A Herdeira escrita por Amigo Anônimo


Capítulo 2
Borboleta, venha me buscar!


Notas iniciais do capítulo

Antes de tudo, devo deixar bem claro que a fonte de onde eu tirei a lenda dentro desse capítulo da fanfic é o site MUNDO-NIPO. Que aliás, super recomendo para vocês que se interessam sobre a cultura japonesa.
Me adiantei em escrever esse capítulo e eu acho que vou tentar escrever um capítulo diariamente, espero que isso os anime.
Desejo a todos vocês uma boa leitura!



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As lembranças rondavam a minha mente e eu até tentaria espantá-las, mas são lembranças felizes que eu tenho, as minhas memórias mais especiais. Entretanto, essas memórias me machucam a cada dia que eu me apego a elas.

Não poder voltar no tempo dói. Ele continuará a correr mesmo sendo contra a minha vontade, mesmo que eu fique para trás.

FLASHBACK:

Em um enorme jardim, iluminado por um enorme sol, havia uma criança. Essa criança andava de um lado para o outro, com o rosto próximo a grama. Uma vez ou outra ela colocava a mão por entre a grama e falava um “Ah!”.

No mesmo jardim, próximo de onde a criança estava, tinha uma mesa redonda onde sobre ela havia um conjunto de chá e alguns deliciosos biscoitos como acompanhamento. Uma mulher se degustava desses alimentos com prazer e uma incrível postura. A elegância já era presente em sua aparência e suas boas maneiras somente influenciavam mais aquela imagem de uma perfeita boneca de porcelana.

Ela se levantou ao perceber que a filha encarava o chão impacientemente e caminhou na direção dela.

— O que te deixa assim, querida? — Resolveu perguntar, deixando sua doce voz sair de sua boca.

A menor cruzou os braços e sentou no chão. Inflou uma das bochechas, demonstrando estar emburrada com algo. Posteriormente, soltou um alto suspiro e começou a fazer círculos com o dedo no chão, sujando esse mesmo dedo de terra.

— Não consigo pegar borboletas, mamãe — Começou a falar, mostrando decepção em sua voz. — Será que as borboletas não gostam de mim?

A menina sentiu sua cabeça sendo acariciada por uma mão quente e macia, os dedos se enroscando nos fios loiros de seu cabelo. Olhou para mãe e viu um sorriso em seu rosto.

— As borboletas gostam de você, só precisa deixar com que elas mesmas se aproximem de você. Borboletas são delicadas. Por isso temos de ter muita cautela ao tentar chegar perto delas, se não elas se assustam e voam para longe.

Dito isso, agachou-se ao lado da filha. Aproximou sua mão das plantas e a deixou sem movimento durante algum tempo. A menina que apenas observava já ia desistindo, quando então viu uma borboleta pousar no dedo da mãe. Essa borboleta possuía uma coloração branca, delineada com preto nos cantos de suas asas.

— Lucy, — A mãe falou ternamente — sabia que as borboletas representam almas? — A garota sacodiu a cabeça e ansiou por ouvir mais. — Pois, diz nas lendas que as borboletas contem almas de pessoas nelas. Quando alguma se aproxima de você, pode significar que você estará para conhecer alguém importante, e às vezes esse alguém importante é aquela pessoa que você amará até a eternidade da sua vida.

Conforme a mãe falava, pareciam ter diamantes pequeninos dentro da íris da menina, pois seus olhos quase brilhavam ao ouvir a história que acabara de ouvir. Queria ouvir mais sobre, estava curiosa sobre essas lendas. As histórias que sua mãe contava sempre eram as melhores, pois a faziam refletir do começo da manhã até o fim da noite, onde caia em um profundo sono.

— Você conheceu o papai através de uma borboleta, mamãe? — Perguntou ansiosa.

A mulher elevou a mão para o alto, e assim a borboleta se foi, voando para longe. Deixou um belo sorriso se formar em seu rosto ao ouvir a pergunta da filha, se virando para ela e dando uma resposta duvidosa:

— Talvez.

Certamente isso só deixou a pequena Lucy mais curiosa.

Fim do FLASHBACK.

Andei pelos corredores, me recuperando de forma inteligível e mantendo a compostura até chegar à biblioteca de minha casa.

Isso mesmo, biblioteca. Nesse quarto haviam tantos livros colocados nas estantes das paredes que poderia ser considerado uma biblioteca dentro de uma mansão. Aquele era um dos meus refúgios.

Havia tanta diversidade literária que nem mesmo consegui terminar de ler um terço dos livros que tinham aqui. E isso só me motivava a continuar a ler sem parar.

