamente.

– Luke, você só precisa se concentrar mais nos exercícios que está fazendo. Não tem segredo. Nós estamos estudando há uma semana, não é possível que você não tenha aprendido nada.

Luke me olha irritado por eu estar perdendo a paciência, mas posso ver que ele também está chateado. Tento não me deixar levar, mas depois me lembro de quantas vezes eu e Mollie já passamos por essa situação, de quantas vezes já tive que explicar a ela matérias que me pareciam tão simples, e finalmente percebo que possivelmente não seja tudo tão fácil assim.

– Nós vamos dar um jeito, ok? Não é tão difícil assim, eu tenho certeza que...

– Olha, Tracey, eu não tenho culpa se não sou tão inteligente quanto você – quando Luke fala desse jeito, me sinto culpada por ter sido grosseira e tento pensar em alguma coisa que possa reverter essa situação. – Eu não nasci pra entender geometria, ângulos e essas coisas, eu nasci pra jogar lacrosse, é o que eu gosto de fazer.

– É isso, Luke! – Luke me encara com as sobrancelhas erguidas, como se perguntasse do que eu estou falando. – Você gosta de lacrosse, e diz que não entende matemática, mas matemática se trata de ter raciocínio rápido e...

– Está dizendo que meu raciocínio é lento?

– Você quer parar de me interromper? – espero uns instantes para ter certeza de que ele não vai dizer mais nada e continuo – Pense bem, em um jogo de lacrosse, tudo que você mais precisa é de raciocínio rápido. Eu sei que você pode fazer isso. Você é nosso melhor jogador.

Eu mal me dou conta quando digo, mas Luke está sorrindo pra mim de uma forma tão convencida, que eu me obrigo a repassar mentalmente todas as minhas frases em busca do que pode ter causado essa reação.

– O que foi?

– Obrigado pelo elogio.

– Que elogio?

– Você disse que eu sou o melhor jogador.

– Pensei que todo mundo soubesse disso.

– É verdade, todo mundo sabe. Mas eu achei que você nunca fosse admitir algo assim.

– Tenho convivido com você tempo demais pra ficar negando coisas tão pequenas.

Não foi minha intenção, mas o que eu disse acaba deixando Luke mais animado novamente, e eu tento voltar aos estudos.

– Agora nós podemos voltar pra geometria? Vamos começar a pensar de um jeito diferente, vamos pensar nos exercícios como se fossem um jogo, você vai acabar se divertindo.

Sorrio pra Luke e ele me olha de um jeito tão bizarro que eu não consigo segurar uma gargalhada. Com certeza ele está pensando que sou a única pessoa que se empolga com exercícios de matemática. Mas é mentira, porque eu já fiz parte do clube de matemática da escola e lá todos são assim.

– Você é esquisita, Tracey.

– Tudo bem, vamos fazer uma pausa pra comer alguma coisa e depois continuamos.

– Até que enfim, eu estou morrendo de fome.

– Você sempre está morrendo de fome, Luke.

– Eu sou um atleta, preciso estar bem alimentado.

– Sei.

Me levanto da mesa de jantar e vou até a cozinha buscar alguma coisa para comermos. Às vezes eu ainda me surpreendo com como as coisas tem fluído bem entre Luke e eu desde que decidi confiar nele. Desde o lual na casa de Georgina nossa relação mudou completamente. Não brigamos mais a cada cinco minutos, ainda discutimos e implicamos um com o outro constantemente, mas sinto que isso é na verdade um jogo estabelecido entre nós dois, que nos diverte mais do que nos estressa, diferentemente de como era antes.

Na frente das outras pessoas tentamos parecer o máximo possível com um casal de namorados normal. Para Luke é bem mais fácil que pra mim, afinal, ele sabe como é namorar alguém, eu não. Mas as coisas não estão sendo tão difíceis como pensei que seriam. Nos primeiros dias Luke passava para me buscar todos os dias pontualmente as sete – até começar a atrasar pelo menos cinco minutos – e íamos sozinhos para o colégio, já que Mollie ainda estava desconfiada demais para ir conosco. Durante um tempo, ficávamos em nossa própria bolha, almoçávamos e passávamos os intervalos sozinhos, porque eu ainda me sentia insegura para confraternizar com os amigos de Luke. Agora é diferente. Com o passar do tempo fomos nos aproximando. Mollie acabou relaxando em relação a Luke, e agora é presença quase constante no banco de trás do carro dele todas as manhãs. Meus almoços não são mais monótonos e tediosos como eram antes. Os garotos do time fazem questão de se sentar conosco no refeitório, e alguns deles começaram até a travar uma disputa divertida pela atenção de Mollie. Mason e eu descobrimos um interesse em comum por seriados de TV, e até algumas líderes de torcida, amigas de Vicky, a namorada da Mason, se sentam com a gente de vez em quando. Porém, isso ocorre bem mais raramente, já que Georgina toma conta dos paços de suas súditas de perto, e provavelmente ela não deve gostar nada de vê-las perto de mim.

Quando Luke me propôs esse acordo, de maneira nada sutil, eu pensei em todos os pontos negativos que ele poderia me trazer, mas em nenhum momento cheguei a cogitar quantas coisas boas poderiam vir com ele. Eu costumava desprezar pessoas como Mason e Vicky, ignorar completamente a presença delas em minha vida. Mas agora percebo como estava sendo preconceituosa. Conviver com eles tem sido muito bom para mim. Pela primeira vez em minha vida não sou apenas a menina nerd do colégio, pela primeira vez não somos apenas eu e Mollie, pela primeira vez tenho amigos, e me sinto extremamente bem com isso. Lá no fundo, sei que na verdade eles não são meus amigos, que só se aproximaram de mim por causa de Luke, e que quando toda essa mentira acabar, nossa pseudoamizade vai chegar ao fim também. Mas tento não pensar sobre isso agora, e aproveitar cada momento que passo com eles.

– Tracey, você vai demorar muito ai? Eu ainda estou com fome. – Luke grita da sala e eu percebo que me perdi em meus pensamentos, deixando-o esperando por tempo demais.

– Já estou indo.

Alcanço a bandeja com biscoitos que deixei no forno e uma jarra de suco dentro da geladeira, e volto para a sala de jantar. Luke já afastou todos os livros e cadernos para que possamos comer, o que mostra que ele deve realmente estar com fome. Vou até a cozinha buscar os copos e quando retorno, Luke já está devorando os biscoitos.

– Estão muito bons. – ele fala enquanto mastiga. Porco.

– Claro que estão. Fui eu que fiz.

– Duvido.

– Pois pode acreditar. Aprendi a receita na aula de economia doméstica no ano passado.

Luke revira os olhos pra mim e depois me encara sério.

– Tem alguma matéria que você não tenha feito?

– O que tem de errado em gostar de estudar?

– Não tem nada de errado, Tracey. Mas você sabe que existe vida além disso, não sabe? – Ele toma um longo gole de seu suco, como se estivesse me dando tempo pra pensar no que acabou de dizer. – Você precisa fazer outras coisas além da escola. Como pode saber do que realmente gosta se só vive dentro daquelas paredes?

Luke me parece extramente inteligente falando essas coisas, o que me pega de surpresa. No fundo sempre me perguntei se não estava exagerando um pouco com tantas preocupações em relação aos estudos, e sempre tive curiosidade em saber como é a vida de um adolescente normal que não se preocupa tanto. Um adolescente como Luke. Sei que ele tem razão, mas não quero dar o braço a torcer.

– Mas eu sei do que eu gosto. Eu gosto da escola. E gosto do balé, e de escrever. – Luke ainda está me encarando, como se pudesse ver a hesitação em meus olhos – e você não pode me julgar por isso, você também descobriu o que gosta dentro da escola.

– Do que está falando?

– De jogar lacrosse. É mesmo isso que você quer fazer pra vida toda?

Luke então para pra pensar no que perguntei e eu agradeço internamente por ter deixado de ser o centro da atenção nessa conversa. Vejo um brilho discreto em seus olhos enquanto ele pensa no assunto que me faz entender que ele realmente leva isso a sério.

– Bom, é por isso que estamos aqui, não é? No final das contas, se estamos nessa situação hoje, é pra que eu possa continuar jogando. – começo a pensar no que Luke disse, e tudo realmente faz sentido. Toda essa história de namoro falso só começou porque fomos obrigados a conviver. E só fomos obrigados a conviver porque Luke precisava – e ainda precisa – melhorar suas notas para continuar jogando – Meu pai jogava lacrosse na época da escola, foi com ele que aprendi a jogar. Desde então eu nunca mais parei. Sei que você acha que não levo nada a sério, mas isso é de verdade pra mim. Quero disputar o campeonato estadual, quero vencer. Quero poder defender minha futura universidade jogando lacrosse e depois... bom, depois eu ainda não sei, mas quero qualquer coisa que me permita continuar jogando.