Ao ir se adentrando mais na chamada biblioteca, ouvi uma voz ecoar pelo cômodo e chegar até os meus ouvidos. Ou melhor, um ronco. Esse ronco vinha de um homem com aparência peculiar. Peculiar por conta de um pequeno, porém incomum fato: Sua cabeça contempla uma gigante cruz de metal com padrões florais dourados.

— Crux — Chamei pelo homem.

Visto que ele não acordava com o primeiro chamado, repeti mais uma vez o nome. Ainda não dava sequer um sinal de estar despertando. Chamei uma terceira vez e já na quarta vez elevei o volume de minha voz, quase dando um grito.

Finalmente seus olhos abriram rapidamente. Parecia espantado, então resolvi me adiantar em me desculpar.

— Oh, é a senhorita Lucy — Ele finalmente percebeu. — Eu que deveria me perdoar por insistir em dormir, mesmo quando a senhorita está a me chamar. O que deseja ler hoje?

Crux, apesar de estar na maioria do tempo dormindo, é um homem — Ou melhor, uma cruz. — bem inteligente. Ele sabe de várias das coisas que acontece no nosso mundo, sejam coisas que estejam no tempo atual ou coisas que estejam em um tempo passado. Crux geralmente na biblioteca, pois é aqui onde ele trabalha, se é que isso é considerado trabalho. Sempre falo algum gênero de livro que queira ler e ele sempre adivinha na certa pelo o que exatamente eu estou procurando. Talvez seja um ato preguiçoso pedir para ele procurar um livro para mim, mas haviam tantos livros ali que eu nunca iria achar algo sem a ajuda dele.

Pensei durante alguns segundos na resposta, batucando o dedo no queixo.

— Hmm... Acho que vou querer algo sobre lendas de origem japonesa.

Dito isso, Crux começou a olhar pelas estantes os livros, até que achou um cujo nome lhe interessou. Retirou o livro da estante com cuidado para não derrubar os outros e entregou-o em minhas mãos.

— Obrigado — Agradeci com um sorriso.

Busquei por um lugar onde sentar, escolhendo uma mesa que ficava mais distante de onde Crux estava. Queria um pouco de silêncio e, embora não quisesse pronunciar isso por puro respeito, o ronco de Crux acabaria atrapalhando minha leitura.

Abri o livro e senti o doce aroma das páginas. Passei o dedo no canto das páginas, procurando por algo que chamasse minha atenção. Vasculhei durante algum tempo naquele livro, até que finalmente um nome se destacou. A lenda, de acordo com o autor, chamava-se “A Borboleta Branca”.

Comecei a ler as palavras escritas nas páginas calmamente e sem parar um segundo sequer:

Existe uma lenda japonesa, muito bonita e tocante, a respeito de borboleta branca, que muitos consideram como fato ocorrido em tempos antigos no Japão.

Conta à lenda que um ancião chamado Takahama vivia em uma casinha atrás do cemitério de Sozanji. Ele era uma pessoa extremamente gentil e de modo geral, gostava de seus vizinhos, embora muitos deles o considerassem um tanto maluco.

Sua maluquice, ao que parece, provinha do fato de nunca ter casado e tão pouco demostrado desejo de relacionamento íntimo com uma mulher. No mais, o ancião era solícito com todos, “um ser de extrema bondade”, que levava uma vida simples e honesta.

Certo dia de verão, o ancião adoeceu gravemente e pediu para chamar a cunhada e o sobrinho, que tudo fizeram para ajudá-lo em seus últimos momentos.

Enquanto sua pequena família o assistia, Takahama adormeceu. Nem bem isso ocorreu, uma borboleta branca entrou no quarto e pousou em seu travesseiro. O jovem sobrinho tentou espantá-la com um leque, mas por três vezes ela voltou como se não quisesse deixar o enfermo ancião.

Por fim, o sobrinho de Takahama expulsou-a para o jardim, e do jardim para o cemitério onde posou sobre o túmulo de uma mulher por algum tempo, desaparecendo depois misteriosamente.

Ao se aproximar do túmulo, o jovem viu o nome “Akiko”, e uma inscrição constando que ela morrera aos dezoito anos de idade. Embora a sepultura estivesse coberta de musgo e sido construída há uns cinquenta anos, ele observou que ela estava rodeada de flores e que um pequeno vaso fora recentemente enchido de água.

Ao regressar, encontrou Takahama morto. Então resolveu contar a mãe o que vira no cemitério.