Fico impressionada com a determinação de Luke. Diferentemente do que eu pensava, ele já tem uma ideia traçada para seu futuro, e isso me impressiona, mas de algum jeito também me deixa feliz e até um pouco orgulhosa. Aceito para mim mesma, um pouco a contragosto, que nessa questão Luke está um passo a minha frente, pois ainda não estou completamente certa do que quero cursar na faculdade. Meu plano era usar meu primeiro ano por lá para descobrir.

– Isso é muito bom, Luke. – falo de maneira sincera e dessa vez é ele que parece ficar surpreso. – Eu admiro muito pessoas que sabem exatamente o querem da vida.

– Você está passando bem, Tracey?

– Estou, por quê?

– Sei lá. Primeiro você admite que sou o melhor jogador do time, agora diz que me admira porque já sei o quero fazer. Achei que você fosse revirar os olhos e dizer que jogar lacrosse não é uma profissão.

É impossível não sorrir com o comentário de Luke. Antes de responder, fico me perguntando se ele realmente percebeu minha mania de revirar os olhos.

– Eu só estou sendo sincera.

– Tudo bem, eu gosto dessa Tracey sincera.

Por alguns instantes o clima pesa sobre nós, e é como se tudo estivesse suspenso, porque Luke está me encarando como se estivesse tentando enxergar através de mim, e eu não sei o que fazer nessas horas. Isso tem acontecido ocasionalmente entre nós quando estamos sozinhos. Um de nós acaba dizendo algo que o outro não sabe como responder, e o clima da conversa se altera completamente, mas de repente, assim como surgiu, a atmosfera pesada se dissipa e tudo volta ao normal.

– E você, Tracey?

– Eu o que?

– O que você quer pra sua vida depois da escola?

– Bom, eu sempre sonhei em ir pra universidade, principalmente as da Ivy League. Por muito tempo compartilhei do mesmo sonho de Blair Waldorf de estudar em Yale, mas também penso em Princeton, Dartmouth, e todas as outras. Mas ainda não sei direito o que quero fazer quando chegar lá. Quer dizer, eu adoro dançar. Mas não vejo o balé como uma profissão. Eu também amo escrever, e gostaria muito de estudar escrita criativa, mas por outro lado, sei que meu pai precisa de alguém para administrar a empresa em seu lugar. Tenho pensado demais nesse assunto, mas não consigo me decidir.

– Você tem que pensar em você, Tracey. Tem que pensar no que gosta, no que vai te deixar feliz pela vida toda. Quando descobrir o que é, vai saber o que fazer.

Ok. O que aconteceu com o Luke que conheço? Quem é esse garoto inteligente que sabe exatamente o que falar e quando falar? Me perco por um momento olhando para ele e pensando no que Luke acabou de dizer. Percebo que, de certa forma, ele também está me ensinando muitas coisas nesses últimos dias.

***

– Acho que já estudamos mais que o suficiente. Agora você precisa ir pra casa e descansar. – digo e me espreguiço na cadeira. O céu lá fora já está começando a escurecer, o que significa que perdemos mais uma tarde para a geometria. – É importante descansar antes de uma prova.

– Sim senhora, querida professora. – Luke brinca, e eu mostro a língua pra ele.

– Vem, eu vou te levar até a porta.

Arrumamos a mesa de qualquer jeito e Luke guarda suas coisas na mochila. Caminhamos em direção à porta de minha casa, mas quando chegamos no meio do caminho ele se lembra de algo.

– Eu já ia me esquecendo de comentar outra vez. Minha mãe quer que você vá jantar lá em casa essa semana.

Imediatamente eu entro em pânico. Posso sentir meus neurônios dando voltas se perguntando por que Luke sempre nos mete nesse tipo de situação e como vamos escapar desse desastre.

– E eu posso saber por quê?

– Talvez porque ela esteja sabendo que estamos namorando.

Respiro bem fundo de olhos fechados, dizendo a mim mesma que não devo brigar com Luke por causa disso.

– Nós tínhamos combinado que não íamos envolver nossas famílias nisso.

– Eu juro que não disse nada, Tracey. Mas eu tenho passado muito tempo aqui ultimamente, e nossas mães são amigas, elas fofocam entre si. E, além disso, Mason acabou dando com a língua nos dentes. Ele não sabia que era um segredo. Como eu ia dizer isso a ele?

– Tudo bem, você está certo. Tem certeza que não tem como escapar?

– É melhor a gente fazer isso logo. Minha mãe consegue ser bem persistente quando quer alguma coisa. Ela não vai nos deixar em paz. É só um jantar, de qualquer maneira. – Só se for pra você. É o que tenho vontade de dizer, mas não digo. Sei que vou ficar extremamente nervosa jantando com a mãe do meu namorado. Mesmo que ele não seja meu namorado de verdade, mas resolvo não fazer drama para Luke dessa vez. Eu posso me lamentar com Mollie mais tarde.

– Tudo bem. E quando vai ser?

– Nessa sexta. Sei que já está bem próximo, mas é o melhor dia. Na sexta sai o resultado da prova de amanhã, se eu for bem, podemos usar o jantar para comemorarmos, e se eu for mal, podemos usá-lo para distrair minha mãe.

– Você sempre pensa em tudo?

– Claro, eu sou Luke Crawford. Você vai?

– Vou. Como sempre, eu não tenho opção.

– É, não tem mesmo. – ele diz com uma naturalidade irritante e vai em direção à porta. – Até amanhã Tracey.

– Não se atrase, amanhã, ok? Assim nós podemos revisar todas as fórmulas.

– Tudo bem, você é quem manda.

– Então, até amanhã.

POV Luke

Quando estaciono em frente à casa de Tracey na manhã de terça-feira, faltam exatamente dois minutos para sete, mas ela e Mollie já estão me esperando na porta. Como Tracey pediu para que eu não me atrasasse hoje, tentei ser o mais pontual possível, e acho que minha ansiedade para a tal prova de matemática ajudou um pouco, já que não consegui permanecer na cama por muito tempo. Porém, quando observo Tracey parada na porta de sua casa enrolando seus cabelos nervosamente, percebo que ela está ainda mais ansiosa que eu. Não consigo não achar graça, e também não consigo deixar de compará-la com Georgina. Minha ex-namorada jamais se preocupou comigo dessa maneira.

Ao notarem meu carro, as duas caminham em minha direção e eu desço pra abrir a porta para Tracey, que passa por mim sem me dar atenção, mas eu a paro e dou um discreto beijo em sou rosto, que é a única coisa que posso fazer, já que outros tipos de beijo foram terminantemente proibidos por ela. Me divirto com sua reação de surpresa e faço sinal para que ela então entre no carro. Mollie já está no banco de trás.

Me sento no banco do motorista, coloco o sinto e dou a partida no carro. Tracey já está posicionada em seu assento, um pouco inclinada em minha direção, com um monte de folhas nas mãos. Provavelmente, o resumo que fez da matéria que estudamos, com todas as fórmulas que preciso saber para a prova de hoje.

– Você dormiu direito? Não ficou até tarde no computador né? Está nervoso? – ela começa a me perguntar sem fazer uma pausa sequer.

– Bom dia pra você também, Tracey. Bom dia, Mollie.

– Bom dia, Luke. – Mollie responde achando graça da amiga.

– Desculpe, eu fico um pouco tensa antes de uma prova. – Tracey diz enquanto mexe em seus papéis.

– Você sabe que sou eu quem vai fazer a prova, né?

– Eu sei, eu sei. Mas você precisa mandar bem. Não é possível que não esteja nem um pouco preocupado. – na verdade até estava, mas ver Tracey assim é engraçado, e eu acabei me distraindo. É sempre em horas assim que me dou conta que ela me ajuda muito mais do que só com os estudos ou com Georgina. – Nós podemos pelo menos revisar as fórmulas?

– Tracey, eu estou dirigindo.

– Qual é, Luke? Deixe-a ajudar logo com essa prova antes que ela tenha um mini-infarto. – Mollie finalmente intervém a favor da amiga. Tenho vontade de dizer que Tracey já ajudou o suficiente estudando comigo durante toda a semana que passou, mas quando paro no sinal vermelho e olho para ela ao me lado, me olhando como um gatinho que quer um pouco de carinho, eu não consigo dizer que não.