“Akiko”? Perguntou a mãe. “Escute, meu filho, quando seu tio era jovem, ele estava prometido para Akiko, que morreu de tuberculose pouco antes de se casarem. E quando ela deixou este mundo, seu tio decidiu morar perto de sua sepultura, fazendo votos de nunca mais se casar. Durante todos esses anos ele se manteve fiel a esse voto e guardou no coração a doce lembrança de seu único amor. Diariamente ele ia ao cemitério, rezava por ela, limpava a sepultura e depositava flores. Quando Takahama não pôde mais cumprir essa tarefa, Akiko veio busca-lo sob a forma daquela borboleta branca.”

Pouco antes de partir para a Terra da Primavera Amarela. Takahama murmurou:

Onde as flores dormem,
Graças a Deus eu dormirei esta noite.
Borboleta, venha me buscar!”

Assim que cheguei à última frase da página, fechei o livro imediatamente. Coloquei a mão na boca, com os olhos arregalados de surpresa. Dessa vez não consegui evitar deixar uma lágrima descer pela minha bochecha.

Puxei na minha memória três acontecimentos: A vez em que minha mãe me ensinou a deixar uma borboleta em mim pousar, pouco antes do dia do acidente; Em dia de sua morte, quando, se minha memória não me engana, vi uma mesma borboleta branca pousar na janela do quarto onde ela se hospedava; E o dia do enterro, onde essa bela borboleta aterrissou em uma das flores que deixei perto do túmulo de minha mãe e ali permaneceu.

Atordoada demais com o que os meus olhos percorreram no que estava escrito naquela página, me levantei da cadeira e fui andando com passos pesados para fora da biblioteca.

“Isso é impossível. Lendas são só lendas... Exato, lendas são só lendas, Lucy”, pensei, tentando me convencer com aquele pensamento.

Quase sai voando pela casa quando me recordei de que meu pai havia me ordenado de ir comer imediatamente. Apressei o passo e cheguei na sala de jantar sem muita demora. Vi o meu pai sentado em um dos cantos da mesa, e assim que ele notou minha presença, deixou os papeis de segurava para me olhar.

— Desculpe-me, papai. Acabei me distraindo no caminho — Me curvei, adiantando em pedir perdão antes que tivesse que ouvir um sermão.

Sentei-me perto dele, ajeitando-me na cadeira em uma boa posição que me deixasse manter a postura, mas que ao mesmo tempo não me doesse nas costas.

— Devia ser algo muito importante para tu distraíres-te tão facilmente — Ele falou e eu presumi que não deveria responder a isso.

Tinham várias opções de comida naquele dia, entre eles frutas, pães, sopas e alguns tipos de carne. Comemos sem nenhum pronunciar mais nenhuma palavra para o outro, até porque era considerado falta de boas maneiras, quando ele começou a falar:

— Já deves ter percebido que chegaram várias caixas esses dias para o quarto de hóspedes.

Confirmei com a cabeça, esperando ele continuar.

— Isso significa que a tua tia irá se hospedar aqui durante algum tempo — Ele prosseguiu.

Fiquei pensando nas três tias que eu conhecia. Duas eram a vaidade em pessoa e ambas não me agradavam nada, portanto eu evitava conversar muito com elas. Outra era tia por parte materna, e eu simplesmente adorava ela. Portanto, não hesitei em perguntar:

— Qual das minhas tias, papai? — Cruzei os dedos embaixo da mesa, esperando que minhas boas expectativas estivessem corretas.

— A tua tia Elaine.

— Ah... Entendido. E quando ela chega? — Tentei parecer indiferente.

— Amanhã.

Permaneci com minha compostura, comendo tranquilamente a comida. Entretanto, por dentro eu comemorava com todo o ânimo que tinha guardado para um bom acontecimento naqueles dias tediosos. Elaine era a minha favorita entre as tias e com certeza tê-la comigo durante algum tempo me traria a alegria de volta. Espero que eu possa sair e interagir bastante com minha tia, pois com ela as coisas simples e comuns acabam sempre se tornando uma bela de uma aventura inesquecível. Mal esperava poder vê-la amanhã.


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Notas finais do capítulo

Novamente, a fonte de onde eu tirei a lenda da Borboleta Branca é o site MUNDO-NIPO. Já que deixei isso claro, peço que não cometam o engano de pensarem que eu estou cometendo plágio. TODOS OS CRÉDITOS SÃO PARA O MUNDO-NIPO!
Enfim, espero que vocês estejam gostando da história. Até o próximo capítulo! ;3



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