– Tudo bem. Mas eu não posso me distrair muito do trânsito. Então vai falando as fórmulas pra mim, assim eu vejo se realmente decorei.

– Não é decorar. É entender. – Tracey responde como uma boa nerd e se endireita no banco, começando a repetir tudo o que estudamos.

Assim seguimos até a escola. Quando chegamos lá, Mollie se despede de nós e vai conversar com algumas garotas do clube de teatro, do qual eu nem sabia que ela fazia parte. Tracey segue comigo até minha classe. Minha prova é no primeiro horário, de modo que ela continua repetindo coisas sobre como é importante se concentrar.

– Tracey, desse jeito você está me deixando ainda mais nervoso. Relaxa um pouco.

– Ok, desculpe. Vou relaxar. Ou tentar.

Quando paramos em frente à porta da minha sala algumas garotas nos observam e Tracey logo percebe. Rapidamente ela revira os olhos para elas teatralmente, o que me faz rir. É uma mania de Tracey revirar os olhos. E quanto mais ela acha a situação bizarra, mais exagerada é a maneira com que ela faz isso.

– Hey, vai dar tudo certo, não se preocupe. – pego na mão de Tracey antes de terminar. Um pouco por vontade própria, um pouco para garantir às garotas que nos observam a legitimidade de nossa relação. – Prometo conseguir uma nota boa.

– Eu não estou tão preocupada assim. Só não quero que a senhorita Herrera pense que não me esforcei o bastante nessa tarefa.

– Sei. – nós dois rimos porque sabemos que não é verdade.

– Posso dizer só mais uma coisa?

– Fala.

– Confie em você, Luke. Do mesmo jeito que faz quando está jogando. Eu tenho certeza que você aprendeu a matéria. Boa sorte.

Com essa sentença, Tracey vai embora e eu entro na sala. Logo que me sento em minha carteira, o professor entra e começa a distribuir as provas sem falar muito antes. É ai que começo a ficar realmente tenso. Eu odeio matemática. Detesto. E não consigo me dar bem com todos esses problemas para resolver e calcular. Por mais que pareça fácil quando estou estudando, na hora da prova, algo bloqueia minha mente e eu simplesmente não consigo ir além. Isso porque os exercícios das provas sempre são dez vezes mais difíceis do que os que fazemos em sala e em casa. E os professores ainda tem a cara de pau de dizer que só precisamos estudar o que eles passaram em sala de aula.

Respiro fundo e tento não pensar demais nisso, nem que dependo de melhores notas para continuar no time, ser então visto jogar por um olheiro e conseguir uma bolsa em uma universidade. Abro minha mochila para pegar meu material e encontro no meio das coisas um pequeno papel retangular cor de rosa. Reconheço-o como sendo um dos papéis de recado da Tracey. Logo depois reconheço a letra dela também.

“Eu acredito em você, Luke. Acredite também. Boa sorte. T.”

Por essa eu realmente não esperava. Tracey não costuma ter atitudes como essa. Geralmente eu sou o responsável por manter as aparências de nosso falso namoro, e isso acontece somente em público. Fora isso, somos apenas nós dois. Mas eu gosto desse gesto, e antes de começar a prova leio o bilhete de Tracey uma última vez, me concentrando em sua voz me dando todas as dicas para fazer uma boa prova e finalmente conseguindo relaxar.

POV Tracey

A sexta-feira finalmente – e infelizmente – chegou. E eu não consigo parar de pensar no jantar de hoje à noite com a mãe de Luke. Mollie diz que estou ficando paranoica, ainda mais porque eu já a conheço, mas mesmo assim, sinto a pressão de ter de agradá-la sobre meus ombros e morro de medo. Sem falar que terei de realmente fazer o papel de namorada o tempo todo durante o jantar. É diferente fazer isso no refeitório durante o almoço e ter de fazer na frente da mãe de Luke. Tenho medo de fazer ou dizer algo errado que possa estragar tudo. Como vamos explicar toda essa confusão a ela caso ela descubra?

Me irrito comigo mesma ao me dar conta de que já estou surtando antes mesmo de algo acontecer. Luke está certo. Preciso relaxar mais, deixar as coisas rolarem naturalmente. Respiro fundo para me acalmar e quando olho para o relógio percebo que mais da metade da aula já se passou, e eu não prestei a atenção em absolutamente nada. Jake está sentado ao meu lado completamente atento ao que a professora diz. Essa é a primeira vez que me distraio na aula de biologia com alguma coisa que não seja ele.

Mais dez minutos e o sinal para o fim da aula toca. Começo a guardar minhas coisas quando Jake me chama a atenção.

– Você estava distraída hoje. Está tudo bem?

– Pensei que não tivesse dado para reparar.

– Acho que só eu reparei. – ao ouvir isso tento ignorar a vozinha que insiste em dizer que Jake estava reparando em mim e manter uma conversa normal com ele.

– Eu estou um pouco ansiosa com umas coisas que preciso fazer hoje, só isso.

Ele assente e fica em silêncio por uns segundos, me observando enquanto termino de guardar meu material e colocar a mochila nas costas. Quando faço menção em sair da sala, Jake me acompanha.

– Como vai o namoro com Luke? – Ok. Por essa eu não esperava. Ele foi bem direto.

Eu e Jake nos conhecemos desde o primeiro ano e sempre conversamos, mas todas as vezes que nos falamos, sempre foram sobre assuntos amenos, sobre a escola, sobre as aulas, faculdade e coisas assim. Mesmo depois que meu suposto namoro com Luke começou, nada tinha mudado, eu já estava até pensando que Luke estava errado sobre Jake começar a me ver de outro jeito. Até agora.

– Tudo bem. Por quê?

– Nada, é só que eu achei – ele faz uma pausa, como se estivesse pensando se deve mesmo continuar. – Ah, esquece.

– Jake, fale.

– Promete não ficar chateada? E nem contar a Luke o que conversarmos.

– Prometo. – sobre ficar chateada eu não posso prometer, porque não tenho como controlar. E sobre contar a Luke posso prometer menos ainda, por que se não contar a ele quem vai me ajudar a entender seja lá o que for que Jake tenha a dizer? O que significa que estou sendo completamente mentirosa. Mas Jake não tem como saber.

– Bom, não leve a mal. É só que, eu não entendo muito bem como isso aconteceu. Você e ele. Não me parece um casal muito provável.

Demoro um pouco pra entender aonde Jake quer chegar, e depois torço mentalmente para que ele não seja uma das pessoas que acha que Luke é areia demais para meu caminhãozinho.

– Você também faz parte do time que pensa “o que Luke Crawford viu em Tracey Morgan?” – Jake me olha de maneira engraçada, tentando entender do que estou falando.

– O que? Não... não é isso. Na verdade é o contrário. Você é que me parece demais pra ele. – Com isso meu coração salta no peito. Ele está batendo tão forte que tenho certeza que dessa vez Jake vai escutá-lo. – Você é tão inteligente, Tracey, tão diferente das outras garotas. O que viu nele?

Estou tão atordoada com o que Jake está me dizendo que não consigo pensar em nada para responder. Uma parte de mim quer que eu saia em defesa de Luke, que eu diga o quão legal ele pode ser quando quer, mas eu sei que se fizer isso vou parecer a garota mais apaixonada da escola, e vou colocar todas as minhas chances com Jake a perder. Por outro lado quero só agradecer os elogios contidos que ele acaba de me fazer e sair por ai saltitando de felicidade. Decido então fazer um pouco dos dois.

– Olha, Jake, eu agradeço muito que você pense tudo isso de mim. Mas não sou isso tudo. E além disso, Luke é um cara legal, é só dar uma chance. É isso que estou fazendo.

Jake então me analisa por alguns momentos, como se soubesse que estou escondendo algo, mas depois deixa passar. Caminhamos por mais um tempo juntos pelos corredores em silêncio, até que ele retoma o assunto.

– E a Georgina?

– O que tem ela?

– Acha que ela desistiu totalmente do Luke?

– Ela está namorando com outro. – digo como se fosse a resposta mais óbvia.

– Não se engane, Tracey. Georgina gosta de ter posse sobre coisas e pessoas, e Luke é uma dessas pessoas. Os dois namoraram por muito tempo, é bem provável que ela se canse do tal namorado universitário e queira Luke de volta. É bom você estar preparada.

Engulo em seco. Não tinha pensado nas coisas por esse ponto de vista. Sei que Georgina não gosta nem um pouco de me ver com Luke, vejo pelo modo com que ela me olha quando pensa que ninguém está notando. Mas sempre pensei que fosse apenas coisa de ex-namorada. Porém, se ela terminar seu namoro atual e resolver elevar essa implicância para um nível superior, eu estou perdida. Não estou preparada para combater Georgina Harper. Nunca estarei.

– Obrigado pelo alerta, Jake. Vou estar preparada. – mentira.

– Só tome cuidado, ok? Não quero que você se machuque por causa deles. – vejo carinho nos olhos de Jake e meu coração se aquece ao saber que ele se preocupa comigo. – Enfim, você deve ter que encontrar seu namorado agora. A gente se vê depois, Tracey.

– A gente se vê. – Então ele se afasta, mas logo se vira pra mim novamente.

– Hey, Tracey. Venha me ver jogar qualquer dia. Quem sabe você não me traz sorte no campo como faz em biologia?

Não digo nada, apenas balanço a cabeça positivamente para ele, que sorri e então some entre as pessoas no corredor. Por alguns instantes me sinto flutuando de felicidade. Jake me convidou para um jogo. Esperei anos por esse momento. Quero sair correndo para contar para Mollie, mas não posso, porque tecnicamente tenho namorado e estou muito feliz com ele, tenho que guardar mais esse segredo só pra mim. É então que me lembro que era nesse horário em que Luke receberia o resultado de seu teste de matemática. Me apreço pelo corredor em direção ao pátio, sendo obrigada a desviar bruscamente de algumas pessoas que me olham de cara feia.

Quando chego ao gramado do pátio Luke está a minha espera. Os caras do time estão lá também, um pouco mais afastados, e Mason e Mollie estão rindo freneticamente de alguma coisa que me deixa curiosa. Luke está mais a frente, olhando ao seu redor com algumas folhas de papel na mão, provavelmente seu teste, e ele provavelmente está me esperando. Ele está sério, e eu começo a pensar no que vou dizer para animá-lo caso ele não tenha alcançado o resultado esperado. Mas então, Luke me vê e sua expressão muda. Ele abre um sorriso enorme que me surpreende completamente e começa a caminhar em minha direção. Vou mais rápido ao seu encontro e quando estamos bem próximos, Luke me pega de surpresa pela milésima vez nessa semana.

Luke me puxa para um abraço, mas então sinto meus pés saírem do chão, e sei que estou em seu colo agora, e de repente estamos girando. Luke está me girando no ar no meio do pátio, e isso está me matando de vergonha, então escondo meu rosto em seu pescoço para não ser obrigada a ver os olhares sobre nós. É quando consigo ouvir a risada dele que sai tão naturalmente que acaba arrancando uma minha também, transformando esse em um momento só nosso. É diferente de meus outros momentos com Luke, porque todos os outros eram apenas encenação. Isso é diferente. Pelo jeito que ele está agindo, sei que tirou uma boa nota e está feliz, e quer dividir isso comigo. Não estamos fingindo agora. Por isso é fácil agir naturalmente, porque é de verdade.

Luke finalmente me coloca no chão, mas suas mãos permanecem em minha cintura. Os olhares fixos em nós tentam voltar a me incomodar, mas eu continuo a ignorá-los.

– Eu tirei um B. Um B, Tracey! – agora ele levanta um dos braços, me mostrando a prova em sua mão. – Acho que não tiro uma nota boa assim em matemática desde o jardim de infância!

Franzo a testa e solto uma gargalhada porque tenho certeza que não fazíamos provas de matemática no jardim de infância, mas não quero contrariá-lo.

– Se fui bem assim em matemática, imagina nas outras matérias. Com certeza minha vaga no time está garantida! Acho que vou estudar para todas as provas a partir de agora.

– Eu disse que estudar podia ser legal.

– Você estava certa. E eu só consegui por causa de você. Obrigado, Tracey. – Ele está olhando bem em meus olhos agora, e esse é um daqueles momentos em que as coisas ficam estranhas e não sabemos o que fazer. Acho que se fossemos um casal de verdade, nos beijaríamos. Mas não somos.

– Não precisa agradecer, eu estou orgulhosa de você.

– Preciso sim. Hoje nós vamos jantar lá em casa porque eu já prometi e minha mãe está muito animada. Mas depois você pode escolher qualquer coisa, qualquer lugar e eu levo você. Quero retribuir.

Não esperava que Luke fosse ficar tão feliz por uma nota alta em matemática, muito menos que ele fosse querer me recompensar pela ajuda. Portanto, nunca pensei em nada para pedir, mas então uma oportunidade surge em minha mente.

– Eu quero vir ao jogo de futebol.

– O que? Você? No jogo de futebol?

– É, eu quero vir porque...

– Tudo bem. Eu trago você. Agora vamos, quero mostrar para os caras que não sou tão burro quanto eles pensavam.

Luke então me puxa pela mão até o local onde os garotos e Mollie estão. Eu me sento ao lado dela e ficamos observando como eles se parecem com crianças do ensino infantil quando estão todos juntos. Mas fico feliz em ver Luke tão contente assim. Sei que ele se esforçou de verdade pra isso.

Por um momento deixo de prestar atenção nele e meu olhar corre pelas mesas ao redor do pátio, até se encontrar com o de Georgina Harper, que me encara como se estivesse tentando me enviar uma mensagem. Não consigo decifrar o que é, mas o calafrio que sinto na espinha me diz que é melhor nem saber.

***

Quando a última aula acaba estou exausta, nervosa porque o jantar com a mãe de Luke está cada vez mais próximo, e morrendo de vontade de fazer xixi. Vou ao banheiro do primeiro andar e entro na primeira cabine vazia. Alguns segundos depois ouço passos entrando atrás de mim. Espero para tentar reconhecer as vozes, mas ninguém diz nada. Então eu saio da cabine.

Saio, mas logo tenho vontade de me trancar ali de novo. Os passos que ouvi entrando no banheiro eram de ninguém mais, ninguém menos que Kate, Lily e, claro, Georgina. Tento parecer tranquila, e agir naturalmente, mas quando ligo a torneira para lavar as mãos, noto o olhar que Georgina dirige as amigas através do espelho. As duas logo saem, nos deixando sozinhas, e eu entendo que ela não entrou ali por acaso. Georgina quer falar comigo.

– E ai, Tracey? É Tracey, não é? – ela cospe meu nome, e embora aja como se não soubesse, eu tenho certeza que sabe. Não falo nada, apenas aceno afirmativamente. – Como vai o namoro com Luke?

Georgina foi ainda mais direta que Jake. É óbvio. Ela não tem porque fazer rodeios. Só gostaria de saber por que todos resolveram me perguntar isso hoje.

– Bem, obrigada. – me viro em direção a porta, mas Georgina para bem na minha frente, bloqueando a passagem.

– Desde quando estão juntos? Já estavam saindo antes das aulas voltarem?

– É claro que não. Começamos a sair depois das férias. Quando começamos a estudar juntos. – pelo menos foi isso que combinamos de dizer caso alguém perguntasse.

– Luke foi bem rápido.

– Você também. – eu falo sem pensar, e Georgina me olha com uma cara que me faz congelar, embora esteja sorrindo.

– Você deve estar apaixonada não é? Afinal, Luke é um ótimo namorado.

– Aonde você quer chegar?

– Eu só quero te dar um aviso. Um aviso de amiga, para que você não acabe sofrendo. – e desde quando somos amigas? É o que quero perguntar, mas não pergunto. – Sei que deve estar achando muito divertido namorar Luke Crawford e todas as coisas boas que isso te traz, mas não espere que isso vá chegar muito longe. Luke ainda gosta de mim. Ele sempre gostou. Não sei por que ele resolveu namorar você, nem quero saber. Mas é só eu fazer assim – ela então para de falar e estala os dedos bem perto do meu rosto – pra ele terminar com você e voltar pra mim. Não pense que pode competir comigo.

Estou tão perplexa com tudo que acabei de ouvir que mal consigo pensar em algo para responder, mas creio que não era a intenção de Georgina esperar pela resposta. Ela sai do banheiro sorrindo triunfante e me deixa sozinha. Então começo realmente a entender o que Jake me disse mais cedo. Preciso me preparar para o que estar por vir.


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Notas finais do capítulo

E ai, o que acharam desse aviso da Georgina? E dos conselhos que o Jake deu pra Tracey?
Os próximos capítulos vão ser mais tranquilos, provavelmente a maioria serão de momentos mais especiais entre a Tracey e o Luke, porque eu preciso fazer a relação deles evoluir né galera hahaha. Então, pra quem gosta desse casal, podem esperar momentos fofos vindo por ai.
Prometo não demorar com o capítulo, e fico esperando a opinião de vocês. Até o próximo! Xx



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